Cadê o dinheiro? O gato comeu.
Antenor Pereira Giovannini (*)
Há muito tempo e quase que diariamente, nossa mídia nos bombardeia com noticias e mais noticias a respeito dos mais variados tipos de crimes cometidos de norte ao sul do país. Alguns hediondos pela crueldade, insensatez, frieza, bestialidade, chocam e fazem com que os discursos políticos sejam inflamados prometendo medidas enérgicas, contundentes e severas.
O tempo passa e a coisa fica muitas vezes pior do que estava.
Todos, de norte a sul, convivemos com situações absurdamente desconexas, difíceis de entender e principalmente e que nos tornam incapazes de saber o que fazer e em quem acreditar. Leis não faltam.
Estamos absolutamente conscientes que elas existem aos montes. Mas na prática, na realidade, pouco se observa do seu cumprimento na íntegra.
Temos leis rígidas que atingem a camada mais pobre da população, mas que se tornam bem maleáveis quando os envolvidos pertencem à classe mais privilegiada.
A mídia faz estardalhaço a respeito desses crimes de colarinho branco. Muitos de seus protagonistas a bem pouco tempo faziam parte apenas do noticiário econômico ou social e hoje estão no noticiário policial. Há, então, uma preocupação em demonstrar os pormenores, conteúdo e forma de execução do crime investigado, apurado e apresentado pelas autoridades competentes. Há ampla divulgação de todo o mecanismo ilegal permitindo a qualquer brasileiro comum que entenda que realmente tivemos uma quantidade enorme de crimes e que, por esses motivos muito bem expostos, essas pessoas deverão ser presas e condenadas.
A operação policial se desenvolve sob enorme estardalhaço. As câmeras de televisão são preparadas para registrar e divulgar em cadeia nacional os elementos sendo algemados. O “frisson” da notícia quase incendeia, espalham-se pelo país inteiro em horário nobre. E 24 horas depois os mesmos elementos, os perigosos meliantes que acabaram de ser presos, lá estão soltos, livres e leves, por força do instrumento do “habeas-corpus”, que é concedido com base no mesmo conjunto de leis que vigora no país. Ou seja, o circo que segundo a reportagem levou quatro anos de investigações para ser armado consumindo tanto trabalho de agentes públicos e, e dinheiro também público é desmontado com incrível facilidade no dia seguinte.
Uma análise ainda que superficial, mas imparcial e honesta, vai indicar que os “habeas corpus” só são concedidos porque falta fundamento para que a prisões sejam mantidas. Mas, isso é questão técnica, que escapa ao grande público.
O problema maior é o que essa pirotécnica toda acaba causando. Será que o brasileiro comum pode acreditar nas nossas leis e suas aplicações? Se ele furtar um pedaço de pão para alimentar seu filho com fome, terá o mesmo direito desse tal de habeas corpus ou mofará na cadeia por esse crime hediondo? E a imprensa vive noticiando situações como essa. Esse tipo de ação impensada, engendrada apenas para efeito de autopromoção de alguns e com sentido meramente demagógico só presta um enorme desserviço na formação de uma consciência de legalidade na nossa sociedade.
Mas, há um outro aspecto. Representantes do governo enaltecem o trabalho da policia, as prisões, as descobertas da quadrilha.
Os detentores do poder, portando a máscara da seriedade, apóiam incondicionalmente esse e trazer à tona essa podridão e principalmente esse colocar atrás das grades os cérebros da organização. Porém a principal pergunta nunca é respondida? A quadrilha foi presa por desvios de dinheiro público, enriquecimento ilícito, operações bancárias fraudulentas.
Num caso recente mostrou-seque a quadrilha teria movimentado cerca de R$ 2 bilhões em alguns anos. A principal pergunta então é:
Cadê o dinheiro? Quando e como esse dinheiro será ressarcido? De que forma ele voltará aos cofres públicos? Ninguém responde.
Se puxarmos pela memória lembraremos um sem número de crimes cometidos da mesma forma contra diversas autarquias governamentais, contra instituições bancárias privadas e de governos. Por conta desses episódios, várias e várias pessoas foram presas, acusadas e algumas até condenadas à prisão, mas o principal nunca aparece ou quando aparece é sempre a menor parte.
Cadê o dinheiro?
Cadê o dinheiro que a quadrilha roubou? Juiz Lalau um exemplo recente. Preso, solto, preso, solto, assim ficou sua novela. R$ 180 milhões desviados. Alguém veio a público informar que os R$ 180 milhões foram devolvidos aos cofres públicos, seja em bens, seja em dinheiro, seja em ações, enfim da forma que for? Nunca.
Com relação ao Sr. Cacciola, todos os dias há informações sobre extradição, prisão no Brasil, acordos internacionais para trazer o homem que usando de informações obtidas contra membros do governo, deu um desfalque e conseguiu amealhar uma fortuna.
O homem retorna ao país, mas, cadê o dinheiro?
Há uma marchinha interpretada por Gal Costa que dimensiona bem essa pergunta: “Onde está o dinheiro, o gato comeu, o gato comeu. E ninguém viu, O gato fugiu, o gato fugiu.
O seu paradeiro está no estrangeiro Onde está o dinheiro"?
E nós vamos tocando em frente.
Há como mudar a situação? Os que estão, no momento, ocupando as páginas dos jornais certamente não serão os últimos. E o povo se perguntando quantos estão na cadeia por terem furtado uma marmita enquanto esses senhores de voz pausada, ternos bem cortados e de grife, que de forma discreta escondem as algemas sob alguma peça de roupa, continuam fazendo pose porque tem consciência de que o circo, mesmo que armado, será desmontado muito em breve.
Não dando tempo nem de se comprar pipoca para assistir ao espetáculo.
E, já que o assunto é espetáculo, a nós cabe continuar cantando: -" Onde está o dinheiro? O gato comeu, o gato fugiu"!!!!
(*) Aposentado e morador de Santarém
O gato comeu! Muito bom o Artigo.
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