José Cruz (*)
Impressiona o contraste entre os recursos que abastecem o alto rendimento nacional – R$ 6 bilhões no último ciclo olímpico – e a miséria financeira e carência administrativa nas federações estaduais.
Esse distanciamento se fortaleceu a partir de 2003, quando o então presidente Lula da Silva criou o Ministério do Esporte, gerenciado por ministros inexpressivos para o gigantismo dos problemas do setor.
Os recursos públicos que abastecem os clubes de ponta do país – Sogipa, Pinheiros, Minas Tênis, e por aí vai – conflitam com os destinados às confederações, levantando dúvidas sobre a real missão dessas entidades. E nessa conjugação quem se dá muito mal são os clubes menores e federações estaduais, frágeis também administrativamente, que acabam perdendo seus expoentes para os que detêm o poder financeiro.
Evasão
Em Brasília, a evasão de judocas expõe essa realidade. A cada campeonato brasileiro, os melhores são convidados para vestir as cores de uma grande agremiação nacional.
E lá vão eles, atraídos por vantagens – legais, é verdade – que aqui não têm.
Por exemplo: a judoca Erika Miranda ganhou bronze no recente Mundial da Rússia.
Ela é natural de Brasília, mas há seis anos luta pelo Minas Tênis. Ketleyn Quadros, bronze nos Jogos Olímpicos de Londres e Luciano Carvalho, com pódios internacionais, também são candangos, mas lutando por Minas Gerais. E assim ocorre no basquete, no vôlei, no atletismo etc, em poderosas agremiações Brasil afora.
Futuro
A discussão para se atualizar o sistema nacional de esporte é urgente.
O problema é que estamos a ano e meio dos Jogos Olímpicos, prioridade nacional.
Mas não podemos fechar os olhos para a crise institucional efetiva, a partir da falta de estruturas administrativas na base, onde se pratica o esporte que revela o atleta.
Dúvidas
Além disso, não podemos afirmar que a Lei de Incentivo é instrumento de fortalecimento e valorização do esporte. Sete anos depois de sua criação, não temos avaliação rigorosa sobre o cumprimento de seus objetivos.
E não há certeza de que a Bolsa Atleta seja paga para efetivos competidores, porque não se tem a elementar fiscalização na aplicação desses recursos a quem de direito.
E não creio que o Conselho Nacional de Esportes se entusiasme com a necessidade de promover o debate pra mudanças radicais que se precisa.
Terá o grupo “Atletas pelo Brasil” ânimo para centralizar o debate e levar ao futuro presidente da República um diagnóstico da realidade, sugerindo-lhe que se definam as indispensáveis competências do Estado e dos órgãos gestores?
E o próximo governo honrará o artigo 217 da Constituição Federal, que determina aplicação de recursos públicos “prioritariamente no desporto educacional”, ao contrário do alto rendimento, como agora?
Ironicamente, apesar da fartura financeira e do potencial de atletas de que dispomos o panorama institucional do nosso esporte é falido e com perspectivas desoladoras.
(*) Jornalista e que cobre, em Brasília, as áreas de política, economia e legislação do esporte. Colunista da UOL
Impressiona o contraste entre os recursos que abastecem o alto rendimento nacional – R$ 6 bilhões no último ciclo olímpico – e a miséria financeira e carência administrativa nas federações estaduais.
Esse distanciamento se fortaleceu a partir de 2003, quando o então presidente Lula da Silva criou o Ministério do Esporte, gerenciado por ministros inexpressivos para o gigantismo dos problemas do setor.
Os recursos públicos que abastecem os clubes de ponta do país – Sogipa, Pinheiros, Minas Tênis, e por aí vai – conflitam com os destinados às confederações, levantando dúvidas sobre a real missão dessas entidades. E nessa conjugação quem se dá muito mal são os clubes menores e federações estaduais, frágeis também administrativamente, que acabam perdendo seus expoentes para os que detêm o poder financeiro.
Evasão
Em Brasília, a evasão de judocas expõe essa realidade. A cada campeonato brasileiro, os melhores são convidados para vestir as cores de uma grande agremiação nacional.
E lá vão eles, atraídos por vantagens – legais, é verdade – que aqui não têm.
Por exemplo: a judoca Erika Miranda ganhou bronze no recente Mundial da Rússia.
Ela é natural de Brasília, mas há seis anos luta pelo Minas Tênis. Ketleyn Quadros, bronze nos Jogos Olímpicos de Londres e Luciano Carvalho, com pódios internacionais, também são candangos, mas lutando por Minas Gerais. E assim ocorre no basquete, no vôlei, no atletismo etc, em poderosas agremiações Brasil afora.
Futuro
A discussão para se atualizar o sistema nacional de esporte é urgente.
O problema é que estamos a ano e meio dos Jogos Olímpicos, prioridade nacional.
Mas não podemos fechar os olhos para a crise institucional efetiva, a partir da falta de estruturas administrativas na base, onde se pratica o esporte que revela o atleta.
Dúvidas
Além disso, não podemos afirmar que a Lei de Incentivo é instrumento de fortalecimento e valorização do esporte. Sete anos depois de sua criação, não temos avaliação rigorosa sobre o cumprimento de seus objetivos.
E não há certeza de que a Bolsa Atleta seja paga para efetivos competidores, porque não se tem a elementar fiscalização na aplicação desses recursos a quem de direito.
E não creio que o Conselho Nacional de Esportes se entusiasme com a necessidade de promover o debate pra mudanças radicais que se precisa.
Terá o grupo “Atletas pelo Brasil” ânimo para centralizar o debate e levar ao futuro presidente da República um diagnóstico da realidade, sugerindo-lhe que se definam as indispensáveis competências do Estado e dos órgãos gestores?
E o próximo governo honrará o artigo 217 da Constituição Federal, que determina aplicação de recursos públicos “prioritariamente no desporto educacional”, ao contrário do alto rendimento, como agora?
Ironicamente, apesar da fartura financeira e do potencial de atletas de que dispomos o panorama institucional do nosso esporte é falido e com perspectivas desoladoras.
(*) Jornalista e que cobre, em Brasília, as áreas de política, economia e legislação do esporte. Colunista da UOL
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