sábado, 25 de janeiro de 2014

Futebol um poço de podridão

Virou caso de polícia. Ministério Público tem provas que a Portuguesa sabia que Héverton não poderia jogar. Há a certeza que alguém no Canindé o liberou para receber dinheiro. Mas mesmo assim, o MP exigirá na Justiça Comum o clube na Série A… 

Cosme Rímoli (*) 

Virou caso de polícia. 
Com todas as letras o Ministério Público de São Paulo garante. 
Alguém da direção da Portuguesa sabia que Héverton estava suspenso. 
Não poderia nem ter sido relacionado para a partida contra o Grêmio. 
Foi e entrou em campo por 14 minutos. 

O promotor Roberto Senise investiga o caso. 
Principalmente o período entre 6 e 10 de dezembro de 2013. 
E já tem uma certeza. 
Um e-mail chegou escritório do ex-presidente Manuel da Lupa. 

Detalhando a punição. 
Ou seja, ele ou quem lia seus e-mails sabia. 
Assim como outras pessoas. 
Até porque o MP apurou. 

O e-mail foi repassado para o departamento jurídico do clube. 
Héverton precisava ficar de fora da partida contra o Grêmio. 
Tinha mais um jogo de suspensão a cumprir. 

Sua presença poderia provocar o rebaixamento da Portuguesa. 
E salvar outro clube de tradição. 
Foi o que aconteceu. 
Graças ao 'erro' da Portuguesa, o STJD confirmou o Fluminense na A. 

O promotor também tem outra certeza. 
A que o advogado Osvaldo Sestário falou a verdade. 
Que realmente telefonou para a Portuguesa. 
E informou sobre a impossibilidade de Héverton atuar. 

Sestário é claro: garante saber muito bem com quem falou.
"Foi com o ex-vice jurídico Valdir Rocha." 
O Ministério Público investiga Valdir e Manuel da Lupa. 
E outras pessoas da antiga diretoria. 

Roberto Senise quer os seus sigilos bancários quebrados. 
Assim como os telefônicos. 
A desconfiança é que alguém levou vantagem econômica com a escalação. 
Ou seja: ganhou dinheiro para rebaixar juridicamente a Portuguesa. 

Os ex-dirigentes do clube estão incomunicáveis. 
Não atendem seus celulares. 
Não falam com outros membros de diretoria do clube. 
O presidente Ilídio Lico também se cala. 

Não se pronuncia mesmo com o promotor espalhando suas acusações. 
A Portuguesa passou de vítima para suspeita. 
Se ficar provado, será um escândalo. 
Com até a possibilidade de punições além das esportivas. 
Talvez até prisão. 

A acusação é gravíssima. 
O promotor Roberto Senise é conhecido por sua conduta firme no MP.
Não iria se expor. 
Tanto que garante ter provas do que diz. 

A revolta já chega aos conselheiros e torcedores da Portuguesa. 
Eles querem logo a definição do promotor. 
Que ele identifique a pessoa ou as pessoas que ganharam esse dinheiro ilícito. 
E de quem. 

A vergonhosa situação não isenta a briga na área esportiva. 
Para o Ministério Paulista, a Portuguesa deve continuar na Série A. 
A análise é a de sempre. 
O STJD e o Pleno do STJD desrespeitaram o Estatuto do Torcedor. 

A sentença da suspensão de Heverton foi publicada depois do jogo contra o Grêmio. 
Ou seja, ele estaria livre para atuar. 
Apesar da escalação que tudo indica ser criminosa. 
O Ministério Público paulista avisa que não aceitaria o clube na Segunda Divisão. 

Os dirigentes ao menos já divulgaram publicamente. 
Não cederam o que muitos no Canindé chamaram de 'suborno' da CBF. 
A entidade oferecia R$ 4 milhões ao endividado clube. 
Anteciparia dinheiro por participação em competições.

Desde que os dirigentes se comprometesse em disputar a Série B. 
E não brigar em nenhuma instância pela Primeira Divisão. 
A direção de Ilídio Lico não aceitou a proposta indecente. 
Mas também não está fazendo nada para não ser rebaixada. 
Absolutamente nada. 

Nem cogita sequer ir para a Tribunal Arbitral do Esporte na Suíça. 
Quanto mais entrar na Justiça Comum. 
Não é segredo para ninguém que o clube tem R$ 120 milhões em dívidas. 
E que para Ilídio Lico seria melhor disputar a Série B. 

Muito mais barata. 
A liminar que vigora na Justiça Comum foi conseguida por Daniel Neves. 
Professor de Direito, advogado e torcedor da Portuguesa. 
Ela foi acatada pelo juiz Marcello do Amaral Perino. 
Já vigora há duas semanas. 

A sentença foi embasada no Estatuto do Torcedor. 
O escritório de Carlos Miguel Aidar foi contratado pela CBF. 
Para cassar as liminares favoráveis à Portuguesa e ao Flamengo. 
Ele teve sucesso na obtida por Luiz Paulo Pieruccetti Marques. 

Advogado e sócio do clube carioca ele havia conseguido na mesma 42ª Vara. 
Mas apesar de tentar, está muito mais difícil cassar a de Daniel Neves.
Para complicar, ontem em São José do Rio Preto nova liminar. 
O torcedor Cristiano Abdanur São Bento foi rápido. 

E entrou com uma ação pedindo a anulação dos julgamentos do STJD. 
Baseado também no Estatuto do Torcedor. 
O juiz Cristiano de Castro Jarreta Coelho acatou seu pedido. 
O escritório de Aidar terá de trabalhar para cassar também essa liminar. 

O movimento "Vamos à Luta", formado por torcedores da Portuguesa promete agir. 
E espalhar ações até o dia 20 de fevereiro. 
A intenção é inviabilizar à CBF o Brasileiro de 2014 sem a Portuguesa. 
Essa é a data limite imposta pelo Estatuto do Torcedor. 

Tabela, regulamento e clubes envolvidos precisam ser divulgados. 
Se não for, não há Brasileiro. 
A cúpula da Globo acompanha tudo com muita apreensão. 
O torneio já foi vendido aos seus patrocinadores. 
E pressiona a CBF. 

Mas Marin foi desmoralizado com a proposta indecente à Portuguesa. 
Para complicar ainda mais, o MP promete entrar na Justiça Comum.
Em fevereiro, o que será terrível à CBF. 
O promotor quer obrigar que a o clube paulista fique na Série A. 

Ao mesmo tempo continuará sua investigação. 
Deseja punir a pessoa ou as pessoas que sabiam. 
E que teriam ganho dinheiro para liberar Héverton para o jogo. 
A atual diretoria da Portuguesa promete também uma investigação interna. 

Se descobrir que houve mesmo dolo, jura que agirá. 
Divulgará o nome dos envolvidos.
E os expulsará do clube. 
A situação é apenas mais uma. 

É muita sujeira neste país. 
A menos de cinco meses da Copa do Mundo. 
A credibilidade do futebol brasileiro desaba. 
Vexame atrás de vexame...

(*) Jornalista esportivo u que atuou por 22 anos no Jornal da Tarde 

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