domingo, 26 de janeiro de 2014

Bolsa Manhattan

Eliane Cantanhêde (*) 

Do Brasil para a Suíça, da Suíça para Cuba e de Cuba de volta para casa, a presidente Dilma Rousseff tem um bom tempo de voo para discutir com o chanceler Luiz Figueiredo um assunto pouco diplomático e muito prático: os altíssimos custos de diplomatas e funcionários do Itamaraty no exterior. 

Com as mortes e decapitações de presos no Maranhão, os escândalos políticos que se amontoam e a reforma ministerial, passou quase despercebida a informação da Folha de que o embaixador Guilherme Patriota aluga um apartamento em Nova York pelo correspondente a R$ 54 mil por mês. 

Ele é irmão e segundo do embaixador na ONU, o ex-chanceler Antonio Patriota. 
E ambos moram na área mais nobre de Manhattan, um dos lugares mais luxuosos do mundo, ao lado de celebridades como Madonna, Al Pacino e Woody Allen. 

Ok. Diplomatas têm de se apresentar bem e Nova York é cara. 
Mas embaixador brasileiro e até jovens secretários (deu no "NYT"!) precisam mesmo morar nos endereços mais exorbitantes? E é diferente na Europa? Na Ásia? E em pequenas embaixadas que não servem para nada? 

A imprensa reclama de falta de transparência sobre custos –e luxos– do Itamaraty. 
Mas a dificuldade não é só de jornalistas, é da Esplanada dos Ministérios também. 

Se passou quase despercebida do grande público, a informação não passou tanto assim dentro do próprio governo. Até porque os exageros do Itamaraty e as perguntas acima estão no caderninho da equipe econômica desde o governo Lula. 

Na época, o Planejamento fez um grande levantamento de salários e vantagens de funcionários das diferentes pastas, para efeitos de planos de carreira. 
Adivinha de onde veio a maior resistência? Do Itamaraty. 
O pretexto foi que os valores variam muito de um lugar para outro...

Explica, mas não justifica, pois os valores, somados, caem numa mesma conta: a minha, a sua, a nossa. 

(*) É jornalista , colunista do jornal Folha de São Paulo 

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