Reinaldo Domingos (*)
Muito se vem falando nos últimos meses sobre projeções negativas para a economia para os próximos anos e muitos problemas macroeconômicos são tidos como culpados, o que faz com que não se perceba que a situação pode se agravar nos próximos anos, pois já vivemos uma verdadeira bolha de crédito, que está preste a estourar, fazendo com que avanços que alcançamos possam regredir.
Hoje, os dados são assustadores, sendo que temos no Brasil cerca de 57 milhões de inadimplentes, isto é, pessoas que assumiram compromissos financeiros e não conseguiram pagar. É um dado temeroso.
E o que mais preocupa é que as ações que vejo serem tomadas são, em sua grande parte, paliativas, como utilizar dinheiro extra para ajuste dessas situações, participar de feirões limpa nome, etc. Não se percebe que a solução está na educação financeira das pessoas, o que proporciona que essa situação não se repita mais.
Ocorre que vivemos em um momento no qual, depois de 20 anos que conquistamos nossa estabilidade econômica macro, principalmente, com o controle da inflação, tivemos, na sequência, o aumento do acesso das pessoas a diversas ferramentas de crédito, dando assim uma falsa sensação de aumento de padrão de vida.
Contudo, não foi observado que esse aumento de padrão não ocorreu de forma sustentável, mas sim com o comprometimento cada vez maior da renda com o crédito e, agora, se observa um risco cada vez maior de a chamada nova classe C voltar para a D ou até mesmo a E, pois, agora, enfrentam o desequilíbrio e a realidade de um falso aumento de padrão de vida.
Agora, todos buscam culpados, e esses não faltam; pode ser o marketing publicitário, o fácil acesso ao crédito, a conjuntura econômica ou até mesmo o resultado da eleição. Contudo, não se percebe que o problema é um só: sofremos com a falta de educação, nosso sistema educacional se mostra falido. De um lado, com a progressão continuada e, de outro, com conteúdos que visam apenas que se passe no vestibular ou mesmo titulações sem conteúdos.
Infelizmente, deixamos de lado que temos que educar as pessoas para a vida, para a realidade que enfrentarão no futuro. Assim, mais do que nunca, é necessário que, no processo educacional, se tenha uma grande reflexão sobre projeto de vida. Hoje, não se tem a essência primordial do ensino de projetar os sonhos, isso porque nossa população segue sempre a mesma fórmula, não percebendo que não se pode mudar fazendo sempre tudo igual.
Esse é o ponto primordial que trata a educação financeira, pois ela aborda a relação com dinheiro de forma comportamental, em busca da sustentabilidade.
Vivemos uma era de ansiedade, de consumo imediato, que leva ao consumo não consciente, que nos levou a bolha do endividamento.
Não quero, com isso, ir contra ao consumo, muito pelo contrário, pois, quando se tem educação financeira, com certeza, o consumo irá crescer; quando se combate o endividamento e insere a educação financeira, também se proporciona à população maior capacidade de compra, além de incentivar a cidadania.
Enfim, chegou a hora de enfrentarmos a situação da bolha de endividamento de forma séria. O problema não é apenas macroeconômico, mas também micro.
Temos que deixar de pensar nas pessoas como apenas números e tratá-las como cidadãos possuidores de sonhos e desejos, que devem – e podem – ser realizados.
Para isso, o único caminho é a educação.
(*) É educador financeiro e presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin)
Globo dispensa Xuxa e não renova contrato após quase 30 anos
UOl/TV
Após quase 30 anos de casa, Maria da Graça Xuxa Meneghel não será funcionária da Globo em 2015. A emissora decidiu não renovar contrato com a apresentadora, que fica livre, assim, para negociar com a Record. No começo de 2014, a Comunicação da Globo informou que Xuxa havia renovado com a emissora. Mas o contrato, ao contrário do que se especulou na época, era de apenas um ano e vence na virada de 2014 para 2015.
E não haverá renovação. Xuxa está definitivamente fora da Globo.
Segundo uma alta fonte na emissora, o principal motivo da não-renovação é a audiência. Xuxa já não é mais sinônimo de ibope _chegou a ser humilhada ao perder para o desenho Pica-pau, da Record, em 2012. Além disso, não há um projeto adequado para a apresentadora na grade da Globo, que deve abolir totalmente a programação infantil em 2015. As manhãs de sábado, outrora ocupadas por Xuxa, terão agora edições especiais do Mais Você, Bem Estar e Encontro.
O novo acordo entre Xuxa e Globo já não previa nenhum programa para a apresentadora, nem mesmo adulto. Em junho, em participação no Altas Horas, a própria Xuxa admitiu que não deveria voltar ao em 2015, por causa de suas limitações físicas.
Na época, um alto executivo da Globo revelou ao Notícias da TV que o contrato era "simbólico", apenas para preservar a exclusividade sobre Xuxa, e que não havia obrigação da emissora de colocá-la no ar em programa regular.
Xuxa se afastou do vídeo no final de janeiro para tratar de um grave problema no pé esquerdo. Ela sofre de sesamoidite, uma inflamação causada por estresse de movimentos repetitivos. O problema provoca muita dor e inchaço. Havia o risco de Xuxa ter de fazer uma cirurgia, o que a deixaria ainda mais tempo afastada. Esse risco já foi afastado. Segundo a assessoria da apresentadora, Xuxa está começando a se adaptar à vida sem bota ortopédica.
Xuxa estreou na Globo em 30 de junho de 1986, após pouco mais de dois anos de Manchete. O Xou da Xuxa, que sempre iniciava desembarcando de uma nave cor-de-rosa, foi um sucesso arrebatador, influenciou milhões de crianças e se transformou numa máquina de vender discos. Nos anos 1990, Xuxa experimentou uma carreira internacional e começou a fazer sucesso também nos fins de semana.
Elio Gaspari (*)
Outro dia, a doutora Dilma recebeu dirigentes sindicais preocupados com milhares de trabalhadores de empreiteiras que correm o risco de perder seus empregos se obras da Petrobras forem paralisadas. No fim dessa linha está uma chantagem das grandes empresas: se a limpeza avançar, cria o risco de se “parar o país”.
Já há milhares de demissões e greves em estaleiros na Bahia e no Rio.
A doutora está jogando na defesa com as petrorroubalheiras. Falta-lhe iniciativa, mesmo que seja para reconhecer o que se fez de errado, para evitar que se faça pior.
Está na fila das encrencas o caso da contratação de navios-sondas para perfurações.
Depois da descoberta das reserva do Pré-Sal, a Petrobras precisava contratar navios-sonda de perfuração. Podia ir ao mercado, mas os comissários, com Pedro Barusco no lance (US$ 100 milhões na Suíça), tiveram a ideia de formar uma empresa brasileira e em 2011 criaram a Sete Brasil na qual a Petrobras tinha 10% e punha seu selo.
Entre 2014 e 2018, a Sete Brasil forneceria 28 plataformas. Coisa de US$ 30 bilhões.
Um projeto desse tamanho poderia atrair investidores de todo o mundo.
Entraram três bancos (BTG, Bradesco e Santander) e mais os suspeitos de sempre: os fundos Petros, Previ Funcef, Valia e o FGTS. A Viúva ficou com cerca de 45% do negócio. Passou o tempo, entregaram um casco e cinco estão atrasados. A Sete já desembolsou US$ 8,9 bilhões, com uma parte em adiantamentos. Num caso, com um desembolso de US$ 2 bilhões, não há metade disso em obras. Só há uma sonda dentro do cronograma.
No mercado surgiu a figura do “estaleiro Powerpoint”.
Se tudo desse certo cada sonda sairia por algo em torno de US$ 1 bilhão.
No mercado internacional, custavam US$ 750 milhões. Depois, seriam alugadas para operadoras, pagando-se US$ 600 mil por dia. Lá fora, esse serviço valia no máximo US$ 500 mil. Os prazos foram para o espaço e hoje pode-se torcer para que as sondas fiquem prontas entre 2016 e 2022, se ficarem.
Quando faltou caixa, só o BTG aumentou sua participação, mas a Sete Brasil disse que ia buscar dinheiro no mundo. Piada. No início deste ano, acharam US$ 10 bilhões no Fundo de Marinha Mercante. O Banco do Brasil não topou repassar os recursos e a tarefa foi para o espeto do BNDES. Esse financiamento tornou-se o maior projeto do banco, com uma exposição superior à que ele assumiu com Eike Batista.
A senhora pode dizer que isso são vicissitudes do mercado. Mas veja que a Sete Brasil contratou obras com seis estaleiros. Três (Jurong, Keppel e EAS) estão de pé. A OSX do Eike virou pó. As outras duas, EEP e Rio Grande, estão com gente dormindo em colchonetes da Polícia Federal. (Na EEP há duas greves de trabalhadores.) O doutor Barusco, que defendeu a criação da Sete Brasil e foi seu diretor de operações, está preso, colaborando com a Viúva.
Na última reunião do conselho da Sete Brasil, duas operadoras de sondas resolveram cair fora. Não querem migrar das páginas de economia para o noticiário policial.
O argumento segundo o qual a investigação das petrorroubalheiras pode parar obras, gerando desemprego, é chantagem. Em alguns casos, as empresas já estavam quebradas, em outros, não haverá jeito. Botar dinheiro nelas é remunerar o ilícito.
Se as doutoras Dilma e Graça Foster começarem a trabalhar hoje, esse mal pode ser remediado.
Basta mostrar que a Viúva poderá avançar no patrimônio das empresas e dos seus doutores. O Brasil não é a China, mas o companheiro Xi Jinping está fazendo exatamente isso. Primeiro ele limpa o ladrão, depois manda-o para a cadeia. Um dos empreiteiros já está vendendo os cavalos do seu haras. Em vez de tirar dinheiro do Fundo de Marinha Mercante para financiar estaleiros virtuais, depenam-se os ladrões (pessoas físicas e jurídicas) para evitar que eles depenem os trabalhadores.
(*) É jornalista e escritor
Ingredientes
1 lagarto (2 kg);
2 tomates em molho;
1 Pimentão vermelho;
1 alho poró;
2 talos de salsão;
1 cebola;
16g de alho;
100ml de azeite;
10g de pimenta do reino;
18g de pimenta síria;
20g de sal.
Modo de preparo
Em uma panela comum coloque todos os temperos cortados em rodelas e refogar no azeite.
Logo em seguida, acrescente o lagarto e refogue mais um pouco e adicione o restante dos ingredientes, depois 3 litros de água e deixar cozinhar por 3 horas.
Retire do fogão e leve à geladeira, deixe de um dia para outro e depois fatiar no fatiador.
Montar o Beirute
Pegar um pão sírio, abrir em duas partes e colocar 10 fatias de rosbife, depois acrescente 5 rodelas de tomate e zaathar (tempero árabe).
Na outra parte, adicionar mussarela e levar ao forno, deixando o queijo derreter e o pão dourar.
José Antonio Segatto (*)
Um fato causou surpresa nas últimas eleições presidenciais: o apoio quase unânime das centrais sindicais à candidata do PT. De procedências, concepções e práticas muito diversas, sempre às turras e trocando impropérios, as centrais travaram, durante longo tempo, competição pelo domínio do movimento sindical. Nos últimos anos, no entanto, deram de andar de braços dados, afinados e em estranha harmonia.
Como explicar a inusitada reviravolta e a misteriosa unanimidade?
Um recuo, não muito distante, na História, pode contribuir, para o entendimento dessa aliança, suas motivações, conveniências e seus interesses.
Nos anos 1970/80, algumas teses acadêmicas sobre o sindicalismo tornaram-se correntes. Difundidas pela mídia e por outras instituições da sociedade civil, penetraram e disseminaram-se no movimento operário e sindical e converteram-se em hegemônicas — estiveram mesmo na base e na origem da reordenação do movimento sindical e da esquerda naqueles anos. Afirmavam, em linhas gerais, que o movimento operário/sindical até 1930 fora um movimento combativo, autônomo e revolucionário e, após essa data, teria sido derrotado e subordinado ao Estado; convertido em organismo burocratizado, de colaboração, passou a ser manipulado pelo populismo. Essa situação teria perdurado até 1978/80, quando o autêntico movimento operário/sindical, no ABC paulista, teria iniciado sua ressurreição.
O “novo sindicalismo”, como passou a ser denominado, contestava desde a estrutura sindical (unicidade, verticalização, imposto sindical) até a intervenção e mediação do Estado nas relações entre capital e trabalho. A luta por autonomia e liberdade sindical confundiu-se com o combate ao Estado, à defesa da negociação direta entre patrões e trabalhadores e ao livre-arbítrio do mercado na compra e venda da força de trabalho.
A principal liderança do “novo sindicalismo” (Lula) chegou mesmo a afirmar que a Consolidação das Leis do Trabalho ( CLT) era o “AI-5 da classe operária”.
Globo Rural
O plantio de soja em Mato Grosso foi concluído esta semana, informou o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), em relatório divulgado nesta sexta-feira (12/12). O avanço foi de 0,5 ponto porcentual em uma semana.
A semeadura foi concluída com atraso em relação ao ano passado, quando os trabalhos haviam sido finalizados na semana encerrada em 5 de dezembro.
A área total semeada ficou dentro do previsto pelo Imea, de 8,86 milhões de hectares.
Segundo o instituto, a safra mato-grossense 2014/2015 deve atingir rendimento de 52,4 sacas por hectare, ante 51,9 sacas por hectare no ciclo anterior, e produção de 27,89 milhões de toneladas, ante 26,29 milhões de toneladas em 2013/2014.
Revista Exame
O cargo de ministro da fazenda é o segundo mais poderoso da República.
É a consequência lógica de nossa estrutura econômica, em que o Estado sufoca a sociedade, que tenta se virar para gerar as riquezas que vão, ao fim do processo, sustentá-lo. O governo federal acumula tantas atribuições que o chefe da Fazenda acaba sendo o chefe da economia — suas canetadas, afinal, podem selar o destino de setores inteiros.
Como, então, Luiz Carlos Trabuco, o presidente do Bradesco, disse “não” ao convite para assumir o posto? Estamos no terreno da especulação, já que ele não fala no assunto, mas hoje Trabuco — mesmo no auge da carreira, mesmo com sua situação financeira resolvida para todo o sempre — não é mais dono de seu destino.
Aos 63 anos, ele está nos estágios finais de sua formação para suceder a maior lenda do mercado financeiro nacional, Lázaro Brandão, o senhor de 88 anos que comanda, até hoje, o segundo maior banco privado do país.
Só quem conhece a cultura criada por Brandão consegue entender: Trabuco não poderia mesmo dizer “sim” a Dilma Rousseff. Um processo tão aguardado, tão calculado e tão sensível que não poderia ser posto em segundo plano por um cargo em Brasília.
Por mais poderoso que seja.
O processo sucessório ganhou clareza em março deste ano, quando Trabuco assumiu o cargo de vice-presidente do conselho de administração. Ali, Brandão dava um sinal aguardado há anos: quem ele escolhia como seu provável sucessor. Mas que ninguém confunda a escolha com qualquer pressa para efetivá-la.
Há 72 anos no Bradesco, onde começou a trabalhar numa agência em Marília, no interior de São Paulo, “seu” Brandão, como é chamado por funcionários e altos executivos do banco, é, no papel, o presidente do conselho de administração. Na prática, é o mais próximo de um dono que o grupo tem.
Hoje, o controle da instituição é dividido entre executivos, conselheiros e herdeiros de Amador Aguiar, fundador do banco. Juntos, eles têm 38% do capital. A fatia de Brandão não é divulgada, mas pessoas próximas estimam que não chegue a 1%.
Graças ao peculiar modelo de gestão do Bradesco, porém, essa pequena participação tem sido suficiente para dar a ele a palavra final em todas as decisões estratégicas.
Desde que assumiu o conselho, em 1990, após o afastamento de Amador Aguiar, que faleceu em 1991, ninguém, nem os herdeiros, nem outros executivos, nem investidores, teve interesse em mudar isso.
“Somos como um monólito”, diz Brandão. “Os funcionários trabalham pelo conjunto, e o grande objetivo é preservar nossa cultura e a consistência que temos ao executar tarefas e nos posicionar no mercado.”
Tudo indica que caberá a Trabuco a função de preservar a cultura de que fala Brandão.
O Bradesco se tornou um dos maiores bancos do Brasil apoiado num modelo de gestão que, na teoria, tem tudo para dar errado. É quase uma anticartilha da “gestão moderna”.
A hierarquia é rígida, a rotina é pouquíssimo flexível (conseguir emendar um feriado é uma vitória) e o tempo de casa pesa nas promoções. Entre os 18 vice-presidentes e diretores executivos, apenas um está no banco há menos de dez anos — oito são funcionários desde a década de 70, e outros cinco, desde os anos 80.
Renato Gomes Nery (*)
A questão da culpa ganha destaque quando nos deparamos hoje com autoridades que deixam ou omitem as traquinagens, desmandos e crimes de seus subordinados e, após escândalos e mais escândalos, dizem que não sabiam. E adentra para a questão dos entusiastas que ajudaram a entronizar estas autoridades e dizem que não sabiam que foram enganados por elas. Sabiam ou não sabiam? Eis a questão que tentei responder em outra ocasião.
Quantos de nós, acreditando nos bons propósitos e excelentes programas, ajudamos entronizar tantas e nefastas representações políticas e, ora, estamos desapontados com elas, porque constatamos que o único objetivo era o poder que conquistaram as nossas custas e viraram as costas para tudo que pregavam (inclusive ideais e idéias que comungaram ao longo da vida), em prol de ideologias e programas duvidosos, de privilégios, benefícios pessoais, familiares e de grupos e mesmo da manutenção pura e simples do Poder. À revelia está o País que continua o mesmo, infelicitado por tantas e tão graves injustiças. Será que não temos culpa por isto? E aqui reside a questão da omissão e da responsabilidade, do entusiasmo e dos entusiastas, abordada de forma genial por Milan Kundera, em seu Livro memorável, denominado A Insustentável Leveza do Ser - 45ª Ed. Nova Fronteira, pag. 177/178, ao descrever sobre a implantação do Regime Comunista e os danos que ele causou a Europa Central –
- A história de Édipo é bem conhecida: um pastor, tendo encontrado um recém nascido abandonado, levou ao rei Pólibo, que o criou. Quando Édipo cresceu, encontrou num caminho das montanhas um carro em que viajava um príncipe desconhecido.
Os dois se desentenderam, e Édipo matou o príncipe. Mais tarde casou-se com a rainha Jocasta e tornou rei de Tebas. Não suspeitava que o homem que tempos atrás assassinara nas montanhas era o seu pai, e que a mulher com quem dormia era a sua mãe.
Enquanto isto a sorte perseguia seus súditos, dizimando-os com doenças.
Quando Édipo compreendeu que era o único culpado por esses sofrimentos, furou os olhos com espinhos e, cego para sempre, partiu de Tebas.
Conclui o Autor....
Aqueles que pensam que os regimes comunistas da Europa Central são obra exclusiva dos criminosos deixam na sombra uma verdade fundamental: os regimes criminosos não foram feitos por criminosos, mas por entusiastas convencidos de terem descoberto o paraíso. Defendiam corajosamente esse caminho, executando, por isso, centenas de pessoas.
Mais tarde ficou claro como o dia que o paraíso não existia, e que, portanto, os entusiastas eram assassinos.
Assim todos acusavam os comunistas: vocês são os responsáveis pelas desgraças do país ( que está arruinado), pela perda de sua independência (caiu sob tutela dos russos), pelos assassinatos judiciários.
Os acusados respondiam: não sabíamos! Fomos enganados! Acreditamos! Somos inocentes do fundo do coração!
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Sabiam ou não sabiam? Mas: seriam inocentes apenas por que não sabiam?
Um imbecil sentado no trono estaria isento de toda responsabilidade somente pelo fato de ser um imbecil?
Édipo não sabia que dormia com sua própria mãe, e, no entanto, quando compreendeu o que tinha acontecido, nem por isso se sentiu inocente. Não pôde suportar a visão da infelicidade provocada pela ignorância, furou os olhos e, cego para sempre, partiu de Tebas.
Pois é, tatu não sobe em árvore. E quem os botou lá não é capaz de tirá-los.
E não espere que eles tenham a coragem moral de Édipo que quando não pode suportar e infelicidade provocada por ele furou os olhos e partiu de Tebas.
Se eles não furam os olhos, pelos menos tenhamos nós a dignidade de assumir a nossa responsabilidade pelas nossas escolhas, pelos freqüentes e insistentes desmandos deste Brasil varonil.
(*) Advogado em Cuiabá-MT –
E-mail: rgnery@terra.com.br
Bellini Tavares de Lima Neto (*)
“A mais tremenda das armas,
Pior que a durindana,
Atendei, meus bons amigos:
Se apelida:
- A língua humana!”
(Fagundes Varella)
Há muito tempo um dos meus irmãos tinha um carro, um antigo Volkswagen, carrinho que já foi muito popular entre nós. Era um modelo simples, dotado de um motor identificado como 1300. Meu irmão cismou de trocar o motor por um modelo 1500.
Eu disse a ele que aquilo era uma bobagem, que não deveria gastar dinheiro com isso e por aí afora. Mas ele queria, queria e, um belo dia, apareceu com o carro e seu motor novo. Estava feliz, orgulhoso de sua proeza. E eu, então, subi nas minhas próprias tamancas, pronto para iniciar um discurso de contundente reprovação.
E, como que por milagre ou ação de alguma força sobrenatural, de repente alguma coisa me disse:
“O que é que você vai dizer?
Vai repetir aquele discurso todo?
Ele já fez o que queria fazer, está contente.
O que você quer fazer?
Dar um jeito de prevalecer a tua opinião?”
É claro que o discurso não foi tudo isso, mas o importante é que eu levei um “cala boca” de proporções exatas e oportuno, um safanão para guardar minha língua na boca e respeitar a natureza que nos dotou de apenas um órgão falador e dois para ouvir.
Não sei se aprendi a lição de forma definitiva, mas o fato é que nunca mais me esqueci disso. Será que tomamos algum cuidado com o que dizemos? Será que nos ocorre que o que dizemos pode não ter razão alguma para ser dito e, o que é pior, pode desagradar, magoar ou ferir a quem ouve?
Será que temos, mesmo, que dizer tudo o que nos vem à cabeça?
Nestes tempos ásperos, a gentileza parece ter resolvido se ausentar por tempo indeterminado e se esconder em lugar incerto e não sabido.
Na bolsa de valores morais, parece andar em baixa, cotação zero ou muito próximo disso. Ninguém quer, ninguém se interessa. Ninguém abre mão de coisa alguma em nome dela, mesmo que não haja coisa alguma a abrir mão. Ela não é considerada e pronto.
Aí, as pessoas vão dizendo ou fazendo tudo o que lhes vêm à mente, mesmo que possa ter vindo das regiões menos recomendáveis. A peneira vem se tornando cada vez mais grossa, a filtragem não pega praticamente nada.
Tudo sobe, tudo bem à tona e estamos conversados. Não gostou? Coma menos.
O poeta, com seu talento inquestionável, autor de uma das mais lindas páginas da poesia em língua portuguesa, o seu imortal “Cântico do Calvários”, também teve sensibilidade para detectar essas que, sem dúvida, é a mais poderosa de todas as línguas. Uma vez que nascido no século XIX, seus parâmetros eram as armas da época:
“Qual a mais forte das armas, a mais firme, a mais certeira?
A lança, a espada, a clavina ou a funda aventureira? A pistola? O bacamarte?
A espingarda ou a flecha? O canhão que, em praça forte, faz em dez minutos brecha?”.
Os tempos correram, as armas de refinaram, mas nada conseguiu superar, em força e contundência, em capacidade de ferir ou causar dor, o poder da língua humana.
E isso tem uma razão simples: todas essas armas podem dizimar a vida e, então, a dor se acaba. Ou podem causar muita dor mas será passageira.
A língua humana não mata, apenas fere.
Mas o ferimento jamais se cicatriza e a dor não passa.
(*) Advogado, avô e morador em São Bernardo do Campo (SP)
Nelson Motta (*) para O Globo
Não aguento mais falar sobre o escândalo da Petrobras.
Mas não consigo parar de procurar notícias, comentários, desdobramentos e consequências desse assunto que domina o país e desperta em mim, e em muita gente, os instintos mais primitivos. Sou por natureza pacífico e tolerante, mas estou envenenado por terríveis desejos de vingança, por sentimentos de fúria e indignação que vão além da sede de justiça e me dão uma certa vergonha.
É estarrecedor.
Em cada caixa que se abre, surgem novas caixas de conspirações para saquear não só a Petrobras, mas todas as grandes estatais brasileiras. Fiquei até emocionado vendo Paulo Roberto Costa afirmar na CPMI que os esquemas da Petrobras se repetem na construção de rodovias, hidrelétricas, aeroportos, portos, usinas, onde quer que haja dinheiro público para ser roubado.
A história de Paulo Roberto é um clássico brasileiro moderno.
O cara que estuda, entra na Petrobras por concurso, trabalha 20 anos com competência, até que, para crescer dentro da empresa, aceita fazer o jogo dos políticos e se torna diretor — e cúmplice. O resto é história, lixo da História.
Mas ao menos Paulo Roberto foi um dos poucos entre os denunciados que se disseram muito arrependidos e envergonhados. Entre os que, contra todas as evidências, insistem em negar culpas e responsabilidades, os que ainda se acreditam intocáveis, e os que até se orgulham de sua “missão política”, são poucos os que parecem arrependidos — não do que fizeram, mas porque foram pegos.
Também se ficou sabendo oficialmente o que sempre só se imaginava: é impossível se tornar diretor de uma estatal sem apoio político.
Mérito, eficiência, produtividade e ética são desprezados.
É assim que funcionários competentes, mas ambiciosos e de moral fraca, são cooptados para alimentar a voracidade de políticos e partidos.
Como um país pode viver assim há tanto tempo?
Eu me prometi não escrever mais sobre isso, que procuraria temas mais divertidos, ou mais profundos, para os leitores. Mas sucumbi aos baixos instintos e, para horror de meu professor Zuenir Ventura, ainda tasco um ponto de exclamação no título.
(*) Jornalista, compositor, escritor, roteirista, produtor musical e letrista.