(*) Antenor Pereira Giovannini
Quem é de fora, realmente estranha ao observar junto a orla da cidade aquele sem número de barcos ancorados a espera de cargas e passageiros.
Como um exército de formigas lá vão eles chegando.
Os passageiros com suas malas, seus pertences, suas esperanças, seus ânseios, seus problemas, suas saudades.
Por outro lado outro exército de homens fortes e suados carregando nos ombros mercadorias para diversos destinos.
Todos são alojados.
Uns mais , outros menos apertados.
Chama atenção as centenas de redes esticadas ao longo dos barcos onde a grande maioria dos passageiros irá se acomodar até seu destino final.
Ao cair da tarde, lá vão eles já cheios de saudades mas ansiosos pela chegada no destino.
Mas, muitos deles no "olhômetro" dão a certeza e a sensação que estão acima do limite permitido. São muitas pessoas aglomeradas num dos pisos dos barcos.
Mesmo assim ele segue viagem.
Suas luzes desaparecem no horizonte pela imensidão do rio.
O aceno de muitos, o choro e o abraço de despedida ficam na beira na espera de ver o barco sumir nesse infinito.
No destino, o oposto. Mãos e olhos atentos no aguardo de entes queridos que muitas vezes fazem anos de distância e de saudades. A espera é agoniante, mas vale o sacrificio.
Os carregadores ajeitam seus carrinhos a espera da encomenda prometida.
Os ambulantes ajeitam suas guloseimas a espera da clientela que irá em breve desembarcar. É a féria do dia .
O tempo passa. As horas avançam e o barco não chega.
A espera se transforma em sofrimento. A angústia se torna aflitiva.
Informações desencontradas. Pode ser que o barco quebrou.
Alguém chega com a noticia que ninguém quer ouvir e acreditar.
O barco virou. O barco afundou. O barco bateu e afundou. A tragédia aconteceu.
O chôro compulsivo pedindo a Deus pelo salvamento e pelo resgate.
Quem pôde se salvar, salvou. Quem pôde ser resgatado, o foi. Quem não conseguiu, é o fim.
Muitas vezes à espera de anos ao invés de chegar correndo, saltitando, sorrindo ao seu encontro para abraçá-lo, beijá-lo, dizer que lhe ama, que estava com saudades,
se tranforma apenas um corpo coberto por um lençol e a espera da identificação.
A irresponsabilidade de um, de dois, de alguns simplesmente destroem a vida de muitos por um punhado de dinheiro a mais.
O que era um sonho se transforma apenas num retrato na sala da casa e uma dor eterna e profunda no meio do coração que rasga a alma numa súplica de saudades.
O rio irá continuar seu destino, ora aguas mansas, ora revoltas, os homens da mesma forma irão continuar gananciosos a explorar suas travessias, conscientes que nada irá lhes afetar, nada irá lhes acontecer, porque quem morreu não foram eles, quem deixou de viver não foram eles e nem seus parentes, o que importa na próxima viagem é faturar mais que a viagem anterior.
Trin-Trin próxima parada Santarém ...
(*) Aposentado e morador em Santarém.
Muito bom o texto Antenor, parabéns pelo blog só assim mais gente fica sabendo do que acontece no nosso Brasil que muitos estão querendo acabar, mas com certeza não vão conseguir
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