Alberto Murray Neto (*)
Chegou o salvador da pátria ôô, chegou o salvador da pátria ôa!
Foi assim, parodiando versos carnavalescos que o Comitê Olímpico Brasileiro anunciou aos quatro ventos a contratação do super Steve Rush e de sua consultoria norte americana, a TSE/Consulting.
Naquele debate havido no Senado Federal, em que o presidente Nuzman retirou-se do recinto, seu substituto na mesa, acuado pelas perguntas dos senadores, tentava explicar que um dos grandes legados do Pan Americano teria sido o know how adquirido por brasileiros em organizar competições de grande porte.
Ora, o ex-jogador de vôlei sentado ao meu lado, levantou a bola de maneira tão perfeita, que não me restou outra opção que não cortá-la e fazê-la explodir no chão da quadra adversária.
Ao ouvir aquele comentário do representante do COB, eu retruquei sem pestanejar:
"Ora, se vocês aprenderam com o Pan a organizar eventos de grande porte, por que razão contrataram a empresa suiça EKS, a peso de ouro, sem licitação pública, para prestar assessoria para a campanha olímpica?".
Uma moça que estava sentada na platéia olhou para mim e sorriu.
Os senadores sacudiram a cabeça positivamente. E não houve resposta da outra parte.
Pois é, o COB adora contratar consultoria no exterior.
Agora quem vem por aí é o Mister Steve Roush, ex-diretor de alto rendimento do Comitê Olímpico dos Estados Unidos ("USOC") e sua empresa de consultoria TSE/Consultings.
Ele vem para alavancar os resultados olímpicos em 2.012 e 2.016.
Além de seus conhecimentos olímpicos que nos farão virar potência, o Mister Roush vai trazer a mulher barbada, um doberman albino e o homem de três pernas, além de uma belíssima loura que vai cortar em três pedaços dentro de uma caixa e depois do olhar atônito dos nossos pajés olímpicos, retirá-la do mesmo caixote sem um arranhão sequer.
Além de dar conselhos olímpicos, Mister Roush também entortará colheres com a força de seu pensamento e tirará um ornitorrinco de dentro de um ovo de cordorna.
Vamos passar a chamá-lo de o Mago Steve Roush, aquele que em um passe magistral de ilusionismo, transformou o Brasil em potência olímpica.
Não interessa se não temos esporte nas escolas.
Mister Roush não quer saber se o país tem alguma política esportiva de longo prazo levada a sério pelo governo federal, que possibilite o esporte para todos.
Mago Roush fará do Brasil um celeiro de medalhistas, com a mesma simplicidade com que transformará um lenço em um pombo branco.
Afinal de contas, Mister Roush esteve à frente da equipe norte americana em três edições olímpicas.
E ainda afirmou, na nota divulgada à imprensa, que "o cenário esportivo brasileiro atual é muito semelhante a situação que encontrei nos Estados Unidos em 1.999".
O Mago tem razão.
Em 1.999, assim como no Brasil, somente 12% das escolas públicas dos EUA tinham algum tipo de quadra esportiva.
Os "elefantes brancos" construídos pelo USOC apodreciam por falta de uso.
O povo não tinha acesso aos esportes.
As universidades padeciam pela falta de organização esportiva.
Os atletas norte americanos deixavam de viajar por falta de dinheiro.
Tinha medalhista olímpico recebendo pouco mais de US$ 500 (quinhentos dólares) por mês para treinar e viver.
Em 1.999, seguindo a brilhante coerência de pensamento do Mister Roush, as atividades esportivas no seu país de origem eram paupérrimas, assim como o são no Brasil atual.
A história do esporte dos EUA divide-se antes e depois do Mister Steve Roush.
Mesmo com aquela pobreza, já no ano seguinte, sob os auspícios do Mister Roush, os Estados Unidos tornaram-se, nos Jogos de Sydney, uma potência olímpica.
Que coisa estupenda esse Mister Roush!
É uma pena que, ao contrário do que afirmou o representante do COB no Senado Federal, não tenhamos no Brasil alguém capaz de cumprir esse papel para o qual foi escolhido o Mr. Roush.
Certamente, o Mr. Roush vai ensinar as Confederações de levantamento de peso, esgrima, canoagem, remo, tênis, tênis de mesa, rugby, golfe, ginástica a formar medalhistas.
Será esse Mago estadounidense de grande utilidade para o esporte brasileiro.
O Mago e sua consultoria serão pagos com dinheiro do povo, que recheia os cofres do COB.
Se ele foi contratado com licitação pública, como obriga o artigo 4 do decreto que regulamenta a lei Piva, o COB não divulgou em sua nota à imprensa.
Também não divulgou o valor do contrato.
Isso será, portanto, matéria para o Ministério Público Federal.
Qual será a próxima super contratação do COB?
Se não der certo com esse Mister Roush, ali na Barra Funda tinha a placa de um mágico argentino radicado no Brasil, que se via da rua.
É o Lipan Magic Show. Deve ser bem mais baratinho.
(*) É advogado militante, formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Largo de São Francisco. Pós Graduado pela Faculdade de Direito da Universidade de Toronto, Ontario, no Canadá. Costuma proferir conferências sobre temas relacionados aos Jogos Olímpicos
Nenhum comentário:
Postar um comentário