quinta-feira, 5 de abril de 2012

Verbas para o esporte: um desperdício olímpico

José Cruz (*) 

Em 2000, nos Jogos de Sydney, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro,Carlos Nuzman, justificou a ausência de medalha de ouro naquele evento devido à falta de investimentos. Leia-se “dinheiro”. 

Agora, 12 anos depois, ao prever que não teremos evolução nos Jogos de Londres, comparativamente ao desempenho de Pequim, quando ficamos em 23º lugar, o COB justifica: “Faltou tempo”. Foi o que disse Marcus Vinicius Freire, do COB, na coletiva preparatória aos Jogos de Londres, anunciando que não deverão surgir novos nomes nos pódios. 

Estrutura 
De 2000 até agora são 12 anos, três ciclos olímpicos e meio com o governo despejando grana no esporte de rendimento. Nesse tempo ganhamos um Ministério do Esporte – entregue a inexperientes no setor -, farta legislação, conselhos e consultorias, enfim. 

Não foram só os cerca de R$ 800 milhões da Lei Agnelo Piva, entregues ao COB para preparar uma geração de atletas altamente competitiva. 
A partir de 2003 o Ministério do Esporte passou a distribuir muito dinheiro às confederações através de “convênios”. 

Paralelamente, as estatais aumentaram seus orçamentos de patrocínios; veio a Lei de Incentivo, a Bolsa-Atleta, patrocinadores individuais etc. 
Tivemos tempo, estrutura e dinheiro, bolsas, incentivos, convênios, patrocínios. 
Faltou gestão integrada. 
Faltou liderança do Ministério do Esporte, inchado por desempregados políticos que não sabem distinguir entre um taco de golf e um de beisebol. 
Faltou, principalmente, diálogo e entrosamento entre o governo, clubes, federações,confederações e Comitê Olímpico; Faltou planejamento integrado. Faltaram metas e prioridades. 

 Não adianta o COB ter estrutura de luxo e profissional se a turma de baixo está na Idade da Pedra; diante desse distanciamento não há diálogo produtivo. 
Não temos esse intercâmbio hierárquico, técnico. Não temos comando!!! 

Berros 
Um dirigente me contou que em certa assembléia, Nuzman bateu com a mão na mesa e berrou: “Eu dou dinheiro a vocês (cartolas) e vocês não me dão resultados”!!! Que tal? Faltou tempo, presidente… 

São os senhores que agora reconhecem o que escrevo há anos… 
Além de dinheiro precisamos de uma política para o esporte. 
Um plano, um planinho mínimo que seja. 

Na ânsia de fazer de campeões propaganda política, o governo tornou-se o principal financiador do alto rendimento olímpico e paraolímpico. 
Não fez do esporte “questão de Estado”, mas peça de promoção partidária. 
E o Ministério do Esporte se tornou mero repassador de recursos. 
É o que há muito chamo de “desordem institucional”. 

A Confederação de Desportos Aquáticos é exemplo neste sentido.
Tem patrocínio milionário dos Correios. Recebe verbas do Ministério do Esporte e ainda pega recursos na Lei de Incentivo. Sem falar nos patrocínios particulares. 
E quem controla o uso ordenado dessa dinheirama? Quem fiscaliza sua aplicação? Quem tem acesso às prestações de contas? nós, contribuintes dessa festa, não fomos convidados para ver um só documento. 

O que esperar, enfim, se o Ministério do Esporte tem a Copa do Mundo como prioridade e nem do planejamento desse evento consegue dar conta? 
A quem reclamar, se o mesmo ministério, além da burocracia peculiar do serviço público, não tem estrutura qualificada para dialogar com os entes olímpicos que financia? 
Gritar é preciso 

Enfim, a se confirmar a previsão do COB estamos diante do caos olímpico. 
Pior: do desperdício, do descontrole, institucional e financeiro, porque o dinheiro é público, é nosso, por isso a gritaria faz sentido. 

O que responde o Senhor Ministro – que passou anos estudando a legislação ambiental e, agora, comanda a organização de megaeventos esportivos, além de tentar devolver credibilidade ao ministério que herdou aos pedaços? 
E o Conselho Nacional do Esporte, que ação tomará sobre tais declarações o COB? 
E os debatedores da Conferência Nacional do Esporte, que em três eventos discutiram bobagens em convescotes festivos, quando fixaram metas sem base sólida para alcançá-las? 
Pior: sem dialogar com os demais entes do setor!!! 

Como reagirá o Conselho de Atletas do Comitê Olímpico Brasileiro sobre tais previsões de falta de evolução nos Jogos de Londres? 
Que perguntas farão deputados e senadores da Comissão de Esporte na próxima audiência pública com o senhor Carlos Nuzman? 

Tribunal de Contas e Controladoria Geral da União tomarão alguma providência? 
E os Atletas pela Cidadania, não poderiam ser mais ousados numa ocasião dessas, já que têm nomes expressivos que podem se manifestar sem o medo de antes, quando eram sufocados pela ditadura dos cartolas? – que continua!! 
O que diz o governo brasileiro, enfim, que financia o esporte para colher pérolas como essa? 
O que discursará o deputado Romário, tão atento aos “roubos” nesta fase de preparação da Copa? 

Afinal, paras que serviu os R$ 1,7 bilhão que o esporte olímpico recebeu, como um todo, só em 2010? 
Quem faz um balanço real dessa grana e é capaz de mostrar seus resultados efetivos? 

(*) Jornalista e que cobre as áreas de política, economia e legislação do esporte. Participou da cobertura de eventos esportivos internacionais nos últimos 20 anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário