sexta-feira, 18 de junho de 2010

Bela poesia de um amigo

Apenados

Jota Ninos (*)

a pena do juiz
que dança sobre a lisa superfície,
- pálida de medo -
é a mesma pena do condenado
cuja nódoa de sangue derramado
de um ser inanimado,
transmuta-se em toner de impressão,
transforma-se em artigos e jurisprudências.

a pena do juiz
que se esparrama sobre a plácida pista branca,
como que patinando no gelo da justiça,
é a mesma pena das mães em prantos
pelo filho que morreu
e pelo que vai viver
encarcerado...

a pena do juiz
não é feita de maiúsculas fontes
nem de hiatos e hipérboles
é a síntese da antítese de uma tese
não é poesia, nem prosa
não é feita de versos ou reversos
é apenas palavra após palavra
mas carrega a semântica
de um fim em si mesmo

a pena do juiz pode ser, ou não,
o reflexo de mentes abstratas,
semblantes cansados
de homens e mulheres do povo
no tribunal da consciência.

- a dona de casa lavou a roupa suja e pendurou sua conformação no varal, como sempre fez;

- o bancário somou os prós e contra e assinou em branco o cheque da razão;

- o estudante de biologia não se fascinou pelo direito e ainda prefere estudar o trypanossoma cruzis;

- a comerciária não vendeu a alma e nem perdeu a calma ao rabiscar seu talonário;

- o gari não jogou sujeira pra baixo do tapete e separou o joio da jóia;

- a assessora do político esqueceu o discurso demagogo e se fez cidadania;

- a professora deu a aula que ainda não havia dado e nem pensou no salário atrasado com gosto de giz.
na plateia, submersos em sono,
olhos esbugalhados têm sede de justiça cada qual tem uma justiça

(*) Jornalista, Analista Judiciário e Amigo

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