segunda-feira, 30 de março de 2015

O melhor consultor do mundo

José Dirceu, o melhor “consultor” do mundo: era só contratar e ter lucro certo 

Hugo Marques e Daniel Haidar (*) para revista Veja 

Depois de deixar o governo Lula em 2005 pela porta dos fundos, o petista José Dirceu passou a atuar como consultor valendo­-se da vasta influência que exerce sobre companheiros instalados nas mais diversas engrenagens do governo. O fato de sua carteira de clientes incluir algumas das principais empreiteiras acusadas de participar dos desvios bilionários da Petrobras fez com que ele logo passasse a ser investigado no escândalo do petrolão. O Ministério Público pediu a abertura de um processo para aprofundar essa relação. 

Na semana passada, o juiz Sergio Moro liberou para consulta pública parte das informações constantes dos autos. Com isso, ficou-se sabendo que Dirceu não é apenas um consultor bem-sucedido – é um sucesso retumbante. De 2006 a 2013, o ex-ministro faturou 29,3 milhões de reais em contratos de consultoria com empresas de todos os tamanhos e atuantes nos mais variados setores da economia – de cervejaria a laboratório farmacêutico, de escritório de advocacia a concessionária de automóveis, Dirceu estava em todas. 

Pudera: sua contratação, como se verá a seguir, era garantia de ótimos resultados. 

Tamanha eficiência fez com que, mesmo durante sua temporada na prisão, Dirceu seguisse recebendo pagamentos por seus serviços. A VEJA, dois de seus clientes, a construtora Consilux e o laboratório EMS, admitiram que destinaram 1,2 milhão de reais ao ex­-ministro quando ele já estava atrás das grades. São os contratos com as empresas que faturavam alto na Petrobras, porém, que podem levar Dirceu a ter de travar novo embate nos tribunais antes mesmo de cumprir o restante da pena do mensalão. 
Do clube do bilhão, o petista recebeu pelo menos 8 milhões de reais. 

O ápice dos pagamentos se deu em 2012, período em que o petrolão estava funcionando a pleno vapor e que coincidiu com a condenação de Dirceu por participação no mensalão. Entre as empreiteiras que aparecem na lista de clientes do ex-ministro estão OAS, Engevix, UTC, Galvão Engenharia e Camargo Corrêa – todas acusadas de integrar o cartel que atuava na Petrobras. 

Dirceu nega que sua consultoria abrisse caminho para negócios na Petrobras ou no governo. Mas, assim como aconteceu no mensalão, os fatos sugerem que ele não fala a verdade. Há quatro anos, uma reportagem de VEJA revelou que as consultorias do ex-ministro não passavam de eufemismo para acobertar a prática de tráfico de influência. 
Da notória empreiteira Delta surgiu o primeiro exemplo de como os serviços do ex-ministro encurtavam o caminho rumo aos cofres públicos. 

Em 2009, a Delta, por meio de outra empresa do grupo, a Sigma Engenharia, fechou um contrato com a empresa de Dirceu, a JD Assessoria e Consultoria. Oficialmente, o objetivo era ampliar a participação da companhia no Mercosul. Mas foi no Brasil que os negócios da empresa se multiplicaram. De partida, a Delta dobrou o valor de seus contratos com o governo federal e, logo depois de passar a contar com os serviços do “consultor” Dirceu, entrou para o seleto grupo de prestadoras de serviço da Petrobras. 

Não era coincidência. Na ocasião, um sócio da empresa, Romênio Machado, admitiu: 
“O trabalho dele (Dirceu) era fazer tráfico de influência”.

Agora, com a lista de clientes de Dirceu exposta à luz, é possível dizer que a Delta não era exceção. Outras empreiteiras ampliaram exponencialmente seus negócios após recorrer aos préstimos do mensaleiro. E o milagre da multiplicação não se dava apenas na Petrobras. Era extensivo a órgãos do governo federal. 

A Galvão Engenharia é um exemplo. No mesmo ano em que contratou Dirceu, a empreiteira recebeu do governo 203 milhões de reais, onze vezes mais do que havia recebido no ano anterior. No primeiro ano de contrato com o “consultor”, outra companhia, a SPA Engenharia, experimentou um salto de 40% em seu faturamento junto aos cofres do governo. Recebeu 237 milhões. O ano seguinte foi ainda melhor: o valor passou para 541 milhões. 

Até a tradicional Camargo Corrêa, que em 2009 estava assistindo a uma queda nos seus negócios com a administração federal, de repente viu a curva mudar de rumo. 
Bastou contratar Dirceu e as coisas melhoraram. 

Para fazer valer os gordos “honorários”, Dirceu contava com parceiros ocasionais importantes. Um deles era o ex-presidente Lula, que, depois de deixar o governo, se lançou no mundo das consultorias e palestras. Em 2011, por exemplo, os dois fizeram juntos uma viagem de negócios ao Panamá. Lá, sem esconderem a condição de lobistas, tiveram encontros com o presidente do país e ministros de Estado. 

Em mais uma evidência do cruzamento de interesses públicos e privados, em parte de seus compromissos no país a dupla contou com o auxílio logístico de funcionários da embaixada brasileira. 

Na lista de clientes de Dirceu há um detalhe repleto de significado: entre os pagadores há um lobista que, de acordo com as investigações, recorria às suas amizades no PT para fechar negócios na Petrobras e, como contrapartida, se encarregava de retribuir a gentileza distribuindo propina a quem o ajudava. A Dirceu, esse lobista pagou quase 1,5 milhão de reais. Por serviços de consultoria, claro. 

(*) Jornalistas

A salvação da lavoura

Aprosoja 

O agronegócio será a boia de salvação do PIB em 2015. Segundo uma projeção do Ministério da Agricultura e Pecuária, o setor deve expandir-se 1,2% neste ano. 
Trata-se de uma boa notícia em meio a um mar de números ruins - e, se não permite a ninguém nadar de braçada, é essencial para evitar naufrágios. Especialistas preveem uma retração de 0,8% no resultado geral da economia. A indústria, segundo revelou um estudo da Fiesp na semana passada, deve sofrer um encolhimento de 4,5%. 
Comparado a outros segmentos, o Agrícola tem conseguido se manter praticamente imune à crise. 

Há duas explicações para entender de onde brota a força do agronegócio, mesmo em tempos de crise interna. A primeira é que ele foi o único setor a registrar um ganho real de produtividade, adubo essencial para o crescimento do país. Enquanto em outras áreas o aumento do custo com a mão de obra corroeu a competitividade das empresas (basicamente porque os salários subiram acima da produtividade), no agronegócio os avanços obtidos com pesquisa e tecnologia mantiveram o país em condições de disputar o mercado internacional. Nos últimos 35 anos, a área plantada de Soja espraiou-se 248%, enquanto a produção subiu 506%, segundo um estudo da Conab. 

E aí vem a segunda explicação para a boa situação do setor: a produção brasileira é voltada para a exportação, não apenas para o mercado nacional. Por isso, é por natureza mais competitiva e sofre menos com a queda na atividade interna. Explica o secretário nacional de Política Agrícola, André Nassar: "Em vez de um país com 200 milhões de pessoas, o nosso mercado é o mundo todo, com 7 bilhões". O Brasil, atualmente, é o maior exportador de Soja, açúcar, carne bovina e de frango do planeta. 

A situação poderia ser ainda melhor, não fosse pela retração no preço internacional das mercadorias que o Brasil exporta. Nesse particular, a valorização do dólar ajudou. 
Para 2015, o cenário continua promissor. Segundo André Pessôa, coordenador do Rally da safra, projeto que mapeia todos os anos a produção de Soja e Milho no país, a subida do dólar beneficiou os produtores, que conseguem preços e margens melhores do que os previstos inicialmente. Diz Marcos Rubin, sócio da consultoria Agroconsult: "As projeções atuais são melhores do que eram dois meses atrás. A potencial crise decorrente da queda no preço das commodities seguramente foi postergada por ao menos mais um ano, em virtude do câmbio favorável". 

Por causa disso, a previsão de Nassar é que as exportações do agronegócio recuem dos 97 bilhões de dólares do ano passado para algo em torno de 93 bilhões neste ano. 
Mesmo assim, o saldo da balança comercial para a atividade econômica no campo brasileiro deve ficar positivo, em torno de 78,6 bilhões de dólares. Sem isso, o Brasil teria um abismo de 75 bilhões de dólares na diferença entre exportações e importações.
Seria quase vinte vezes pior que o resultado negativo do ano passado, de cerca de 4 bilhões de dólares. A divulgação do PIB na sexta-feira passada demonstra a resistência dos produtores, sempre ameaçados por invasões patrocinadas pelo MST ou pela Funai, que chega a incentivar a "importação" de índios do Paraguai para atazanar os produtores do Centro-Oeste. O Brasil só não entrou em recessão por causa da agropecuária, que cresceu 1,8% no quarto trimestre de 2014, seis vezes o ritmo do setor de serviços, que costuma ter desempenho estelar mesmo nas crises. Um dos responsáveis por esse resultado foi a Soja, com um terço das exportações do agronegócio, um avanço de 5,8%. 
O ano de 2014 entrou para a história como aquele em que o Brasil passou a fazer parte dos dez maiores produtores e exportadores mundiais de grãos e carne.
Apesar de todas as dificuldades, em 2015 o campo não vai entregar a rapadura.

“Assistimos ao começo do fim. O PT tende a virar um arremedo do PMDB”

Blog de Sonia Racy (*) para o Estadão 

Ícone do PT , Frei Betto diz que a única saída para o partido que governa o País há 12 anos é voltar às origens e buscar a governabilidade com os movimentos sociais. 

Um mês depois de ser reeleita, a presidente Dilma Rousseff recebeu Frei Betto e o Grupo Emaús, da Teologia da Libertação, no Palácio do Planalto. Durante uma hora e vinte minutos, também na presença do chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, ouviu uma série de críticas e sugestões para que o governo continuasse “implementando o projeto que tanto beneficia a sociedade brasileira, principalmente os mais vulneráveis”. 

A conversa, de acordo com ele, foi ótima. “Só que, de repente, vem o Joaquim Levy com um ajuste fiscal penalizando, sobretudo, os mais pobres. Quem assistiu ao filme Adeus, Lenin! pode fazer o seguinte paralelo: se um cidadão brasileiro, disposto a votar na reeleição da Dilma, tivesse entrado em agonia no início de agosto de 2014 e despertasse agora, neste mês de março, no hospital e visse o noticiário, certamente estaria convencido de que o Aécio havia vencido a eleição”. 

Frei Betto – que, com as comunidades eclesiais de base, ajudou a fundar o PT e, como assessor especial do ex-presidente Lula, coordenou o programa Fome Zero – diz que o que falta ao governo, desde 2003, é “planejamento estratégico”. Segundo ele, que é amigo do ex-presidente Lula há mais de 30 anos e conhece a presidente Dilma desde a infância – “somos da mesma rua em Belo Horizonte” –, em doze anos de governo, o PT não conseguiu tirar do papel nenhuma reforma de estrutura prometida em seus documentos originais e, ao chegar ao governo, “trocou um projeto de Brasil por um projeto de poder, escanteou os movimentos sociais” e ficou “refém desse Congresso, dependendo de alianças espúrias”. 

“Agora, seu grande aliado, o PMDB, se rebela e cria – com o perdão da expressão – uma cunha renana para asfixiar o Poder Executivo”. 

Qual a saída? 
“O PT ser fiel às suas origens. Buscar a governabilidade pelo estreitamento de seus vínculos com os movimentos sociais. Fora disso, tenho a impressão de que estamos começando a assistir ao começo do fim. Pode até perdurar, mas o PT tende a virar um arremedo do PMDB”, sentencia ele, que é autor de 60 livros, entre eles A Mosca Azul (“uma reflexão sobre a história do poder e a história do PT no poder”) e Calendário do Poder (“um diário do Planalto”), ambos editados pela Rocco. 

A seguir, os principais trechos da conversa com Frei Betto, que recebeu a coluna no Convento Santo Alberto Magno, no bairro de Perdizes, onde mora. 

- Como o senhor avalia o atual momento do País? 
- O Brasil está vivendo um momento de crise política e econômica. Prevejo quatro anos de governo Dilma com muita turbulência, manifestações, greves, impasses. E me pergunto se, em 2018, o PMDB apoiará o candidato do PT. Como bom mineiro, desconfio que não e não me surpreenderei se o PMDB lançar um candidato próprio, com apoio do PSB e outros pequenos partidos. A questão é que tivemos 12 anos de governo do PT que, na minha avaliação, apesar de todos os pesares – e põe pesares nisso –, foram os melhores da nossa história republicana, sobretudo no quesito social. Efetivamente, 36 milhões de pessoas deixaram a miséria. Hoje, os aeroportos deixaram de ser um espaço elitista. Se vamos em um barraco de favela, lá dentro tem TV a cores, micro-ondas, máquina de lavar, fogão, geladeira, telefones celulares, talvez um computador e, possivelmente, no pé do morro, um carrinho que está sendo comprado em 60, 90 prestações mensais. Porém, essa família continua no barraco, sem saneamento, em um emprego precário, sem acesso a saúde, educação, transporte público e segurança de qualidade. O governo facilitou o acesso dos brasileiros aos bens pessoais, mas não aos bens sociais. 

- O que faltou? 
- Não tivemos, em doze anos, nenhuma reforma de estrutura, nenhuma daquelas prometidas nos documentos originais do PT. Nem a agrária, nem a tributária, nem a política. E aí poderíamos acrescentar nem a da educação, nem a urbana. Em suma, o que falta ao governo – e desde 2003 – é planejamento estratégico. 

- Como assim? 
- Governa-se na base dos efeitos pontuais, da administração de crises ocasionais, porque o PT trocou um projeto de Brasil por um projeto de poder. Permanecer no poder se tornou mais importante do que fazer o Brasil deslanchar para uma nação justa, livre, soberana e igualitária. Como é que um governo que pretende desenvolver a nação brasileira cria um ministério que eu qualifico de coral desafinado? O que tem a ver Joaquim Levy com Miguel Rossetto? Kátia Abreu com Patrus Ananias? José Eduardo Cardozo com George Hilton? 

- Em artigo publicado pouco antes das eleições, o senhor listou 13 razões para votar na Dilma. Agora, escreveu novo artigo, A Farra Acabou, com críticas ao governo. O que mudou? 
- O que mudou é que, infelizmente, aquelas 13 razões não foram abraçadas no segundo mandato de Dilma. A presidente montou um ministério esdrúxulo, que não conseguiu nem sequer ter um projeto de Brasil minimamente emancipatório, como era o Fome Zero. Aliás, o próprio governo que o criou o matou, substituindo-o por um programa compensatório chamado Bolsa Família – que é bom, mas não tem caráter emancipatório. Todo o governo opera agora em função de um detalhe, não de um projeto histórico, que é o ajuste fiscal. E penalizando os mais pobres, não o capital. Todas as bases desse ajuste estão em cima da redução do seguro-desemprego, do abono salarial, do imposto sobre o consumo. E nada em termos das grandes heranças, dos royalties que saem do País, das grandes transferências de dinheiro, dos brasileiros que têm dinheiro nos paraísos fiscais. 
A conta vai ser paga por aqueles que já lutam com dificuldade. 

Sonegação de impostos é sete vezes maior que a corrupção

CartaCapital 

Nenhum assunto rivaliza com as notícias sobre corrupção na cobertura e no destaque dados pela mídia, um sinal da importância devidamente atribuída ao problema pelos cidadãos. Males de proporções maiores, porém, continuam na sombra. 
A sonegação de impostos, por exemplo, tem sete vezes o tamanho da corrupção, mas recebe atenção mínima da sociedade e do noticiário. 

Deixa-se de recolher 500 bilhões de reais por ano aos cofres públicos no País, calcula o presidente do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional, Heráclio Camargo. O custo anual médio da corrupção no Brasil, em valores de 2013, corresponde a 67 bilhões anuais, informa José Ricardo Roriz Coelho, diretor-titular do Departamento de Competitividade e Tecnologia Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, com base em cálculos recentes. 

Para alertar a sociedade da importância de se combater a sonegação, Camargo, inaugurou na quarta-feira 18, em Brasília, um sonegômetro e uma instalação denominada lavanderia Brasil. Na inauguração, o medidor mostrava um total sonegado de 105 bilhões desde janeiro, dos quais 80 bilhões escoados por meio de operações de lavagem ou manipulação de recursos de origem ilegal para retornarem à economia formal com aparência lícita. 

Em um exemplo citado pelo Sindicato, um comerciante simula a compra de 50 milhões de litros de combustível, adquire só 10 milhões de litros físicos e obtém, mediante pagamento, notas fiscais falsas no valor de 40 milhões. Ele negociou de fato só aqueles 10 milhões, mas trouxe para a economia formal os 40 milhões de origem ilícita por meio desse mecanismo de lavagem, sem recolher os impostos devidos. Tanto a parcela superfaturada, os recursos de propinas, tráfico de drogas, de armas e de pessoas, contrabando, falsificações, corrupção e renda sonegada precisam retornar à economia com aparência de origem lícita, para as atividades criminosas prosseguirem.

A livre atuação no Brasil das empresas off shores, ou registradas em paraísos fiscais, agrava a sonegação. Há laços fortes do País com esses redutos de burla dos fiscos dos estados nacionais, na prática nossos grandes parceiros comerciais. A principal razão é o tratamento preferencial dado ao capital externo, subtaxado quando da sua remessa de lucros ao exterior, afirma-se no site Tax Justice Network. 

“Todos os países que não taxam ganhos de capital, ou o fazem com base em alíquota inferior a 20% são considerados paraísos fiscais no Brasil. Ironicamente, esse país tem diversas situações de ganhos de capital taxados em menos de 20%.” Não é bem assim, explica a Receita Federal. “A definição de paraíso fiscal na legislação brasileira não leva em conta apenas a tributação de ganhos de capital, mas sim a tributação da renda. 
A tributação da renda das pessoas físicas é de 27,5% e das pessoas jurídicas é de 25% de imposto de renda, mais 9% de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido.” 
Mas a taxação de ganhos de capital, “em regra de 15%”, é baixa em termos mundiais e o trânsito do dinheiro é facilitado pela parceria comercial com os paraísos fiscais. 

Pessoas físicas recorrem também aos paraísos fiscais para não pagar impostos sobre os seus ganhos, lícitos ou não. No caso das 8.667 contas de brasileiros descobertas no HSBC da Suíça (4.º maior número de correntistas no mundo), Camargo vê “com certeza indícios de conexão com paraíso fiscal, porque essas contas eram secretas, só vazaram porque um ex-funcionário do HSBC divulgou a sua existência. Há indícios a serem investigados pelas autoridades brasileiras, de evasão de divisas e crime de sonegação fiscal.” 

Os impostos mais sonegados são o INSS, o ICMS, o imposto de renda e as contribuições sociais pagas com base nas declarações das empresas. Os impostos indiretos, embutidos nos produtos e serviços, e o Imposto de Renda retido na fonte, incidentes sobre as pessoas físicas, são impossíveis de sonegar. A pessoa jurídica cobra os tributos, mas algumas vezes não os repassa ao governo. 

Quem tem mais, deve pagar mais, estabelece a Constituição, em um preceito tão desobedecido quanto o do Imposto sobre Grandes Fortunas, à espera de regulamentação. Nesse assunto, o Brasil está na contramão. A partir de 2012, com a piora da economia e da arrecadação, países europeus que haviam concedido desonerações tributárias e cortado gastos, voltaram a aumentar o imposto de renda nas alíquotas mais altas e elevaram os impostos sobre propriedade, diz a professora Lena Lavinas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 

“Aqui, não conseguimos fazer isso porque o IPTU não é arrecadado pela União, mas pelos municípios, então você não mexe na propriedade. Impostos que tratam da concentração da renda, do patrimônio, deveriam estar nas mãos da União. A reforma tributária, segundo algumas visões do Direito, é tratada como uma questão de simplificação. 
Não é o caso, muito pelo contrário, tem que complexificar mais, dentro de uma estrutura adequada em termos de progressividade, de taxar realmente o patrimônio, os ativos, essa coisa toda.” 

A estrutura do nosso sistema tributário, diz a professora, “é uma tragédia, regressiva, picada, os impostos não vão para as mãos que deveriam ir. Por que não se consegue repensar o IVA, o ICMS? Porque são dos estados. Impostos e medidas que poderiam favorecer uma progressividade, não se consegue adotar, por conta do nosso caráter federativo.” 

A sonegação é uma possibilidade aberta para as empresas pela estrutura tributária, conforme mencionado acima, e quando pegas, são beneficiadas pela discrição das autoridades. Também nesse quesito, o Brasil segue na contramão. 
Nos Estados Unidos, por exemplo, os próprios políticos tratam de alardear os nomes das empresas flagradas em irregularidades. 

Por que o Brasil, não dá publicidade aos nomes dos grandes sonegadores, o que possivelmente contribuiria para desestimular o não recolhimento de tributos e impostos? Segundo Camargo, há divulgação, mas ela não é satisfatória. 
“Existe um sítio na Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional que enseja a consulta dos CNPJs ou CFPs dos devedores, mas sem informar quais são os valores devidos. Não temos uma cultura de transparência no Brasil. Essas restrições são inaceitáveis e nós devemos caminhar para uma maior transparência, com a divulgação dos nomes e respectivos valores devidos.”

Desemprego em massa

Com a estagnação do país em 2015, 1,2 milhão de pessoas serão demitidas 

Correio Braziliense 

Último bastião do governo Dilma Rousseff, o baixo índice de desemprego não resistiu à estagnação do país e começou sua derrocada, em linha com todos os outros indicadores econômicos, que se deterioraram antes. O ano começou com demissões em massa e, até que termine, mais de 1,2 milhão de trabalhadores terão perdido seus empregos, conforme a consolidação de estimativas dos principais setores da economia. 

O nível de desocupação cresce assustadoramente no país, algo decorrente não só da Operação Lava-Jato e da suspensão de pagamentos da Petrobras a fornecedores, como quis minimizar o ministro do Trabalho, Manoel Dias, ao divulgar o resultado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de fevereiro. Os dados apontaram o fechamento de 84 mil postos de trabalho apenas no primeiro bimestre do ano. 

Desde o fim do ano passado, vários setores estão demitindo fortemente (leia quadro). Além das empresas vinculadas à Petrobras, o setor automotivo, a construção civil, os serviços, as mineradoras e as metalúrgicas também estão em maus lençóis por conta da fraca atividade econômica do país. Em 2014, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil ficou estagnado, com avanço de apenas 0,1%, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para 2015, a perspectiva do mercado é de retração de 1,5%, enquanto o Banco Central estima queda de 0,5% no PIB. 

Os setores produtivos mais afetados pela conjuntura econômica iniciaram as demissões para cortar custos. 
A construção civil, que já demitiu 250 mil trabalhadores nos últimos cinco meses, deve fechar mais 300 mil postos em 2015, projeta o Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon-SP). 
O Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada estima que, pelo menos, 20,1 mil trabalhadores de 38 empresas, em sete projetos da Petrobras, tenham sido demitidos nos últimos meses. Quase 2 mil mineradores perderam seus empregos. 
O setor automotivo, que já demitiu 12,4 mil pessoas em 2014, deve cortar mais 350 mil vagas. Apenas em fevereiro, o setor de serviços, o que mais emprega no país, fechou quase 200 mil postos de trabalho. 

O setor de serviços foi o que mais dispensou em fevereiro, de acordo com o IBGE, com queda de 3,7% no número de empregados e dispensa de 165 mil pessoas. 

O auxiliar de cozinha Patrício Wanderson, de 26 anos, perdeu o emprego porque o restaurante em que trabalhava fechou as portas. Ozinelia Barros da Fonseca, de 49 anos, conta que a idade atrapalha a recolocação. “É mais uma barreira, como se a gente não tivesse mais utilidade. Fui caixa de supermercado, mas me demitiram quando acabou o contrato de experiência”, diz ela, que procura vaga desde outubro.

Commodities em baixa fazem navios virar sucata

The Wall Street Journal 

O número de navios que estão sendo demolidos cresceu acentuadamente neste ano diante da forte queda no comércio de commodities, o que está levando as companhias de navegação a vender suas embarcações para sucateamento, em vez de operá-las com prejuízo. 

A demanda menor da China e de outros grandes importadores está derrubando os preços das matérias-primas e gerando, também, uma crescente capacidade ociosa de navios de carga. 

Como resultado, os navios capesize — os maiores cargueiros do mundo que transportam commoditites como minério de ferro e carvão — estão cada vez mais sendo enviados para desmanche em ferros-velhos no Sudeste Asiático. As diárias de frete desses navios giram em torno de US$ 5 mil desde meados de dezembro, comparado com um valor entre US$ 7.500 e US$ 20 mil que seria necessário para cobrir os custos, dependendo da idade da embarcação e das condições financeiras do contrato. 

Em um relatório divulgado recentemente, a firma de pesquisa londrina Clarkson Research Services informou que cerca de 4,6 milhões de toneladas de peso morto foram vendidas como sucata este ano, um salto de 368% em relação ao mesmo período de 2014. 
O volume acumulado até agora neste ano já ultrapassa o total do ano passado inteiro, quando 4,2 milhões de toneladas de peso morto de navios capesize foram recicladas. 

As quedas nos valores dos fretes marítimos, que segundo corretores não devem se recuperar tão cedo, ocorre num momento em que os preços do minério de ferro estão despencando. Na semana passada, eles caíram para o nível mais baixo desde 2008 em meio ao receio de que a fraca demanda chinesa e a crescente produção das minas ampliem ainda mais o excesso de oferta mundial. 

O minério de ferro é muito usado em projetos de construção e aplicações industriais. 
E a divulgação, neste mês, de que o crescimento econômico da China deve recuar de 7,4% em 2014 para 7% neste ano fez o índice Báltico Seco, que monitora as tarifas de frete, atingir seu nível mais baixo nos últimos 30 anos. 

“Combine isso a um excesso de capacidade de no mínimo 25% [no segmento] de navios de carga seca a granel que levam minério de ferro para a China e a maioria dos donos [de navios] não tem escolha a não ser vender seus navios como sucata”, diz um corretor que trabalha em Londres. “No passado, levava tempo para alugar um navio capesize. Agora, há um disponível a cada minuto, e isso não é exagero.” 

Corretores dizem que pelo menos oito transportadoras de carga seca a granel já entraram com pedido de proteção de falência em 2015, um número que pode muito bem dobrar antes do final do ano. 

A americana GMS, maior compradora de navios para desmantelamento do mundo, informou num relatório desta semana que mais de 30 navios capesize já foram vendidos para reciclagem este ano. A empresa acredita que 2015 será um ano frenético para o sucateamento no segmento de carga seca. 

Um corretor de Cingapura diz que os donos desse tipo de navios que têm condições financeiras de mantê-los estão deixando-os parados em portos asiáticos. 

“Há pelo menos oito [navios] fora de circulação, o que significa que eles estão ancorados, os motores desativados e a tripulação reduzida a pelo menos a metade para cortar custos”, diz o corretor. “Não víamos algo assim desde a crise econômica mundial de 2009.” 

Ele acrescentou que grandes mineradoras, como a BHP Billiton Ltd BHP -1.98% , a Vale SA VALE -4.55% e a Rio Tinto RIO -1.97% PLC, ainda estão contratando capesizes para transportar commodities da Austrália para a China, “mas são números bem menores do que em novembro e a preços ridiculamente baixos”. 

No geral, a atividade de desmanche de navios cresceu 37% este ano, segundo a Clarkson. Estaleiros no subcontinente indiano estão abocanhando a maior parte dos negócios. Em Bangladesh, o sucateamento de navios cresceu 85% em termos de toneladas ante o mesmo período do ano passado, enquanto no Paquistão e na Índia o desmantelamento cresceu 19% e 7%, respectivamente.

“Mesmo que o sucateamento duplique ou triplique, será apenas uma gota no oceano”, diz um corretor de Londres. “Somente este ano, serão entregues mais de 1 mil novos navios.”

domingo, 29 de março de 2015

Horta no Japão

Horta do futuro no Japão: 100 vezes mais produtiva e usa 99% menos água 

IPC Digital 

O Japão é conhecido por aproveitar eficientemente os pequenos espaços disponíveis no país, mas os números de uma empresa que produz hortaliças em Chiba, impressionam: 
Em apenas 25 mil metros quadrados, a horta do futuro produz 10 mil pés de alface por dia (100 vezes mais por metro quadrado do que os métodos tradicionais). 

Não só a capacidade de produção impressiona, como também a eficiência no uso da água e de energia. A empresa usa 40% menos energia e 99% menos água para produzir o mesmo volume de hortaliças produzidas em plantações ao ar livre. 

Além da climatização artificial, um dos segredos da eficiência produtiva e a luz emitida pelas lâmpadas LED, desenvolvidas pelo braço japonês da americana GE, que ajuda as plantas crescerem até duas vezes e meia mais rápido do que quando expostas à luz do sol. 

Shigeharu Shimamura, presidente da empresa, transformou uma antiga fábrica de semicondutores na maior fazenda indoor do mundo, que tem seu próprio ecossistema artificial com os ciclos de dia e noite encurtados para aumentar a produção. 

Atualmente, Shimamura produz apenas poucas espécies de hortaliças, mas pretende adaptar o sistema para produzir outros tipos de alimentos e plantas medicinais. 

sábado, 28 de março de 2015

Sem palavras


Com essa Lula não contava

Opinião do Estadão 

Em 2010, o presidente Lula surfava na popularidade e achava-se insuperável. 
Tanto que escolheu um poste para lhe suceder - a chefe da Casa Civil Dilma Rousseff. 
Com os principais nomes do PT envolvidos no escândalo do mensalão, a escolha de Dilma parecia um golpe de mestre. Ela, que nunca tinha concorrido a uma eleição, podia apresentar-se sem mácula ao eleitorado. E, principalmente, ao criar uma candidata sem sustentação política própria, Lula seria o seu esteio - e poderia continuar dando as ordens. 

Diante das graves necessidades do País, a escolha de Dilma era um passo mais que arriscado. A Presidência da República exige não poucas habilidades administrativas e políticas nas quais a então candidata não tinha sido testada. Mas os interesses do País nunca pesaram muito nos cálculos de Lula. O importante era manter a continuidade do seu projeto de poder. 

Como ficou evidente ao longo dos quatro anos do primeiro mandato de Dilma, a escolha de Lula significou um enorme prejuízo para o País. As piores expectativas concretizaram-se. Com o seu voluntarismo, sua inabilidade para a política, sua incompetência administrativa e, principalmente, sua incapacidade de enxergar objetivamente a realidade, Dilma simplesmente desgovernou o País, afetando negativamente todos os setores da economia. 

A presidente Dilma Rousseff foi capaz de criar tamanho caos que, mesmo com todo o assistencialismo estatal - os repasses econômicos diretos do governo federal à população de baixa renda -, por pouco a oposição não ganhou as eleições de 2014. Mas o fato é que o PT venceu mais uma eleição presidencial e Lula ganhava, assim, mais um round da vida política brasileira. 

No entanto, o ex-presidente esqueceu-se de uma coisa. Ao escolher um poste para suceder-lhe, não colocou em risco "apenas" o País. Lula não percebeu, na sua infinita esperteza, que aquela escolha significava mais do que pôr o interesse particular - a manutenção do PT no poder - acima do interesse coletivo. Ao escolher Dilma, ele estava colocando em risco o próprio PT. Lula não fez apenas um cálculo egoísta e irresponsável. Fez um cálculo errado. 

Tanto é assim que o País assiste agora a um inusitado fenômeno. Ao invés de atrair apoios, o partido que controla o governo federal e deveria ter folgada maioria no Congresso provoca rejeição. É rejeitado por grande parte da população e, agora, por alguns de seus membros. Marta Suplicy foi a primeira a avisar que abandonaria o barco. Ao Estado, a senadora afirmou: "Ou o PT muda ou acaba". Esperta, deu-se conta dos rumos da opinião pública. 

Mas Marta não é a única insatisfeita. O também senador Paulo Paim, petista histórico do Rio Grande do Sul, com quatro mandatos na Câmara e dois no Senado, também está preparando as malas. Em entrevista ao Estado, Paim afirmou que, caso as coisas se mantenham como estão, terá "muita dificuldade de ficar" no PT. E há outros tantos insatisfeitos nas bancadas petistas, incluindo outro senador, Walter Pinheiro (PT-BA). 

Diante dessa movimentação, Lula - que é muito ativo quando o seu interesse está em jogo - tem arregaçado as mangas e ido à luta. Em primeiro lugar, foi falar mais uma vez com a sua criatura, a presidente Dilma Rousseff. E num tom de voz que não deixava dúvidas quanto ao seu estado de ânimo. Agora, Lula vem gastando todo tempo que pode para dissuadir os insatisfeitos de dissentir ou desertar. 

Talvez tenha se dado conta de que não estão em jogo apenas as eleições de 2018 nem muito menos as de 2016. O que agora parece estar em jogo é a continuidade do PT como partido relevante na política brasileira. As recentes votações na CPI da Petrobrás - com a convocatória de João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, e de Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - mostram um cenário impensável até bem pouco tempo atrás. 

Sem nem desconfiar, Lula pode ter assinado a sentença de morte do próprio partido, ao ter escolhido Dilma Rousseff para suceder-lhe. Os fatos dirão.

Filme Cinderela

Nova versão de "Cinderela" aposta nos efeitos visuais e carisma de Lily James 

Uol Cinema 

Fábula com origem no século 17, que rendeu o famoso clássico de animação da Disney, em 1950, além de diversos outros filmes, Cinderela passa por uma nova repaginação, numa versão live action, dirigida por Kenneth Branagh, que estreia nesta quinta (26). Cinderela agora é interpretada pela carismática jovem atriz inglesa Lily James (a lady Rose da série "Downton Abbey"). 

Contando com o precioso suporte de bons efeitos visuais e do magnífico figurino da premiada Sandy Powell (três vezes vencedora do Oscar), Branagh compõe um espetáculo de encomenda para seduzir o olhar, sem afastar-se muito das premissas originais da história. Todos os elementos conhecidos estão lá, a diferença está no ritmo e no tempero de cada situação. 

Lily James compõe uma heroína adorável, uma mistura precisa de ingenuidade e coragem, na medida certa para suportar o sofrimento imposto pela perda dos pais (Hayley Atwell e Ben Chaplin) e sua transformação em serva da madrasta (Cate Blanchett) e das irmãs adotivas (Sophie McShera e Holiday Grainger). 

O roteiro de Chris Weitz e o talento de Cate Blanchett permitem à personagem da madrasta elevar-se um pouco além do maniqueísmo da malvada-mor da história, dando-lhe motivações humanas —afinal, uma viúva com duas filhas e pouco dinheiro tinha realmente poucas opções naquele contexto em que ela vive. 

Sempre que possível, infiltra-se humor, como na situação em que Cinderela conhece o príncipe (Richard Madden, da série "Game of Thrones") —uma sucessão de mal-entendidos e meias-verdades, mas temperada com suficiente romantismo. 

Da mesma forma, a fada-madrinha disfarçada de mendiga (Helena Bonham-Carter) proporciona momentos engraçados. Mas não menos fascinantes visualmente, já que aí se processa a mágica da transformação de uma abóbora em carruagem, de gansos em cavalos e sapos em pajens, tudo isso para levar Cinderela ao baile do príncipe. Essa transformação, bem como o retorno apressado pelas badaladas da meia-noite —limite dado pela fada-madrinha—, são nada menos do que impressionantes, por mais que se conheça a história. 

Enfim, embora tenha surpreendido a escolha de Kenneth Branagh, um diretor versátil, desde o épico "Henrique V" (89) à aventura de ação "Operação Sombra: Jack Ryan" (2014), mas sem intimidade com histórias infanto-juvenis, o resultado é agradável.

Floresta Amazônica perde importância no combate ao aquecimento global

Uol Ciências 

A capacidade da floresta amazônica de absorver o excesso de dióxido de carbono na atmosfera está diminuindo com o tempo, segundo divulgaram pesquisadores na semana passada. Essa descoberta sugere que limitar as mudanças climáticas pode ser mais difícil do que se esperava. 

Por décadas, as florestas e mares da Terra têm absorvido cerca de metade da poluição causada pelo carbono que as pessoas jogam na atmosfera. Assim, conseguiram limitar o aquecimento do planeta causado por essas emissões. 

Em grande parte, as florestas e oceanos se mantiveram constantes enquanto as emissões aumentaram muito. Isso surpreendeu muitos cientistas, mas também foi um aviso de que esse grande "reservatório de carbono" pode não durar para sempre. 

Em um amplo estudo, realizado ao longo de 30 anos, que analisou 189 mil árvores distribuídas em 321 terrenos na bacia Amazônica, pesquisadores liderados por um grupo da Universidade de Leeds, na Inglaterra, descobriram que a absorção de dióxido de carbono no local teve seu auge nos anos 90, com cerca de 2 bilhões de toneladas por ano, e desde então caiu pela metade. 

Inicialmente, disseram os pesquisadores, a Amazônia respondeu bem aos níveis cada vez maiores de dióxido de carbono, que tem a capacidade de aumentar o crescimento das plantas, mas esse fenômeno parece estar diminuindo. Entre os motivos talvez estejam as secas e outros causadores de estresse, mas o fator principal parece ser o fato de que a aceleração inicial do crescimento agilizou o metabolismo das árvores. 

"Com o tempo, o estímulo ao crescimento alimentado por esse sistema faz com que as árvores vivam mais depressa e, assim, morram mais jovens", explica Oliver L. Phillips, ecologista tropical da Universidade de Leeds e um dos líderes da pesquisa. 

Serão necessárias mais pesquisas, mas os cientistas dizem que os modelos de previsão do clima que assumem que a Amazônia é um reservatório de carbono contínuo e robusto podem ser otimistas demais. 

Em uma escala global, estudos sugerem que as florestas ainda estão absorvendo muito mais carbono do que soltam na atmosfera, mesmo que estresses como incêndios e ataques de besouros aumentem por causa das mudanças climáticas. Na essência, a ascensão das forças de crescimento ultrapassava a das forças de morte nas florestas do mundo. 

A maior questão agora é se isso vai mudar. Será que outras florestas além da Amazônia, como a floresta boreal que circunda o hemisfério Norte, vão eventualmente fazer o mesmo e diminuir seu potencial de absorção de carbono? 

Isso significaria que a civilização humana terá menos ajuda das árvores, e que, para limitar o aquecimento global a níveis toleráveis, os corte nas emissões de carbono precisariam ser ainda mais agudos do que o pensado anteriormente. 

"As florestas estão nos fazendo um imenso favor, mas não podemos contar com elas para resolver o problema do carbono. Ao invés disso, será necessário aumentar o corte das emissões para estabilizar nosso clima", avisa Phillips.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Isto é Santarém

Encontro das águas dos rios Amazonas e Tapajós em frente a cidade de Santarém - Pará
Foto de Erick Jennings 

quinta-feira, 26 de março de 2015

A humilhação dos cartolas

Paulo Calçade (*) 

Engana-se quem enxerga a Medida Provisória do futebol como intervenção do Governo no comando do esporte brasileiro, como acreditam Fifa, CBF e seus filhotes, as federações. 
A MP é mais que isso, é a humilhação dos cartolas responsáveis pela falência dos clubes, avalistas da miserável qualidade do jogo que se pratica por aqui. 

Para entender a abrangência da proposta, agora no âmbito do Congresso, ainda fortemente influenciado pelo esgoto da gestão esportiva, é necessário deixar de lado as questões partidárias.

Esqueça, nesse caso, o ringue da batalha política cotidiana. A bancada da bola abriga gente pró e contra o impeachment da presidente Dilma. 
No mundo particular do futebol existe, porém, apenas uma agremiação. Não se iluda, a lógica que moldura tais interesses é diferente de tudo o que você conhece. 

A principal voz de oposição ao projeto vem do próprio PT, o deputado Vicente Cândido, sócio de Marco Polo Del Nero, eleito presidente da CBF, em escritório de advocacia. 

Não custa lembrar que a primeira proposta de socorro aos clubes tentou emplacar o pagamento de apenas 10% das dívidas. O restante seria saldado com a formação de atletas olímpicos. Ninguém reclamou dessa mamata, como protestam em relação ao investimento no futebol feminino, uma das contrapartidas exigidas pela MP. 

O novo texto é um avanço fenomenal, tenta restringir a ação dos mandachuvas que arruinaram o futebol do País. É natural que essa turma mobilize seus agentes para evitar regras de gestão e de responsabilidade fiscal. 

Dinheiro fácil para financiar loucuras, todos desejam. Trabalhar com as contas controladas e auditadas, ninguém suporta. Por isso gritam contra a limitação dos gastos com folha de pagamento e direitos de imagem dos jogadores a 70% da receita bruta anual. Não é difícil entender porque os clubes estão falidos. 

Ninguém é obrigado a aderir ao refinanciamento das dívidas, que fique bem claro.
No entanto, para desfrutar do pacote de bondades é preciso uma adequação ao que poderia muito bem ser definido como Projeto de Saneamento da Cartolagem Nacional, como aceitar participar somente de campeonatos nos quais os mandatos dos cartolas estejam limitados a uma reeleição. É pouco oito anos de poder? 

Joseph Blatter, desde 1998 presidente da Fifa, atendendo a demandas pessoais e de Marins & Afins, teve a cara de pau de relembrar que a entidade não tolera interferências dos governos no futebol. E, como sempre, colocou-se à disposição: se a CBF solicitar, ele manda investigar o caso. Governos são mesmo péssimos para Blatter. A receita bruta do Mundial de 2014 foi de R$ 15,7 bilhões, a maior da história da competição. 
Só de isenção de impostos, a Fifa embolsou R$ 1,1 bilhão da bondade brasileira. 

E o cartola ainda faz ameaças? E sobre o calendário obsceno da CBF, alguma menção? 
E a demissão em massa de jogadores ao final dos estaduais, está preocupado? 

O resultado comercial da Copa do Mundo de 2014 foi tão extraordinário, tão fenomenal, que deixou os cartolas da Fifa boquiabertos. Mas não a ponto de perderem os sentidos e a oportunidade para ampliar seus próprios salários. 

Como se trata de uma entidade privada, sabemos que eles não precisam explicar o dinheiro faturado com o futebol, mesmo sendo uma medida simpática e transparente. 

A edição da Medida Provisória é o apito inicial do Fla-Flu que tomará o Congresso na discussão da MP. É impossível prever o que vai acontecer. Certo é que os interesses ficarão expostos. E tem clube achando que a saída da crise é recuperar o mata-mata! 

Isso explica o caos nosso de cada dia. 

(*) Jornalista esportivo

Bondade com o dinheiro alheio

Eliane Cantanhêde (*) 

Depois de furado o esquema gigantesco da Petrobrás, era apenas questão de tempo para começarem a estourar os tumores de outras estatais. Era cutucar e aparecer. 
O Estado chegou antes e temos aí os Correios, para confirmar a expectativa. 
Não foi o primeiro, certamente não será o último. 

Fala sério: investir em títulos da Venezuela?! Isso não pode ser verdade. Mais do que uma aplicação de altíssimo risco, com o governo Nicolás Maduro desabando, é também uma operação suspeita e confirma o que todo brasileiro sabe, ou tinha obrigação de saber, a esta altura do campeonato: o modus operandi da era PT. 

Além da má administração, impera a confusão entre Estado e governo e entre governo e partido. Dá nessas coisas. A maior empresa do País foi fatiada e dilapidada em mais de R$ 1 bilhão, a querida e popular instituição dos Correios foi chamada a financiar ditaduras destrambelhadas, o programa Mais Médicos foi maquiado para disfarçar uma mãozinha milionária para os “cumpanheiro” cubanos. 

A Operação Lava Jato expôs dirigentes partidários, parlamentares, ex-ministros, diretores, doleiros e executivos das grandes empreiteiras ─ com o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, no meio do furacão. E todos eles expuseram o Brasil à vergonha internacional e a processos judiciais preocupantes nos Estados Unidos. Sabe-se lá quanto tempo a Petrobrás levará para se recuperar financeiramente. Pior: quanto tempo levará para resgatar a credibilidade e a autoestima. 

E os Correios gastaram a seu bel prazer, principalmente no ano eleitoral de 2014, e serão julgados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por ações irregulares pró-Dilma durante a campanha à reeleição. Agora, com um rombo de bilhões de reais, o que fazem seus chefões? Mandam a conta para os funcionários. 

Conforme a reportagem do Estado, o Postalis, fundo de pensão dos Correios, espetou um extra de 26% sobre os ganhos de empregados, aposentados e pensionistas para cobrir um rombo que foi criado pela incompetência, pelo partidarismo e pela ideologia. Como Robin Hood ao contrário, os Correios tiram dos trabalhadores para dar aos patrões e candidatos. 

E a história de Cuba? O Mais Médicos faz sentido, porque há municípios sem nenhum atendimento. E trazer generalistas cubanos também faz sentido, porque eles são especialistas em prevenção básica justamente em áreas carentes e não atendidas. 
Mas uma gravação obtida pela TV Bandeirantes mostra que o objetivo real não era nem uma coisa nem outra. Era despejar um bom dinheiro no regime dos irmãos Castro. Os médicos de outras nacionalidades só serviram para dourar a pílula.

Como resultado, temos que o Ministério da Saúde financia Cuba, os Correios dão uma forcinha ora para a Venezuela, ora para a campanha de reeleição da presidente, e a Petrobrás financia PT, PP e PMDB antes, durante e depois de eleições, para eternizar um projeto de poder. 

Tem muita investigação, muito inquérito, muitos réus, muita gente presa, mas, no frigir dos ovos, adivinha quem paga essa conta? Você! 

(*) Jornalista é colunista do Estadão e comentarista do telejornal Globonews

Propina de R$ 200 milhões

Lúcio Flávio Pinto (*) 

Quando foi decidida a licitação para a hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, em 2010, o custo da obra estava em 19 bilhões de reais (agora, quatro anos depois, se aproxima de R$ 30 bilhões). Se o esquema de propina das empreiteiras nas obras da Petrobrás foi seguido, com margem de 1% a 3% de pagamento “por fora” para garantir o resultado, a corrupção devia chegar ao mínimo de R$ 180 milhões. 

Diretores de uma das empreiteiras da usina, a Camargo Corrêa, que fizeram delação premiada dentro da Operação Lava-Jato, teriam admitido que a empresa se comprometeu a pagar uns R$ 20 milhões em propina. A quantia devia ser a mesma das demais integrantes do consórcio construtor na usina de Belo Monte. 

Segundo o acerto revelado pelos executivos, cada empresa do consórcio teria que contribuir com a mesma quantia para um fundo, que, assim, somaria R$ 200 milhões. 

No entanto, foram diferentes as participações das 10 empresas do cartel. 
A Andrade Gutierrez é a líder, com 18% do capital. Camargo Corrêa e Odebrecht ficaram com 16%, enquanto coube 11,50% à OAS e Queiroz Galvão. Contern e Galvão compareceram com 10% cada uma, Serveng com 3% e J. Malucelli e Cetenco, com 2% cada. 

A partir desse ponto, a investigação precisa ser aprofundada para identificar os recebedores da propina. . Uma das pistas pode ser a comissão que se formou no Congresso Nacional para acompanhar as obras. 

(*) Jornalista e sociólogo

Como a fusão Kraft-Heinz foi fechada em apenas 10 semanas

UOL Economia 

Para um negócio que criará o equivalente a um jumbo no setor de alimentos processados, a fusão da H.J. Heinz e da Kraft Foods Group Inc. foi organizada a uma velocidade alucinante. 

Em apenas 10 semanas, a partir de meados de janeiro, as duas empresas entraram em acordo no negócio de US$ 46 bilhões, orquestrado pela firma de private-equity 3G Capital e pela Berkshire Hathaway Inc., de Warren Buffett, que haviam se juntado para comprar a Heinz há dois anos. 

O fato de cada lado ser representado por uma única empresa de investment-banking ajudou a acelerar as negociações, segundo fontes informadas sobre o assunto. 
Contribuiu também a pressão sobre o CEO da Kraft, John Cahill, para fechar negócio -- ou assistir a 3G realizando uma transação com outra empresa, disseram elas. 

A 3G disse a Cahill que a Kraft era a melhor opção, mas ao mesmo tempo deixou claro que iria atrás de outra empresa de alimentos se ambas não conseguissem chegar a um acordo, disseram as fontes. /;/;/;/ A ideia de combinar Heinz e Kraft não era nova. A 3G passou meses examinando uma possível oferta e estudando onde seria possível cortar custos no abrangente império da Kraft, que vai dos queijos cremosos ao café. 

No início do ano, foi tomada a decisão de seguir em frente com o negócio, segundo as fontes que forneceram os detalhes das negociações e que pediram anonimato por discutirem informações privadas. 

No início de janeiro, a 3G convocou seu grupo fechado de conselheiros, formado por banqueiros da Lazard Ltd. e advogados da Cravath, Swaine Moore e da Kirkland Ellis. Como o início do ano normalmente é um período devagar para aquisições, alguns dos conselheiros ainda estavam de férias. A mensagem foi clara: a firma de private equity com sede no Brasil que se tornou a realizadora de negócios mais voraz do mundo no ramo de produtos de consumo estava pronta para atacar novamente. 

Relacionamento fácil 
Alex Behring da Costa, 48, um dos fundadores da 3G e presidente do Conselho de Administração da Heinz, pegou um avião para Chicago e dirigiu os últimos 24 quilômetros até o subúrbio próximo de Northfield, reduto da Kraft. Embora tenha sido a primeira vez em que ele esteve com Cahill, os dois homens iniciaram rapidamente um relacionamento fácil. 

Até mesmo na primeira reunião, Cahill reconheceu a lógica de combinar as duas empresas, e ambos concordaram em reunir-se novamente em Nova York, onde evitariam levantar suspeitas. 

Ao longo das semanas seguintes, Cahill e altos executivos da Kraft visitaram frequentemente a sede da 3G para negociar. Cahill e sua equipe pressionaram por um prêmio grande para justificar aos acionistas a perda do controle da empresa. 

Os conselheiros da Heinz e da Kraft entraram em acordo ao avaliar a Kraft em torno de US$ 85 e US$ 90 por ação, disseram duas fontes que trabalharam no negócio, ou cerca de US$ 50 bilhões em valor patrimonial. Essa cifra inclui o pagamento de dividendos de US$ 16,50 por ação e um prêmio para os acionistas da Kraft, disseram as fontes. 

Preocupações antitruste 
A 3G não fez segredo de que queria fechar um meganegócio. Alvos como Kellogg Co., Campbell Soup Co. e Mondelez International Inc., a divisão de lanches da qual a Kraft foi separada, vinham sendo especulados há meses. Cahill estava ciente da vantagem de fazer negócio primeiro ou, caso contrário, enfrentar a perspectiva de que uma concorrente fechasse uma transação semelhante depois, disse uma fonte informada sobre o assunto. 

Outro fator que permitiu que o negócio transcorresse em um ritmo tão rápido foi a ausência de preocupações antitruste, o que muitas vezes é um ponto de atrito nas fusões. 

"As marcas das duas empresas não são concorrentes, e nas fusões de empresas de itens de consumo embalados os produtos podem ser vendidos facilmente se os órgãos reguladores estiverem preocupados com a perda de concorrência entre qualquer uma delas", disse Fiona Scott Morton, ex-economista-chefe da divisão antitruste do Departamento de Justiça, atualmente na Faculdade de Administração de Yale. 

O negócio é a primeira transação acima de US$ 10 bilhões que não incluiu grandes bancos -- dominantes no mercado de assessoria a fusões e aquisições -- em pelo menos uma década. A Centerview Partners LLC atuou como conselheira da Kraft, e a Lazard assessorou a Heinz.

Brasil desperdiça mais de seis Cantareiras por ano

IstoÉ Independente 

O prejuízo financeiro com as perdas de água em todo o País chega a R$ 8 bilhões ao ano, aponta estudo feito pelo Instituto Trata Brasil. 

Segundo o levantamento, o volume de água produzido pelas empresas de saneamento brasileiras, mas que não foi faturado por causa de vazamentos ou fraudes na rede de distribuição, chegou a 6,5 trilhões de litros em 2013, mais de seis vezes a capacidade total do Sistema Cantareira. 

O estudo feito em parceria com a empresa de consultoria GO Associados considerou os dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) de 2013, divulgados em janeiro deste ano pelo Ministério das Cidades. Segundo o relatório, 37% de toda a água produzida no País é perdida na rede de distribuição. Em relação ao volume de água que não é faturado pelas companhias, o índice chega a 39%. Segundo o presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos, as perdas financeiras com água equivalem a 80% dos investimentos realizados em água e esgoto no País em 2013. 

"É muito dinheiro para um setor que precisa investir muitos recursos para recuperar o atraso de pelo menos duas décadas, principalmente no que diz respeito ao tratamento de esgoto e à redução de perdas", afirma. 

O estudo mostra que se houvesse uma queda de 15% nas perdas financeiras em cinco anos, ou seja, de 39% para 33%, a economia seria de R$ 3,8 bilhões. O Estado do Amapá, no Norte do País, é o que apresenta o pior índice: 76,5%. O melhor é o do Paraná, no Sul, com 22,5%. Em São Paulo, as perdas financeiras, em 2013, eram de 32,1%. 

Do volume total de água perdida no Brasil, 3,5 trilhões de litros foram por vazamentos na rede, que deram um prejuízo de R$ 1 bilhão. 

quarta-feira, 25 de março de 2015

Brasil anuncia embargo a maçãs e peras argentinas

Exame 

O Brasil decidiu nesta terça-feira suspender a importação de maçãs e peras argentinas em função da presença da praga Cydia pomonella nos frutos, em uma medida que visa proteger os agricultores brasileiros de uma eventual volta da doença, erradicada no país em 2014. 

"Na questão de defesa sanitária e controle de pragas e doenças, o Brasil não pode transigir. A tolerância será zero, independentemente do parceiro comercial", afirmou a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, em nota. 

De acordo com a pasta, a suspensão vale até que o sistema argentino que fiscaliza os riscos relacionados à pragas e doenças seja reavaliado. 

Na nota, o ministério afirma que a praga, conhecida como traça da maçã, foi encontrada em 15 carregamentos de maçãs e peras provenientes daquele país, nos primeiros meses do ano. 

Carregamentos de marmelo oriundos do país vizinho também serão barrados. 

O governo brasileiro já havia ameaçado embargar a importação da maçã argentina, caso o país não permitisse a entrada de auditores brasileiros para confirmar ou não a existência da praga nos carregamentos argentinos, conforme antecipou a Reuters na semana passada. 

A protelação da Argentina em autorizar a entrada dos fiscais no país para inspecionar os frutos “in loco”, marcado para março e depois para abril, a pedido dos argentinos, fez com que o Mapa decidisse embargar o fruto.

Desde que erradicou a praga o Brasil possui um certificado internacional, ao contrário da Argentina, fazendo-se necessário a entrada desses auditores no país vizinho para realização de inspeções. 

O bloqueio pode estremecer as relações comerciais com o país vizinho, ainda que o comércio da fruta envolva valores relativamente pequenos perto das exportações e importações dos principais produtos do agronegócio nacional. 

No ano passado, as importações de maçã argentina pelo Brasil somaram 46,1 mil toneladas, o equivalente a 48,8 milhões de dólares, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior brasileiro.

sábado, 21 de março de 2015

Dilma e o MST

Dilma chama um movimento que pratica crimes de “democrático” e trata como criminosos os que saem às ruas para cobrar decência 

Reinaldo de Azevedo (*) 

A presidente Dilma Rousseff foi nesta sexta a um assentamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), em Eldorado do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre, para participar da abertura da colheita de arroz ecológico. E ouviu uma aulinha de política do professor João Pedro Stédile. 

O professor João Pedro Stédile é aquele que prometeu pôr seu “exército” a serviço da preservação do mandato de Dilma. O professor João Pedro Stédile é aquele que, há poucos dias, saudou um ato de terrorismo praticado por seus soldados mulheres, que invadiram um laboratório de pesquisas e destruíram mudas de eucalipto transgênico. 
O professor João Pedro Stédile é aquele que promove, com alguma frequência, bloqueio de estradas e que lidera, do gabinete, a indústria de invasão de propriedades rurais. 

Se alguém ainda não entendeu, escrevo de outro modo, por meio de indagações. 
Se Dilma pode ir a um evento de um grupo cujos membros cometem crimes em penca — e o fazem de modo que não possam ser responsabilizados por isso —, com que outras forças criminosas também poderia se encontrar para demonstrar que gosta do diálogo? 
Se trabalhadores ditos “sem terra” têm licença para depredar laboratórios, que tipo de crimes seriam tolerados de trabalhadores com terra, presidente? 

É, senhoras e senhores! Dilma não foi ao evento apenas para prestigiar o MST. 
Teve de ouvir um pito de Stédile, que cobrou humildade dos ministros. Mais do que isso: reivindicou que Joaquim Levy vá discutir as medidas fiscais com o MST. Acusou ainda o ajuste em curso de prejudicar programas sociais. Falou por 19 minutos. 
Dilma discursou por 33. Defendeu as medidas na área econômica, afirmou que não pode governar com os olhos de um “movimento social” e negou que os mais pobres estejam sendo prejudicados. A presidente, em suma, se justificava diante de Sua Excelência João Pedro Stédile. 

Retrato, até aqui, como diria a poeta Cecília Meireles, “o patético momento” de Dilma. 
A coisa iria piorar muito, caminhando para o grotesco. Em entrevista depois da solenidade, afirmou a presidente: “Acho absolutamente democrática a crítica dele. Agora, entre a crítica ser democrática e a gente aceitar a crítica, tem uma pequena distância”. 

A presidente já tinha percorrido uma boa parte da trilha do erro. Poderia ter parado por aí. Mas, quando se é Dilma, sempre se dá mais um passo depois de chegar ao limite. Resolveu atacar a oposição, aqueles que seriam partidários do “quanto pior, melhor”. Mandou bala: “Tem gente no Brasil que aposta no quanto pior, melhor. São os chamados pescadores de águas turvas. O que querem não me interessa. O fato é que apostam contra o Brasil. Você não pode apostar contra o seu país”. 

Dilma tem, agora, a obrigação de dizer quem aposta no quanto pior, melhor.
Dilma tem agora a obrigação de dizer quem aposta contra o Brasil. Dilma tem agora a obrigação de dizer quem é o pescador de águas turvas. 

Eu vou dizer por que o governo está perdido. Se a presidente tivesse ido à Avenida Paulista no domingo — ou a qualquer outra das mais de 200 cidades onde houve protesto —, não teria conseguido discursar. Nesta sexta, no assentamento do MST, ela foi aplaudida. Nas ruas, estavam pessoas comuns, que trabalham, que arrecadam impostos, que não praticam crimes, que não recorrem à violência. No assentamento do MST, os invasores contumazes de propriedade alheia e defensores de atos terroristas contra laboratórios de pesquisa. Não obstante, Dilma associa os que protestam ao “quanto pior, melhor” e deixa claro que não se interessa por aquilo que querem. Mas chama Stédile e sua turma de democratas. 

Em larga medida, e ainda voltarei a este ponto em outros textos, Dilma lembra certo presidente chamado João Goulart: é fraca, atrapalhada, mal cercada e permite que o baguncismo se infiltre no governo. Felizmente, é outro o espírito do tempo, sem a crispação ideológica daqueles dias. E outra também é a consciência das Forças Armadas. Não querem ser governo e, por determinação constitucional, são garantidoras últimas da legalidade e na normalidade constitucional. Mais: ainda que os companheiros tenham tentado, não conseguiram quebrar as pernas das instituições. 

O Brasil seguirá na trilha democrática, qualquer que seja o desfecho da gestão Dilma. 
Não porque eles queiram. Mas porque nós queremos. 

(*) Jornalista e colunista da revista Veja

Larguem o osso

Ruth de Aquino (*) 

Todos vocês aí, achacadores, picaretas, ladrões, corruptos. Larguem o osso. Todos. Larguem os milhões de dólares desviados do povo, da educação, da moradia e da saúde. Devolvam (para quem mesmo?) as propinas das consultorias fantasmas. Entreguem as obras de arte das lavanderias secretas. Suspendam o aumento vergonhoso do fundo partidário, que acaba de passar de R$ 372 milhões para R$ 867 milhões – um “presente” da União para os partidos políticos. 

Por enquanto, a grana está voando e, junto com ela, os empregos e as ilusões de gente honesta, os trabalhadores brasileiros – os patos do “pacto” do PT, que não conseguem nem receber o seguro-desemprego. 

Quem está a favor de Dilma Rousseff, de verdade? Não são as centrais sindicais. Não é o MST. Não são os sem-teto urbanos nem os caminhoneiros ou os professores. O PSDB também não, mas os tucanos não precisam dar um pio. O panelaço está a cargo do PMDB de Eduardo Cunha e Renan Calheiros. 

Não apoiam Dilma os setores do PT envergonhados com o massacre ao tesoureiro Vaccari Neto, cujo nome surge na boca de tantos delatores como receptor de propina para o Partido dos Trabalhadores. Vaccari está em agonia lenta, como foi a de Graça Foster na Petrobras. Todo mundo sabe que Vaccari vai cair e a vaca vai tossir. 

Quem aplaude Dilma de coração aberto? Segundo o DataFolha, 62% acham seu governo ruim e péssimo. Não é a classe média que apoia Dilma. Não é a burguesia. Não são os desempregados. Não são os empresários. Não é a esquerda nem a direita. Nunca foi o Zé Dirceu, ou alguém duvida? O Zé Dirceu é aquele companheiro que fez vaquinha on-line para pagar R$ 971.128,92 à Justiça no mensalão. Agora se soube que sua firma de consultoria ganhou R$ 29 milhões em oito anos. 

Se quem apoia Dilma é o clã dos Gomes, a presidente está em maus lençóis cearenses. 
A demissão folhetinesca do ministro da Educação Cid Gomes só ocorreu porque a presidente está mais fraca do que nunca. Cid chamou de achacador o presidente da Câmara, Eduardo Cunha – um dos 35 legisladores investigados no petrolão. Em novembro, Ciro Gomes, irmão de Cid, já havia dito que Cunha era “o picareta-mor”. Em 1993, na oposição, Lula denunciara “os 300 picaretas que defendem apenas seus próprios interesses no Congresso”. Notícia velha. Mas, vindo publicamente de um ministro, pareceu roteiro para abalar o Planalto. 

Triste país este, obrigado a achar que Cid Gomes – o mesmo que contratou Ivete Sangalo por R$ 650 mil para inaugurar um hospital em Sobral, no Ceará – tem certa razão. 
O Planalto cedeu ao ofendido Eduardo Cunha o privilégio de anunciar a queda do ministro da pátria educadora. Disse Cunha: “Comunico à Casa o comunicado que recebi do chefe da Casa Civil comunicando a demissão do ministro da Educação, Cid Gomes”. Comunicamos a Cunha que ele se repetiu demais na curta fala. 

Se quem segura Dilma no colo é um Levy estranho ao ninho de Falcão, o ajuste é hoje, para a presidente, muito mais que fiscal. Dilma perdeu o chão, o discurso, a confiança dos aliados, de Lula e de grande parte de seus eleitores, preocupados com a recessão e o desemprego. Só lhe resta pedir “trégua”, “tolerância” e “pacto”. 

Dilma temia as manifestações de 15 de março. Mas apenas por desconhecer o que viria depois. Há uma enorme panela de pressão acesa em sua cozinha, assobiando sem parar, com receitas de crises diárias produzidas por seu próprio governo. A semana passada foi indigesta para a presidente. Nem é preciso continuar a dieta, porque o cenário faz perder o apetite. 

O emprego formal caiu, foi o pior fevereiro em 16 anos. As greves pipocam de todo lado. No Rio, o desempregado e morador de rua Diógenes Antunes Faria vende por R$ 30 um lugar na fila do seguro-desemprego. Dorme em frente à Superintendência Regional do Ministério do Trabalho. Se quase ninguém apoia Dilma, vamos chamar os soldados, os robôs, a guerrilha. Certo? Errado. Um documento da Secretaria de Comunicação do Planalto diz que a comunicação do governo é “errada e errática” e que “a militância se sente acuada pelas acusações e desmotivada por não compreender o ajuste na economia”. Solução? A Secom recomenda: uma “guerrilha política”, com “munição vinda de dentro do governo, mas para ser disparada por soldados fora dele”. Uau. Dilma se disse “perplexa”. E nós? 

Enquanto o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirma que a baixa popularidade de Dilma é “fotografia do momento”, o país continua aterrorizado com a série infinita de denúncias. Alguém acredita no pacote anticorrupção ou nos benefícios de uma reforma ministerial? No Brasil, não existe mea-culpa. A culpa é sempre dos outros. Vocês aí, todos, larguem o osso. 

(*) Jornalista com mestrado em Mídia na London School of Economics e tese sobre Ética. Trabalhou na BBC. Colunista da revista Época