sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A dinheirama para Delúbio: armação ou sem-vergonhice contagiosa?

Reinaldo Azevedo (*) 

Ser mensaleiro, ora vejam, pode render mais de milhão. Isso se o sujeito for um condenado e estiver em cana — ou, ao menos, dormindo na cadeia. Em plena operação do esquema, rendia muito mais. O site criado para arrecadar dinheiro para pagar a multa de Delúbio Soares já teria juntado mais de R$ 1 milhão de reais. 

É um acinte! Por que escrevo “teria juntado”, pondo a informação sob suspeita? 
Porque só nesta quinta-feira R$ 600 mil caíram na conta de uma vez só. A multa que Delúbio tem de pagar é R$ 466.888,90. Até ontem, o total arrecadado era de R$ 1.013.657,26. 

Quem é essa gente que doa com tanta generosidade?. 
O único ente oficial que vai ter acesso aos nomes é a Receita Federal, já que esse tipo de operação é tributada — e, claro!, o partido. Se os próprios comandantes do PT fizeram boa parte das doações, como deve ter acontecido, ninguém ficará sabendo. 

É claro que o PT decidiu debochar da Justiça como um todo e do Supremo Tribunal Federal em particular. Ao criar um site para doações de pessoas que permanecerão anônimas, tenta fazer de conta que a sociedade está contra o tribunal. 

O petista Marco Aurélio Garcia, que é assessor especial de Dilma para assuntos internacionais, não escondeu a intenção: 
“Isso é uma resposta ao ministro Joaquim Barbosa. Ele, com seus exageros, acabou mobilizando ainda mais a militância”. 

Os mensaleiros também trocam a grana entre si. Da campanha de Genoino, sobraram R$ 30 mil reais, que ele decidiu doar a Delúbio. Da de Delúbio, sobrarão mais de R$ 500 mil, que vão para José Dirceu e João Paulo Cunha… 

É um mau sinal. Estamos diante da evidência de que o PT, além de não admitir os crimes cometidos, ainda parece se orgulhar deles e da suposta adesão de sua militância. 
Digo que a adesão é suposta porque, enquanto os respectivos nomes dos doadores continuarem em sigilo, o bom senso obriga a desconfiar.

E notem o seguinte: a hipótese da farsa é a benevolente. 
A não-benevolente é mais grave. 
Se há mesmo tanta gente disposta a condescender com o crime e a colaborar com criminosos, é sinal de que a sem-vergonhice é contagiosa. 

(*) Jornalista é colunista da Folha de São Paulo e da Revista Veja

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