quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Farra Olímpica

Por que não me ufano da farra olímpica brasileira

Caio Blinder, de Nova York

NOVA YORK- Eu não vou fazer muito carnaval contra a vitória olímpica do Brasil. 
Seria tolice torcer contra o Brasil, mas quero estocar confete para celebrações mais propícias, como vitórias estupendas na luta contra a miséria social qualitativa, a corrupção ou a violência. O Brasil já é um país ufanista quando as coisas vão mal, imagine quando melhoram um pouquinho?  
Não dá para cair na empolgação e achar que, antes de tudo, o Comitê Olímpico Internacional conferiu ao Rio a sede das Olimpíadas de 2016 como um atestado para o Brasil grande ou a confirmação de que o país é uma potência emergente irrefreável. 
Claro que houve uma premiação por indicadores positivos do Brasil, os frutos do carisma global do presidente Lula, uma excelente organização de marketing e o castigo para a pretensão de Barack Obama de que faturaria a parada para os EUA no último minuto com uma boa prosa. 
Mas, basicamente, foi geografia acima de destino histórico. 
O Brasil ganhou na medida em que neste mundo globalizado era preciso dar uma oportunidade olímpica inicial para a América do Sul.
Ufanismo, em princípio, é uma roubada, em qualquer circunstância ou em qualquer país. Olimpíada, então, nem se fala. 
Cheira mal há muito tempo, especialmente desde Berlim 1936. É uma corrida para mostrar superioridade racial de um povo, de uma pátria sobre outra e de um sistema econômico ou ideológico.  
O que importa hoje em dia que a Alemanha Oriental era uma potência olímpica? 
Medalha de ouro mereceu quem sobreviveu em um país opressivo ou saltou aquele muro infame. Liderança americana em Jogos Olimpicos durante tanto tempo apenas reforçou a arrogância do país.
Agora precisaremos aturar os triunfos chineses. 
Os alemães aprenderam sua lição histórica depois do recorde nazista de barbaridades e atualmente têm pudor até para celebrar vitória esportiva ou apregoar nacionalismo.
Olimpíada corre o risco de se tornar um campeonato de xenofobia ou um espetáculo de patrocínio corporativo. Para governos é uma arma de autopromoção, com a finalidade de alimentar o ego de dirigentes. 
Reconheço que não tenho o direito de ser um estraga-prazer do sonho de um atleta descalço para conquistar o ouro. Alguma coisa sobrou do genuíno sonho olímpico. 
Assim espero.
O fundamental aqui é reafirmar o alerta contra patriotadas de um país, qualquer país, que se enrola na bandeira. 
De novo, nada contra o Brasil, mas contra a mecanização política do esporte. 
E tudo a favor de quem se acha no direito de torcer contra a papagaiada do discurso canarinho que assola o país que vai sediar a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Importante é poder competir para baixar uma febre nacionalista sem ser achincalhado. 
Aí sim está uma competição de maturidade democrática, de civilidade e de verdadeiro espírito olimpíco.

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