João Mellão Neto (*) para O Estado de S.Paulo
Parece nome de banda de rock, mas não é. Trata-se de algo ainda pior. Está mais para Ali Babá e os 40 Ladrões. Na verdade um pouco menos, porque, entre as quatro dezenas de denunciados, alguns já foram absolvidos. Os mensaleiros protestam inocência, como, aliás, fazem todos aqueles que cumprem pena no inferno. Lúcifer - que reside por lá - vive a cutucá-los com o seu tridente e eles reclamam por entenderem que não merecem tal tratamento. Os petistas, em geral, são todos assim. Vivem a cometer as maiores barbaridades e se sentem com a consciência tranquila porque tudo o que fazem se justifica pela nobreza da "causa" que defendem.
Que causa tão excelsa seria essa? Ora, a "causa justa", a mesma pela qual se bateram Lenin, Trotsky e Stalin, que extinguiu qualquer vestígio de liberdade e - ninguém entende por quê - ainda povoa os sonhos de muitos imbecis. Um mundo melhor, uma sociedade composta de iguais, sem classes, na qual as pessoas, em vez de competirem entre si, colaboram umas com as outras. Alguém já resumiu essa questão de forma magistral: "Capitalismo é um regime em que os homens exploram os homens. Já o socialismo é exatamente o contrário".
A opinião pública não se sensibiliza com tais sutilezas e Asmodeu, pelo visto, também não. Na dúvida, ele prefere torturar as 38 almas decaídas que - enquanto não são devidamente julgadas - estão sofrendo o opróbrio popular. Eles se dividem entre o quarto e o oitavo círculo do inferno.
Segundo a descrição de Dante Alighieri - que alegou ter estado por lá -, o inferno é composto de nove círculos concêntricos - cada um mais profundo que o outro - para onde vão as almas de acordo com a gravidade de seus pecados. No quarto círculo habitam os gananciosos, cuja pena eterna é empurrar, morro acima, pesados sacos de dinheiro. Já no oitavo círculo residem pecadores responsáveis por delitos ainda mais graves. Entre eles se destacam os corruptos e os fraudadores. Seguindo o relato do italiano, existem ali dez fossos. Em geral essa gente está localizada no quinto fosso e há alguns também que desceram para o sétimo e até mesmo para o décimo - morada dos falsificadores. Há castigos disponíveis para todos os gostos. Desde a imersão do corpo em piche fervente até a contaminação pela lepra e pela sarna. Existe também a possibilidade de submersão em fezes e esterco e o incômodo de se ter a cabeça torcida para trás.
O curioso é que os petistas, apesar de suas agruras, acreditam piamente que estão provisoriamente no purgatório, a caminho das delícias proporcionadas pelo paraíso. O próprio José Dirceu é um exemplo eloquente disso. Ele ainda alimenta ambições eleitorais e não acredita, de forma alguma, que eventualmente possa vir a ser condenado pela Justiça. E esta não faz nada para desdizê-lo. Ao contrário.
Desde que o ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal (STF), inadvertidamente, acolheu a denúncia do então procurador-geral da República, a Suprema Corte parece não saber como descascar esse espinhoso abacaxi. Se os magistrados votarem pela condenação dos réus, ficarão de mal com o governo. Se votarem pela absolvição, ficarão de mal com a já exacerbada opinião pública. Na dúvida, o mais prudente a fazer é adiar o julgamento. Sine die, ou seja, sabe lá Deus quando. Atitude tão temerária não se encontra sequer em nenhuma republiqueta subsaariana. Enquanto isso, os mensaleiros, apesar de tudo o que todo mundo sabe, podem continuar a dormir em paz.
Há gente de sobra a defendê-los. Existe até mesmo um ex-presidente da República que tem apostado todo o seu prestígio na tese de que o mensalão, na verdade, nunca existiu...
Haja cara de pau!
Então os mais de R$ 90 milhões movimentados pelo "carequinha" Marcos Valério, todo o dinheiro que foi recebido em notas vivas na boca do caixa de alguns bancos acumpliciados, os dólares confessadamente recebidos pelo então marqueteiro do PT em paraísos fiscais, nada disso, na verdade, existiu? Nem com toda a boa vontade do mundo dá para acreditar nessa história. Lula que nos perdoe, mas essa versão, mesmo que acompanhada da melhor maionese, é impossível engolir...
As eleições aproximam-se, serão realizadas no próximo mês de outubro, e ainda não foi decidida uma data para o início do julgamento. Pior: o ministro encarregado de revisar o processo não dá o menor sinal de quando vai concluí-lo. De acordo com o princípio jurídico de individualização das penas, não são possíveis condenações coletivas. Cada caso deverá ser julgado de acordo com as suas circunstâncias. Ou seja, havendo 38 réus, ocorrerão 38 julgamentos.
Estamos chegando a maio. Em julho haverá as férias forenses e os srs. ministros afirmam ser um "absurdo" deixar de desfrutá-las. Quando voltarem ao trabalho, em agosto, três deles estarão afastados, envolvidos com o processo eleitoral - eles acumulam a função de ministros do Tribunal Superior Eleitoral. Um quarto deverá declarar-se impedido de julgar, já que é umbilicalmente ligado ao PT. Dos 11 ministros titulares restarão, então, apenas sete. Traduzindo em miúdos: nada de julgamentos, ao menos por enquanto. Nada acontecerá que possa comover a opinião pública e se traduzir em mudanças nos resultados das eleições. Talvez ocorra algo no decorrer do ano que vem. Talvez nunca mais aconteça nada. Primeiro, porque muitas das eventuais penas acabarão por prescrever. Segundo, porque, transcorrido o pleito, o interesse do povo haverá, necessariamente, de arrefecer.
A Copa vem aí e, logo depois, teremos a Olimpíada. Toda essa pressa, então, para quê?
Nós ainda haveremos de acatar a versão de Lula e pedir desculpas a toda essa corja pelos estorvos que lhe estamos causando.
Zé Dirceu para presidente! Ao menos em 2030.
(*) Jornalista, foi deputado, secretário e ministro de Estado.
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