Os italianos conquistam o Iraque
Hoje em dia, a ENI - Ente Nazionale Idrocarburi - é uma multinacional petrolífera presente e ativa em 70 países. Mas quando a companhia italiana do petróleo nasceu, em 1953, ninguém apostava nela. Só o seu fundador, Enrico Mattei, nunca duvidou do seu sucesso, apesar das dificuldades para quebrar o oligopólio das chamadas Sete Irmãs (Esso, Texaco, Socony, Socal, Gulf Oil, Shell e Amoco) que ditaram - até os anos 70 - as regras da produção e venda do petróleo no mundo.
Mattei pagou com a vida a sua ousadia: morreu num misterioso acidente de avião em 1962. Mas a ENI sobreviveu, e na terça-feira passada assinou um contrato importante, um dos mais difíceis da sua vida de empresa. Com o governo iraquiano, que concedeu aos italianos a licença para explorar a gigantesca área petrolífera de Zubair, com uma decisão que demonstra a intenção do Iraque de atrair companhias do mundo inteiro, 40 anos depois da nacionalização da indústria do petróleo, e principalmente depois de uma guerra que se lutou também nas áreas petrolíferas.
Os iraquianos pretenderam que os italianos se desfizessem de um parceiro incômodo, os chineses da Sinopec, já presentes no Curdistão, na área de Taq Taq.
Paolo Scaroni, administrador da ENI, está eufórico. Zubair é uma das mais importantes áreas petrolíferas do mundo, uma das poucas capazes de produzir mais de um milhão de barris por dia. Nem mesmo a decisão do governo iraquiano de conceder "somente" 2 dólares por barril à companhia que explora o campo lhe parece pouco interessante: só de reservas, Zubair tem mais de 4 bilhões de barris esperando. Atualmente,a área produz 200 mil barris por dia, mas a potencialidade é enorme.
Quanto aos dois dólares, Scaroni tentou negociar, mas resolveu aceitar, lembrando talvez que a chave do sucesso de Enrico Mattei na construção da ENI foi justamente a boa relação com os governos dos países produtores. Foi ele que introduziu o princípio segundo o qual o país possuidor das reservas exploradas devia receber 75 por cento dos lucros. O governo do Iraque está aplicando ao pé da letra o princípio que liquidou o império das Sete Irmãs.
O goverrno de Bagdá continua negociando com outras companhias, como a russa Lukoil, os americanos da ConocoPhillips e a eterna Shell. Pretendem ganhar muito dinheiro para reconstruir o país, explorando o seu único, grande recurso. Enquanto houver petróleo debaixo das areias do deserto.
(Vera Gonçalves de Araújo jornalista, nasceu no Rio, vive em Roma e trabalha para jornais brasileiros e italianos.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário