Geraldo Barros (*)
Tem sido muito bom o desempenho exportador do agronegócio brasileiro no período de recuperação após os 13 meses da crise de commodities que se seguiram a setembro de 2008.
Nos últimos 12 meses (outubro/2010 a setembro/2011), o valor das exportações do agronegócio chegou a US$ 85 bilhões, com aumento de 33,6% ante outubro/2009 a setembro/2010.
Contribuíram para isso os aumentos médios de 25,9% nos preços em dólares pagos aos exportadores e de 6,1% nos volumes exportados.
Em volume, os mercados seguem crescendo significativamente, mas a evolução dos preços tem sido a força dominante para a expansão da receita do agronegócio.
O crescimento econômico dos principais países importadores tem viabilizado a absorção da produção, mesmo a preços bem maiores.
Já a alta de preços é mais provavelmente um subproduto do enorme crescimento da liquidez mundial, disponível a baixas taxas de juros, que favorece o uso de instrumentos financeiros por instituições como bancos, seguradoras, fundos de pensão etc.
Os preços em dólares das principais commodities brasileiras tiveram altas expressivas nos mercados internacionais: café, 56% carne bovina, 28% açúcar, 27% e soja em grão, 20% (também no comparativo dos últimos 12 meses com os 12 anteriores).
Durante esse mesmo período, no mercado doméstico houve valorização real de 15% da moeda nacional em relação ao dólar americano.
Embora não haja vinculação direta entre preços ao exportador e ao produtor, os movimentos havidos em ambos são consistentes. Por exemplo, os produtores nacionais dessas commodities tiveram, no período, seus preços reais aumentados em aproximadamente 45% para o café, 16% para a carne bovina, 16% para o açúcar e 10% para a soja.
Ao longo de 2011, os mercados externos seguem firmes, refletindo-se até setembro na aceleração dos preços médios recebidos pelos exportadores brasileiros que, em dólares, estiveram 30% acima dos mesmos meses de há um ano.
Embora continuem em alta, a partir do final de setembro, desaceleração importante ocorreu nos preços do suco de laranja, da soja, do café e do açúcar.
Tais preços são bastante influenciados pelas Bolsas internacionais, onde, em setembro, ocorreu baixa de 14% para a soja, 10% para o açúcar e 21% para o café. Não se observa qualquer sinal claro de generalização ou agravamento desse quadro.
A menos que a crise internacional alcance limites extremos, com reduções significativas nas taxas de crescimento econômico da China e de outros importantes consumidores, o cenário esperado é de preços médios relativamente altos para os produtores brasileiros.
(*) Agrônomo e pós-doutor em Economia, é coordenador científico do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) e professor titular da Esalq-USP. (Aprosoja)