terça-feira, 30 de setembro de 2014

As eleições de 2014 não vão deixar saudade

Sylvio Costa (*) para o site Congresso em Foco 

As mais caras da história brasileira e do mundo, as eleições gerais de 2014 ofereceram até aqui poucos motivos para comemorações. O que se vê, sobretudo, são mentiras e mistificações repetidas à exaustão – no horário eleitoral ou fora dele – e a força bruta do dinheiro. 

O poder econômico será, mais uma vez, decisivo para a esmagadora maioria dos políticos que sairão vitoriosos das urnas de outubro. E, de novo, o grosso dos recursos de campanha é movimentado ilegalmente, à margem das prestações de contas à Justiça e à sociedade. Um cenário que faz a festa de empreiteiros e políticos corruptos, dos que usam indevidamente a máquina e os recursos do Estado, dos vendedores de favores e outras modalidades de criminosos. 

Esse peculiar sistema eleitoral é assustador não só por favorecer os mais “esshpertos” ou por ser um extraordinário instrumento de concentração de renda, drenando para poucos privilegiados os reais recolhidos por uma população majoritariamente pobre. Mas também pela facilidade com que seduz gente que no passado prometia combatê-lo. Tais tipos guardam daqueles tempos somente o discurso, agora com um sabor flagrantemente cínico. Ora de “esquerda”, ora “ética”, a retórica oca parida por marqueteiros pagos a peso de ouro invoca na temporada eleitoral valores e conceitos que as práticas de vários candidatos (e dos seus partidos) jogaram no lixo há muito tempo. 

Nesse ambiente insalubre, a Lei da Ficha Limpa, proposta de iniciativa popular apresentada para complicar a vida dos políticos de vida bandida, é uma das raras coisas que nos ajudam a manter a esperança em dias melhores. Trata-se de planta ainda frágil, que começa a se desenvolver em ambiente claramente hostil. A boa notícia é que, nestas que são as primeiras eleições gerais em que a lei é aplicada, ela já tirou da disputa eleitoral figuras que deveriam estar há muito guardando sua conversinha marota para o banco de réus ou tertúlias com companheiros de cela. Jamais para palanques eleitorais, utilizando até os fundos destinados pelo Tesouro Nacional às agremiações partidárias. 

Declarados “ficha suja” pela Justiça eleitoral, muitos reagiram com a malandragem típica de quem fez longo uso do cachimbo. Escalaram parentes para substitui-los de última hora. Três deles eram fortes candidatos aos governos de seus estados e transformaram a esposa em regra três: José Roberto Arruda (PR-DF), Neudo Campos (PP-RR) e José Riva (PSD-MT) – veja o vídeo que fizemos sobre isso.

Levantamento exclusivo que publicamos neste site Congresso em Foco revela que até aquela data mais de 250 candidatos já haviam tido o registro negado com base na Lei da Ficha Limpa. Em alguns casos, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), órgão máximo da Justiça eleitoral. Grande parte deles, porém, continuava fazendo campanha enquanto os seus advogados demonstravam disposição para recorrer até a última instância – o Supremo Tribunal Federal – para tentar reverter essas decisões. 

E aí está um dos maiores problemas relacionados com a nova lei. 
Mesmo quando aplicada corretamente, demora muito a surtir efeito. 
Essa situação beneficia figuras como o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP), caso único no planeta de congressista que pode circular livremente nos corredores atapetados do Parlamento nacional, mas não pode desembarcar em nenhum país, já que é alvo de um mandado internacional de prisão. Lá fora, o manjadíssimo ex-prefeito foi condenado por posse e movimentação ilegais de bens surrupiados do município de São Paulo. Aqui no Brasil, os crimes contra a administração pública permanecem impunes e, mesmo cassado pela Justiça, Maluf mantém a candidatura e aparece em sondagens eleitorais como um dos nomes preferidos do eleitorado paulista para a Câmara dos Deputados. 

Como se vê, o caminho para tornar nossas eleições razoavelmente limpas e de fato democráticas – o que exigirá diminuir a influência do banditismo e do poder econômico na vida política – é complicado e bastante longo. 

(*) Jornalista é fundador e criador do site Congresso em Foco

sábado, 27 de setembro de 2014

Cargill + Copersucar :: doce união

Paulo Costa (*) para a coluna BioAgroEnergia da Revista Exame 

A notícia: 
“O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou sem restrições a joint venture entre as gigantes Cargill e Copersucar para combinar suas atividades globais de comercialização de açúcar. O despacho da Superintendência-Geral do órgão foi publicado nesta segunda-feira no “Diário Oficial da União”. 

O negócio foi anunciado no fim de março. 
A Copersucar, que une a produção de quase 100 usinas de açúcar no Brasil, é considerada a maior comercializadora de açúcar e etanol no mundo. 
A Cargill, uma das maiores empresas do mundo com capital fechado – tem 140 mil funcionários e atua em 65 países -, origina açúcar nos principais países produtores ao redor do mundo, incluindo o Brasil. A empresa tem sede nos Estados Unidos e faturamento de US$ 137 bilhões com diversos negócios agropecuários.” (Fonte: Valor) 

O comentário: 
Esta união anunciada em março passado e agora aprovada sem restrições pelo Cade é emblemática e insuperável para o difícil negócio do comércio internacional de açúcar no mundo e o ápice de um longo processo de amadurecimento de ambas as empresas ao longo de uma década.* 

A Copersucar alterando sua estrutura corporativa e criando uma Sociedade Anonima para gerenciar seu comércio, independentemente da cooperativa. 
A Cargill aprimorando sua participação no mercado internacional e deixando de lado o interesse em investir na área de produção, erro que tanto custa para suas concorrentes Bunge e LDC/Biosev. 

De um lado junta-se a força da originação e logística interna da Copersucar, aliás já com experiência de alguns clientes de destino, com a pujança da Cargill nos mercados internacionais e mais o seu domínio em operações de Bolsas de Mercadorias, seja em NY ou Londres, além de forte presença no mercado de fretes marítimos. 
Aliás, ambas as empresas detêm possibilidade de armazenamento e embarque de grandes volumes de açúcar em portos brasileiros e a complementariedade de suas atividades no setor é o que os americanos chamam de uma “win-win situation”, que certamente vai marcar a vida deste mercado. 

(*) O articulista tem a honra de ter trabalhado nestas duas empresas, ambas com culturas corporativas marcantes e procedimentos éticos irretocáveis. 

(**) É consultor em agronegócios e bioenergia.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O silêncio de todos nós

Milton Pires (*) 

Meus amigos: 

Trabalhando desde junho de 2010 na UTI do Hospital Nossa Senhora da Conceição em Porto Alegre, minha contínua luta contra as barbaridades feitas contra a saúde pública no Brasil são do conhecimento de todos. 
No início de 2013, Ricardo Setti publicou em seu blog no site de VEJA o artigo com o título “Santa Maria e a Guerra do Vietnam”, uma séria advertência sobre a vinda dos médicos cubanos. Depois de “Carta à Presidente Dilma” e de outros textos publicados tanto no meu blog “Ataque Aberto” quanto no grupo de Facebook “Inglourious Doctor”, comecei a pagar, pessoalmente e profissionalmente, o preço das minhas opiniões políticas. 

Assassinar reputações de inimigos não é uma prática nova da esquerda brasileira. 
O doutor Romeu Tuma Júnior provou isso em seu livro. 
Trabalhando num grupo hospitalar que atende 100% dos pacientes pelo SUS, no qual entrei por concurso público e que é controlado por gente do PC do B, não é necessário ser um teórico da conspiração para compreender e admitir o que acontece quem se opõe ao modelo de gestão de saúde no Brasil. Antiga, mas eficiente, a tática é sempre a mesma – mau desempenho nas avaliações funcionais e relatos de conflitos e dificuldade de relacionamento no local de trabalho funcionam como estopim dos processos administrativos em que se pretende “limpar” o serviço público dos opositores. 

Neste 22 de setembro, chegando ao Hospital Conceição para trabalhar na UTI, fui notificado de que meu ponto estava “suspenso”. Encaminhado ao setor de RH, fui informado de que eu mesmo, como médico, estou suspenso do hospital por 60 dias, sem perda de remuneração. Argumenta a instituição que isso visa não prejudicar o processo administrativo disciplinar (PAD número 51/14, que tem como objetivo a minha exoneração. Desconheço os termos de acusação. 
Não sei ao que respondo e não tive, até agora, nenhuma chance de defesa. 

Em apelação administrativa de avaliação funcional prévia considerada muito insuficiente, testemunhas identificadas como “trabalhador da saúde 1,2,3,4..etc..” me acusam de “não examinar os pacientes, não lavar as mãos, de conflitos com familiares de pacientes da UTI , de jogar equipamentos no chão e não usar equipamentos de proteção individual”. 
Não sei, oficialmente, o nome de NENHUMA das pessoas que disseram isso naquele processo. Não lhes foi exigida prova alguma para que declarações que acabaram com a minha vida funcional se transformassem em VERDADES corroboradas por meus chefes. 

O que está acontecendo comigo não é exceção; é a regra aplicada aos médicos brasileiros que decidem contestar a maneira com que essa gente conduz a saúde pública. 
Minhas chances no processo administrativo, do qual sequer tenho cópia, não são muitas. Acredito que haja alguma alternativa na Justiça comum. Neste momento, resta-me apelar àquilo que essa gente mais teme: a publicidade, a divulgação em massa pela imprensa do que se pretende fazer em silêncio. Eles são especialistas em assassinar reputações, apoiados no total aparelhamento do serviço público e terror infundido nos seus subordinados. Os efeitos são garantidos por por lei. 
A Lei do Silêncio de todos nós. 

(*) É médico em Porto Alegre

Etanol 2G já está sendo produzido no Brasil

Globo Rural 

A primeira fábrica de etanol de segunda geração (2G) ou etanol celulósico em escala comercial do Hemisfério Sul começou a funcionar nesta quarta-feira (24/9), em São Miguel dos Campos, Alagoas. A usina, chamada Bioflex 1, pertence a GranBio, grupo de biotecnologia agroindustrial nordestino, e usará palha e bagaço de cana-de-açúcar para produzir 82 milhões de litros do biocombustível por ano e 135.000 MWh/ano de energia elétrica. 

A diretoria da GranInvestimentos, controlador da GraBio, disse que o investimento no empreendimento foi de US$ 190 milhões somente na construção da fábrica e US$ 75 milhões no sistema de cogeração de vapor e energia elétrica, setor em que a Usina Caeté, do Grupo Carlos Lyra, também de Alagoas, é parceira. 

Bernardo Gradin, presidente da GranBio, disse que, quando anunciou a construção da fábrica, em 2012, assumiu o risco de inovar em um projeto pioneiro. 
“Mais do que a inauguração de uma fábrica, o empreendimento é uma prova de que o Brasil pode liderar a indústria de biotecnologia mundial a partir de seu potencial agrícola”, disse o executivo. Segundo ele, o país poderia aumentar em 50% a produção de etanol com o uso da palha e do bagaço, sem a necessidade de expandir a área plantada com cana. 

Na Bioflex 1, é possível coletar, armazenar e processar o equivalente a 400 mil toneladas de palha por ano para fabricar etanol. Ao lado da unidade, fica o sistema de cogeração (em parceria com a Usina Caeté), que é alimentado com o bagaço e lignina (subproduto gerado na produção de etanol de segunda geração). A caldeira vai operar onze meses por ano. Além de suprir a demanda de energia das duas fábricas, vai gerar um excedente suficiente para abastecer uma cidade de 300 mil habitantes.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

“Assim não dá para ser presidente da República”

Opinião do Estadão 

Por ter chorado numa entrevista ao dizer que fora “injustiçada” pelo ex-presidente Lula, a candidata Marina Silva foi alvo de impiedosos comentários de sua rival Dilma Rousseff. “Um presidente da República sofre pressão 24 horas por dia”, argumentou a petista. 
“Se a pessoa não quer ser pressionada, não quer ser criticada, não quer que falem dela, não dá para ser presidente da República.” E, como se ainda pudesse haver dúvida sobre a sua opinião, soltou a bordoada final: “A gente tem que aguentar a barra”. 
Passados apenas oito dias dessa suposta lição de moral destinada a marcar a adversária perante o eleitorado como incapaz de segurar o rojão do governo do País, Dilma acabou provando do próprio veneno. 

Habituada, da cadeira presidencial, a falar o que quiser, quando quiser e para quem quiser – e a cortar rudemente a palavra do infeliz do assessor que tenha cometido a temeridade de contrariá-la -, a autoritária candidata à reeleição foi incapaz de aguentar a barra de uma entrevista de meia hora a três jornalistas da Rede Globo, no “Bom dia, Brasil”. 
A sabatina foi gravada domingo no Palácio da Alvorada e levada ao ar, na íntegra, na edição da manhã seguinte do noticioso. Os entrevistadores capricharam na contundência das perguntas e na frequência com que aparteavam as respostas. 
Se foram, ou não, além do chamamento jornalístico do dever, cabe aos telespectadores julgar. 

Já a conduta da presidente sob estresse, em um foro público, por não ditar as regras do jogo nem, portanto, dar as cartas como de costume entre as quatro paredes de seu gabinete, é matéria de interesse legítimo da sociedade. Fornece elementos novos, a menos de duas semanas das eleições, sobre o que poderiam representar para o Brasil mais quatro anos da “gerentona” quando desprovida do conforto dos efeitos especiais que lustram a sua figura no horário de propaganda e, eventualmente, do temor servil que infundiu aos seus no desastroso primeiro mandato. Isso porque os reverentes de hoje sabem que não haverá Dilma 3.0 em 2018 nem ela será alguém na ordem das coisas a partir de então. 

A presidente, que tão fielmente se autorretratou no Bom Dia, Brasil é, em essência, assim: não podendo destratar os interlocutores, maltrata os fatos; contestadas as suas versões com dados objetivos e ao alcance de todos quantos por eles se interessem, se faz de vítima como a Marina Silva a quem, por isso, desdenhou. Cobrada por não responder a uma pergunta, retruca estar “fazendo a premissa para chegar na conclusão (sic)”, ensejando a réplica de ficar na premissa “muito tempo”. É da natureza dessas situações com hora marcada que o entrevistado procure alongar-se nas respostas para reduzir a chance de ser atingido por novas perguntas embaraçosas.
Some-se a isso o apreço da presidente pelo som da própria voz – e já estaria armado o cenário de confronto entre quem quer saber e quem quer esconder. 

Mas o que ateou fogo ao embate foram menos as falsidades assacadas por Dilma do que a compulsiva insistência da candidata, já à beira de um ataque de nervos, em apresentá-las como cristalinas verdades. Quando repete que não tinha a mais remota ideia da corrupção em escala industrial na diretoria de abastecimento da Petrobrás ocupada por Paulo Roberto Costa de 2004 (quando ela chefiava o Conselho de Administração da estatal) a 2012 (quando ocupava havia mais de um ano o Planalto), não há, por ora, como desmascarar a incrível alegação. Mas quando ela afirma e reafirma – no mais desmoralizante de seus vexames – que a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) não mede desemprego, mas taxa de ocupação, e não poderia, portanto, ter apurado que 13,7% dos brasileiros de 18 a 24 anos estão sem trabalho, é o fim da linha. 

Depois da entrevista, o programa fez questão de convalidar os números da jornalista que a contestava. De duas, uma, afinal: ou Dilma, a economista e detalhista, desconhece o que o IBGE pesquisa numa área de gritante interesse para o governo – o que simplesmente não é crível – ou quis jogar areia na verdade, atolando de vez no fiasco. 
De todo modo, é de dizer dela o que ela disse de Marina: assim “não dá para ser presidente da República”.

Exposição indevida

Fale por si, presidente. Não nos exponha ao ridículo 

Percival Puggina (*) 

Leio no site de O Globo de hoje, 23 de setembro de 2014: 

NOVA YORK — A presidente Dilma Rousseff condenou os ataques aéreos na Síria pela coalizão liderada pelos Estados Unidos, iniciados na noite de segunda-feira para desmantelar a organização terrorista Estado Islâmico (EI) e combater células da rede Al-Qaeda. Para Dilma, o Brasil repudia agressões militares, porque elas podem colher resultados imediatos, mas trazem consequências deletérias para países e regiões no médio e longo prazos. A presidente citou Iraque, Líbia e Faixa de Gaza como exemplos recentes da falta de eficácia deste tipo de política. 

O Globo transcreve a fala presidencial: 
— Lamento enormemente isso (ataques aéreos na Síria contra o EI). O Brasil sempre vai acreditar que a melhor forma é o diálogo, o acordo e a intermediação da ONU. Eu não acho que nós podemos deixar de considerar uma questão. Nos últimos tempos, todos os últimos conflitos que se armaram tiveram uma consequência. Perda de vidas humanas dos dois lados, agressões sem sustentação aparentemente podem dar ganhos imediatos, mas depois causam prejuízos e turbulências. É o caso do Iraque, está lá provadinho. Na Líbia, a consequência no Sahel. A mesma coisa na Faixa de Gaza. 

Se a presidente dissesse isso conversando com seus próprios botões, durante um chá da tarde com a família em Porto Alegre, já seria um disparate. Afirmá-lo perante a comunidade internacional reunida em Nova Iorque, durante um evento de grande repercussão como a Cúpula de Mudança Climática da ONU, é um caso de internação. 
Mais grave ainda se torna o quadro clínico quando se sabe que a presidente não esboçou o menor muxoxo, nem fez tisc, tisc tisc perante o genocídio que o Estado Islâmico vem praticando nas regiões ocupadas. Nossa lamentável presidente não lamentou a degola de qualquer dos jornalistas executados friamente pela jihad em curso. 
Nossa credibilíssima presidente, que diz crer na diplomacia contra esse tipo de terrorismo religioso, está envergonhando o Itamaraty. Ela dá continuidade, aliás, às posições políticas que vêm dos dois governos de Lula, quando as relações internacionais do Brasil foram conduzidas como se o país fosse um diretório de estudantes controlado pela esquerda . 

É preciso fazer saber ao mundo que, especialmente questões internacionais, nosso governo representa o que há de mais retrógrado no seu partido. 
E não ao Brasil. 
Tais não são as opiniões da nação brasileira. 
Fale por si e pelo PT, presidente. Não nos exponha ao ridículo dessa maneira. 

(*) Arquiteto, empresário, escritor é membro da Academia Rio-Grandense de Letras. É  titular do site www.puggina.org, e também é colunista do jornal Zero Hora

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Produtor brasileiro quer certificação para eucalipto transgênico

Painel Florestal 

No Brasil e nos Estados Unidos há pedidos de liberação do eucalipto transgênico para uso comercial, porém nem Forest Stewardship Council (FSC) nem Cerflor, reconhecido internacionalmente pelo Program for the Endorsement of Forest Certification Schemes (PEFC), admitem neste momento essa tecnologia. 

Passo "fundamental" para o diálogo entre indústria e certificadoras foi dado durante a assembleia-geral do FSC, que se realiza nesta semana em Sevilha, na Espanha, na avaliação da presidente da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), Elizabeth de Carvalhaes. 
"Pela primeira vez, houve um evento exclusivo sobre florestas plantadas, com duração de quatro horas", disse Carvalhaes. "E o diretor-geral do FSC, Kim Carstensen, reconheceu que a transgenia é um caminho sem volta para o setor florestal", acrescentou 

Conforme Elizabeth, o setor de celulose e papel reconhece a importância dos selos para o cliente - comprador da celulose ou papel certificado - e apoia a certificação florestal. Sobretudo na Europa, a presença da marca FSC no produto final é pré-requisito para fechamento de grande parte dos negócios. "Convidamos o FSC a certificar o produto geneticamente modificado. Além disso, haverá outros produtos, obtidos a partir de outras tecnologias, que não a transgenia, que a indústria passará a produzir logo", disse, citando como exemplo os biocombustíveis. 

Hoje, as certificadoras admitem o plantio de eucalipto geneticamente modificado somente para ensaios e em áreas que não tenham o selo - uma fazenda com florestas certificadas, por exemplo, não pode ser usada para plantios experimentais de transgênicos. 

A tecnologia, porém, está avançando no Brasil. Na semana passada, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) promoveu uma audiência pública para debater com a sociedade um pedido de liberação comercial do eucalipto transgênico pela empresa de biotecnologia FuturaGene, da Suzano Papel e Celulose. O produto da FuturaGene, chamado neste momento de H421, rende até 20% mais do que a árvore tradicional, ao elevar a produção de madeira por hectare da média atual de 45 metros cúbicos (m3/ha) a 54 m3/ha. 

Segundo Elizabeth de Carvalhaes, é preciso ter claro, porém, que a transgenia não é a única tecnologia em avaliação pela indústria e não resolverá todas as questões do setor. "Estamos dispostos a prestar todos os esclarecimentos sobre as novas tecnologias", completou. O Brasil é hoje o maior produtor mundial de celulose de eucalipto e já é reconhecido, mundialmente, pelo custo de produção mais baixo do que o verificado em outros países.

sábado, 20 de setembro de 2014

A vergonha de Emerson Sheik

Paulo Calçade (*) 

Vai ser divertido acompanhar como o STJD conduzirá o caso de Emerson Sheik. 
O jogador usou uma câmara da transmissão da TV para atacar a CBF. 
Afirmou com todas as letras que a instituição é uma vergonha. Não vou discutir aqui os lances que originaram a expulsão, tampouco o histórico de Sheik no tribunal.
Santo ele não é. 

A questão, agora, é como o STJD vai proceder diante da ofensa do jogador à instituição que deveria administrar o futebol brasileiro, mas não o faz. É proibido xingar a CBF, é proibido contestá-la. 

Seus erros nunca aparecem no tribunal. 

Não aparecem quando ela erra no registro de jogadores, por exemplo. 
Não aparecem quando convoca jogadores e prejudica os clubes por não respeitar a Fifa, por exemplo. Não aparecem quando avaliza o calendário criminoso, por exemplo. 
Não aparecem quando permite que as partidas de seus torneios sejam disputadas em gramados precários. Não aparecem quando escala árbitros incapazes para a função, por exemplo. Não aparecem quando faz vista grossa para a delicada situação financeira dos clubes, por exemplo. 

Nunca aparecem, tudo é permitido. Mas Emerson pode ser enquadrado no artigo 258 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, por conduta contrária à ética desportiva. 
O jogador feriu a ética por dizer o que muita gente pensa e sente. 
Já a CBF, que faz o que faz, não fere nada. 

Esse sistema é uma vergonha. 

(*) É jornalista esportivo . Comentarista esportivo da ESPN Brasil e da Rádio Estadão ESPN,

O alerta da indústria

Queda na produção e demissões de 100 mil trabalhadores apenas em São Paulo acendem o sinal vermelho em um setor vital para o crescimento do País 

IstoÉ Independente 


Poucas áreas são tão vitais para a economia de um país quanto a indústria. 
Se a produção de bens cresce, empregos são gerados, os investimentos multiplicam-se, mais negócios acontecem – e o PIB acelera. Por isso causam preocupação os mais recentes indicadores sobre o setor. A indústria brasileira não vai bem e, em boa medida, o desempenho fraco da economia se deve à baixa atividade nas fábricas. 

No segundo trimestre de 2014, o PIB industrial diminuiu 3,4% ante o mesmo período de 2014. Mais grave ainda: foi a pior queda em cinco anos. Nos sete primeiros meses de 2014, a produção caiu 2,8%, uma enormidade para um País que vinha alcançando altas sucessivas (leia quadro). 

Na semana passada, o economista Paulo Francini, responsável pelo departamento de pesquisas e estudos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, deu a dimensão exata do problema. Segundo ele, até o final do ano a indústria paulista, a mais pujante do País, perderá 100 mil postos de trabalho, na maior retração em muito tempo. 
“Não esperávamos um ano tão ruim”, disse Francini à IstoÉ. “Sob todos os aspectos, a indústria enfrenta uma preocupante recessão.” 

A tentativa das empresas de evitar a demissão de seus funcionários concedendo férias coletivas e adotando suspensão temporária de contratos de trabalho falhou. 
Com a desaceleração da economia, demitir passou a ser sinônimo de sobrevivência. Diante da diminuição das margens de lucro e do aperto das contas, as empresas se viram obrigadas a assumir os custos dos desligamentos dos funcionários e a consequente perda de mão de obra qualificada. Até agora, a maioria das vagas foi fechada pelo setor manufatureiro (um total de 12.275 perdas até agosto).

Não é só São Paulo que está diminuindo o ritmo das máquinas. Indústrias de todo o País acenderam o sinal vermelho, principalmente em Estados que exportam e dependem de crédito para comercializar bens de consumo, como automóveis, eletrodomésticos e calçados. 

A crise afeta setores que até pouco tempo atrás quebravam recordes positivos. 
Na última década, a indústria automotiva brasileira cresceu sempre acima de dois dígitos e saltou do oitavo para o quarto lugar entre os maiores mercados globais. 

A situação mudou radicalmente em 2014. Entre janeiro e julho, as vendas internas de carros caíram 8,6% ante igual período do ano passado, a produção despencou 17,4% e o número de empregados encolheu 4,2%. Resultado: os estoques de veículos à espera de compradores estão no nível mais alto desde 2008. 
Em agosto, havia 385,7 mil carros parados nas concessionárias e nos pátios das montadoras. 
Até o final do ano, estima-se que esse número possa chegar perto de meio milhão de unidades. A diminuição das vendas provoca um efeito dominó na economia. 

Poucos automóveis saindo das montadoras significa, por exemplo, menos produção de autopeças e tecidos para estofamento. Para piorar, o cenário externo é igualmente desfavorável. A crise argentina e a ameaça de moratória no País fizeram com que as empresas exportadoras brasileiras acumulassem perdas inesperadas. 
A Argentina compra sete de cada dez carros que o Brasil exporta. 
Entre janeiro e julho, as vendas externas de carros brasileiros desabaram 35%. 

Para alguns analistas, a insegurança atual se deve também às decisões do governo para conter a inflação, como a alta expressiva dos juros. Com o crédito mais caro, os consumidores somem de vista. O problema é que, em ano eleitoral, a tendência é que nada mude. Para 2015, há quem aposte num cenário melhor. 

“A partir do ano que vem, a indústria tende a se estabilizar e parar com as demissões”, aposta Aloísio Campelo, coordenador das sondagens empresariais da Fundação Getúlio Vargas. 

A lição é óbvia: sem uma indústria forte, nenhum País sai do lugar. 

Uma carta para Aranha

Winnie Bueno (*) 

Oi, Aranha. Tudo bem? Primeiramente queria te confessar que não te conhecia. Embora eu goste de futebol, vá ao estádio de vez em quando, acompanhe alguns programas esportivos, eu não sabia quem você era. Não sabia até o lamentável episódio envolvendo a torcida gremista, a torcedora do Grêmio que lhe chamou de macaco e todas as repercussões que houve. Desde então, tenho acompanhado mais atentamente você e sua luta, que sempre foi a minha, a luta pela eliminação do racismo. As declarações que você deu, após a violência da qual foi vítima, foram um alento à minha alma. 
Foram um tapa na cara do permanente mito da democracia racial brasileira.
Um retumbante e contundente chega.

O posicionamento que você adotou, desde o primeiro momento, denunciando esta barbaridade, é um exemplo para toda a negritude brasileira. Você, diferente de tantos outros, não engoliu passivamente o racismo. Você se ergueu contra ele e mostrou que não devemos nos resignar, mesmo quando a sociedade, há tantos anos, vem nos dizendo o contrário. 

Sabe Aranha, quando eu vi sua entrevista no Fantástico me lembrei dos meus tempos de escola. Lembrei de quando eu era uma criança e as professoras das séries iniciais sempre respondiam às minhas reclamações sobre o racismo, que era praticado contra mim, dizendo para eu deixar isso para lá. Que eu era superior aos coleguinhas e não deveria dar bola para isso. Os coleguinhas nunca eram repreendidos por debocharam do meu cabelo, por fazerem barulhos de símios quando eu passava, por perguntarem como eu conseguia ser tão preta. Nenhum coleguinha era reprendido por cantar músicas que me insultavam. Nenhum coleguinha era alertado sobre a minha suposta superioridade, que era utilizada pelas professoras para que eu não me revoltasse, para que eu voltasse quieta para minha cadeira. Afinal, tudo era brincadeira. Tudo era muito natural. E ser superior era sinônimo de aceitar todas essas dores calada. 

Na minha família, sempre nos insurgimos contra o racismo. Foi na minha família que aprendi que se as professoras não faziam nada, eu é que deveria fazer. 
Mas, como eu era uma criança que ainda não tinha condições intelectuais de responder de forma mais racional a toda a violência racial que me cercava, adotei como estratégia ser turrona. Ser turrona incitou medo nas outras crianças, o medo fez com as agressões diminuíssem, a redução das agressões fizeram com que eu conseguisse ter uma vida escolar mais ou menos saudável. Desde muito cedo minha mãe carregava a mim e a minha irmã para as reuniões do movimento negro, nesses espaços aprendi a ter orgulho da identidade negra, da cultura afro, das minhas origens. 
O movimento negro e as coisas que vivíamos em casa forjaram em mim um permanente anseio por uma sociedade radicalmente diferente, livre de racismo, ausente de limitações impostas única e exclusivamente pela cor da pele. 

Fiquei muito feliz também quando você se recusou o encontro com a torcedora que lhe insultou. Foi mais uma lição importante sobre como lidar com o racismo.
Foi um importante aprendizado sobre o que significa perdoar. Perdoar não é igual a esquecer, perdoar não é igual a apagar os efeitos decorrentes da ação do agressor. 
Perdoar não significa estar disposto a apagar a dor. Porque doí, a gente sabe o quanto doí. Só nós negros sabemos o tamanho da dor que o preconceito racial acarreta na gente, uma dor que nunca passa. Uma dor que eu sinto com você, quando você é chamado de macaco, e uma dor que você sente com outro negro, quando ele é chamado de preto sujo, ou quando alguém atravessa a rua porque está na mesma calçada que a gente, ou quando alguém ri do nosso cabelo black power, ou nos olha com desprezo quando exibimos nossos turbantes. Por tudo isso Aranha, a sua negativa em abraçar a menina me encheu de alegria. Quando você se recusou ao papel que a mídia estava construindo para pôr uma pá de areia nessa história, você se recusou a abraçar a falácia da democracia racial. 
Você, mais uma vez, deu uma lição para a sociedade brasileira. 

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Safra de soja do Brasil 14/15 estimada em recorde de 95,1 mi t

Agro Link 

A ocorrência de um El Niño fraco e o aumento da área da área plantada deverão levar o Brasil a uma colheita recorde de soja em 2014/15 de 95,1 milhões de toneladas, enquanto o cenário de ampla oferta deverá reduzir drasticamente a rentabilidade dos produtores, previu nesta segunda-feira a Agroconsult em teleconferência com a imprensa. 

A área destinada à oleaginosa deverá atingir 31,6 milhões de hectares no plantio que começa em poucas semanas, em uma estimativa considerada "bastante consolidada", representando um crescimento de 5 por cento ante 2013/14, projetou a consultoria. 

Na temporada anterior, a produção atingiu a marca histórica de 87,8 milhões de toneladas, apesar do impacto da seca em Estados como o Paraná, disse a Agroconsult. 

"Anos de El Niño são anos em que a produtividade está muito próxima dos recordes de produtividade alcançados", disse o analista Marcos Rubin, ao mostrar cruzamento de dados históricos de produção e ocorrência do fenômeno climático provocado pelo aquecimento da superfície do oceano Pacífico, que provoca aumento das chuvas de verão no Brasil, especialmente no Sul. 

Os modelos climáticos sugerem 55 a 60 por cento de probabilidade de condições de El Niño entre setembro e novembro, chegando a até 70 por cento entre novembro e fevereiro, mas um evento fraco parece mais provável, disse nesta segunda-feira a Organização Meteorológica Mundial. 

A ampla colheita no Brasil deverá se combinar a uma safra cheia na Argentina e uma produção recorde nos Estados Unidos, elevando os estoques globais. 

Os estoques de passagem --estimados pela Agroconsult para o mês de fevereiro-- deverão atingir 56 milhões de toneladas em 2014/15, contra 38 milhões em 2013/14 e 28 milhões em 2012/13 (menor volume pelo menos desde 2009/10). 

A relação entre estoques e uso no mundo deverá saltar para 30 por cento em 2014/15, ante 24 por cento em 2013/14. 

Nesse cenário, os preços de referência da soja na bolsa de Chicago deverão ficar na média de 11 dólares por bushel em 2014/15. Atualmente, o contrato de referência da nova safra norte-americana, que começa a ser colhida em poucas semanas, está sendo negociado pouco acima de 10 dólares. 

"Na Argentina, o produtor já não está vendendo. E aqui no Brasil também vai haver uma resistência muito grande dos produtores a vender a patamares muito abaixo de 11 dólares por bushel. Os preços podem buscar esses patamares (10 dólares), mas não irão se manter por muito tempo", disse Rubin. 
"A resistência do produtor será um importante fundamento do mercado no próximo ano." 

Na estimativa da Agroconsult, o patamar de 11 dólares ainda oferece rentabilidade à maioria dos produtores, mesmo que reduzida.

Tomando-se como base o polo agrícola de Sorriso, no médio-norte de Mato Grosso, a rentabilidade de um hectare de soja deverá cair para 432 reais em 2014/15, contra 713 reais em 2013/14, sem incluir custos de arrendamento. 

"Se a safra for comercializada a 9,5 dólares por bushel, ainda haverá uma rentabilidade", disse o analista. 

MILHO 
A situação deverá provocar um avanço cada vez maior da soja sobre áreas que usualmente recebiam milho no verão.

A área destinada ao cereal deverá cair de 6,6 milhões de hectares em 13/14 para 6,2 milhões em 14/15. A colheita será reduzida de 29,8 milhões de toneladas para 29,2 milhões.

Pesquisa de alunas de Coxim mostra que a soja pode ser utilizada na cura do câncer

Agro Link 

Os benefícios da soja na nutrição humana já são bem conhecidos e agora o uso das suas propriedades proteicas no combate a doenças começa a ganhar espaço nas mesas de pesquisa. Um bom exemplo é o trabalho desenvolvido pelas técnicas em alimentos de Coxim/MS, Carla Fernanda Okabe e Rayane Dayara de Souza, formadas em julho deste ano pelo IFMS - Instituto Federal de Mato Grosso do Sul, que resultou na identificação de componentes da oleaginosa capazes de prevenir alguns tipos de câncer e que podem ajudar na cura da doença. 

A pesquisa das duas 'jovens cientistas', que têm apenas 18 anos, foi desenvolvida durante o curso técnico e resultou na elaboração de um suplemento alimentar extraído da farinha de soja. "Em nossos estudos nos laboratórios identificamos elementos da oleaginosa capazes de prevenir alguns tipos de câncer. Concluímos após diversos testes laboratoriais que o suplemento desenvolvido em nossa pesquisa ajuda na prevenção e não ocasiona nenhum toxicidade em pacientes doentes, podendo ser um adicional no tratamento", ressaltou Carla Fernanda. 

De acordo com a técnica Rayane, a soja é cultivada amplamente no mundo inteiro e por isso foi escolhida para ser o tema de pesquisa das alunas. 
"A soja é altamente consumida e utilizada não apenas em nossa região, mas em vários países. A disponibilidade de matéria-prima em abundância facilita o estudo. Sua viabilidade econômica foi um dos critérios para escolha da soja em nossa pesquisa", afirmou. "Outro detalhe percebido ao longo da experimentação é que vimos que muitas pessoas ainda têm medo de consumir a soja". 

A pesquisa das jovens de Coxim foi apresentada na 12ª Febrace - Feira Brasileira de Ciência e Engenharia, organizada pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, onde as alunas foram premiadas pelo projeto e ganharam a credencial para participação e apresentação do suplemento na Intel ISEF 2014, em Los Angeles, a maior feira de ciências e tecnologia do mundo.
"Nosso trabalho foi muito reconhecido. O evento abriu portas para que pudéssemos, posteriormente no Fórum para jovens cientistas em Londres", ressaltou Carla Fernanda referindo-se ao 56º LIYSF – Fórum Científico Juvenil Internacional de Londres. 
"Não teríamos condições de viajar e levar o nosso projeto a esses países senão fosse a ajuda do Governo do Estado, da Prefeitura de Coxim, da FAMASUL - Federação da Agricultura e Pecuária de MS, da Aprosoja/MS - Associação dos Produtores de Soja e do Sebrae - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, entre outros apoiadores", destacou a estudante. 

Segundo o presidente da Aprosoja/MS, Mauricio Saito, o trabalho desenvolvido pelas jovens servirá de exemplo para outros estudantes e mostrará mais uma faceta do agronegócio. 
"As alunas conseguiram mostrar que a soja é mais que um alimento, é um remédio e uma nova esperança para uma doença que prejudica tantas pessoas no mundo inteiro. Outros alimentos também podem servir de experiência para que, com o suporte da tecnologia, os produtos agropecuários sirvam não só de alimentos, mas de meios para combater males da humanidade”, enfatizou o dirigente. 
“A Federação apoiou a apresentação internacional desse trabalho não só porque ele se fundamenta em um dos produtos mais importantes para o setor e para a economia do Estado, mar porque com isso estamos fomentando iniciativas fora de série como a dessas meninas, que têm todos os méritos e compõem um capital social do Estado que precisa ser incentivado”, destacou o presidente da FAMASUL”, Eduardo Riedel.

Propaganda de Dilma ultrapassa limites

Opinião de O Globo 

A entrada de Marina Silva nas eleições presidenciais de maneira fortuita, devido à morte trágica de Eduardo Campos, era tudo o que o PT não queria. 

Não interessava aos petistas que a ex-ministra e ex-senadora conseguisse constituir seu partido, a Rede, a tempo de entrar na disputa de 2014. Ninguém esquecera os 20 milhões de votos arrebanhados por Marina em 2010. 

Parece ter faltado competência aos marineiros para conseguir todas as 492 mil assinaturas de eleitores e registrar a Rede nos prazos legais. Mas, embora reclamações tenham sido arquivadas, sempre existirão suspeitas de interferências alopradas em cartórios eleitorais do ABC, onde milhares de assinaturas foram glosadas. 

Uma trapaça do destino colocou Marina na corrida presidencial, na cabeça da chapa do PSB, e o medo petista se confirmou. Como reza a tradição da legenda, o partido preparou agressiva campanha contra Marina. Mas ultrapassou todos os limites: da ética, da seriedade, do cinismo. 

Antigas armas têm sido acionadas pelos marqueteiros petistas.
A do medo, até mesmo usada contra Lula em 2002, logo foi colocada para funcionar. Marina se esquivou com agilidade, ao se comparar a Lula, a quem defendeu naquela campanha, quando era militante petista, futura ministra do Meio Ambiente. 

Mas o rolo compressor petista cresceu, tão logo foi constatado que manobras que funcionaram contra tucanos — apresentados pelo PT como perigosos “privatistas” — seriam inócuas contra a ambientalista e ex-petista. 

O maniqueísmo e a dose de inverdades contidos no filmete produzido para atacar a proposta de Marina de autonomia formal do Banco Central são exemplares do vale-tudo petista. 

A decisão da campanha de Dilma e da própria candidata de mandar às favas os escrúpulos fica exposta em vários aspectos deste e outros ataques a Marina.
O primeiro, que a própria Dilma, na campanha de 2010, apoiou a autonomia formal do BC. 

O filmete panfletário diz que, num governo Marina, “banqueiros” controlarão o BC e, assim, farão desaparecer a comida da mesa do povo. Ora, o mesmo não acontece nos EUA, Inglaterra, Japão, Alemanha etc. — onde há BCs autônomos.
E, se algum banqueiro dirigiu o BC, foi nos governos Lula, quando o ex-CEO do BankBoston, Henrique Meirelles, presidiu a instituição. 

Justifica-se, então, o parecer do procurador-geral da União, Rodrigo Janot, junto ao TSE, pela suspensão da propaganda, por “criar estados mentais, emocionais ou passionais” nos eleitores. Ministro do Tribunal, Herman Benjamin disse, ao vetar outra publicidade, esta do PSDB, que um pecado mortal dessas peças de propaganda eleitoral é confundir o eleitor. 

De fato. Mas a última pesquisa Ibope/Rede Globo demonstrou que o dom de iludir desta campanha não tem produzido o efeito desejado pelos marqueteiros. 
A Justiça e o MP precisam estar ainda mais atentos.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

O verdadeiro papel do líder

Carlos Hilsdorf (*) 

O verdadeiro líder é aquele que traça a meta e cativa sua equipe para empreender a jornada. Ele alimenta o espírito de vitória da equipe, utilizando a pedagogia do exemplo e investindo nos pontos fortes de seus colaboradores. 

O líder estabelece uma causa comum, um sonho coletivo. 
Na presença de um verdadeiro líder, todos, até mesmo os mais geniais, conseguirão chegar aonde não chegariam sozinhos. O líder faz com que cada um dê o melhor de si em proveito de todos. 

O papel do líder nas dificuldades é conduzir as pessoas a utilizarem todas as suas forças, todo seu entusiasmo, garra e determinação para obter o resultado máximo. 
A atividade de um líder e de um gestor não está restrita às ações de mensurar, controlar e supervisionar. 

Um verdadeiro líder inspira as pessoas com suas atitudes e trata com muita habilidade os aspectos intangíveis, tais como: prazer, satisfação, reconhecimento, autoestima, motivação, clima e atmosfera organizacional. 

Os verdadeiros gestores e líderes estão conscientes que os resultados só acontecem através das pessoas. Para eles, o capital humano não é apenas um belo discurso, mas a razão de ser da organização. 

Seja você este novo líder. 
Está na hora de rever conceitos para crescer. 
Tome esta atitude. 

Paz e Alegria, 
Carlos Hilsdorf 
(*) É economista, consultor de empresas, pesquisador do Comportamento Humano, escritor e palestrante 

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Fundador do Habib's dá 7 dicas para ter sucesso no ramo de alimentação

UOL 

Ter um produto de qualidade com preço acessível sempre foi a filosofia do fundador do Habib's, Alberto Saraiva, 61. Por ano, são vendidos 680 milhões de esfihas, carro-chefe do negócio, nas 430 lojas que a rede de culinária árabe possui em todo o país, segundo a empresa. 

Em 2013, o Habib's ultrapassou R$ 1 bilhão em faturamento e entrou para o seleto grupo de franquias com receita bilionária. Com o sucesso da empresa, outras marcas vieram, como o Ragazzo (comida italiana), Box 30 (salgados) e Picanha Grill (churrascaria). 
As três juntas somam 70 lojas. 

Formado em medicina, Saraiva diz que já foi dono de padaria, pastelaria, pizzaria até que, em 1988, abriu a primeira unidade do restaurante árabe, em São Paulo. 

"Todos os meus negócios anteriores tinham filas na porta e, por isso, despertaram o interesse de outros empresários em comprá-los. O segredo sempre foi um bom ponto comercial", afirma. 

Em entrevista ao UOL, Saraiva deu sete dicas para empresários terem sucesso no setor de alimentação. Veja abaixo: 

Fundador do Habib's dá dicas para ter negócio de sucesso 

1 Cozinhar bem não é o bastante Saber cozinhar é apenas um dos requisitos para ter um negócio no ramo de alimentação. É preciso visão de negócio, estratégia e planejamento para que a empresa tenha mais chances de prosperar. "Mais do que um cozinheiro, o empresário precisa ser um comerciante, a pessoa que sabe vender o produto", diz Saraiva 

2 Instale-se em áreas com menos concorrência Para o fundador do Habib's, vender hambúrguer em um local onde haja lojas de McDonald's, Bob's e Burguer King próximas é "suicídio". A melhor estratégia é procurar áreas não dominadas por grandes concorrentes. "Estar perto de uma grande rede faz de você uma opção em um local onde há público, mas não tente começar onde todas já estão há tempos", afirma 

3 Tenha um produto chamariz Assim como a esfiha é destaque no Habib's, as empresas devem ter um produto que chame atenção e no qual elas sejam especialistas, segundo Saraiva. Esse produto, por sua qualidade ou características únicas, será o chamariz do negócio que atrairá a maior parcela do público 

4 Se puder baratear o chamariz, melhor De acordo com Saraiva, quando a empresa tem um produto de destaque é possível barateá-lo fazendo compras em maior escala e negociando descontos com fornecedores. Isso vai atrair ainda mais gente. 
No entanto, o empresário precisa oferecer produtos complementares que façam o cliente gastar mais 

5 Preze pela higiene do ambiente A limpeza de um restaurante é um dos aspectos mais percebidos pelo cliente, segundo o fundador do Habib's, e deve estar em todo lugar, incluindo os banheiros. "Se lá, onde todos têm acesso, estiver imundo, a cozinha, onde o público não pode ver, tende a ser pior. O cliente não volta se ele notar que o ambiente é sujo", diz 

6 Seja atencioso e cordial com o cliente Devido à forte concorrência no ramo de alimentação, Saraiva diz que o atendimento ao cliente é uma forma de se diferenciar no mercado. Segundo ele, o público gosta de ser tratado com cordialidade e atenção. 
"Na primeira loja, eu sabia o nome da maioria dos meus clientes e fazia questão de recebê-los na porta", afirma 

7 Esteja disposto a trabalhar aos fins de semana Ter um negócio no ramo de alimentação significa trabalhar enquanto a maioria se diverte e isso inclui os finais de semana. 
Para Saraiva, o empreendedor da área precisa estar disposto a trabalhar em horários incomuns. "Grande parte do sucesso está ligada ao empenho do empresário e sua autoconfiança", diz

Os fascistas

Stedile, o maior pelego do Brasil, e Lula, o Mussolini de São Bernardo, querem golpear a democracia 

Reinaldo Azevedo (*) 

João Pedro Stedile, o chefão do MST, esteve naquela patuscada promovida por Lula em frente à sede da Petrobras no Rio. E demonstrou que é mesmo o que sempre afirmei que era: mero esbirro do PT. No seu discurso, afirmou: “Vamos estar todos os dias aqui em protesto [se Marina ganhar]”. 

Cabe a pergunta: por quê? Por razões óbvias, ele não conhece as medidas de Marina na área do pré-sal pela simples razão de que ela ainda não venceu a eleição, ora essa. 
Não tendo vencido, não tomou posse. Não tendo tomado posse, ainda não governou. 

Stedile, em companhia de Lula, deixa claro, assim, que não reconhece as instituições do regime democrático, coisa que, diga-se, eu também sempre soube. 
Gente como ele — a exemplo de Guilherme Boulos, o líder do MTST — só existe porque a democracia costuma ser tolerante com elementos que buscam solapar seus fundamentos. 

O chefão do MST é o maior pelego do Brasil. Dilma, na comparação com Lula e FHC, é a presidente que menos assentamentos fez. E nem acho que isso seja um problema em si, já que os sem-terra, de fato, não existem. O que existe é o MST, um aparelho que vive do dinheiro público. A grana que financia o movimento, na prática, tem origem nos recursos destinados à agricultura familiar. 

A declaração de João Pedro Stedile, para a surpresa de ninguém, tangencia o terrorismo político. Observem que ele nem mesmo diz que promoverá protestos ligados à sua área de atuação. Nada disso! Agora, o chefão do MST pretende também dar ultimatos no setor energético. 

O que Lula e este senhor fizeram, nesta segunda, foi ameaçar o país. 
O Poderoso Chefão do PT está tentando alimentar temores que muita gente já expressou aqui e ali: se os petistas forem derrotados, o país se tornará ingovernável porque eles botarão a tropa na rua. Se, agora, diante do nada, brandindo um fantasma, uma invenção, uma fantasia, fazem esse escarcéu, imagine-se o que não fariam se, num eventual novo governo, tivessem seus interesses contrariados.

Lula está ameaçando o Brasil com uma “Marcha Sobre Roma” se o seu partido for apeado do poder, se o eleitor insistir em fazer o que ele não quer. O ato desta segunda foi a manifestação explícita e arreganhada de quem não tem a democracia como um valor universal. Para os petistas, uma eleição presidencial é aquele processo que só admite um resultado: a vitória. 

É coisa de fascistas. Lula está pensando que o Brasil de 2014 é a Itália de 1922 e que ele é o jovem Mussolini. 

(*) Jornalista é colunista da revista Veja

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Dinheiro falso

J.R. Guzzo (*) 

Governos que mentem para o público o tempo todo acabam mais cedo ou mais tarde mentindo para si mesmos e, pior ainda, acreditando nas mentiras que dizem; o resultado é que sempre chegam a uma situação em que não sabem mais fazer a diferença entre o que é verdadeiro e o que é falso. Eis aí onde veio parar o governo da presidente Dilma Rousseff nestes momentos decisivos da campanha eleitoral. Muito pouco do que está dizendo faz nexo – resultado inevitável do hábito, desenvolvido já há doze anos, de navegar com o piloto automático cravado na contrafação dos fatos e na falsificação das realidades. 

Entre atender à sua consciência e atender a seus interesses, o governo jogou todas as fichas na segunda alternativa, ao se convencer de que seria muito mais proveitoso tapear o maior número possível de brasileiros com a invenção de virtudes do que ganhar seu apoio com a demonstração de resultados. Não compensa: para que fazer toda essa força se dá para comprar admiração, cartaz e votos com dinheiro falso? Foi o que concluíram, lá atrás, os atuais donos do país. Agora, como viciados em substâncias tóxicas, vivem na dependência da embromação; está muito tarde para mudar, e a única opção é continuar mentindo até o dia das eleições. Sua esperança é que a maioria dos eleitores, como acontece com frequência, ache mais fácil acreditar do que compreender. 

Para se ter uma ideia de onde foram amarrar nosso burro: o estado-maior da campanha de Dilma considerou que sua vitória mais importante no primeiro debate entre os candidatos foi ter escapado “de todas as perguntas difíceis”. É triste. Quando a verdade é substituída pelo silêncio, ensina o poeta Ievgeni Ievtushenko, o silêncio torna-se uma mentira – talvez seja, aliás, sua modalidade mais eficiente. A partir daí, vale tudo, e por conta disso os brasileiros têm ouvido as coisas mais extraordinárias por parte do governo. 

Os candidatos da oposição, sobretudo Aécio Neves, foram publicamente acusados, por exemplo, de já terem decidido fazer uma recessão econômica se forem eleitos; no mesmo momento, comicamente, saíram os resultados da economia nos primeiros seis meses de 2014, mostrando que o Brasil andou para trás nos dois primeiros trimestres do ano. 
Ou seja: a recessão que os adversários iriam provocar no futuro já está sendo praticada pelo governo Dilma no presente. Na média dos seus quatro anos, por sinal, será o pior desempenho econômico do Brasil desde o presidente Floriano Peixoto. 

Diante dos canais de concreto em ruínas na obra de transposição do Rio São Francisco, que, segundo as mais solenes promessas do ex-presidente Lula, estaria pronta em 2010, depois em 2012 e hoje é um mistério em termos de prazo, Dilma disse em sua propaganda eleitoral que a culpa do atraso é da “curva do aprendizado” – ou seja, pelo que dá para entender, ainda não aprendemos a fazer direito esse tipo de coisa. Ainda? O Canal de Suez está pronto desde 1869, o do Panamá desde 1914; será que já não deu tempo de aprender? 

A Ferrovia Norte-Sul, que vem sendo construída pelos governos Lula-Dilma desde 2005, e que foi inaugurada mais uma vez em maio, continua fechada ao tráfego de trens, por falta de equipamentos – para piorar, ladrões vêm roubando os trilhos. São os únicos, além das empreiteiras, para quem a ferrovia tem tido alguma utilidade. O programa de formação de mão de obra técnica, descrito como “o maior do mundo”, formou até agora mais de 100 000 recepcionistas e manicures – o triplo do número de mecânicos. 
Em suma: já nem é mais um caso de mau governo. É anarquia. 

Um dos diretores mais influentes da Petrobras durante o governo do PT, tão graduado que assumiu 24 vezes a presidência da empresa em substituição aos titulares, está na cadeia desde março, entalado em espetaculares denúncias de corrupção; foi figura-chave na tenebrosa compra da refinaria americana de Pasadena e está no centro da investigação sobre as negociatas na construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, um pesadelo cujo custo final pode passar dos 20 bilhões de dólares. Indagada a respeito, Dilma nada respondeu. Preferiu dizer que o grande problema da empresa foi a sugestão, feita no governo Fernando Henrique, de trocar o nome da Petrobras para “Petrobrax” – apenas uma ideia tola, de vida curtíssima e sem importância nenhuma. E a economia parada? 
“Eu criei 5,5 milhões de empregos”, diz a candidata. Como assim – “eu criei”? 

Uma mentira começa com o ato de fazer o que é falso parecer verdadeiro. 
Acaba deste jeito: em alucinação. 

(*) Jornalista é diretor editorial do grupo EXAME e colunista das revistas EXAME e VEJA,

Por que o Brasil parou de crescer?

BBC Brasil 

Agora é oficial: o Brasil parou de crescer. É verdade que a desaceleração não ocorreu de repente. Nos últimos três anos, o PIB teve uma expansão tímida de 2,7%, 1% e 2,5%, respectivamente, menor do que na década de 2000 e 2010, quando, mesmo com duas crises financeiras internacionais, o crescimento médio foi de 3,7% ao ano. 

Mas foi o anúncio do IBGE de que a economia brasileira teve uma retração de 0,2% no primeiro trimestre e 0,6% no segundo que parece ter feito até o governo admitir que o país chegou em uma encruzilhada. 

"Gostaria que o Brasil estivesse crescendo em um ritmo mais acelerado", reconheceu a presidente Dilma Rousseff. 

O dado levou Dilma a prometer mudanças em sua política e equipe econômica em um eventual segundo mandato e analistas "do mercado" revisaram suas expectativas de expansão do PIB para este ano pela 15ª vez consecutiva - para 0,48%. 

Segundo o serviço Broadcast, da Agência Estado, até a estimativa oficial do governo, de um crescimento de 1,8% em 2014, já estaria sendo revista - embora não esteja claro para quanto, especialmente depois da ligeira recuperação da economia em julho, registrada no índice IBC-Br, do Banco Central. 

A questão é que se há consenso de que temos um problema, suas causas ainda estão longe de ser unanimidade. O governo atribuiu a freada ao contexto internacional desfavorável e uma onda de "pessimismo" em parte motivada por questões políticas. 

Ao explicar o caso específico dos números negativos do segundo trimestre, também culpou os feriados da Copa do Mundo pela queda da atividade de setores como varejo e indústria. 

Já economistas, analistas de mercado e consultorias apontam erros na condução da política econômica – também destacados por candidatos da oposição. 

Numa tentativa de mapear esse debate, a BBC Brasil fez uma compilação das "hipóteses" sobre o que, afinal, teria contribuído para empurrar o país desse patamar de 3,7% de crescimento para o que internacionalmente se convenciona chamar de "recessão técnica". Confira abaixo o resultado: 

- Há certo consenso de que o cenário externo não ajudou o Brasil nos últimos anos, ao contrário do que ocorreu na década passada - embora o governo atribua a esse fator um peso muito maior que economistas críticos da atual política econômica. 

- "Vivemos um período muito diferente daquele em que a economia mundial crescia 4,4% e todos comiam o mamão com açúcar da globalização", resumiu, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o presidente da Vale, Murillo Ferreira. 

- Em 2010, ano em que o país cresceu 7,5%, a expansão da economia internacional foi de 5,2%. Já em 2014, a estimativa é que cresça 3,3% segundo o FMI e 2,7% segundo a ONU. 
Em 2013, o crescimento foi de 2,3%. 

- Essa mudança de contexto afetaria desde o nível das exportações, até a atração de investimentos e expectativas dos investidores domésticos. 

- O país também estaria sofrendo os efeitos da desaceleração da China e da queda no preço das commodities no mercado internacional. "Mas também é preciso considerar os limites dessa influência do cenário externo", opina Alessandra Ribeiro, economista da consultoria Tendências. 

- "Mesmo com um cenário desfavorável, outros países conseguiram crescer muito mais que o Brasil, por exemplo." De 2011 a 2013, o PIB dos países latino-americanos cresceu 3,1% ao ano em média. A média da Aliança do Pacífico - Colômbia, Peru, Chile e México - foi de 4,6%, e a dos emergentes, de mais de 5%. Já o Brasil cresceu a um ritmo de 2% ao ano.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Racismo no futebol: Por que se cala, Pelé?

Matheus Pichonelli (*) para CartaCapital 

“Sabe qual a diferença entre o chuchu e a Xuxa? É que chuchu é comida de preto pobre”. A piada fazia a alegria do público durante as apresentações de um comediante hoje cultuado e que agora vive às turras com a onda do politicamente correto. Foi, talvez, a piada que mais ouvi entre os adultos que frequentavam a minha casa no meio dos anos 1980. Estava em uma fita K7 dos melhores momentos da obra do piadista. 
Pelé, o “preto rico” implícito na brincadeira, era namorado da apresentadora Xuxa Meneghel, a “comida” da história. A gracinha era repetida por crianças e adultos sem o menor pudor.

Pelé estava aposentado havia cerca de dez anos. Tinha três Copas, dois mundiais interclubes e mais de mil gols na sacola. O currículo não o impedia de ser ridicularizado em apresentações para o grande público ou nas rodas privadas das melhores famílias. 

Já adulto, me perguntava se Pelé em algum momento da vida ouviu essa piada. 
E, se ouviu, como reagiu. Sobretudo me perguntava o que aconteceria quando o Atleta do Século, capaz de parar uma Guerra na África, se revoltasse. Ele chutaria a mesa? 
Socaria as paredes? Pararia um país no combate permanente contra a sua própria exclusão? 

Soube da resposta hoje pela manhã ao ler o que o maior atleta de todos os tempos disse sobre o caso de racismo sofrido pelo goleiro Aranha, do Santos: “Se eu fosse parar o jogo cada vez que me chamassem de macaco ou crioulo, todo jogo teria de parar. O torcedor, dentro da animosidade, ele grita”; “Acho que temos que coibir o racismo, mas não é em lugar público que vai coibir”; “Quanto mais atenção der para isso, mais vai aguçar”. 

Para o ídolo do Santos e da seleção brasileira, ser chamado de “macaco” não era razão suficiente para parar um jogo de futebol, que dirá parar o País. 
Para ele, o mundo é assim porque é assim: ele é cruel, mas basta fingir que a crueldade não existe para que o racismo morra por inanição. A estratégia deve dar resultado. 
Tem sido assim desde 13 de maio de 1888. Funciona tanto que, cem anos depois da Abolição, o maior jogador de todos os tempos era alvo de piada, contada em público e na frente das crianças, por namorar uma jovem branca, chamada descaradamente de “comida de preto rico”. A piada era tudo o que tínhamos de pior em duas únicas frases. 
Conseguia ser racista, machista e sexista ao mesmo tempo. 
Se não é motivo suficiente para vomitar, não sei mais o que chamar de ânsia. 

Tempos atrás, saí da sessão do filme Lincoln, de Steven Spielberg, vingado pela história do presidente que dobrou seus pares brancos no Congresso para aprovar a emenda da Abolição nos EUA. Pensava, sobretudo, em como avançamos de lá para cá. 
Estava em um shopping de São Paulo e minha empolgação se acabava à medida que me aproximava da porta de saída. Não havia negros na plateia. Nem nos corredores do shopping. Os que havia usavam uniforme. Só me reencontrei com o Brasil real no ponto de ônibus. Eram poucos passos para o homem, mas um fosso gigante para a humanidade, ladeada por uma barreira de cadeados invisíveis a separar um país do outro. 

Essa barreira existe porque, diante da ofensa da exclusão, ora chamada de injúria racial, optamos por seguir o jogo. Hesitamos em levar nossos criminosos para a cadeia.
Porque, desde criança ouvimos quietos os professores, os políticos e demais figuras públicas desafiarem a própria inteligência ao dizer em voz alta que racismo é preconceito de negros contra eles mesmos e que o Brasil tem problemas mais sérios para resolver. Como se jogar a humanidade de alguém no lixo ao chama-lo de “macaco”, como definiu o rapper Emicida em entrevista ao site A Ponte, não fosse motivo suficiente para a rebelião. 

Essa barreira existe porque, bem ou mal intencionados, fazemos coro à ofensa ao defender que basta ignorar nossas incompetências históricas para que elas simplesmente se resolvam. Elas não se resolvem. Elas estão muito bem acomodadas em um colchão de silêncio, de medo e de esperança inútil. 

O racismo dói, disse o goleiro Aranha repetidas vezes ao fim da partida contra o Grêmio. Dói. É possível que doa nele tanto quanto dói em Pelé, mas só um decidiu pronunciar a própria dor, que é a dor de um país inteiro. O outro pede para que o jogo simplesmente continue. O silêncio é a argamassa da barreira que vitima a todos há mais de um século. Ela só será estatelada quando houver no mundo mais Aranha do que Pelé. 

(*) Jornalista e cientista social, escreve sobre cultura e comportamento no site de CartaCapital.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O silêncio de Lula

Marco Antonio Villa (*) para O Globo 

Na história republicana brasileira, não houve político mais influente do que Luiz Inácio Lula da Silva. Sua exitosa carreira percorreu o regime militar, passando da distensão à abertura. Esteve presente na Campanha das Diretas. Negou apoio a Tancredo Neves, que sepultou o regime militar, e participou, desde 1989, de todas as campanhas presidenciais. 

Quando, no futuro, um pesquisador se debruçar sobre a história política do Brasil dos últimos 40 anos, lá encontrará como participante mais ativo o ex-presidente Lula. 
E poderá ter a difícil tarefa de explicar as razões desta presença, seu significado histórico e de como o país perdeu lideranças políticas sem conseguir renová-las. 

Lula, com seu estilo peculiar de fazer política, por onde passou deixou um rastro de destruição. No sindicalismo acabou sufocando a emergência de autênticas lideranças. 
Ou elas se submetiam ao seu comando ou seriam destruídas. E este método foi utilizado contra adversários no mundo sindical e também aos que se submeteram ao seu jugo na Central Única dos Trabalhadores. O objetivo era impedir que florescessem lideranças independentes da sua vontade pessoal. Todos os líderes da CUT acabaram tendo de aceitar seu comando para sobreviver no mundo sindical, receberam prebendas e caminharam para o ocaso. Hoje não há na CUT — e em nenhuma outra central sindical — sindicalista algum com vida própria. 

No Partido dos Trabalhadores — e que para os padrões partidários brasileiros já tem uma longa existência —, após três decênios, não há nenhum quadro que possa se transformar em referência para os petistas. Todos aqueles que se opuseram ao domínio lulista acabaram tendo de sair do partido ou se sujeitaram a meros estafetas. 

Lula humilhou diversas lideranças históricas do PT. Quando iniciou o processo de escolher candidatos sem nenhuma consulta à direção partidária, os chamados “postes”, transformou o partido em instrumento da sua vontade pessoal, imperial, absolutista. Não era um meio de renovar lideranças. Não. Era uma estratégia de impedir que outras lideranças pudessem ter vida própria, o que, para ele, era inadmissível.