segunda-feira, 21 de junho de 2010

Guerras

Antenor Pereira Giovannini (*)

Pelo que nos mostram os livros de História, a primeira guerra que se tem noticia através da escrita ocorreu por volta do ano 2.500 AC numa região aonde seria hoje o Irã e o Iraque, e estão relacionadas à conquista do estado de Lagash conforme o historiador da Universidade de Oxford na Inglaterra, John Baines. Conta o professor que pelo ano de 2525 AC, os tais centros urbanos viviam em constante rivalidade pelo domínio econômico, territorial e político.

Ou seja, o homem faz guerra há mais de 5 mil anos e sempre com os mesmos propósitos. Ocupação de espaço, questões econômicas e principalmente por razões políticas. Se bem que podemos agregar questões religiosas, já que hoje se mata em nome de Alá. Obviamente o crescimento trouxe armas, tecnologia, poderes militares inimagináveis de outras épocas. Um poder de destruição inconseqüente.
No nosso País alguém poderá dizer que graças a Deus vivemos em paz e não temos guerras.
Somos um País abençoado. Se levarmos para esse tipo de guerra onde são usados foguetes, canhões, tanques, exércitos inteiros, armas químicas etc, realmente nosso País está bem longe disso, Porém realmente podemos dizer que não temos guerras?

Entendo que temos várias e que da mesma forma que a outra mata, extermina, se infiltra como uma doença a nos impregnar e que se tornam difíceis de nos livrar delas.
Podemos citar alguns exemplos:

Guerra fiscal – quantos estados literalmente brigam com os outros em querer obterem vantagens econômicas e com isso atrair mais empresas em detrimento de outros. Para o povo em geral isso não aparece, não explode, porém para as finanças de um estado, de um município seja a inclusão como a perda de uma empresa traz conseqüências muitas vezes irreparáveis.

Guerra no tráfico – algo que vem minando a sociedade brasileira com conluio do governo que pouco ou nada faz para frear essa escalada sem precedentes que atrai milhares de jovens para um caminho sem volta. Guerra que gera armas gera confrontos, gera mortes não somente daqueles que levam tiros, mas das famílias que choram seus mortos, seus dependentes na maioria das vezes excluídos definitivamente da sociedade. O governo age de maneira pífia, com leis brandas, com ações às vezes circenses, mas sem efeito prático. Será que as pessoas sensatas e de discernimento podem acreditar que aquele pobre coitado, de pé enfiado num chinelo de dedos, de calção e na maioria das vezes usando camiseta empunhando um fuzil Fal, ou uma escopeta, ou uma metralhadora israelense seja o responsável por trazer esse material seja da onde for até sua base? É possível acreditar que esses que empunham esse armamento sejam os responsáveis ou os reais responsáveis estão alojado em prédios luxuosos e compartilhando talvez os lucros com quem deveria prendê-los?

Guerra no trânsito – alguém ainda duvida que temos uma verdadeira guerra em nosso trânsito seja aonde for? Na cidade, no interior, nas estradas, enfim, aonde houver um trânsito de veículos temos uma guerra, que mata que dilacera que traz seqüelas para sempre exatamente pela estupidez daqueles que sentam ao volante se tornam possuidores de uma carteira que vale tudo, inclusive de matar a si próprio e aos outros. Algo que nada incomoda os parlamentares responsáveis em rever as leis e colocar um ponto final nessa guerra caótica e sem fim que diariamente acompanhamos.

E talvez, entre tantas, a pior delas que impregna na sociedade e que a cada dia se torna maior e a se desenvolver. A guerra da ética, da moral e dos bons costumes que assola o país como um todo. O exemplo que parte da capital federal e se dissemina por estados e município cria a cada dia mais e mais espertalhões a querer crescer a qualquer custo, a enriquecer a qualquer modo. Não importa os meios. Político corrupto foi à doença que mais eclodiu no País nos últimos anos e não há vacina que minimize porque eliminar se torna impossível. A coisa cresce e se alastra de maneira tão pior quanto uma epidemia. Uma epidemia que acaba com os reais valores de uma sociedade.

A coisa se tornou tão danosa ao País que ainda criam mais uma lei com endosso presidencial proibindo pessoas com processos a se candidatarem qualquer cargo elegível. Ora, isso deveria estar intrínseco no caráter, na postura do próprio País. Criar uma lei dessas e ainda discutí-la ! Ou ainda tentar burlá-la é decretar a falência das instituições morais que nossos pais, antepassados, procuraram de todas as maneiras incutir naqueles que nasciam e deveriam ter na sua personalidade o quesito principal de caráter e de conduta. Mas, o País não tem isso. O Estado não lhe concede isso.
As leis, ora bolas, as leis, são para serem burladas. Vide o nosso Presidente e o deboche escancarado com relação a propagandas eleitorais. Já são cinco multas. E ele está preocupado com isso. Ora se ele é o Presidente e passa por cima das leis, porque o cidadão comum não poderá fazê-lo?

Esta é uma guerra que a sociedade que ainda preza por educação, conduta, caráter, obediência civil, civismo, está cada dia perdendo em prol do ser esperto a qualquer custo. E pior que isso, é saber que se trata de uma guerra que tem seu inicio de onde deveríamos ter um principal elo com a decência e os bons costumes que é Brasília.
Se lá pode esconder dinheiro na cueca, porque aqui no meu mundinho não posso fazer o mesmo. Uma guerra difícil de vencer!

(*) Aposentado, agora comerciante e morador em Santarém

Um comentário:

  1. Meu caro Antenor.
    Parabéms pelo texto. Você foi no ponto exato dessa calhordice porque passamos e pelo visto vamos continuar.
    Sei que você entende que eu não sou, sequer remotamente, a favor da canalhada que infestou o país e tampouco me sinto tranqüilo com isso. Contudo, não se trata de otimismo ou pessimismo. Aliás, para ser franco, acho que esses dois conceitos são tão imponderáveis quanto os de sorte e azar. A questão, aqui, é de mero realismo. Por mais que uma pequena parcela da sociedade insista em discutir e preservar valores como princípios éticos, decência e honestidade de propósitos, a grande maioria não dá a menor importância a isso. E aí não se incluem apenas os famintos indolentes do bolsa-familia. Estão, também, todos aqueles que se aproveitam do caos e se locupletam descaradamente. O Brasil, desde há muito, mas sobretudo nesta era que atravessamos, adotou definitivamente a filosofia do “farinha pouca, meu pirão primeiro”. O individuo brasileiro sai daqui, vai à Disney e volta elogiando a organização e a civilidade do primeiro mundo. Mas, mal chegou em “terras brasilis” e já dá o primeiro golpe apertando o botão verde da alfândega, mesmo que esteja carregado de eletrônicos valendo muito mais que os tradicionais US$500.. Ou seja ” farinha pouca, meu pirão primeiro”. Veja lá se mal passa por sua cabecinha conspurcada que aquela organização e civilidade que ele viu e voltou elogiando tem a ver cm um mínimo de respeito a normas e princípios. Ora, aonde podemos chegar com essa atitude, com essa visão? A lugar algum exceto o esmo em que nos encontramos há séculos.

    Por acaso o brasileiro se importa com o fato de que vivemos talvez a fase mais corrupta da história infeliz desta terra, se é que podemos dizer que temos história? O brasileiro miserável e indolente está satisfeito com o dinheirinho que ganha de graça todo mês, versão moderna e infeliz do Jeca Tatu lobatiano. E nesse passo, as próximas infinitas gerações vão continuar mancando com a atual. Mas, se formos pensar bem, talvez tudo isso seja parte de um processo incontornável pelo qual todas as nações ou passaram ou passarão. As grandes nações européias viveram guerras e com elas temperaram suas personalidades e carateres. Por aqui, contudo, tudo sempre foi bonança. Como se dizia antigamente, o maná por aqui sempre caiu do céu. Quem sabe estamos entrando no nosso inferno astral e tenhamos que passar por ela para aprendermos alguma coisa sobre honestidade, decência e auto-respeito. E aprendendo exatamente pela falta de tudo isso.

    Meu caro, eu torço muito para estar completamente errado e poder. No final do ano, comemorar o fim da era PT. Mas, quem sabe, essa seja a nossa guerra, a nossa fase de provações. Quem sabe tenhamos que ir até o fundo do poço para, um dia, começar a nos re-erguer e expulsar esse chorume que se apossou de tudo por aqui.

    Se isso for pessimismo, eu peço desculpas mas não consigo enxergar diferente. E, mais uma vez, estamos nos encaminhando para uma eleição na qual não votaremos por um candidato de nossa escolha, mas votaremos mais uma vez contra alguém. Enquanto as coisas forem assim, não teremos eleições livres, só um arremedo delas.

    Vamos em frente e parabéns pelo texto

    Papai Noel

    ResponderExcluir