quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Só sobrou ele

Humberto Luiz Peron (*)

O ano seria perfeito. O time dele finalmente tinha um técnico de respeito, um elenco recheado de bons jogadores e ainda contava com três craques que poderiam fazer diferença. Como os adversários não contavam com grandes elencos, os títulos surgiriam durante o ano.

Sonhando com uma temporada de conquistas, ele preparou o estoque de desculpas que a esposa iria ouvir para não perder uma só partida do seu time na temporada. Também cuidou para não ter nenhum compromisso nas noites de quartas e quintas.

Como um eficiente relações públicas do seu clube, reuniu vários amigos que iriam aos estádios ou participar de animados churrascos quando o time jogava fora. No pacote, também havia camisas novas para ele, o filho e o pai.

O começo nada convincente na temporada não seria motivo de preocupação, pois equipe ganharia entrosamento e venceria pelo menos um dos títulos - o Estadual e o torneio mata-mata - que a equipe disputava no primeiro semestre.

A derrota no Campeonato Estadual não causou grande trauma. "Quem quer ganhar um torneio assim, que não vale nada?", pensou.

Ainda havia o importante torneio mata-mata que logo se transformou em prioridade da primeira metade do ano. No campeonato eliminatório, mais um desastre aconteceu e o time ficou pelo caminho.

Otimista ao extremo, o fanático tentava animar seus colegas dizendo que no Campeonato Brasileiro e na Copa Sul-Americana tudo seria diferente. Para o segundo semestre a mudança seria grande, pois com as eliminações precoces a equipe teria um bom tempo para se preparar para o segundo semestre e novos reforços chegariam.

O começo do Nacional foi animador e equipe brigaria, com toda certeza, pelo título. Mas, com o passar das rodadas, o time começou a perder o fôlego.

Para o otimista, se não dava para ganhar o caneco, as chances de ficar com uma vaga para a próxima Copa Libertadores ainda eram grandes. Mas, ele não conseguia aceitar que o rendimento do time era pífio e que a cada rodada o clube ficava mais longe dos primeiros na classificação.

Nem mais uma eliminação na temporada, agora na Copa Sul-Americana, o fez ver que as coisas estavam perdidas.
Aos poucos, os amigos foram desistindo de acompanhá-lo nas partidas e de torcer pelo clube. Os churrascos para ver os jogos na TV foram perdendo público na mesma proporção, mas ainda havia sempre o pai e o filho para lhe fazer companhia.

Os vexames continuaram acontecendo e o time passou a lutar contra o rebaixamento.
Só sobrava um jogo na temporada. Mas, agora ele teria que ir sozinho. Os amigos tinham jogado a toalha faz tempo, o filho que sempre lhe importunava para ir ao estádio trocou o futebol por uma festa de um colega, e o pai alegava estar fisicamente cansado e também abriu a mão do convite.

E lá estava ele solitário no espaço reservado a torcida do seu time --parecia que não apenas os seus companheiros tinham desistido do clube, mas também todo o resto da torcida.

Sozinho, diante de um estádio lotado de adversários, ele soltou o grito mais alto de sua vida quando o gol da improvável vitória saiu. O tento, além de evitar o descenso do sua paixão, roubou o título do principal rival.
Feliz, saiu com um largo sorriso do estádio ao descobrir que só bastava a torcida dele para que seu time conseguisse a vitória.

No fundo, ele sempre soube que o seu time não passaria um ano inteiro sem lhe dar uma alegria.

(*) Jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol

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