terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Vivendo num País sem crise - Capitulo 13 - Último

Último capitulo. Nosso mocinho não irá nem beijar e nem casar com a mocinha.
Nosso final é uma dura e real constatação.
Para encerrar nossa novela escolhemos um texto escrito especialmente para esse último capítulo que espelha uma realidade nua e crua do nosso País.


NEM CRASE, NEM CRISE
Bellini Tavares de Lima Neto (*)

Houve um tempo em que se dizia que o Brasil estava à beira do abismo, mas, graças a um determinado governante, agora, sim o país havia dado um passo à frente. “Este é um país que vai prá frente”, Brasil, tudo pelo social”, “Brasil, um país de todos”, o notável escritor Monteiro Lobato, antes de ser transformado em celebridade da maior emissora de televisão do pais, costumava dizer que o Brasil vivia de sons: “Temos o maior rio do mundo”, “somos um dos maiores territórios do planeta”, “aqui está a maior bacia hidrográfica da Terra”, “nossa floresta é a maior entre todas”. Com isso parece que vamos nos alimentando, nos nutrindo e tocando em frente. Conseguimos nos sustentar com frases e palavras-chave. “Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil” foi um mote muito popular lá pelos anos cinqüenta. Pelo jeito, nem uma coisa, nem outra. “O petróleo é nosso”, cunharam os nacionalistas lá pelos mesmos anos cinqüenta, ainda que mal se extraísse uma quantidade pífia do óleo.

Entre as inúmeras frases, chaves e palavras, há uma delas que nos acompanha desde sempre: a crise. Se alguém se dispuser a fazer um passeio no tempo, uma excursão pelas décadas que se foram, vai encontrar a crise a todo instante. Já tivemos todas: crise de energia elétrica, crise financeira, crise do petróleo, crise na saúde, crise na segurança, crise na moralidade. Seria razoável imaginar que um país que tenha tido a chance de conviver com tantas crises já deveria ter aprendido a eliminá-las de sua realidade. Mas não é isso que acontece. A cada uma que se supera, surge uma nova. Ou, talvez mais apropriadamente, a cada uma que a população absorve, surge uma nova. É exatamente o mesmo fenômeno que ocorre com os escândalos. Nenhum deles se esclarece, se resolve, se pune os culpados. Ele apenas sai de foco para dar lugar a um mais recente. Basta ver a noticia que já está circulando na mídia. Com a queda em desgraça do atual governador do Distrito Federal, o mais recente leproso político (ninguém quer se aproximar dele agora), seu rival subiu automaticamente nas pesquisas eleitorais que o apontam como vencedor das eleições pra governador já no primeiro turno. Trata-se do mesmo cidadão que, há bem pouco tempo, renunciou ao mandato de senador para não sofrer uma cassação por atos de corrupção.

Mas, afinal, estamos em crise ou não? Como quase tudo, depende do referencial, do ângulo pelo qual se enxerga, do viés pelo qual se sente. Embora alguns digam que as crises são positivas porque impulsionam e fazem evoluir, elas também são incômodas porque trazem desconforto ou sofrimento, dependendo do objeto e da extensão. E aí entram dois elementos bem subjetivos: tanto o desconforto quanto o sofrimento. Será que o critério para qualificação de algo como desconfortável ou sofrido é igual para todos? Certamente, não. Prova disso é que, com todas as aparentes dificuldades, deficiências, carências que se enfrenta no planeta-Brasil, uma enorme maioria se diz satisfeita, otimista e feliz. As pesquisas de opinião vivem reforçando esse quase êxtase, uma esfuziante euforia que tomou conta de cerca de 80% da população brasileira. Ora, é uma maioria inquestionável, indiscutível, inatacável.

Essa maioria exultante está dizendo e repetindo que gosta do que vive, de como vive, que deseja continuar a viver assim. Ou, no mínimo, que está convencida de que está no caminho certo para atingir um quase nirvana. Onde, então, está a crise? Essa mesma maioria está dizendo, com todas as letras, que as questões de ordem moral podem esperar, não são prioritárias, talvez não passem de filigranas das elites insatisfeitas. Em que, então, isso está prejudicando a felicidade geral? “Vox populi, vox dei”, ensinavam os antigos. Quando a vontade popular se manifesta, compete a todos respeitar. 
Se o povo está feliz com as benesses que vem recebendo graças à propalada generosidade e sensibilidade social que tomou conta do país, que assim seja.
Se a população se sente reconfortada com os gritos de palavras de ordem, com o animado palanque permanente, que assim seja. 
Se o povo está feliz em ter por aqui as duas maiores competições esportivas do planeta, que assim seja. É a voz do povo. 
Mas, e se isso tudo não passar de um grande engodo? 
E se tudo isso for só mais uma edição do país dos sons? Bem, é de se supor que o povo já seja bem crescidinho para tomar suas próprias decisões, não é mesmo?

(*) Advogado e morador em São Bernardo do Campo em São Paulo. Escreve para o site
O Dia Nosso De Cada Dia - http://blcon.wordpress.com/




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