Fábio Seixas (*)
Dois mil e nove foi um ano romântico para o automobilismo. Senão, vejamos: um engenheiro de competência comprovada assume o comando de uma equipe fracassada e faz dela, em meses, a vencedora da F-1. Mais: Brawn mostrou ao esporte a motor que não é preciso ostentar, esnobar e espezinhar os outros para vencer corridas. Para vencer corridas, são necessários um bom carro, um bom piloto, uma boa retaguarda. Parece básico, mas a F-1 havia esquecido desta receita faz tempo, preferindo gastar os tubos em motorhomes de três andares, festas em iates, viagens-jabás para jornalistas acompanharem lançamentos hollywoodianos. Grande Brawn!
Dos mil e nove foi um ano trágico para o automobilismo. Porque, para ser trágico, basta registrar uma morte. E uma morte de um garoto de 18 anos, no começo da vida, dói mais, sejamos francos. O acidente de Henry Surtees ainda teve o agravante de ele não ter tido culpa nenhuma. O filho de John estava apenas disputando uma corrida quando uma roda voadora atingiu sua cabeça. Tragédia. Este link da Wikipedia, uma espécie de ranking macabro do automobilismo, mostra que outros três pilotos morreram em pistas neste ano: Carlos Pardo, Thomas Thrash Jr e Rich Shafer. E o ano poderia ter sido pior se Massa não fosse um cara de muita sorte. Sorte por ter sobrevivido. Sorte por ter ficado sem sequelas. Sorte por poder continuar fazendo o que ama.
Dois mil e nove foi um ano de passagem nos bastidores da F-1. Sai Mosley, entra Todt. Toda mudança em princípio parece-me benéfica, assim como todo continuísmo parece-me lesivo. Mosley estava há muito tempo no cargo e mais errou do que acertou. Mas, ironia, talvez nunca acertado tanto como num de seus últimos atos, uma de sua últimas bandeiras: a abertura para que novas equipes disputem a categoria a partir de 2010. Não fosse a vitória do inglês nesta intensa queda-de-braço travada com as equipes tradicionais, contra o establishment, o GP do Bahrein de 2010 seria melancólico, dos mais magros da histórica. Foi o velho Mosley o grande responsável pela injeção de sangue novo que tanto vem agitando a F-1 nos últimos meses. Boa aposentadoria, Max!
Dois mil e nove foi um ano que deixou os amantes do esporte embasbacados. Que chocou os amantes de qualquer esporte, diga-se. Que enojou os amantes do espírito esportivo, da competição limpa, da lealdade, da honra, do orgulho próprio. Os responsáveis por tudo isso, Briatore, Symonds, Nelsinho e Alonso. E Nelsão, que decidiu colocar a boca no trombone quando viu que o filho levaria um cartão vermelho da equipe. Tudo já foi dito sobre o caso, mas ele merece o registro neste post de retrospectiva. Assim como merece registro o furo mundial do amigo Reginaldo Leme na transmissão do GP da Bélgica. Grande Regi!
Dois mil e nove foi o ano em que Rossi ganhou o hepta e calou de vez aqueles que ainda desconfiavam dele, em que Loeb suou para levantar o hexa, em que Cacá apostou na regularidade para conquistar o tri, mesma estratégia de Franchitti para erguer o bi.
Dois mil e nove foi ainda o ano em que um mito decidiu voltar atrás. E esta decisão dará o tom de 2010. Porque o que quer que Schumacher faça, seja primeira ou seja último, será ele o grande assunto do próximo ano.
Até lá, portanto. Obrigado, mesmo, a todos vocês que acompanharam o blog em 2009 a ponto de o tirarem do mundo virtual e fazerem dele um curso real e inesquecível na Casa do Saber. Feliz 2010 a todos.
(*) Editor-adjunto de Esporte da Folha, é jornalista, com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.
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