terça-feira, 15 de setembro de 2009

Cargill vende a Seara

A Marfrig Alimentos anunciou ontem que firmou "um compromisso irrevogável de compra e venda" para aquisição da Seara, a unidade de carnes da Cargill americana no Brasil. O valor do negócio está avaliado "inicialmente" em US$ 706,2 milhões em moeda e US$ 193,8 milhões em assunção de dívidas, segundo a Marfrig.

De acordo com a empresa, os valores poderão ter ajustes durante a "due diligence" até o fechamento do negócio, previsto para o próximo trimestre. Para garantir a operação, a Marfrig constituiu reserva de crédito de longo prazo no valor de R$ 1,3 bilhão no Bradesco. A aquisição pode ser financiada por meio de aumento de capital da Marfrig com oferta primária de ações, segundo a empresa.




A compra da Seara - segunda maior de aves e suínos do país hoje - é um passo fundamental no projeto da Marfrig de se consolidar como empresa de alimentos diversificada e dá fôlego para a companhia, que no início atuava apenas em carne bovina, disputar no mercado brasileiro e internacional com a Brasil Foods, resultado da união de Sadia e Perdigão, e outras grandes.

Para a Cargill, a venda da Seara significa um revés: é a segunda vez que a empresa americana desiste de atuar em carnes no Brasil. A primeira foi no fim dos anos 80, quando vendeu suas operações de carne bovina.

A transação entre Cargill e Marfrig envolve todo o negócio de aves, suínos e industrializados da Cargill Inc, representado pela Seara Alimentos Ltda e por afiliadas na Europa e na Ásia, incluindo a marca Seara no Brasil e no exterior, que teve receita líquida de R$ 2,9 bilhões no ano passado. Com o negócio, o faturamento líquido da Marfrig deve se aproximar dos R$ 15 bilhões.

No total, são sete unidades industriais de aves com a capacidade de abate de 1,2 milhão de cabeças, duas unidades de suínos para 5.800 cabeças/dia, três plantas de industrializados e processados, com capacidade de produção de 17.500 toneladas/mês, e um terminal portuário privativo para cargas frigoríficas e cargas secas, a Braskarne, em Itajaí (SC).

Também inclui as operações de distribuição e comercialização da Seara no exterior (Reino Unido, Japão e Cingapura), nove fábricas de ração, seis granjas de matrizes de aves em Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, com cerca de 3 mil produtores integrados de aves e suínos.

Os negócios da Seara no Brasil e no exterior serão integrados às demais divisões da Marfrig que operam com aves, suínos e industrializados e a expectativa é de ganhos com as sinergias entre as duas operações. A empresa espera ainda, com a compra da Seara, acelerar e diversificar a produção de industrializados no Brasil e ampliar seu acesso direto aos mercados internacionais. Além disso, a aquisição permitirá à Marfrig maior ganho de escala e menores custos de produção. "A Marfrig expandirá seu potencial com alimentos processados no Brasil, firmando-se como o segundo maior player no mercado interno e de exportação de aves e suínos e uma dos maiores do mundo, ao mesmo tempo em que agrega a marca Seara em produtos processados de alto valor adicionado", diz o comunicado.

A Cargill comprou o controle da Seara da Bunge no fim de 2004, por US$ 130 milhões, mas não estava satisfeita com o desempenho da unidade de carnes, que foi afetada pela queda da demanda e dos preços internacionais do produto após o início da crise financeira global. A empresa, que tem 70% de suas receitas provenientes de exportações, acusou o golpe e voltou a ter prejuízo em 2008 - de R$ 72,5 milhões.

Analistas do setor já apontavam o descontentamento da empresa com os resultados, principalmente em carne suína, cujas exportações tiveram queda brusca. Mas a Cargill chegou a falar em ampliar os investimentos no Brasil. Em abril deste ano, em entrevista ao Valor, o diretor da unidade de negócios carnes da Cargill, Robert van der Zee, disse que a matriz analisava projeto de investimento de US$ 55 milhões numa planta de frango processado. Também afirmou que a empresa havia ganho participação no mercado doméstico, já que muitas concorrentes estavam em dificuldades por causa da crise.

Com a aquisição, a Marfrig, que entrou no abate de bovinos em 2000, deve se tornar a segunda em aves e suínos do país, pois já atua nos dois segmentos desde o ano passado. Em 2008, a empresa comprou a DaGranja, as unidades da americana OSI na Europa e no Brasil e a Mabela. Antes já tinha feito várias outras aquisições na Argentina, Uruguai e no Chile.

Antes da aquisição da Seara, a Marfrig tinha 18 plantas de abate de bovinos, 30 plantas de produtos industrializados e processados, quatro unidades de abate de cordeiros , duas unidades de abate de suínos, 10 unidades de abate de frangos e duas tradings.

A operação entre Marfrig e Seara terá de ser submetida aos órgãos reguladores no Brasil e exterior.

Valor Econômico

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