Reportagem do Jornal da Tarde/SPo
Na noite de quinta-feira, Fábio ameaçou a repórter Renata Cafardo, autora da reportagem sobre o vazamento das provas. Acionada, a Polícia Civil instruiu a repórter a registrar boletim de ocorrência, o que ocorreu ontem à tarde, em São Paulo.
Encarregada da investigação do vazamento da prova do Enem, a Polícia Federal intimou a repórter a depor no inquérito, o que também ocorreu ontem. O Departamento Jurídico do Grupo Estado, que edita os jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde, entregou à Polícia Federal fotografias, feitas a distância, dos dois homens que tentaram vender as provas. As fotos foram tratadas para impedir a identificação de outras pessoas que estavam no local.
O JT não publicou as imagens junto com a reportagem, na edição de ontem, para preservar os jornalistas. O Grupo Estado entregou as fotos à polícia porque considera que a segurança da repórter está sob ameaça.
A reportagem
O vazamento da prova do Enem foi divulgado na última quinta-feira pelas últimas edições do Estado e do JT. A reportagem foi procurada na tarde de quarta-feira por um homem que disse ter cópias da provas e propôs a venda por R$ 500 mil. O jornal rejeitou a proposta, mas viu trechos do exame. Avisou o MEC, que confirmou que as provas eram oficiais e decidiu cancelar o exame que ocorreria hoje e amanhã em todo o País.
O primeiro contato com a redação foi feito às 15h30 de quarta-feira pelo Informante (a dupla que negociou a venda da prova não se identificou à reportagem) . “Tenho a prova toda, 180 questões, já impressas.” Deixou bem claro que queria ‘negociar’. Deu um número de celular. A reportagem falou com o Informante durante a tarde e marcou encontro em um local público. A dupla (‘Informante’ e um ‘Sócio’ - este identificado como Fábio) mostrou as provas aos repórteres Renata Cafardo e Sergio Pompeu e ao fotógrafo Evelson de Freitas, mesmo sem a garantia de que receberia o dinheiro. A reportagem então decidiu informar o MEC. Nada seria publicado até que houvesse a confirmação do governo. Cerca de quatro horas depois do primeiro contato com o ministério, por volta da 1 hora de quinta-feira, o presidente do Inep ligou para o Estado e confirmou que a prova tinha vazado.
Investigação
A Polícia Federal vai ouvir na segunda-feira Luciano Rodrigues, intermediador dos dois homens que queriam oferecer as provas. Ontem, Rodrigues negou que tenha tentado intermediar a negociação por dinheiro, mas apenas quis ajudar, já que tem “facilidade” para contatar a imprensa.
“Telefonei para o Estado e depois para a Folha. Mas foi apenas isso, minha participação nessa história ficou aí. Não falei em dinheiro, nem eles me falaram nada que pretendiam vender as provas. Os dois chegaram juntos, eu conhecia um deles. Disseram que queriam conversar. O que eu conheço disse que tinha um furo jornalístico, algo muito interessante, disse que a prova do Enem tinha vazado. Perguntou se eu podia ajudar a encaminhar. Disse que era muito grave, uma notícia importante.”
Dono de uma pizzaria nos Jardins, Rodrigues disse que “jamais poderia imaginar” que uma trama criminosa estivesse em curso quando os dois chegaram ao seu estabelecimento. “Um deles, que eu nunca tinha visto, estava com um envelope. Pude ver acho que um timbre, mas não consegui reconhecer se era de alguma repartição pública. Era um papel diferente. Os dois estavam muito ansiosos, meio desconfortáveis.”
Segundo o empresário, chama-se Fábio o homem que levava o envelope. Ele não quis dizer o nome do outro, que frequenta a pizzaria há algum tempo. “Para a PF eu vou dizer toda a verdade, exatamente o que ocorreu em todos os detalhes. Se for obrigado a revelar o nome, eu conto. Sinceramente, espero que ele (o cliente) esteja vendo o que está acontecendo.”
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