Após euforia de Olimpíada, Pequim volta a sofrer com antigos problemas
Cubo D'Água |
BBC Brasil
Os poucos dias de Jogos Olímpicos em Pequim mostraram aos habitantes da cidade a qualidade de vida que poderiam ter. Mas passados quatro anos, as mudanças foram embora junto com o espírito olímpico do qual o governo tanto falou em 2008.
"Naquela época, os taxistas tinham mais boa vontade, tentavam falar inglês com os passageiros. Hoje, ficaria menos surpresa em entrar em um táxi dirigido por um golfinho do que por um taxista que fale inglês", diz Mikala Frances, editora norte-americana que veio a Pequim para trabalhar como voluntária durante os Jogos.
Para preparar a cidade para ser exibida como o cartão postal da Nova China há quatros anos, o governo chinês fez uma grande limpa em Pequim: livrou-se das indústrias, de metade dos carros em circulação e dos pedintes.
Os investimentos em transporte público na cidade chegaram a US$ 40 milhões e ajudam a desafogar um pouco do trânsito com a abertura de mais cinco linhas de metrô.
O crescimento da cidade, no entanto, ainda causa transtornos para os motoristas que amargam horas, diariamente, em congestionamentos.
A pressão é tanta que o governo local foi obrigado a instituir um sistema de sorteio de placas para diminuir o número de compradores de veículos.
Além disso, hoje, Pequim experimenta níveis de poluição considerados perigosos pela Organização Mundial da Saúde.
Estádios
O governo local segue utilizando os jogos para propagandear o investimento de grandes montantes de dinheiro na cidade em obras e modernizações.
O investimento em infraestrutura feito pelo Comitê Olímpico, em parceria com o governo da capital chinesa, ainda é altamente criticado. O estádio Ninho de Pássaro, que custou US$ 480 milhões, é utilizado agora para shows de música (incluindo um espetáculo do ator e cantor Jackie Chan), jogos de futebol e competições, mas ainda não conseguiu justificar seu preço.
Analistas internacionais estimam que os custos da Olimpíada, que chegaram aos US$ 32 bilhões, levarão anos para se pagarem.
Com 150 mil turistas por mês visitando o estádio mais icônico da extravagância olímpica chinesa a um preço de US$ 15, os custos da construção nem sequer se pagarão nas próximas décadas.
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"Eu vim conhecer o estádio, mas acho uma pena que ele não esteja sendo usado", diz Chuan Xuan, que veio da província de Anhui para conhecer o Ninho de Pássaro.
Para tentar reavivar o Estádio Nacional e o vizinho Cubo D'Água, a administração local inovou para atrair mais turistas aos locais. O Cubo tornou-se um grande clube aquático, onde milhares de chineses pagam US$ 10 dólares para ir nadar. O Estádio Nacional - o Ninho - abriu até um restaurante temático.
A crescente censura aplicada no país também elevou o artista Ai Weiwei à lista dos principais legados das Olimpíadas de Pequim. Depois de ter sido mandado à prisão, o artista dissidente tornou-se uma celebridade tão grande quanto o Ninho de Pássaro - o estádio que ele ajudou a construir.
O artista já manifestou publicamente arrependimento por ter participado do design do estádio, dizendo que os Jogos foram uma grande propaganda para o governo do Partido Comunista.
Outra aposta do governo chinês como legado da realização dos Jogos no país seria a criação de uma nova imagem do país. O espírito olímpico, no entanto, não sobrevive na cidade.
O inglês ainda é pouco utilizado pelo moradores e comerciantes locais. O turismo na cidade, apesar de crescer ano a ano, ainda não oferece serviços melhores. Em 2011, Pequim recebeu 5 milhões de visitantes estrangeiros, conforme a Comissão de Desenvolvimento Turístico de Pequim.
"Depois de quatro anos morando na cidade percebi que a desorganização é uma das características locais que persiste até hoje", comenta Mikala.
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