Todo mundo já sabe para que time eu torço. Também nunca escondi --nem faço questão-- de fazer isso.
Mas, semanalmente, recebo mensagens de leitores que expõem suas críticas, mas gostam de exaltar minha imparcialidade. E lógico que existem aqueles que me chamam de corintiano, são-paulino, colorado, flamenguista ou vascaíno, mas aí todos estão errados.
Mas todos os elogios ou insinuações erradas do time de minha preferência funcionam como um excelente parâmetro se eu estou fazendo bem o meu trabalho. Ou seja, saber diferenciar muito bem o que é ser torcedor e qual a função de crítico.
Eu não seria um crítico se eu nunca tivesse sido um torcedor. Já disse neste espaço como sou viciado e gosto de futebol. Não poderia escrever nada sobre esporte se em algum momento eu não tivesse sido um torcedor.
Mas, felizmente, quando estou na frente do teclado procuro --e preciso-- me desligar de qualquer paixão do meu clube. Até porque se eu escrever os maiores elogios --ou críticas-- ao meu clube iria perder a credibilidade com os leitores.
O torcedor, por exemplo, tem todo o direito de chamar um árbitro de ladrão. Até porque para o apaixonado os apitadores vão sempre roubar o seu time. Em qualquer situação. Não há fã que não veja pelo menos três pênaltis não marcados por partida a favor do seu time. O crítico não. Ele deve analisar e observar o lance. É lógico que ele tem que dar sua opinião e passar para o público porque o árbitro tomou tal decisão.
O que o crítico nunca pode é tentar distorcer o que aconteceu. Se a imagem mostrar que foi pênalti, por exemplo, o jornalista não deve nunca tentar mudar a realidade do lance para tentar provar que a sua opinião está certa. O jornalista precisa saber que não dá para fazer polêmica em lances que não há o mínimo espaço para a discussão.
Mesmo o tratamento com os jogadores tem de ser muito diferente. O torcedor tem todo o direito de ter uma relação de amor e ódio com seu ídolo. É totalmente aceitável que o torcedor aplauda um jogador em uma jogada para, cinco minutos depois, gastar todo seu repertório de palavrões com o mesmo atleta. Já o jornalista não pode ser assim. Ele tem que ter um equilíbrio para analisar o que o jogador faz em campo.
Tem que ter a sensibilidade para saber, por exemplo, que um atleta está jogando mal por ele ter um problema físico --o jornalista tem a obrigação profissional de saber isso, o torcedor não--, ou por estar tentando fazer uma função, dada pelo técnico, que ele não tem condições de executar.
Dentro dessa relação com os jogadores, o crítico precisa se policiar muito para não ter uma atitude de torcedor. É muito comum para os fãs enaltecerem ao máximo os craques do seu time e tentar acabar com os jogadores do adversário. Jornalista não deve fazer isso nunca.
Por isso, acho que os jornalistas não podem ter uma relação de amizade com os atletas. A relação pode gerar algumas boas informações, mas com certeza vai levar algumas distorções quando o crítico precisar fazer algum comentário do atleta.
Desde que não existam tentativas de agressão física, o jornalista é obrigado a entender a paixão do torcedor.
Quem dá uma opinião precisa saber que sempre vai existirá um grupo que não vai concordar com ela.
Em caso de receber uma mensagem ríspida, ele tem que tentar desarmar o espírito do torcedor, dizendo que ele não entendeu o que foi escrito --às vezes a culpa é do crítico que não conseguiu passar direito a mensagem que gostaria. Não custa nada encerrar o assunto com uma mensagem educada.
Em resumo: no futebol o torcedor é a paixão, já o critico tem que ser a razão. Pelo menos, teria que ser assim.
Humberto Luiz Peron, 41, é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para Folha On Line
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