sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Pirarucu com chip

 Pirarucu da Amazônia tem chip implantado para evitar pesca predatória

UOL 

Chips estão sendo usados para identificar pirarucus na Amazônia. O equipamento eletrônico é implantado nos peixes usados para gerar filhotes em cativeiro, evitando que exemplares sejam retirados indevidamente da natureza. 

O chip começou a ser utilizado nos peixes reprodutores em 2009, por um programa implantado na região para a criação em cativeiro, o Projeto Pirarucu da Amazônia. Desde 2011, no entanto, o chip passou a ser uma exigência do Ibama e do Ministério da Pesca e Aquicultura. 

A criadora Simone Yokoyama afirma que a identificação também é importante para controlar melhor os cruzamentos. Como os pirarucus só se reproduzem com os pares que escolhem, é importante que não sejam colocados em tanques separados, diz. 

O chip custa R$ 12 e deve ser implantado em todo pirarucu usado para a produção de filhotes, assim que atinge a fase adulta, afirma João Machado, do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), que coordena o Projeto Pirarucu. 

Em Rondônia, que concentra a maioria das criações da espécie, cerca de 500 animais reprodutores têm o chip implantado, de acordo com o Sebrae. 

Com o chip, o peixe ganha um número de identificação com dados da fazenda a que pertence. Um equipamento que lembra um leitor de código de barras pode ser usado pelos fiscais para encontrar o número dos peixes e verificar se estão com o registro em dia. 

De acordo com a produtora Simone Yokoyama, da Piscicultura Boa Esperança, de Pimenta Bueno (RO), cada nota fiscal emitida com a venda de filhotes de peixes para a engorda leva também o número de identificação de seus pais. 

"Se o Ibama quiser verificar a origem dos alevinos [os filhotes de peixe], pode conseguir na nota de venda o número dos pais, ir até a propriedade onde estão registrados, para ver se realmente existem e se estão regularizados", diz Machado, do Sebrae. 

O chip também é usado pelo Projeto Pirarucu da Amazônia para identificar os casais que dão origem ao maior número de filhotes e aos animais mais saudáveis e selecioná-los para o melhoramento genético.

Produção em 2014 deve ser de 1,5 mil quilos de pirarucu 
A carne do peixe, que chega a atingir 2 metros e 250 kg, está entre as mais valorizadas da Amazônia. Os produtores recebem cerca de R$ 8,50 pelo quilo do animal, que é vendido ao atingir 13 kg. 

O consumidor final paga cerca de R$ 20 pelo quilo do peixe na região amazônica.
Em São Paulo, a faixa é de R$ 36 o quilo. 

De acordo com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio ao Empresário), a estimativa é que 1,5 mil toneladas do peixe sejam levadas ao mercado em 2014. A produção de 2013 foi de apenas 400 toneladas. 

De acordo com Maria Fernanda Nince, secretária nacional de Ordenamento e Planejamento da Aquicultura, atualmente há 233 unidades produtivas no Brasil. 

O Norte concentra 66% dos produtores, enquanto que o Centro-Oeste concentra 15%; o Sudeste tem 12%; o Nordeste, 11%; e o Sul 2%.

Santarém-Cuiabá, ilusão e mentiras de 162 anos

Manuel Dutra (*) 

Nos dias de hoje ainda ouço a voz pausada do general Geisel, a voz metálica do general Figueiredo, a promessa solene de Maluf, (Collor nada disse), mas FHC o disse em duas campanhas, e Lula disse em quatro: “meu governo (o deles!!!) concluirá a Santarém-Cuiabá”. Na década de 50 JK já dissera o mesmo. Não faz muito tempo, foi a vez de Marina Silva, a atual candidata a presidenta: "Nós conseguimos impedir o asfaltamento de uma grande rodovia na Amazônia". ****************************************************************************** 

Este artigo eu publiquei do Diário do Pará em 2002. Quase uma década depois, não perde a sua atualidade, como, aliás, as demais realidades da Amazônia, onde coisas velhas permanecem aí como se novas fossem. 

“Meu pai trocou o Marajó pelo Baixo Amazonas aos 18 anos, depois que meu avô ouviu umas conversas de que haveria emprego farto na construção de uma estrada de ferro por aquelas bandas."

Meu pai morreu em 1997 com 92 anos e a Santarém-Cuiabá ficou pela metade, chão raspado, poeira total no verão e lama intransponível no inverno. Nas suas margens, dezenas de milhares de famílias, roçados, fazendas e vários municípios há pouco criados, a despeito do isolamento. 

Para os que não conhecem o assunto, é preciso dizer que aquela estrada já existe há mais de 30 anos, o que falta é concluí-la dentro do território paraense, extensão de cerca de 800 quilômetros não asfaltados. 

A primeira “conversa” de que se tem notícia, de construir uma estrada ligando o Centro do Brasil à Bacia Amazônica, data de 1851, quando Augusto Leverger, Barão de Melgaço, na qualidade de presidente da Província de Mato Grosso, informou ao Imperador Pedro II sobre o traçado de uma ferrovia que se propusera estudar o Imperial Corpo de Engenharia, para comunicar os dois pontos do território brasileiro, a partir das vilas de Santarém e de Cuiabá. 

Outras “conversas” podem ser datadas: 1864, 1865, 1878, 1880, 1883, 1893 e 1895. Neste último ano o Congresso Estadual do Pará autorizou o governador Lauro Sodré a contratar uma empresa para a construção de uma linha férrea entre o Pará e o Mato Grosso. 

Desse ano até 1997 podemos conferir 40 outros momentos em que se anunciou a construção da estrada ou adoção de medidas a respeito do projeto que, aos poucos foi virando projeto de rodovia. 

A ideia de ligação do Centro Oeste ao coração da Amazônia, porém, é bem mais antigo. Os registros das primeiros expedições partindo da região central em direção ao Pará levam a 1747, viagens que hoje nos parecem loucuras, transpondo cachoeiras, descobrindo rios, contactando grupos indígenas, encontrando ouro e pedras preciosas onde séculos depois seriam os imensos garimpos do Tapajós e adjacências. 

As primeiras projeções visavam ao transporte fluvial, depois à ferrovia e, por fim, à rodovia e, novamente por fim, o inacabamento de um projeto, ou mais uma ilusão de gerações e gerações daqui e de lá que, a despeito do abandono, travam contato comercial há mais de 250 anos, quando carregavam fardos em canoas rústicas e nas costas nas transposições dos alagados e corredeiras. Por esse aspecto, o coração da Amazônia acha-se, relativamente, ligado ao coração do Brasil há 2 séculos e meio. 

Nos dias de hoje ainda ouço a voz pausada do general Geisel, a voz metálica do general Figueiredo, a promessa solene de Maluf, (Collor nada disse), mas FHC o disse em duas campanhas, e Lula disse em quatro: “meu governo (o deles!!!) concluirá a Santarém-Cuiabá”. Na década de 50 JK já dissera o mesmo. 

Ano passado li que “o Ministério do Meio Ambiente realiza oficina para consolidar as ações para o plano de desenvolvimento sustentável na área de influência da rodovia Cuiabá-Santarém”. E que a ministra Marina Silva esteve presente à “oficina”, quando declarou:
"É o primeiro experimento de fazer uma estrada com governança na Amazônia" (O que será isso?!). 

Num programa de TV em rede nacional, disse a mesma ministra:
"Nós conseguimos impedir o asfaltamento de uma grande rodovia na Amazônia". 

A mentira agora, pelo menos, está explícita. A secular idéia da estrada, ao contrário do que pensam alguns, tem menos a ver com Santarém e com Cuiabá do que com a geopolítica centralista dos governos do Brasil. Integrar o território amazônico ao país, por trilho ou asfalto, é algo até agora inaceitável para as elites do poder maior da Avenida Paulista ou, com mais crueza, do Porto de Santos, ambos apoiados por fortes bancadas no Congresso. 

E a questão ambiental? A verdade, como já dito, é que a estrada já existe e lá vivem milhares de famílias, bem ou mal produzindo. Se o asfaltamento ou os trilhos são fatores de penetração da agressão ambiental, então a nossa geração nada mais tem a fazer. 
Se somos uma sociedade incapaz de impor a lei em todo o espaço nacional, fracassamos. Para terminar: a agressão ambiental já está implantada ao longo da BR-163, com toda a poeira do verão e a lama das invernadas. Talvez com asfalto ou trilho será (será?) mais fácil impedir ou diminuir a agressão...” 

 (*) Jornalista, professor universitário com especialização em Educação Ambiental e mestrado em Planejamento do Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido,

TV Cultura uma das melhores em qualidade do mundo

TV Cultura é o segundo canal de maior qualidade do mundo, Globo é 28º, aponta pesquisa 

Folha de São Paulo 

Sob encomenda da rede britânica BBC, o instituto inglês de pesquisa Populus divulgou um levantamento no qual a TV Cultura aparece como a segunda emissora de maior qualidade no mundo, atrás apenas da BBC One. 

O estudo entrevistou 500 pessoas (adultas com mais de 18 anos) em cada um dos 14 países da pesquisa sobre a qualidade da programação de TV: Alemanha, Austrália, Brasil, Dinamarca, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Itália, Japão, Portugal, Reino Unido e Suécia. 

 A próxima brasileira da lista, segundo o levantamento, é a TV Globo, que ficou com a 28ª posição. A TV Brasil aparece em 32º lugar. A Bandeirantes ficou no 35º, a Record, no 39º, e o SBT, no 40º. 

 A informação é da coluna Outro Canal, assinada por Keila Jimenez e publicada na Folha desta sexta-feira (31).

A dinheirama para Delúbio: armação ou sem-vergonhice contagiosa?

Reinaldo Azevedo (*) 

Ser mensaleiro, ora vejam, pode render mais de milhão. Isso se o sujeito for um condenado e estiver em cana — ou, ao menos, dormindo na cadeia. Em plena operação do esquema, rendia muito mais. O site criado para arrecadar dinheiro para pagar a multa de Delúbio Soares já teria juntado mais de R$ 1 milhão de reais. 

É um acinte! Por que escrevo “teria juntado”, pondo a informação sob suspeita? 
Porque só nesta quinta-feira R$ 600 mil caíram na conta de uma vez só. A multa que Delúbio tem de pagar é R$ 466.888,90. Até ontem, o total arrecadado era de R$ 1.013.657,26. 

Quem é essa gente que doa com tanta generosidade?. 
O único ente oficial que vai ter acesso aos nomes é a Receita Federal, já que esse tipo de operação é tributada — e, claro!, o partido. Se os próprios comandantes do PT fizeram boa parte das doações, como deve ter acontecido, ninguém ficará sabendo. 

É claro que o PT decidiu debochar da Justiça como um todo e do Supremo Tribunal Federal em particular. Ao criar um site para doações de pessoas que permanecerão anônimas, tenta fazer de conta que a sociedade está contra o tribunal. 

O petista Marco Aurélio Garcia, que é assessor especial de Dilma para assuntos internacionais, não escondeu a intenção: 
“Isso é uma resposta ao ministro Joaquim Barbosa. Ele, com seus exageros, acabou mobilizando ainda mais a militância”. 

Os mensaleiros também trocam a grana entre si. Da campanha de Genoino, sobraram R$ 30 mil reais, que ele decidiu doar a Delúbio. Da de Delúbio, sobrarão mais de R$ 500 mil, que vão para José Dirceu e João Paulo Cunha… 

É um mau sinal. Estamos diante da evidência de que o PT, além de não admitir os crimes cometidos, ainda parece se orgulhar deles e da suposta adesão de sua militância. 
Digo que a adesão é suposta porque, enquanto os respectivos nomes dos doadores continuarem em sigilo, o bom senso obriga a desconfiar.

E notem o seguinte: a hipótese da farsa é a benevolente. 
A não-benevolente é mais grave. 
Se há mesmo tanta gente disposta a condescender com o crime e a colaborar com criminosos, é sinal de que a sem-vergonhice é contagiosa. 

(*) Jornalista é colunista da Folha de São Paulo e da Revista Veja

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Indústria farmacêutica, mentiras e (muito) dinheiro

Martha Rosenberg, para o Blog Outras Palavras 

Quando um medicamento causa efeitos colaterais, esta informação muitas vezes não é exposta durante anos, o que permite à indústria farmacêutica continuar ganhando muito dinheiro. 

O Food and Drug Administration (FDA) [órgão governamental dos EUA para alimentos e medicamentos] e a indústria farmacêutica argumentam que os efeitos colaterais perigosos em uma droga só aparecem quando é usada por milhões de pessoas – e não no grupo relativamente pequeno de pessoas que fazem testes clínicos. Mas existe outra razão pela qual os consumidores acabam sendo cobaias. Os remédios são levados apressadamente ao mercado, após um período muito curto (de apenas seis meses) para que a indústria possa começar a ganhar dinheiro, enquanto a segurança ainda está sendo determinada. 

Tanto a droga para os ossos Fosamax, repleta de riscos, quanto a analgésica Vioxx, ambas da indústria Merck, foram ao mercado após seis meses de revisão. No caso da Vioxx, isso ocorreu porque “o medicamento potencialmente provia uma vantagem terapêutica significativa sobre outras drogas já aprovadas”, disse a FDA. 

Obrigado por isto. E cinco drogas (Trovan, Rezulin, Posicor, Duract e Meridia), que entraram no mercado em 1997 por pressões da indústria e do Congresso sobre a FDA, diz a Public Citizen, foram em seguida retirados. 

Abaixo, algumas drogas cujos riscos não impediram que seus fabricantes fossem autorizados a colocá-las a venda e exercer seu “valor de patente”. 

Haja cara de pau

Ex-diretor da CPTM diz não se recordar de quem recebeu US$ 550 mil 

Estadão 
João Roberto Zaniboni


A conta Zaniboni não fecha. Em depoimento à Corregedoria-Geral da Administração (CGA), em 25 de outubro, o engenheiro João Roberto Zaniboni, ex-diretor de operações e manutenção da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), disse não se recordar das empresas para as quais prestou consultorias. 
Por esse trabalho ele recebeu cerca de US$ 550 mil em uma conta bancária de sua titularidade na Suíça, entre 2000 e 2002. 

Zaniboni é acusado de ser recebedor e intermediário no pagamento de propinas a políticos e agentes públicos do Estado de São Paulo. 
Ele foi indiciado pela Polícia Federal por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e crime financeiro no inquérito que investiga o cartel metroferroviário que teria operado entre 1998 e 2008, período dos governos Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, todos do PSDB. 

Ele depôs na CGA, braço da Casa Civil, no dia 25 de outubro, perante os corregedores Alexandra Comar de Agostini, Cristiane Marques do Nascimento Missiato, Maria Helena Barbieri Maganini e Ricardo Nogueira Damasceno. 

Zaniboni lembrou-se com riqueza de detalhes de diversos e antigos projetos da CPTM, da década de 1990, contemporâneos aos pagamentos que recebeu na Suíça. 
Mas sobre esses pagamentos alegou não se lembrar das fontes. 

Uma investigação da promotoria da Suíça descobriu a conta Milmar, de Zaniboni, no Credit Suisse de Zurique, na qual o ex-diretor da CPTM recebeu US$ 826 mil. 
Desse total, US$ 250 mil foram repassados pelos consultores Sérgio Teixeira – já falecido – e Arthur Teixeira, este sob suspeita da PF de pagar propinas, o que ele nega taxativamente. 

Sobre os US$ 250 mil, Zaniboni disse ter recebido por consultoria que prestou a Arthur Teixeira, ainda quando ocupava cargo na Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A), antes mesmo de assumir a diretoria de operações da CPTM, o que ocorreu em 1999. 
O pagamento, contudo, ocorreu no ano 2000, quando Zaniboni já estava na diretoria da CPTM – posto que ocupou entre 1999 e 2003. 
Nem Zaniboni, nem Teixeira apresentaram qualquer documento relativo à consultoria. Ambos dizem que o acordo entre eles para o negócio foi verbal. 

Questionado pela Corregedoria sobre a diferença (cerca de US$ 550 mil), Zaniboni afirmou não se recordar da origem. “Inquirido se essa conta bancária chegou a ser movimentada com o depósito de mais valores, respondeu afirmativamente, aduzindo que foi o próprio declarante quem fez vários depósitos, perfazendo um total de 550 mil dólares, valores esses advindos também de trabalhos de consultoria realizados pelo ora declarante”, anotou a CGA. 

“Não sabe informar o nome das empresas para as quais prestou consultoria, pois, como ocorreu com Arthur Teixeira, não tem documentação comprobatória”, acrescentou a Corregedoria. 

Zaniboni disse que, embora entre 2000 e 2002, época dos depósitos, fosse diretor da CPTM, “procurava desenvolver trabalhos de consultoria em outras áreas de sua atuação, como por exemplo, transporte de carga”. 

O ex-diretor da CPTM afirmou, ainda, que entre 2006 e 2007 fechou a conta na Suíça e transferiu os valores para uma conta no banco Safra em Nova York em nome das filhas Milena e Mariana. Segundo ele, em setembro de 2013, o dinheiro foi transferido para o Brasil, os impostos recolhidos e as declarações de imposto de renda retificadas. 

Até agosto, Zaniboni era sócio da Focco Tecnologia, empresa que firmou dezenas de contratos com o governo de São Paulo desde 2009 e recebeu, nos últimos quatro anos, R$ 33 milhões. 
Hoje, a Focco está em nome de Ademir Venâncio de Araújo, também ex-diretor da CPTM e, assim como Zaniboni, indiciado pela Polícia Federal no caso do cartel.

As olheiras da presidente Dilma

Eliane Cantanhêde (*) 

Enquanto discutimos a passadinha da presidente para comer bacalhau em Lisboa, o que deve estar chateando mais a própria Dilma é aquela foto de cara lavada, com umas olheiras medonhas. 

É claro que presidentes têm direito a folga, a lazer, a bacalhau bom e a hotel melhor ainda. Muito justo. Mas, pera lá, às escondidas? E reservando 45 suítes nos dois hotéis mais caros? Aliás, para que viajar com meia centena de funcionários? 

Não precisava exagerar... 

Aí vem a imprensa, sempre essa malvada, e conta tudo. Dá o maior rolo. 
Dilma fica uma fera. E o Planalto desanda a desfiar versões. No ato seguinte, óbvio, a oposição tira casquinha e entra com pedido de investigação na Comissão de Ética Pública da Presidência. Não durou nem 24 horas, a comissão disse não. 

As olheiras, porém, são anteriores a essa celeuma toda. A vida de presidentes é mesmo uma dureza e Dilma, imaginando que ninguém ia saber da "escala técnica" e do passeio pelas ruas de Lisboa, deve ter dispensado a maquiadora. Não devia. 

Quem vai de Davos a Cuba, vive se queixando dos pessimistas e dos velhos (e velhas...) do Restelo, reclama de jeitinhos em dados e vê o ministro da Fazenda ironizando os "nervosinhos" deve estar mesmo cheia de olheiras e num mau humor danado. 

E ainda há todos os problemas na economia, que teima em não crescer; da reforma ministerial, infernal em ano de eleições; e do PMDB, que está trocando petistas por oposicionistas justamente no Rio, um dos três maiores colégios eleitorais do país. 

Agora, vêm esses chatos da internet espalhar brincadeirinhas maldosas sobre os financiamento do Brasil na ilha dos Castro e até lançando um novo PAC, o "programa de aceleração de Cuba". Irreverentes. 

Pior: os manifestantes começaram o aquecimento, com o governo novamente atordoado, sem saber qual será, afinal, o tamanho da encrenca durante a Copa. Você ainda queria que Dilma não tivesse olheiras?! 

(*) Jornalista é colunista da Folha de São Paulo 

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Maconha "recreativa"

FIM DA PICADA! Juiz de Brasília absolve traficante que levava 52 porções de maconha no estômago pra traficar dentro da Papuda. Razão? O doutor considera a droga “recreativa” 

Reinaldo Azevedo (*) 

Decisão de juiz se respeita, claro!, mas se discute — e, até onde a lei faculta, pode-se recorrer contra ela. O juiz Frederico Ernesto Cardoso Maciel, da 4ª vara de Entorpecentes de Brasília, vai virar um herói e um símbolo da causa da descriminação das drogas — particularmente da maconha. Será transformado numa espécie de nova face da Justiça: mais humana, mais compreensível, mais pluralista. Tudo bem! Digamos que fosse assim. Ocorre que o senhor Cardoso Maciel tem de julgar segundo as leis que temos, não segundo aquelas que ele pessoalmente acharia justas. O seu arbítrio não é subjetivo: transita num determinado orbital. Por que isso? O doutor resolveu absolver um traficante de maconha. E não era coisa pouca, não! Sob quais argumentos? Leiam trechos da reportagem de Felipe Coutinho, na Folha. Volto em seguida. 

Escreveu o doutor: “Soa incoerente o fato de outras substâncias entorpecentes, como o álcool e o tabaco, serem não só permitidas e vendidas, gerando milhões de lucro para os empresários dos ramos, mas consumidas e adoradas pela população, o que demonstra também que a proibição de outras substâncias entorpecentes recreativas, como o THC, são fruto de uma cultura atrasada e de política equivocada e violam o princípio da igualdade, restringindo o direito de uma grande parte da população de utilizar outras substâncias”. 

O juiz Cardoso Maciel tem todo o direito se julgar a cultura brasileira “atrasada” — e posso imaginar o seu sofrimento ao ser juiz em meio a esse atraso, né? Mas nada o impede de se filiar a um partido político e disputar um lugar lá naquele prédio das duas conchas, não é mesmo? Refiro-me ao Congresso Nacional. É lá que se fazem as leis, meu senhor, não aí na 4ª Vara de Entorpecentes de Brasília. Quem deu ao juiz a competência para descriminar a maconha? 

Atenção, senhores leitores, o réu em questão foi pego DENTRO DO PRESÍDIO DA PAPUDA COM 52 PORÇÕES DE MACONHA DENTRO DO ESTÔMAGO. O destino era o tráfico entre os presidiários. Pediu pena mínima, e o juiz decidiu absolvê-lo. O advogado do traficante certamente não esperava tanto. 

A justificativa, com a devida vênia, é patética. Escreveu ele ainda, segundo a reportagem: “A portaria 344/98, indubitavelmente um ato administrativo que restringe direitos, carece de qualquer motivação por parte do Estado e não justifica os motivos pelos quais incluem a restrição de uso e comércio de várias substâncias, em especial algumas contidas na lista F, como o THC, o que, de plano, demonstra a ilegalidade do ato administrativo”. 

Não está em questão, nem é de sua competência, o conteúdo da portaria. Ainda que ele não goste dela, não é sua função declarar a sua ilegalidade. Enquanto ele estiver investido da toga, cumpre-lhe considerar que ela integra o conjunto das normas do estado de direito — que inclui ainda a Lei Antidrogas, a 11.343. 

De resto, observo que sentença de juiz não deveria servir para proselitismo e militância em favor de causas. Ademais, há uma questão de fundo: se a maconha fosse legal no Brasil, ele tem a certeza de que o traficante em questão não estaria com a barriga cheia de cocaína, por exemplo? Alguém dirá: “E você, Reinaldo, como pode levantar uma hipótese como essa?”. Posso, sim! O indivíduo sabia que estava cometendo uma ilegalidade — daí ter recorrido àquele ardil. E ele o fez não porque, a exemplo do doutor, considere injusta a ilegalidade da maconha, mas porque decidiu, de forma consciente, transgredir uma lei. Ele não era um militante da liberdade de escolha. Tratava-se apenas de alguém cometendo um ato que sabia ser criminoso. 

Um crime que, não obstante, o juiz não reconheceu. Um despropósito absoluto.

(*) Jornalista é colunista da Folha de São Paulo e da revista Veja 

" Sou eu que pago as minhas contas " ... será ?

Em 2013, gastos secretos com cartão corporativo da Secretaria de Administração da Presidência batem recorde na gestão Dilma 

Estadão 

Criticado por não ter divulgado a escala que a presidente Dilma Rousseff faria em Portugal, o governo também tem aumentado o segredo sobre as despesas feitas pela Secretaria de Administração da Presidência com seus cartões corporativos. 
Os gastos sigilosos com essa conta – que englobam as despesas da presidente - foram os maiores desde que Dilma assumiu o governo. 

Segundo o Portal da Transparência, em 2013, os pagamentos feitos com o cartão pela Secretaria de Administração da Presidência somaram R$ 5,64 milhões, sendo que cerca de R$ 5,60 milhões não tiveram seu conteúdo revelado. 
O sigilo dos gastos é determinado por uma legislação específica que permite que o pagamento não seja publico para garantia da segurança da sociedade e do Estado. 

No ano anterior, os gastos secretos com o cartão da Secretaria tinham somado R$ 4,09 milhões. Em 2011, foram outros R$ 5,1 milhões. 
Assim, os pagamentos que não tiveram seu conteúdo divulgado já somam cerca de R$ 14,7 milhões na gestão de Dilma. 

Como consolo, mesmo sendo recorde na sua gestão, a despesa é inferior ao que foi gasto pela Secretaria, em 2010, no último ano do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. 
Na ocasião, os pagamentos sigilosos feitos com o cartão da Secretaria de Administração da Presidência somaram R$ 6,18 milhões. 

Questões de segurança de Estado servem como argumento para justificar a não divulgação dessas despesas. No caso, seriam usados para gastos que envolvem áreas delicadas do governo, como as de investigação e estratégia (Polícia Federal e Abin, por exemplo) e proteção pessoal dos principais dirigentes. 

Nesse último caso, a presidente e o vice-presidente Michel Temer. Verdade seja dita, o critério valeu sempre para todos os presidentes desde a criação do cartão (Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma). 
De fato, algumas informações precisam realmente ser mantidas em segredo para resguardar os dirigentes da Nação. 

Difícil é saber qual o critério que regulamenta quais despesas são estratégicas e quais poderiam ter publicidade sem gerar qualquer risco ao governante. 
Os cartões já foram alvo de escândalo durante o governo Lula, quando ministros foram flagrados usando o instrumento público para pagar despesas pessoais como compras em free shop e tapioca.

Food trucks devem invadir as ruas de São Paulo

Estadão 

O empresário Rolando Vanucci se prepara para a expansão de um negócio que até dezembro passado não era exatamente legalizado. Dono de uma van que serve massas há seis anos em uma avenida do bairro de Perdizes, o proprietário do Rolando Massinhas vai colocar para circular outros dois veículos até o final de fevereiro, o Rolando Doguinho e o Rolando Churros. 

Isso será possível porque a cidade de São Paulo aprovou a lei que libera a venda de comida nas ruas. Até então, apenas a comercialização de cachorro-quente era permitida. “Quando o (vereador) Andréa Matarazzo foi defender o projeto, ele disse que o carrinho do Rolando seria a referência para as normas de higiene e condicionamento”, conta orgulhoso o empresário. 

A aprovação da lei ganhou o apoio de empreendedores e chefs conhecidos, como Jorge Gonzalez (ex-D.O.M.) e de casas tradicionais como o La Casserole. Eles querem importar dos Estados Unidos a febre dos food trucks, negócio que explodiu depois da crise de 2008 e que este ano deve faturar cerca de R$ 1,6 bilhão, segundo a Associação Americana de Restaurantes. Hoje, eles são símbolo de criatividade culinária e são temas, inclusive, de programas de televisão. 

“Até alguns anos atrás você só via aqueles carrinhos de batata frita, de hambúrguer, o famoso junk food americano”, conta o gaúcho Adriano Redante, que há um ano comanda o Brazilian BQ, uma van que serve churrasco brasileiro na Filadélfia. O churrasco de Adriano faz sucesso e ele inclusive já foi filmado pela equipe do Eat Street, programa que é exibido aqui no País pelo canal Fox Life. No Brasil, um dos primeiros que trouxeram a novidade foi Alan Liao, de 26 anos. 

Ele passou dois anos trabalhando como DJ em Nova Iorque e retornou ao Brasil em 2012. “Eu era um cliente assíduo. Tinha todo tipo de comida e era frequentado tanto por jovens saindo da balada quanto por trabalhadores sem tempo para almoçar durante o dia”, conta. “Quando voltei, além da falta que me fazia, percebi que podia ser tendência.” 

Alan investiu R$ 300 mil para adaptar o que se tornou a Navan, que serve temaki sob rodas. Hoje o empresário administra a van, que passa a temporada de férias na Riviera de San Lourenço, e dois quiosques no litoral paulista. Segundo ele, apenas o veículo registra faturamento mensal de R$ 80 mil, chegando a R$ 100 mil nos meses de muito calor. 

Oportunidades. 
Mas a ‘alta gastronomia’ não deve ser o único apelo dos food trucks no País. 
Dono da franquia de doces Docella, Gustavo Ely Chehara iniciou, no fim do ano passado, uma nova franquia voltada para a venda de salgados em vans. 
“Percebemos que o principal problema para as novas lojas da Docella eram os alugueis, cada vez mais caros. Decidi investir nas vans porque, sem o aluguel, a lucratividade do negócio sobe de 60 a 70%”, conta Gustavo. 

Há três meses no mercado, a Salgado Mania já tem seis unidades, duas delas franqueadas. Um total de 180 pessoas já demonstrou interesse no negócio. Gustavo oferece três modalidades de franquia: o quiosque de shopping, o contêiner – espécie de trailer colocado e retirado das ruas por um caminhão – e o food truck propriamente dito. 

Chances. 
O burburinho com o projeto de lei já fez alguns empreendedores se adiantarem. 
A FAG Brasil, adaptadoras de veículos da empresária Gislene Viana, dobrou o número de funcionários desde a metade de 2013 para atender a essa nova demanda. 
“Hoje tenho 40 orçamentos parados, e aumentamos nosso prazo de entrega”, conta Gisele. 

“Acredito que deve haver um grande crescimento nesse segmento porque o investimento é pouco se comparamos com um restaurante ou uma franquia mais tradicional”, afirma o consultor Adri Vincente Júnior, da Food Service Company. Adri calcula que o investimento inicial seja de no mínimo R$ 150 mil, e o retorno venha em pelo menos dois anos. 

“A gastronomia diferenciada não é o prato estranho, pode ser aquela receita de sanduíche de pernil da avó”, afirma o especialista no segmento. 

Fique atento 

Regulamentação 
Embora aprovada, a lei precisa ser regulamentada. 
Questões importantes, como quais comidas serão permitidas, regras de higiene e condicionamento, ainda serão definidas. A Prefeitura também precisa estabelecer os locais onde as vans poderão estacionar na cidade. 

Preparo 
Muitos carros precisam preparar parte de seu cardápio antes de começar a servir. A Prefeitura também precisa dizer onde isso poderá ser feito. 
Nos Estados Unidos, por exemplo, algumas cidades oferecem uma cozinha comunitária. 

Jornada 
Cuidar de um carro de comida é trabalhoso. As jornadas são longas, de até 14 horas, e muita gente desiste. “Dei um curso de 30 dias com nove pessoas. 
No final sobraram três”, afirma Rolando Vanucci, do Rolando Massinha.

Caso Neymar e a matemática da corrupção boleira

José Roberto Torero para Revista Fórum 

Neymar não dribla apenas zagueiros. Também dribla contratos e leis. 

Na verdade, todos os envolvidos na sua ida para o Barcelona são grandes dribladores. 
Ou pensam que são. Como foram descobertos, não são tão bons assim. 

Vamos aos números: 
Oficialmente os direitos federativos de Neymar custaram 17,1 milhões de euros. 
Mas o total gasto pelo Barcelona, segundo o próprio clube, teria sido 57 milhões de euros. Para entender esta diferença, um sócio do Barcelona entrou na justiça pedindo esclarecimentos. E aí descobriu-se que Neymar, na verdade, tinha custado 95 milhões de euros. 

Isso o transforma no jogador no mais caro da história, passando Cristiano Ronaldo, que custou 94 milhões de euros ao Real Madrid. 

Dinheiro escondido é dinheiro sujo 
O problema não é o preço de Neymar, mas sim, omiti-lo. Isso é sinal de que alguém levou um dinheiro a mais e quis escondê-lo. 

As táticas para driblar a lei foram variadas. O pai de Neymar, por exemplo, recebeu três comissões estranhas: dois milhões de euros para que ele busque “novas promessas no Santos” (sendo que ele nunca descobriu nenhum outro jogador), quatro milhões por um suposto trabalho de captação de “contratos de publicidade com empresas brasileiras” (o que não é sua especialidade), e mais 2,5 milhões (sempre de euros) para fins sociais (sem que se especifique que fins são esses). 

O curioso é que estes 8,5 milhões de euros não pedem qualquer tipo de contrapartida. 
Se ele não trouxer novos craques, novos contratos ou se não investir um centavo em programas sociais, não faz a menor diferença. Ou seja, é apenas um jeito de pagar por fora.

DIS que diz 
Há alguns anos, ainda na gestão de Marcelo Teixeira, a DIS (braço esportivo do grupo Sonda) comprou por R$ 5,5 milhões 40% do craque. Uma pechincha espetacular, até suspeita, que certamente prejudicou o clube. 

Provavelmente o Santos achou que era a hora de dar o troco, e aí maquiou a venda. 
Diz que vendeu o craque por 17,1 milhões de euros, com o que pagaria 6,8 mi à DIS (22,2 milhões de reais, um lucro de apenas 300%). Mas o contrato diz que o Barcelona pagará 9 milhões de euros por dois amistosos com o Santos (o que significa que o Santos vale três vezes mais que a seleção brasileira). Ou seja, foi um modo de pagar mais ao Santos pelo jogador. 

E ainda houve uma estranha compra de prioridade na contratação de três jogadores santistas (Gabigol, Giva e Victor Andrade) por quase oito milhões de euros. 
Compra que não precisaria estar ligada à venda de Neymar. 

N&N ou $&$? 
Mas os números mais estranhos da venda são para a empresa N&N. Os enes são de Neymar e Nadine, pais do jogador. A empresa recebeu nada menos do que 40 milhões de euros. Mais do que o dobro dos 17,1 milhões pagos pelos direitos federativos do jogador. 

Não é curioso uma empresa que não é dona dos direitos de Neymar receber mais de 120 milhões de reais? 

Segundo Jordi Cases, torcedor que pediu vistas ao contrato e é um dos líderes da oposição dentro do Barcelona, parte do 40 milhões seria repassada aos bolsos de Sandro Rosell, o presidente do Barcelona que contratou Neymar. 

Quando o teor do contrato foi divulgado pelo jornal “El Mundo”, Rosell rapidamente realizou o movimento de defesa padrão dos corruptos: fez ar de indignado e pediu demissão. 

Rosell não cheira bem 
Sandro é um velho conhecido do Brasil. 

Por exemplo, você se lembra do contrato da CBF com a Nike, quando a empresa praticamente ficou dona da seleção brasileira, o que até gerou uma CPI? 
Pois quem cuidava da seleção para a Nike do Brasil era justamente Sandro Rosell. 
E uma de suas empresas, a Uptrend, é acusada de receber R$ 25 milhões desviados de recursos provenientes de 24 amistosos da seleção brasileira. 

Você se lembra do amistoso entre Brasil e Portugal, em 2008, que custou R$ 9 milhões? 
O dinheiro foi parar na conta da Ailanto, outra empresa de Rosell, que por coincidência tinha sede na fazenda de Ricardo Teixeira. 

Aliás, a amizade de Rosell e Teixeira é muito grande. O primeiro chamou o segundo de “amigo de verdade” em sua biografia “Bienvenido al mundo real”, lançada em 2010. 
E, prova maior de amizade, fez um depósito bancário de R$ 3,8 milhões na conta da filha caçula do brasileiro. Um belo presente. O quê? Você acha que é divisão de propina? 
Ah, as pessoas não confiam em ninguém hoje em dia…

(*)  Escritor, cineasta, roteirista, jornalista e colunista esportivo .

Dilma em Cuba

Opinião do Estadão 

Sem entrar no mérito das negociações diplomáticas e comerciais do governo brasileiro com o de Cuba, que resultam no momento em decisiva contribuição dos cofres públicos nacionais para a implantação da Zona de Desenvolvimento Especial do Porto de Mariel na ilha dos irmãos Castro, este mais recente afago à ditadura cubana reitera o carinho de Dilma Rousseff pelo dogmatismo ideológico que o lulopetismo compartilha com os Castros e só não logrou ainda consagrar plenamente entre nós por duas razões. 
Primeiro, porque, pragmaticamente, sua prioridade passou a ser manter-se no poder a qualquer custo; depois, pela razão histórica de que a superação de dois regimes discricionários no século passado, o getulista e o militar, teve o dom de fortalecer nossas instituições democráticas e dificultar a escalada de aventuras autoritárias, especialmente a partir da promulgação da Carta Magna de 1988 - a cujo texto, aliás, o PT fez ferrenha oposição. 

A conquista do poder e seu exercício por onze anos converteram o lulopetismo, nunca é demais repetir, em um pragmatismo que hoje o identifica com as piores práticas políticas que são, desde sempre, a principal característica do patrimonialismo. Mas, principalmente para efeito externo - mas também para satisfazer a militância que ainda imagina pertencer ao velho PT -, o discurso "libertário" do "socialismo do século 21" mantém-se inalterado e foi para exercitá-lo que Dilma Rousseff decidiu encerrar na ilha dos Castros seu último périplo internacional. Pois precisava de algum modo exorcizar eventuais fluidos negativos remanescentes de sua passagem por Davos, o covil do capitalismo, onde foi praticamente implorar por investimentos estrangeiros no Brasil. 

Ao lado de Raúl Castro e no indispensável beija-mão de Fidel, Dilma esteve perfeitamente à vontade. Não se poupou de reafirmar que tem "muito orgulho" da boa relação que mantém com a dupla que há mais de meio século domina a ilha com mão de ferro e nenhum apreço pelas liberdades democráticas. Derreteu-se em agradecimentos ao favor que Cuba presta ao Brasil ao fornecer, para o programa Mais Médicos, a um custo altíssimo só parcialmente repassado aos profissionais, os doutores que aqui desembarcam para suprir a deficiência de atendimento básico nos grotões que a incompetente política nacional de saúde não tem conseguido alcançar. Para conferir maior brilho a esse tópico de sua agenda em Havana, Dilma levou a tiracolo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que brevemente será o candidato do PT ao governo de São Paulo. 

Mas foi no Porto de Mariel, no qual o nosso Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) já havia investido mais de US$ 800 milhões e agora vai colocar outros US$ 290 milhões - menos mal que com a condição de serem gastos com fornecedores brasileiros de bens e serviços -, que Dilma escancarou sua admiração pela mítica ilha dos sonhos da esquerda inconsequente. 

Chegou mesmo a enaltecer o fato de que "Cuba gera um dos três maiores volumes de comércio do Caribe", algo assim tão relevante e extraordinário para a economia globalizada quanto, para o futebol mundial, saber que o Confiança Futebol Clube, de Aracaju, é uma das três maiores forças do ludopédio sergipano. 

A presidente foi a Havana também para bater ponto na 2.ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos (Celac), preciosa oportunidade para mais uma manifestação de simpatia pela ideologia "libertária" que irmana o lulopetismo aos Castros e a outros aventureiros bolivarianos do continente. 

Ao procurar sua turma, Dilma Rousseff deixa no ar uma questão fundamental para o futuro da democracia brasileira, que a tão duras penas tenta se consolidar: o que o PT planeja para o Brasil é o mesmo que, para ficar apenas no continente, os amigos de fé de Lula e Dilma oferecem a cubanos, nicaraguenses, venezuelanos, bolivianos, equatorianos e argentinos? Sonho por sonho, melhor acreditar que tudo é apenas jogo de cena.

Disputa insana

Quem ganha se o #nãovaiterCopa e o #vaiterCopa se tornarem uma disputa insana? 

Renato Rovai (*) 

Há razões objetivas para se opor à realização da Copa do Mundo no Brasil, principalmente do ponto de vista de como o processo foi conduzido por diferentes instâncias do pacto federativo. Há razões objetivas no discurso dos que apontam que não há como retroceder na realização de um evento que é, de alguma forma, apoiado por grande parte da população. São as disputas e as posições antagônicas que legitimam a democracia. E um país se mostra minimamente maduro quando convive com isso com o mínimo de civilidade política. 

Essas posições, porém, estão transformando as redes sociais não mais num espaço de debate de ideias. Mas num campo de batalha irracional. Em que mesmo intelectuais e militantes sérios e responsáveis assumiram a agressão verbal, a desqualificação do interlocutor e teses absurdas como instrumento de debate. 

Essa é uma parte triste dessa história, mas talvez a menos perigosa. 

O mais arriscado disso tudo é que boa parte desta disputa está se dando dentro de um campo de posições que são mais próximas ao que se convencionou chamar de esquerda. 
E enquanto isso, a direita raivosa lambe os lábios. 

O discurso dos que controlam as policias nos estados, por exemplo, tem se tornado cada dia mais duro. A palavra repressão passou a ser utilizada sem a menor cerimônia. 
Ao mesmo tempo há gente dentro do governo federal buscando implementar no Brasil uma política anti-terrorismo. É o discurso da ordem, contra os riscos à democracia. 

Um discurso que tem uma imensa força nos setores policiais e militares. 
Um discurso que também, por contraditório que possa parecer, tem força entre os setores organizados do crime. E que interessa na disputa geopolítica a interesses externos. 

Há muita gente interessada na radicalização contra os direitos humanos e à democracia. 
E esperando oportunidades para que sua ação contra esses valores tenha legitimidade. 
E não se está falando aqui do PSDB ou de outros partidos do campo democrático que estejam do centro para a direita do espectro político. 

Sim, esse blogueiro acha que o PSDB faz parte do campo democrático. 
E também acha que de certa forma ele civiliza a direita no país. 
As posições de direita no Brasil são muito, mas muito piores do que o PSDB. 
Está se falando aqui de um grupo que atua nas sombras e que defende posições nazi-fascistas. 

Esse pessoal ainda é uma imensa minoria, mas ao mesmo tempo é muito maior do que imaginam alguns. E estão cada dia mais organizados. 

Para eles o que mais interessa é criar o medo da esquerda. 
O medo dos movimentos sociais. O medo da baderna. O medo do vandalismo.
E deste medo, produzem suas soluções.

Os movimentos que têm responsabilidade política e independente de se defendem o #VaiterCopa ou o #NãoVaiterCopa podem ser inconciliáveis nas opiniões, mas poderiam ser ao menos mais atentos em relação a outras forças que estão atuando nas brechas dessa disputa. 

Abrir mão da tática da violência pode ser um caminho. O chamado direito à resistência contra a opressão na atual conjuntura só interessa aos opressores. 
Ele permite o argumento perfeito para que se possa utilizar mais força e violência para oprimir. As bombas de latinhas de cerveja são brinquedos de criança. 
E os colchões pegando fogo só assustam a população civil que está no local do tumulto. 
A polícia vai estar cada vez mais preparada para massacrar manifestantes nessas situações. E a população por medo, como sempre, tende a cada vez mais a apoiar o uso da força. 

Mas ao mesmo tempo, convenhamos, dizer que a Gaviões da Fiel ou seja lá qual for a torcida organizada vai botar ordem na casa quando as manifestações se aproximarem do Itaquerão também é o fim da picada. É jogar no lixo toda a construção histórica de esquerda e apostar na barbárie. 

É o caminho da insanidade. De uma disputa por posições supostamente de esquerda que não levam a lugar nenhum. Que dizer, levam. A um lugar que pode ser muito perigoso.

(*) Jornalista, mestre em comunicação, editor da Revista Fórum, midialivrista e blogueiro 

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Financial Times: Brasil é visto como grande perdedor em Davos

Terra 

Artigo publicado pelo jornal Financial Times nesta terça-feira afirma que o Brasil foi o grande perdedor do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. Segundo a publicação, o País deixou uma percepção de falta de investimentos em infraestrutura e a sensação de que “muito do crescimento foi proveniente do consumo”. O artigo completa que “não foi fácil ouvir alguma notícia positiva sobre o País”. 

A publicação destaca uma frase do economista-chefe do Itaú-Unibanco, Ilan Goldfajn, que afirmou que “os investidores estão olhando para os países com uma economia sustentável e estável” e completou dizendo que “o Brasil não é”. 

O jornal ressalta que a presidente Dilma Rousseff foi para Davos logo após inaugurar um estádio para a Copa do Mundo e não vem fazendo nada para mudar o estado de espírito pessimista que envolve o Brasil. 

FT destaca o México 
O jornal destacou a participação do México em Davos colocando o país como número um na lista de participantes. O fato de o México anunciar a chegada de grande empresas, como a Nestlé, que promete investir US$ 1 bilhão no país, e a Pepsico, que promete investimento de US$ 5,3 bilhões, foi lembrado pelo jornal. 

Países africanos como Nigéria, Tanzânia, Quênia e Uganda também foram vistos com bons olhos pelo Financial Times, que afirmou que eles convenceram os participantes do fórum de que coisas boas vão acontecer em 2014.

Blog também é cultura

Por que espirramos? 

Diário da Biologia.com - Karlla Patrícia 

Por mais inoportuno que seja, o espirro tem uma função importante: livrar o nosso corpo de sujeiras que irritam o interior do nariz ou os pulmões, empurrando com toda a força um jato de ar pelo nariz e pela a boca também. Esse espirro sai levando consigo tudo o que está em seu caminho (inclusive meleca, digo, secreção). 

E põe força nisso! Por mais diferente que pareça, a respiração normal e o espirro são controlados pela mesma região do cérebro, chamada de centro respiratório. E ambos são involuntários, claro! Ser involuntário quer dizer que o centro respiratório do cérebro controla a respiração sozinho, fazendo você respirar, sem que seja preciso pensar nisso (o que é ótimo, pois, uma pessoa esquecida, como eu, poderia morrer em dois minutos!). Ser involuntário também quer dizer, que mesmo que você queira prender o espirro, nem sempre é possível, ele acontece automaticamente. 

Os músculos das costas, abdômen, aqueles abaixo das costelas estão envolvidos no espirro. Quando poeira, fumaça ou cheiro irrita o nariz, o centro respiratório é informado e interrompe a respiração normal, faz você inspirar profundamente…. e subitamente faz todos esses músculos se contraírem, empurrando todo o ar para fora de uma vez só. A glote bloqueia a saída do ar dos pulmões, como se fosse uma tampa na garganta e logo em seguida se abrem, liberando o caminho. 

Tiro na democracia

Janio de Freitas (*) 

Arma de fogo no policiamento de manifestação pública é uma truculência que denuncia a admissão, pelos dirigentes civis e pelos comandos policiais, de violências fatais idênticas às de ditaduras. Balas de borracha já têm agressividade mais do que suficiente para intimidar e conter possíveis investidas de arruaceiros contra policiais. 

Os governadores e seus prepostos para a "segurança" pública não podem instaurar ambientes de guerra civil, com suas armas inadmissíveis e ferocidade injustificável permitidas, senão estimuladas, como se fossem normais na democracia. Essa prática é uma transgressão ao Estado de Direito e como tal pode ser tratada, por meio de impeachment. 

É ainda bem antes da Copa que se decide a maneira como sua chegada será recebida nas ruas. Em junho passado, a violência da PM paulista, contra grupos que degradaram a grande passeata, incentivou protestos que desandaram em arruaça e violência por vários Estados. Caso os responsáveis pela contenção dos despropósitos de qualquer lado não se limitem a métodos suportáveis, a tendência mais provável é de que o crescendo nacional da reação seja maior do que o anterior. Até o pretexto, motivo de quase unanimidade, facilitaria. 

Pretexto, sim. Quando estimados os gastos com a Copa, os estádios a serem construídos, a prevista marotagem dos aumentos de custos acertados entre empreiteiras e governos, raríssimos foram críticos dessa irresponsabilidade, de dimensão ainda incalculável. 
Os interesses políticos e os financeiros se associaram ao Brasil levianamente festivo. 
Ao se aproximar o que foi tão celebrado, com a ansiedade popular do antimaracanazo, tudo de repente virou motivo de "rebelião"? 
Não dá para crer. 
Ao menos, porém, há uma originalidade aí: rebelião popular com data marcada, e anúncio a seus antagonistas com larga antecedência. 

Seja qual for a verdade sobre a situação resultante nos tiros da PM contra Fabrício Proteus, a primeira responsabilidade é clara: a autorização de armas de fogo à PM em situação que não as requer, e na qual são a maior ameaça. Sua desnecessidade em tal situação está atestada na prática: a mais eficiente contenção da arruaça violenta, no Rio, foi obtida na última grande "manifestação" –com a PM desprovida de arma fogo. 

A democracia não exclui confrontos entre opositores e centuriões do que os governos vejam como ordem pública. Mas exige condições e limitações que nenhum poder está autorizado a transpor. Tida como o regime das liberdades, a democracia, na realidade, não é menos condicionante e limitadora do que os outros regimes. 
Mas, o lugar-comum enfim se justifica, no bom sentido. 
Que não inclui o uso indiscriminado de arma de fogo nem em nome da ordem pretendidamente democrática.

(*) Jornalista é colunista e membro do Conselho Editor da Folha de São Paulo 

Ainda bem que no Brasil tudo funciona .. Ainda bem

Brasil financia mais US$ 290 milhões para Cuba ativar seu principal porto 

Estadão 

A presidente Dilma Rousseff anunciou na segunda-feira, 27, em Havana, que o Brasil financiará mais US$ 290 milhões ao governo cubano para a implantação da Zona de Desenvolvimento Especial do Porto de Mariel e disse ter "orgulho" em se associar ao país. O novo crédito vai se somar aos US$ 802 milhões já emprestados até agora à ilha, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 

Ao lado do presidente de Cuba, Raúl Castro, Dilma participou da inauguração da primeira etapa do porto e chamou de "injusto" o bloqueio imposto pelos EUA. 
"O Brasil quer tornar-se parceiro econômico de primeira ordem para Cuba", afirmou a presidente (mais informações nesta página). "Cuba gera um dos três maiores volumes de comércio do Caribe. Somente com Cuba nossa região estará completa." 

Para Dilma, a realização da 2.ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos (Celac) em Havana, a partir de hoje, "evidencia a importância" da ilha no processo de integração regional. Dos US$ 957 milhões orçados para a construção do Porto de Mariel, situado a 45 km de Havana, o BNDES acertou com o governo cubano que pelo menos US$ 802 milhões devem ser gastos no Brasil, na compra de bens e serviços. 

Dilma conversou no domingo à noite com representantes do setor farmacêutico. 
Ela quer que empresas brasileiras de medicamentos também se instalem em Mariel. 
Nos bastidores, a presidente servirá de interlocutora para atrair investimentos para Cuba. "Nós agradecemos à presidente Dilma pela contribuição solidária a um projeto fundamental para a economia nacional", disse Raúl. 

A ampliação do crédito em mais US$ 290 milhões já foi aprovada pela Câmara de Comércio Exterior (Camex) e espera garantias. Deste total, 85% serão financiados pelo BNDES e 15% terão contrapartida de Havana. 

O assunto foi tratado durante reunião reservada mantida por Dilma com Raúl, no Palácio da Revolução, sede do governo. Ela foi recebida pela Guarda de Honra, passou as tropas em revista e apresentou a Raúl sua comitiva, composta pelos ministros Luiz Alberto Figueiredo (Relações Exteriores), Fernando Pimentel (Desenvolvimento), Helena Chagas (Comunicação), Alexandre Padilha (Saúde) e Alexandre Chioro, futuro titular da Saúde. 
A reunião foi seguida por almoço. No cardápio, perna de cabrito, recheada com queijo feta, e acompanhamento de aspargos. De sobremesa, musse de maçã com merengue. 

Dilma expôs a Raúl os planos de parceria e disse que sua intenção é aumentar o fluxo comercial entre os dois países. De 2006 a 2013 o superávit para o Brasil, no comércio com a ilha, cresceu 38,2%, alcançando US$ 431,6 milhões. "Financiamos nessa primeira etapa (de construção do Porto de Mariel), por meio do BNDES, US$ 802 milhões em bens e serviços e envolvemos cerca de 400 empresas brasileiras nesse processo. 
Na segunda etapa, vamos financiar US$ 290 milhões para implantação da Zona de Desenvolvimento, que se tornará peça chave do desenvolvimento econômico cubano", disse Dilma, durante a cerimônia de inauguração do porto caribenho. 

ESPERA 
Mariel está em posição estratégica, de frente para a Flórida, nos EUA. Na prática, empresas brasileiras começam a apostar no negócio confiantes no avanço das reformas adotadas na ilha, batizadas pelo governo cubano como "atualização do modelo econômico". A privatização dos serviços de táxi foi a mais recente medida de uma lista que inclui incentivo a pequenos negócios e a unificação da moeda. 

Um decreto baixado por Raúl em setembro flexibilizou a estrutura de capital em Mariel. 
Na tentativa de atrair investidores estrangeiros, o governo de Cuba promoveu mudanças no regime comunista e decidiu adotar a receita chinesa: empresas estrangeiras que se instalarem estarão submetidas a lei trabalhista e bancária diferenciadas. 
Uma companhia de Cingapura administrará o porto cubano.

Agronegócio

Fernando Sampaio (*) 

Imagine-se um hipotético indivíduo que doravante chamaremos de Sr. Oliveira. 
O Sr. Oliveira é um homem comum. É um pai de família. 
 Habita uma região metropolitana que poderia ser São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte ou Recife ou alguma outra grande cidade. 

Tem um emprego em uma instituição financeira, ou em uma revendedora de peças por exemplo. 
Pertence àquela classe média ligeira, que além de trabalhar 4 meses por ano de graça para o governo esforça-se para pagar as contas de aluguel, escola, natação e inglês dos filhos, plano de saúde, o guarda da rua e outros pormenores no fim do mês. 

O Sr. Oliveira levanta-se de manhã e veste-se com roupas de algodão, algodão esse crescido nos campos de Chapadão do Sul( MS), Campo Novo dos Parecis(MT) e processado em Blumenau, SC. 
Talvez esteja um pouco frio e ele use um pulôver de lã de carneiros criados em Pelotas, RS e fabricado em Americana, SP. 
Calça seus sapatos de couro vindo de bois do Mato Grosso, e fabricados em Novo Hamburgo, RS. 

Ele toma café da manhã, com ovos vindos de Bastos, SP, leite de qualidade produzido no Sul de Minas Gerais, broa de milho colhido em Londrina, PR, um mamão vindo do Espírito Santo, suco de laranja de Araraquara, SP e um cafezinho vindo direto de Guaxupé, MG. 

Ele lê um jornal, impresso em papel feito de eucalipto crescido em Três Lagoas, MS. 
O Sr. Oliveira entra em seu carro, abastecido com álcool de cana de açúcar produzida em Piracicaba, SP, com pneus de borracha saída dos seringais de São José do Rio Preto, SP. 

Enquanto ele vai ao trabalho, a Sra. Oliveira vai às compras nos supermercados do bairro, sempre pesquisando os melhores preços das frutas, das verduras e da carne para não apertar o orçamento familiar. 
No almoço, o Sr. Oliveira come um filé de frango criado no Paraná, alimentado com soja e milho de Goiás e de Mato Grosso, com molho de tomate de Goiás. 
Tem arroz do Rio Grande do Sul, feijão dos pivôs do oeste baiano. 
Tem salada das hortas de Mogi das Cruzes, SP. Suco de uvas do Vale do São Francisco e de sobremesa goiabada feita com goiabas de Valinhos, SP e açúcar de Ribeirão Preto, SP, e queijo de Uberlândia, MG. 
Outro cafezinho dessa vez da Bahia.

Hoje a noite é de comemoração. 
Sua empresa fez um corte de pessoal, mas felizmente o Sr. Oliveira manteve o emprego. Ele leva a esposa jantar fora. 
Vinho do Vale dos Vinhedos gaúcho. 
Presuntos e frios de porco criado em Santa Catarina, alimentado com soja paranaense, filet mignon de bois criados no Sul do Pará. 
Chocolate produzido com cacau do sul da Bahia. 
E outro café do Cerrado de Minas, adoçado com açúcar pernambucano. 

O Sr. Oliveira é um homem razoavelmente informado e inteligente. 
No dia seguinte ele lerá os jornais novamente. 
Pelos jornais ele ficará sabendo que há conflitos em terras indígenas recentemente demarcadas e fazendeiros cujas famílias foram incentivadas a ocupar aquelas terras há décadas atrás. 

Pelos jornais ele ficará sabendo que a pecuária é a maior poluidora do país (embora ele mesmo tenha o sonho de um dia abandonar a cidade poluída e viver no campo por uma qualidade de vida melhor). 
Pelos jornais ele tem notícias de invasões de terras, de conflitos agrários, de saques e estradas bloqueadas (o Sr. Oliveira é a favor da reforma agrária, embora repudie a violência). 

Pelos jornais ele toma conhecimento de ações do Ministério Público contra empresas do agronegócio (ele não entende que mal há em empresas que ganham dinheiro). 
Pelos jornais ele acha que a Amazônia está sendo desmatada por plantadores de soja e criadores de boi.. 
Mas o Sr. Oliveira pensa que isso não tem nada a ver com ele. 

Pois eu gostaria de agarrá-lo pela orelha, e gritar bem alto, de megafone talvez, não um, nem dez, mas mil megafones que TUDO ISSO É PROBLEMA DELE SIM!  

- Gostaria de lhe dizer que a agropecuária está presente em todos os dias da vida dele. 
- Gostaria de lhe dizer que o agronegócio gera um terço do PIB e dos empregos do país. -- - Gostaria de lhe dizer que quem diz que a pecuária polui mente descaradamente. 
- Gostaria de lhe dizer que o maior desmatador da Amazônia é o INCRA, que com o dinheiro dos impostos dele sustenta assentamentos que não produzem absolutamente nada, condenando uma multidão de miseráveis manipulados por canalhas balizados por uma ideologia assassina à eterna assistência do Estado. 
-Gostaria de lhe dizer que estes mesmos canalhas estão tentando, sob a palatável desculpa dos direitos humanos, acabar com o direito de propriedade, arruinando qualquer futuro para o agronegócio brasileiro. 

- Gostaria de lhe dizer, que os mesmos canalhas querem fechar índios, que há 5 séculos estão em contato com brancos, em gigantescos zoológicos onde eles estarão condenados à miséria e ao suicídio. 
- Gostaria de lhe dizer que índios são 0,5% da população brasileira e não obstante são donos de 13% do país. 
- Gostaria de lhe dizer que querem transformar 2/3 do país em reservas e parque que estão sendo demarcados sobre importantes reservas minerais e aquíferos subterrâneos essenciais para o futuro do país. 
- Gostaria de lhe dizer que a agricultura ocupa apenas 7,5% da superfície do país, e que mesmo assim somos os maiores exportadores do mundo de carne, soja, café, açúcar, suco de laranja e inúmeros outros produtos. 

- Gostaria de lhe dizer que podemos dobrar ou triplicar a produção pecuária do país sem derrubar uma árvore sequer. 
- Gostaria de lhe dizer que produtores rurais não são a espécie arrogante e retrógrada que os canalhas dizem que são. 

- São gente que está vivendo em lugares onde você não se animaria a viver, transitando por estradas intransitáveis e mortais, acordando nas madrugadas para ver nascer um animal, rezando para chover na hora de plantar e para parar de chover na hora de colher, com um contato e um conhecimento da natureza muito maior do que o seu. 
- São gente cujos antepassados foram enviados às fronteiras desse país para garantir que esse território fosse nosso, foi gente incentivada a abrir a mata, abrir estradas, plantar e colher, às vezes por causa do governo, às vezes apesar dele. 

- Gostaria enfim de gritar a plenos pulmões, que qualquer problema que afete um produtor rural, uma empresa rural, uma agroindústria É UM PROBLEMA DELE, DO PAÍS E DO MUNDO. 
- Sim, porque no mesmo jornal que o Sr. Oliveira leu, há uma nota de rodapé que diz que há 1 bilhão de pessoas no mundo passando fome. 

- E grito finalmente para o Sr. Oliveira e tantos outros iguais a ele: 
ABRA OS OLHOS! E desconfie daqueles que querem transformar o agronegócio em uma atividade criminosa. 

(*) É engenheiro agrônomo