Fábio Zanini (*)
A Fifa mete medo. Grande, poderosa, rica, espaçosa, não toma conhecimento de governos ou fronteiras. Protege de maneira obsessiva seus patrocinadores. Numa Copa do Mundo, dá as cartas e acabou. Os países que se submetam a suas vontades. Se não quiserem, há sempre um “plano B” para sediar o evento.
Aqui na África do Sul tudo isso foi ainda mais forte. É um país pobre, periférico e com democracia ainda imatura. Sua força para resistir e contra-argumentar é muito limitada.
Por isso, não surpreende que tenha ganhado força recentemente um sentimento contrário à gigante do futebol. Uma campanha é genial: algumas camisetas com o slogan “Fick Fufa” (algo como “Fida-se a Fofa”) apareceram na Cidade do Cabo (não vi, estou confiando na reportagem do jornal sul-africano “Mail & Guardian”, disparado o melhor e mais respeitado daqui).
Outra campanha diz MAFIFA, com o segundo F numa cor diferente, fazendo portanto um jogo de palavras com a palavra “máfia”.
Tem mais: uma companhia aérea de baixo custo, a Kulula, faz piada em seus anúncios com a proteção das marcas ligadas à Copa pela Fifa (ninguém sem autorização pode usar termos como “Copa do Mundo”, ou “África do Sul-2010”). Em suas propagandas, ela diz que é a “companhia aérea não oficial daquela coisa que não podemos mencionar”.
No rádio, numa outra propaganda, um homem falando com sotaque alemão se apresenta: “oi, sou aquela pessoa que está governando seu país durante este mês”. Referência a Sepp Blatter, presidente da Fifa.
A Copa do Mundo agrada à maioria dos sul-africanos, mas a mão pesada da Fifa forma esses bolsões de insatisfação. Pode haver uma justificativa legal e comercial para banir dos arredores dos estádios ambulantes e trabalhadores informais, em nome da proteção dos patrocinadores.
Mas a imagem que fica é a do velhinho do Soweto que não pode vender sua cervejinha na caixa de isopor para não desagradar à poderosa Budweiser. Uma coisa é adotar essa política na Alemanha; outra bem diferente, num país em que o setor informal é bem mais importante, como a África do Sul.
Isso sem falar de tiros que saíram pela culatra, como a prisão de 30 e tantas mocinhas vestidas de laranja, numa bem-pensada estratégia de marketing da Bavaria, outra cervejaria. Nada pior para a imagem da Fifa do que policiais levando mulheres bonitas para a delegacia.
A Fifa, a bem da verdade, é assim com todo mundo, não apenas com países pobres e fracos. Ontem mesmo o secretário-geral da entidade, o francês Jerôme Valcke, ameaçou a França pelo que viu como interferência governamental na federação local, após o fiasco da sua seleção na Copa. Tudo isso apenas porque o presidente francês, Nicolas Sarkozy, pediu explicações sobre o que aconteceu.
Em 2014, será a vez de o Brasil sentir o bafo quente da entidade. Com receita de US$ 1 bilhão por ano, a Fifa é forte. E sabe disso.
(*) Jornalista esportivo - escreve para Folha de São Paulo
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