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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Igreja Católica e sociedade brasileira

Frei Betto (*) 

Teve início, na quarta-feira de cinzas, a Campanha da Fraternidade 2015, promovida pela CNBB. O tema é “Fraternidade: Igreja e Sociedade.” O lema: “Eu vim para servir” (Marcos 10,45). A campanha deste ano tem caráter político, embora apartidário. Como frisa Dom Leonardo Steiner, secretário-geral da CNBB, “os ensinamentos do Concílio Vaticano II nos levam a ser uma Igreja atuante, participativa, consoladora, misericordiosa, samaritana. (...) Os cristãos trabalham para que as estruturas, as normas, a organização da sociedade estejam a serviço de todos” (Texto-Base). 

A relação da Igreja Católica com a sociedade brasileira é historicamente contraditória. Aqui os missionários desembarcaram trazidos pelos colonizadores. Se houve um padre Antônio Vieira que se opôs à escravização dos indígenas, nenhum bispo ou sacerdote se destacou contra a escravidão dos negros. Ao contrário, estes foram usados para erguer templos e conventos. 

Pela Constituição imperial de 1824, o catolicismo se tornou religião oficial do Estado. Embora a Igreja abrisse escolas pelo país e acolhesse enfermos em Santas Casas de Misericórdia, ela não implantou aqui, no período colonial, uma única universidade, ao contrário do que ocorreu na América hispânica, onde os frades dominicanos fundaram universidades na República Dominicana, no Peru e em Cuba. 

Com a proclamação da República, a Igreja ganhou autonomia em relação ao Estado. 
Na primeira metade do século XX, mirou com simpatia o integralismo, promoveu acirrada campanha anticomunista, praticou ferrenho antiecumenismo, atacando protestantes e espíritas e favorecendo o antissemitismo. Ensaiou ainda uma confessionalização da política através da Liga Eleitoral Católica, cujos candidatos deveriam prestar obediência à autoridade eclesiástica, prática que se repete, hoje, em Igrejas evangélicas. 

As relações entre Igreja Católica e sociedade ganharam caráter progressista nos anos 1940, com a fundação da Ação Católica e de intelectuais que, no Rio, se agruparam em torno do cardeal Leme, do padre Leonel Franca e do Centro Dom Vital. 
Na década seguinte, nasceria a CNBB e, logo, o Movimento de Educação de Base e sindicatos rurais propostos por bispos. 

Embora a CNBB tenha apoiado o golpe de 1964, em reunião no Rio, em abril daquele ano (à qual estive presente, como membro da direção nacional da Ação Católica), após o AI-5 cresceu a tensão entre Igreja e ditadura. Leigos, religiosas, padres foram presos, torturados (inclusive Dom Adriano Hipólito, bispo de Nova Iguaçu) e assassinados.

A CNBB se tornou a voz dos que não tinham voz. Defendeu perseguidos políticos, denunciou reiteradas vezes a ditadura, criou um leque de Pastorais Sociais, fez o papa João Paulo II, em sua primeira visita ao Brasil (1980), dar as costas aos militares. 

Com o fim da ditadura, a Igreja prosseguiu sua missão profética na defesa dos direitos humanos e na exigência de reformas estruturais, como a agrária. Essa atuação se arrefeceu com João Paulo II e Bento XVI. As Comunidades Eclesiais de Base perderam apoio episcopal, a Teologia da Libertação sofreu censuras, os bispos progressistas foram desprestigiados. Mas a CNBB exerceu papel preponderante na aprovação da lei da Ficha Limpa e, hoje, apoia a reforma política e o fim do financiamento de campanhas eleitorais por pessoas jurídicas. Em tempos de papa Francisco, ressurge o profetismo da conferência episcopal. 

Falta à Igreja Católica estreitar seus vínculos com o mundo da ciência, da cultura e da juventude, tornando suas escolas núcleos de evangelização. Como se explica que os economistas brasileiros mais indiferentes aos direitos dos pobres tenham sido formados em colégios e universidades católicas? 

(*) Escritor e religioso dominicano  

sábado, 30 de agosto de 2014

A porção feminina de Deus

Leonardo Boff (*) 

Certa madrugada insone, retomei meu trabalho costumeiro ao computador. De repente, pretendi ter ouvido, não sei se do mundo celestial ou se de minha mente em estado alterado, uma voz, em forma de sussurro, que me dizia: “Filho, vou te revelar uma verdade que estava sempre lá, no meu evangelista Lucas, mas que os olhos dos homens, cegados por séculos de patriarcalismo não podiam enxergar”. 

“Trata-se da relação íntima e inefável entre Maria e o Espírito Santo”. E a voz continuava sussurando: “aquele que é terceiro, na ordem da Trindade, o Espírito Santo, é o primeiro na ordem da criação. Ele chegou antes ao mundo; só depois veio o Filho de Deus. Foi o Espírito Santo, aquele mesmo que pairava sobre o caos primitivo e que de lá tirou todas as ordens da criação. Pois desse Espírito Criador, se diz pelo meu evangelista Lucas:’ virá sobre ti, Maria, e armará sua tenda sobre ti; por isso, o Santo gerado será chamado Filho de Deus”. “Armar a tenda”, como sabes, significa morar definitivamente. Se Maria, perplexa, não tivesse dito o seu “sim”, faça-se segundo a tua palavra, o Filho não ter-se-ia encarnado e o Espírito não ter-se-ia feminilizado”.

“Vede, filho, o que lhe estou dizendo: o Espírito veio morar definitivamente nesta mulher, Maria. Identificou-se com ela, se uniu a ela de forma tão radical e misterirosa que dela começou a se plasmar a santa humanidade de Jesus. O Espírito de vida produziu a vida nova, o homem novo, Jesus. Para ti e para todos os fiéis é claro que o masculino através do homem Jesus de Nazaré foi divinizado. Agora, vá lá no evangelho de São Lucas e constatarás que tambem o feminino, através de Maria de Nazaré, foi divinizado pelo Espírito Santo. Ele armou sua tenda, quer dizer, veio morar para sempre nela. Repare que meu evangelista João diz o mesmo do Filho: ‘Ele armou sua tenda em Jesus”. 

“Não é o Espírito”, sussurra a mesma voz, “que toma o profeta para alguma missão específica e cumprida, termina sua presença nele. Com Maria é diferente. 
Ele vem, fica e não a deixa mais. Ela é elevada à altura do Divino Espírito Santo. 
Daí que logicamente, ‘o Santo gerado será chamado Filho de Deus’. Somente quem foi elevado à altura de Deus pode gerar um Filho de Deus. É o caso de Maria. 
Não sem razão, é a “bendita entre as mulheres”. 

“Filho, eis uma verdade que deves anunciar: por Maria Deus mostrou que além de ser Deus-Pai é também Deus-Mãe com as características do feminino: o amor, a ternura, o cuidado, a compaixão e a misericórdia. Estas virtudes estão também nos homens, mas elas encontram uma expressão mais visível nas mulheres”. 

“Filho: ao dizeres Deus-mãe descobrirás a porção feminina de Deus com todas as virtudes do feminino. Não deves esquecer nunca que as mulheres jamais traíram Jesus. 
Foram-lhe fiéis até ao pé da cruz. Enquanto os homens, os discípulos, fugiram, Judas o traiu e Pedro o negou, elas mostraram um amor fiel até o extremo. Elas, antes dos apóstolos, foram as primeiras a testemunharem a ressurreição de Jesus, o fato maior da história da salvação”. 

“O feminino de Deus não se esgota em sua maternidade, mas se revela no que há de intimidade, de amorosidade, de gentileza e de sensibilidade, perceptíveis no feminino”. 

“Não permita que ninguém, por nenhuma razão, discrimine uma mulher por ser mulher. Aduza todas as razões para respeitá-la e amá-la, pois ela revela algo de Deus que somente ela pode fazer, sendo junto com o homem, a minha imagem e semelhança. 
Reforce suas lutas, recolha as contribuições que traz para toda a sociedade, para as Igrejas e para um equilíbrio entre homens e mulheres. Elas são um sacramento do Deus-Mãe para todos, um caminho que os leva à ternura de Deus. Oxalá as mulheres assumam sua porção divina, presente numa companheira delas, em Maria de Nazaré. Mas o dia virá em que cairão as escamas que encobrem seus olhos. E então, homens e mulheres, nos sentiremos também divinizados pelo Filho e pelo Espírito Santo”. 

Ao voltar a mim, senti na clareza de minha mente, o quanto de verdade me tinha sido comunicado. E comovido, enchi-me de louvores e de ações de graça. 

(*) Teólogo, escritor e professor universitário, expoente da Teologia da Libertação no Brasil. Foi membro da Ordem dos Frades Menores (franciscanos)

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Novo templo

O “bi$po” Edir Macedo acha que Deus resolveu mudar de residência. Deixou o céu e… 

Ricardo Setti (*) 

Todas as religiões acreditam ter um acesso de algum tipo ao divino. 

O bi$po” Edir Macedo, dono da Rede Record de Televisão e chefe da Igreja Universal do Reino de Deus, porém, principal idealizador do chamado “Templo de Salomão” — gigantesca construção de 100 mil metros quadrados no bairro do Brás, em São Paulo, que custou perto de 700 milhões de reais para ser o principal da igreja — vai mais longe. 

Se outros templos de outras religiões monoteístas se consideram um lugar sagrado, onde Deus de alguma forma se faz presente, para Edir Macedo o “Templo de Salomão” é muito mais. 

O templo pretende reproduzir o mítico Primeiro Templo dos judeus que teria sido construído no século X a. C. pelo soberano do Reino Unido de Israel e Judá, Salomão, e destruído pelos babilônios cinco séculos depois, e sobre o qual não há evidências arqueológicas confiáveis. 

Pois bem, o templo do bairro do Brás, para o “bi$po” Edir Macedo, é — modestamente — “o lugar que Deus escolheu para morar”. 

(*) Jornalista é colunista da revista Veja

quinta-feira, 17 de julho de 2014

O salmo de Wagner Moura

Frei Betto (*) 

Diante da censura da Arquidiocese do Rio ao uso da imagem do Cristo Redentor no filme “Inútil paisagem”, de José Padilha, fico em posição inusitada: sou homem de Igreja; sou contra censuras a obras de arte; e sou companheiro de Wagner Moura em encontros de oração e meditação, dos quais participam artistas e jornalistas. 

Por que a fala do personagem do Wagner seria ofensiva? 
A meu ver, ela não ofende Jesus; ao contrário, reconhece que a imagem em placas de pedra-sabão é expressão da presença invisível dele, a quem se dirige inconformado. 

Encaro a fala do personagem como a do salmista que protesta contra Javé, acusando-o de indiferença e omissão: “Ó Deus, não fiques calado, não fiques mudo e inerte, ó Deus!” (Salmo 83). “Por que me rejeitas, Javé, e escondes tua face longe de mim?” (Salmo 88). 

O personagem de Wagner Moura, magoado porque Cristo não atendeu às preces concernentes à sua relação com a personagem Clara, suplica que o Redentor saia da imobilidade pétrea e vá “lá embaixo” e interfira para que haja mais amor, a polícia não atue como assassina, evite as inundações que afogam vidas, propicie escolas a todas as crianças. 

Na fala de Wagner há uma crítica teológica pertinente: é um erro nós, cristãos, esperarmos que Deus atue em nosso lugar. Oramos para que ele nos infunda fé, esperança e amor, para que sejamos capazes de agir como Jesus agiu. 

Deus jamais é tapa-buraco de nossa omissão. 
Ele age através de nós, que somos seus “templos vivos”, segundo Paulo na Carta aos Coríntios (3, 16-17). Sonho com uma Igreja que censure, sim, governos e poderosos que, por suas decisões, apoiam policiais torturadores e assassinos, sonegam educação de qualidade às crianças pobres, e condenam milhares de “templos vivos” à miséria, à exclusão, a uma vida ingrata e infeliz. 

Uma criação artística não deve sofrer censura, exceto a que procede do gosto do público. 

Equivoca-se quem sobe ao Corcovado na expectativa de encontrar Cristo. 
Ele não está naquele bloco de granito. Está “lá embaixo”, e quem “não tem amor” jamais será capaz de encontrá-lo onde ele mesmo disse estar: em quem tem fome, sede, está enfermo, é imigrante ou carente de bens tão essenciais como a roupa do corpo (Mateus 25, 31-46). 

O Antigo Testamento relata como os hebreus insistiam em adorar Javé através da veneração a um bezerro de ouro ou frondoso carvalho. 
Procedimento condenado pelos profetas como idólatra. 
Será que Deus exigia dos hebreus alto grau de abstração, a ponto de prescindir de qualquer referência sensível ao prestar-lhe culto? 
Ao contrário, Javé queria apenas que o vissem no próximo. 

O Cristo Redentor é um monumento público, como a Estátua da Liberdade e a Torre Eiffel. Embora seja patrimônio da Arquidiocese, é símbolo da Cidade Maravilhosa e foi eleito uma das sete maravilhas do mundo moderno. 
Seu valor simbólico ultrapassa-lhe o estatuto patrimonial. 
Tombado desde 1937 pelo Iphan, é considerado pela Unesco patrimônio mundial, por se situar no Rio, eleita, em 2012, cidade Patrimônio Cultural da Humanidade. 

A fala censurada repete, noutras palavras, o que já está dito por artistas como Chico Buarque em “Subúrbio” (“Lá tem Jesus / E está de costas”); e Zélia Duncan em “Braços cruzados” (“Eu quero menos abandono, mais cuidado/Cristo Redentor/Eu vi seus braços cruzados, tudo é ilusão”). 

O papa Bento XVI, ao visitar Auschwitz em 2010, exclamou:
“Por que, Senhor, permaneceste em silêncio? Onde estava Deus nesses dias?” 
O próprio Jesus se queixou de Deus: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Marcos 15, 34). 

Queixar-se a Deus é uma forma de oração. 

(*) É escritor e religioso dominicano

sábado, 26 de abril de 2014

Vivemos tempos de Noé

Leonardo Boff (*) 

Vivemos tempos de Noé. 
Pressentindo que viria um dilúvio, o velho Noé convocava as pessoas para mudarem de vida. Mas ninguém o ouvia. A contrário, “comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento até que veio o dilúvio e os fez perecer a todos”(Lc 17,27; Gn 6-9). 

Os 2000 cientistas do IPCC que estudam o clima da Terra são nossos Noés atuais. O terceiro e último relatório de 13/4/2014 contem grave alerta: temos apenas 15 anos para impedir a ultrapassagem de 2 graus C do clima da Terra. Se ultrapassar, conheceremos algo do dilúvio. Ninguém dos 196 chefes de Estado disse qualquer palavra. A grande maioria continua a explorar os bens naturais, negociando, especulando e consumindo sem parar como nos dias de Noé. 

Entrevejo três graves irresponsabilidades: a geral e a específica e supina ignorância do Congresso norte-americano que vetou todas as medidas contra o aquecimento global; a manifesta má vontade da maioria dos chefes de Estado; e a falta de criatividade para montar as traves de uma possível Arca salvadora. Como um louco numa sociedade de “sábios” ouso propor algumas premissas. Se algum mérito possuírem, é o de apontarem para um novo paradigma civilizacional que nos poderá dar outro rumo à história. Ei-las: 

1. Completar a razão instrumental-analítica-científica dominante com a inteligência emocional ou cordial. Sem esta não nos comovemos face à devastação da natureza e não nos engajamos para resgatá-la e salvá-la. 

2. Passar da simples compreensão de Terra como armazém de recursos para a visão da Terra viva, superorganismo vivo que se autoregula, chamado Gaia. 

3. Entender que, como humanos, somos aquela porção da Terra que sente, pensa e ama, cuja missão é cuidar da natureza. 

4. Passar do paradigma da conquista/dominação ainda vigente, para o paradigma do cuidado/responsabilidade. 

5.Entender que a sustentabilidade só será garantida se respeitarmos os direitos da natureza e da Mãe Terra.

6. Articular o contrato natural feito com a natureza que supõe a reciprocidade inexistente com o contrato social que supõe a colaboração e inclusão de todos, insuficiente. 

7. Não existe meio-ambiente mas o ambiente inteiro. O que existe é a comunidade de vida com o mesmo código genético de base,estabelecendo um parentesco entre todos. 

8.Abandonar a obsessão pelo crescimento/ desenvolvimento pela redistribuição da riqueza já acumulada. 

9.Devemos produzir para atender demandas humanas mas sempre dentro dos limites da Terra e de cada ecossistema. 

10.Pôr sob controle a voracidade produtivista e a concorrência sem limites em favor da cooperação e da solidariedade pois todos dependemos uns dos outros. 

11.Superar o individualismo pela colaboração entre todos, pois esta é a lógica suprema do processo de evolução. 

12. O bem comum humano e natural tem primazia sobre o bem comum particular e corporativo. 

13.Passar da ética utilitarista e eficientista para a ética do cuidado e da responsabilidade. 

14.Passar do consumismo individualista para a sobriedade compartida. O que nos sobra, falta aos demais. 

15. Passar da maximização do crescimento para a otimização da prosperidade a partir dos mais necessitados. 

16. Ao invés de permanentemente modernizar, ecologizar todos os saberes e processos produtivos visando tutelar os bens e serviços naturais e dar descanso à natureza e à Terra. 

17. Opor à era do antropoceno que faz do ser humano uma força geofísica destrutiva, pela era ecozoica que ecologiza e inclui todos os seres no grande sistema terrenal e cósmico. 

18. Valorizar o capital humano/espiritual inexaurível sobre o capital material exaurível porque o primeiro fornece os critérios para as intervenções responsáveis na natureza e alimenta permanentemente os valores humano-espirituais da solidariedade, do cuidado, do amor e da compaixão, bases para uma sociedade com justiça, equidade e respeito à natureza. 

19.Contra a decepção e a depressão provocadas pelas promessas não cumpridas de bem-estar geral feitas pela cultura do capital, alimentar o princípio-esperança, fonte de fantasia criadora, de novas idéias e de utopias viáveis. 

20. Crer e testemunhar que, no fim de tudo, o bem triunfará sobre a mal, a verdade sobre a mentira e o amor sobre a indiferença. Um pouco de luz poderá espancar uma imensidão de trevas. 

(*) Teólogo , escritor e professor universitário, expoente da Teologia da Libertação no Brasil. Foi membro da Ordem dos Frades Menores

quinta-feira, 27 de março de 2014

Carta resposta do padre Zézinho a um evangélico mal informado

"Maria não pode nada. 
Menos ainda as imagens dela que vocês adoram. 
Sua Igreja continua idólatra. 
Já fui católico e hoje sou feliz porque só creio em Jesus. 
Você, com suas canções é o maior propagador da idolatria Mariana. 
Converta-se enquanto é tempo, senão você vai para o inferno com suas canções idólatras...

" Paulo Souza, São Paulo - SP. 

RESPOSTA ENVIADA PELO PADRE ZEZINHO (*) 

Paulo. 
Paz no Cristo que você acha que achou! 
Sua carta chega a ser cruel. 
Em quatro páginas você consegue mostrar o que um verdadeiro evangélico não deve ser. 

Seus irmãos mais instruídos na fé sentiriam vergonha de ler o que você disse em sua carta contra nós católicos e contra Maria. 
O irônico de tudo isso é que enquanto você vai para lá agredindo a Mãe de Jesus e diminuindo o papel dela no cristianismo, um número enorme de evangélicos fala dela, hoje, com o maior carinho e começa a compreender a devoção dos católicos por ela. 

Você pegou o bonde atrasado e na hora errada e deve ter ouvido pastores errados, porque, entre os evangélicos, tanto como entre nós católicos, Maria é vista como a primeira cristã e a figura mais expressiva da evangelização depois de Jesus. 
Eles sabem da presença firme e fiel de Maria ao lado do Filho Divino. 

Evangélico hoje, meu caro, é alguém que pautou sua vida pelos evangelhos e por isso respeita os outros e não nega Maria. 
Pode haver diferenças, mas para ser um bom evangélico não é preciso agredir nem os católicos nem a Mãe de Jesus. 
Você é muito mais antimariano do que cristão ou evangélico. 
Seu negócio é agredir Maria e os católicos. 

Nem os bons evangélicos querem gente como você no meio deles. 
Quanto ao que você afirma, que nós adoramos Maria, sinto pena de você.
Enquanto católico, segundo você mesmo afirma, já não sabia quase nada de Bíblia por culpa da nossa Igreja, agora que virou evangélico parece que sabe menos ainda de Bíblia, de Jesus, de Deus e do Reino dos Céus. 

Está confundindo culto de veneração com culto de adoração, está caluniando quem tem imagens de Maria em casa ao acusá-los de idólatras. 
Ora, Paulo, há milhões de católicos que usam das imagens e sinais do catolicismo de maneira serena e inteligente. 
Se você usava errado teria que aprender. 

Ao invés disso foi para outra Igreja aprender a decidir quem vai para o céu e quem vai para o inferno. 
Tornou-se juiz da fé dos outros. 
Deu um salto gigantesco em seis meses, de católico tornou-se evangélico, pregador de sua Igreja e já se coloca como a quarta pessoa da Santíssima Trindade, porque está decidindo quem vai para o céu e quem vai para o inferno. 

Mais uns dois anos e talvez, de lá do alto de sua sabedoria eterna, talvez dê um golpe de Estado no céu e se torne a primeira pessoa. 
Então talvez, mande Deus vir avisar quem você vai pôr no céu ou no inferno. 
Sua carta é pretensiosa. 

Sugiro que estude mais evangelismo e, em poucos anos, estará escrevendo cartas bem mais fraternas e bem mais serenas do que esta. 
Desejo de todo coração que você encontre bons pastores evangélicos.
Há muitíssimos homens de Deus nas Igrejas evangélicas que ensinarão a você como ser um bom cristão e como respeitar a religião dos outros. Isso você parece que perdeu quando deixou de ser católico.

Era um direito que você tinha: procurar sua paz. 
Mas parece que não a encontrou ainda, a julgar pela agressividade de suas palavras. 
Quanto a Maria, nenhum problema: é excelente caminho para Jesus. 
Até porque, quem está perto de Maria, nunca está longe de Jesus. 
Ela nunca se afastou. 
Tire isso por você mesmo. 

Se você se deu ao trabalho de me escrever uma carta para me levar a Jesus, e se acha capaz disso, imagine então o poder da Mãe de Deus! 
De Jesus ela entende mais do que você. 
Ou, inebriado com a nova fé, você se acha mais capaz do que ela? 
Se você pode sair por aí escrevendo cartas para aproximar as pessoas de Jesus, Maria pode milhões de vezes mais com sua prece de mãe. 

Ela já está no céu e você ainda está por aqui apontando o dedo contra os outros e decidindo quem vai ou quem não vai para lá.

Grato por sua carta. 
Mostrou-me porque devo lutar pela compreensão entre as Igrejas. 
É por causa de gente como você. 

(Pe. Zezinho, scj)

(*) José Fernandes de Oliveira, conhecido como Padre Zezinho é um padre católico Brasileiro da Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus. Padre Zezinho é conhecido por suas habilidades como escritor e músico.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Qual é o lugar do fator religioso no mundo?

Leonardo Boff (*) 

Por mais que a sociedade se mundanize e, de certa forma, se mostre materialista, não podemos negar que vigora uma volta vigorosa do fator religioso, místico e esotérico nos tempos atuais. Temos a impressão de que existe um cansaço pelo excesso de racionalização e de funcionalização de nossas sociedades complexas. 
A volta do religioso apenas revela que no ser humano há uma busca por algo maior.
Há um lado invisível no visível que gostaríamos de surpreender. 

Quem sabe não se encontre lá um sentido secreto que sacia nossa busca incansável por algo que não sabemos identificar. Nesse horizonte não confessional quiça faça sentido se falar do fator religioso ou do espiritual. Ele sofreu todo tipo de ataques mas conseguiu sobreviver. A primeira modernidade o via como algo pré-moderno, um saber fantástico que deve dar lugar ao saber positivo e crítico (Comte). 
Em seguida foi lido como uma enfermidade: ópio, alienação e falsa consciência de quem ainda não se encontrou ou caso se encontrou voltou a se perder (Marx). Depois, foi interpretado como a ilusão da mente neurótica que busca pacificar o desejo de proteção e tornar o mundo contraditório suportável (Freud). Mais adiante, foi interpretado como uma realidade que pelo processo de racionalização e de desencanto do mundo tende a desaparecer(Weber). Por fim, alguns o tinham como algo sem sentido, pois seus discursos não têm objeto verificável nem falsificável (Popper e Carnap). 

Estimo que o grande equívoco destas várias interpretações reside de no fato de colocarem o fator religioso num lugar equivocado: dentro da razão. As razões começam com a razão. A razão em si mesma não é um fato de razão. É uma incógnita. Já rezava a sabedoria dos Upanishad:”aquilo pelo qual todo pensamento pensa, não pode ser pensado”.
Talvez nesse “não pensado” se encontra o berço do fator religioso, vale dizer, daquelas instâncias exorcizadas pela racionalidade moderna: a fantasia, o imaginário, aquele fundo de desejo do qual irrompem todos os sonhos e as utopias que povoam nossa mente, entusiasmam os corações, incendeiam o estopim das grandes transformações da história. Seu lugar reside naquilo que o filósofo Ernst Bloch chamava de princípio esperança . 

É próprio destas instâncias – do utópico, da fantasia e do imaginário – não se adequarem ao dado racional concreto. Antes, contestam o dado pois suspeitam que o dado é sempre feito; tanto o dado quanto o feito não são todo o real. O real é ainda maior. 
Pertence ao real também o potencial, o que ainda não é mas que pode vir a ser. 
Por isso, a utopia não se antagoniza com a realidade; revela a dimensão potencial e ideal desta realidade. Já dizia o sábio E. Durkheim na conclusão de sua famosa obra . 
As formas elementares da vida religiosa: ”a sociedade ideal não está fora da sociedade real; é parte dela”. E concluía:”somente o ser humano tem a faculdade de conceber o ideal e de acrescentá-lo ao real”. Eu diria, de detectá-lo dentro do dado real, fazendo com que este real no qual está o ideal, seja sempre maior que o dado à nossa mão. 

É no interior desta experiência do potencial, do utópico que irrompe o fator religioso.
Por isso dizia Rubem Alves, quem melhor no Brasil estudou o “enigma da religião”(título de seu livro):”A intenção da religião não é explicar o mundo. Ela nasce, justamente, do protesto contra este mundo que pode ser descrito e explicado pela ciência. 
A descrição científica, ao se manter rigorosamente nos limites da realidade instaurada, sacraliza a ordem estabelecida das coisas. A religião, ao contrário, é a voz de uma consciência que não pode encontrar descanso no mundo assim como ele é e que tem como seu projeto transcendê-lo”. 

Por esta razão, o fator religioso é a organização mais ancestral e sistemática da dimensão utópica, inerente ao ser humano. Como bem dizia Bloch:”onde há religião, ai há esperança” de que nem tudo está perdido. Esta esperança é um amor por aquilo que ainda não é, “a convicção de realidades que não se veem” como diz a Epístola aos Hebreus(11,1) mas que são o fundamento do que se espera. 

Quem viu com lucidez esta singularidade do fator religioso foi o filósofo e matemático Ludwig Wittgenstein que disse: no ser humano não existe apenas a atitude racional e científica que sempre indaga como são as coisas e para tudo procura uma resposta. 
Existe também a capacidade de extasiar-se: “extasiar-se não pode ser expresso por uma pergunta; por isso não existe também nenhuma resposta”. Existe o místico: “o místico não reside no como mundo é, mas no fato de que o mundo exista”. 
A limitação da razão e do espírito científico reside no fato de que eles não têm nada sobre o que calar. 

O religioso e o místico sempre terminam no nobre silêncio, pois não existe em nenhum dicionário a palavra que o possa definir. 

Até aqui falamos do fator religioso em sua natureza sadia. Mas ele pode ficar doente. 
Daí nasce a doença do fundamentalismo, do dogmatismo e da exclusividade da verdade. Mas toda doença remete à saúde. O fator religioso deve ser analisado a partir de sua saúde e não de sua doença. Então o fator religioso sadio nos torna mais sensíveis e humanos.
Sua volta sadia é urgente hoje, pois ele nos ajuda a amar o invisível e tornar real aquilo que ainda não é mas pode ser.

(*) é teólogo , escritor e professor universitário, expoente da Teologia da Libertação no Brasil. Foi membro da Ordem dos Frades Menores (Franciscanos )  

quinta-feira, 21 de março de 2013

A propósito de Francisco

Mino Carta (*) 

Quando me ajoelhei aos pés do altar para receber a Primeira Comunhão, meus olhos ficaram embaçados e desmaiei. No dia anterior, de retiro espiritual orientado pelas minhas inesquecíveis freiras marcelinas, ao enfrentar momentos de inequívoca materialidade almoçara risotto com espinafre demoniacamente amanteigado. Não me surpreenderia se o próprio Lúcifer tivesse estacionado na cozinha. Passei uma noite no inferno, entre 16 e 17 de maio de 1942, dia da comunhão. 

Atordoado, à beira da inconsciência, degluti a hóstia que me foi imposta goela abaixo por santas razões, pois a oportunidade não poderia ser desperdiçada a bem das expectativas dos familiares presentes, e logo me reencontrei na sacristia diante de um café da manhã monumental. Boa lembrança, além de definitiva. 

Pela magnitude do evento, ganhei presentes diversos, como era do costume da época e do país, entre eles uma refinada edição de 1927 de I Fioretti di San Francesco, obra medieval nascida de contribuições anônimas redigidas em perfeito italiano para contar passagens salientes da vida de São Francisco de Assis. O qual fora batizado João e não nascera para ser santo, e sim rico senhor, talvez um tanto devasso. 

A prima de minha mãe, que me presenteou com o livro, escreveu na dedicatória: “Este é o dia mais belo da sua vida”. Confesso que não me dei conta disso, a despeito da magnificência do desjejum. Quase 71 anos depois, tiro da estante I Fioretti ao saber que o novo papa será o primeiro Francisco da história dos sucessores de Pedro, o pescador. 

Arrisco-me a entender que o nome não foi escolhido ao acaso, e logo me vem à memória um afresco da Basílica de São Francisco, em Assis, um da série deslumbrante pintada por Giotto para narrar a vida do santo ao longo das paredes da igreja superior, um dos recantos mais poéticos, e poéticos até a transcendência, em que um indivíduo possa mergulhar mundo afora. O afresco intitula-se O Sonho do Papa, e colhe o santo a reerguer literalmente a Igreja. 

Francisco, em quem Dante divisou um semeador de luz com a pronta anuência do amigo Giotto, foi reformador herói, sem contar o poeta que escreveu O Cântico das Criaturas, ou Cântico ao Irmão Sol, obra-prima da língua italiana, e, portanto, o santo mais próximo de Cristo, cujo exemplo transformou na Regra da sua vida e da sua pregação em defesa da natureza e dos desvalidos. 

terça-feira, 19 de março de 2013

A religião tem futuro?

Hélio Schwartsman (*) 

Agora que a fumaça em torno do conclave que elegeu o papa Francisco se dissipou, arrisco perguntar se a religião tem futuro? 

No nível mais fundamental, a resposta é "sim". Depois de uma breve utopia iluminista, na qual a intelectualidade chegou a prognosticar a morte de Deus, o consenso científico parece caminhar para a classificação da religiosidade como um estilo cognitivo que dá mais ênfase às intuições geradas nos lobos temporais do que aos raciocínios lógicos produzidos no córtex pré-frontal. Isso significa que, enquanto contarmos com uma boa variedade de seres humanos, alguns deles deverão permanecer obstinadamente crentes. 

Daí não decorre, porém, que os clérigos estejam com a vida ganha. Há uma correlação negativa forte entre desenvolvimento social e religiosidade, da qual a Europa dá testemunho. Nos últimos 30 anos, a tendência geral no continente tem sido de forte queda da fé, como mostram pesquisas que questionam não apenas as crenças dos entrevistados mas também o peso que cada um deles atribuía à religião em sua vida. 

Um caso emblemático é o da Suécia. Como mostra Phil Zuckerman, menos de 20% dos suecos acreditam em um Deus pessoal. E este país nórdico, não custa lembrar, é um dos melhores lugares do mundo para viver, com uma democracia sólida, muita riqueza e bem distribuída, um amplo sistema de seguridade social, baixíssimas taxas de criminalidade, ótima educação etc. 

No outro extremo, países mais pobres tendem a ser os mais carolas. Pesquisa Gallup de 2009 classificou 114 nações pelo valor que suas populações atribuíam à fé. No topo, com 99% ou mais afirmando que a religião é importante em suas vidas, temos Bangladesh, Níger e Iêmen. 

Correlação, como se sabe, não é sinônimo de causa, mas a prioridade que o papa Francisco quer dar aos pobres pode ser, mais do que uma opção, uma questão de sobrevivência. 

(*) Jornalista , bacharel em filosofia e colunista da Folha de São Paulo

quarta-feira, 13 de março de 2013

Habemus Papa : Argentina est

Igreja Católica confirma o argentino Jorge Mario Bergoglio como sucessor de Bento 16  

UOL 

A Igreja Católica confirmou às 20h14 (16h14 de Brasília) desta quarta-feira (13) quem é seu novo papa: o cardeal jesuíta Jorge Mario Bergoglio, 76, da Argentina, foi o escolhido para suceder Bento 16 no conclave que começou na terça-feira (12) e terminou hoje, às 19h07 (15h07 de Brasília), quando a fumaça branca tomou a praça São Pedro, após cinco escrutínios.

O nome do novo papa foi revelado após o famoso "Anuntio vobis gaudium, habemus Papam", feito pelo cardeal francês Jean-Louis Tauran. O nome papal escolhido pelo cardeal Bergoglio é Francisco 1º. 

Em seu primeiro discurso, feito logo após o anúncio de seu nome, Francisco 1º agradeceu ao acolhimento da comunidade de Roma e, também lembrou do papa emérito Bento 16, seu antecessor. 

Jorge Mario Bergoglio, que nasceu em 17 de dezembro de 1936, se tornou arcebispo de Buenos Aires desde 1998 e foi nomeado cardeal em 2001, por João Paulo 2º, é o primeiro papa latino-americano da história da Igreja Católica. 

Ele bateu outros cardeais considerados favoritos, como o italiano Angelo Scola e o brasileiro Odilo Scherer. Escolha aconteceu 13 dias após renúncia de Bento 16 

Após 13 dias da renúncia de Bento 16, a quinta votação do conclave, realizada na tarde desta quarta-feira (13), terminou com a escolha do novo papa. Às 15h07 (Brasília), uma fumaça branca saiu da chaminé da capela Sistina, indicando que os cardeais chegaram a um consenso sobre o próximo líder da Igreja Católica Apostólica Romana. 

Os sinos da basílica de São Pedro confirmaram que o novo pontífice recebeu ao menos dois terços dos votos dos cardeais e já aceitou a missão de comandar a Santa Sé. 

O anúncio dos nomes de batismo e pelo qual será conhecido o sucessor de Bento 16 será feito na sacada da basílica de São Pedro, com a famosa frase: "Habemus Papam!". 

A escolha foi realizada por 115 cardeais, sendo cinco brasileiros: dom Raymundo Damasceno Assis, 76; dom Odilo Scherer, 63; dom Geraldo Majella Agnelo, 79; dom Cláudio Hummes, 78; e dom João Braz de Aviz, 64. 

Estavam aptos a votar apenas os cardeais com menos de 80 anos. A presença deles, segundo o Vaticano, era obrigatória. No entanto, dois eleitores conseguiram a dispensa necessária para não participarem da votação, um por motivo de saúde (cardeal indonésio Julius Darmaatjadja) e outro por ter renunciou ao cargo (cardeal britânico Keith O'Brien). 

sábado, 23 de fevereiro de 2013

O que diria Jesus?

Zuenir Ventura (*) 

A revista “Visão”, de Portugal, fez uma enquete junto a personalidades da cultura e da política portuguesas para especular sobre o que Jesus diria se aqui voltasse. Com bom humor cristão, o romancista António Lobo Antunes desqualificou o trabalho: “Como voltar, se de cá ele nunca saiu?” 

Mas digamos que Ele tenha dado uma saidinha e que viria não ainda para julgar os vivos e os mortos, mas numa visita rápida para ver como estão as coisas. Não se trata de um exercício de adivinhação, e sim de hipóteses com base nos textos bíblicos, o que nos permite entrar no jogo também fazendo nossas simulações. 

Por exemplo, Cristo com certeza ficaria feliz de constatar que, em tempos de Twitter, nenhum líder tem tantos seguidores quanto Ele: de 2 a 3 bilhões. Por outro lado, em termos de qualidade, não ia ficar nada satisfeito com o que veria à direita e à esquerda, fora e dentro da igreja. A primeira decepção seria constatar que a sua pregação de paz e amor foi substituída pela violência urbana e pelas guerras praticadas em nome do Pai. 

E o que Ele diria da crise atual — econômica, financeira e moral — e da má distribuição da riqueza, contra a qual tanto pregou? Certamente se indignaria ao saber que o número de pessoas que vivem com menos de 1 dólar por dia nos 49 países mais pobres do mundo duplicou nos últimos 30 anos, chegando a 307 milhões. 

E que, enquanto isso, as dez mais ricas têm mais dinheiro do que Suécia, Finlândia e cada um de outros 150 países. A concentração pode ter sido consequência de Sua parábola: “É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus.” Vai ver que, diante da anunciada dificuldade de entrar lá em cima, os ricos tenham preferido permanecer aqui no Reino da Terra, que é para eles um paraíso. 

O maior desgosto do nosso Salvador, porém, seria descobrir o risco de descer conclamando inocentemente — “Deixai vir a mim as criancinhas” — e ser mal interpretado, tendo em vista a onda de escândalos de pedofilia que atinge o clero. 

Imagina se a Sua chegada coincidisse com a divulgação esta semana do dossiê de 300 páginas elaborado a pedido do Papa por três cardeais e que é uma espécie de radiografia do Vaticano — uma antologia de escabrosos casos de corrupção, promiscuidade, desvio de dinheiro, escândalos sexuais, rede de prostituição homossexual. Chocado, Bento XVI teria desabafado afirmando que o seu sucessor deverá ser bastante “forte, santo e jovem para enfrentar o que o espera”. 

Tomara que Jesus interfira na escolha, em vez de, desiludido, repetir a velha piada: “Pare o mundo que quero descer.” 

(*) Jornalistra e escritor 

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O pastor e o poder

Eugenio Scalfari (*) 

(Transcrito e traduzido do La Reppublica de 12 de fevereiro de 2013 pelo Blog do Noblat para o jornal O Globo) 

Um ato revolucionário a renúncia do Papa. Essa é a verdade. Jamais acontecera, a não ser com Celestino V que a isso fora obrigado pelos franceses que ainda por cima continuaram a exercer o poder sobre Bonifácio VIII até a sapatada em Anagni. E com exceção de Papas e anti-Papas eleitos em concílios e conclaves medievais. 

O código canônico prevê a renúncia e o Papa Ratzinger admitiu essa possibilidade em seu livro-entrevista publicado há dois anos: mas uma coisa é dizer, outra é fazer.
Portanto, é um fato revolucionário. Mas de que natureza e quais serão as consequências dessa revolução? A natureza é evidente: a Igreja se laiciza. O Papa até agora foi considerado, dentro da Igreja e da comunidade católica, como Vigário de Cristo na Terra e, na verdade, quando fala “ex cathedra” sobre questões da Fé, sua palavra é infalível conforme decretado pelo Concílio Vaticano I, de 1870. 

Esse ponto ainda é o obstáculo não superado que impediu a unificação de católicos com anglicanos e a de católicos com a Igreja Ortodoxa. Os outros obstáculos já foram em grande parte superados, até o da supremacia do Bispo de Roma sobre todos os outros: o primaz da Rússia estava disposto a reconhecer no Bispo de Roma a supremacia como “primus inter pares”, mas não como Vigário de Deus na Terra. 

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Um texto longo e antigo que já previa esse final!


Ambiente de fim de pontificado e um Papa sem mão na Cúria 

Vaticano
Texto datado de 15/4/2012 publicado no Jornal Público de Portugal 

A Cúria Romana tornou-se um monstro ingovernável que o próprio Papa, de perfil sobretudo intelectual e académico, já não consegue controlar. 
No Vaticano, nas vésperas do sétimo aniversário da eleição de Bento XVI, parece viver-se já um ambiente de final de pontificado, semelhante ao que caracterizou a última década de João Paulo II. 

O diagnóstico é feito por responsáveis do Vaticano ouvidos pelo PÚBLICO e resulta de diferentes episódios dos últimos meses, onde não faltaram acusações de lutas pelo poder e a divulgação de cartas dirigidas ao Papa a denunciar corrupção. 
Também há quem relativize, dizendo que os casos apenas traduzem luzes e sombras de uma instituição plural, onde convive o melhor e o pior da natureza humana. 

O PÚBLICO escolheu nove casos recentes que traduzem este ambiente e falou com vários observadores no Vaticano. 

A estrutura central do catolicismo parece colada com cuspo. Bento XVI, que em Fevereiro se tornou o sexto Papa mais velho dos últimos 700 anos, já não tem mão na Cúria. Ao mesmo tempo, tenta evitar a custo um cisma dos católicos germânicos. 
E parece ter desistido de conseguir uma unidade apenas aparente com os tradicionalistas, que há 50 anos recusam o Concílio Vaticano II e o diálogo ecuménico e inter-religioso. 

O alemão Joseph Ratzinger, eleito Papa a 19 de Abril de 2005, completa amanhã 85 anos de idade. Quinta-feira, assinala o sétimo aniversário da sua eleição. Mas parece que o Papa tem poucas razões para celebrar, tendo em conta os problemas dos últimos meses. 
A viagem de Bento XVI ao México e a Cuba, há três semanas, foi um bálsamo a refrescar das más notícias de Fevereiro. "O acolhimento foi espectacular porque os latino-americanos têm uma grande religiosidade. 

Mas isso aconteceu por ser o Papa e não por ser Bento XVI em particular", diz um responsável do Vaticano, profundo conhecedor do catolicismo da América Latina. 
O cisma Quinta-Feira Santa, dia em que os cristãos celebram a instituição da eucaristia na Última Ceia de Jesus, o Papa resolveu advertir contra um "apelo à desobediência" que ameaça cavar um cisma no catolicismo austríaco. ?/

A Pfarrer-Initiative (Iniciativa dos Párocos) foi até agora subscrita por 400 dos cerca de dois mil padres do país (disponível, em português, em www.pfarrer-initiative.at/). 

No texto, os padres afirmam sete pontos. Entre eles, garantem que irão rezar em todas as missas pela reforma da Igreja, que não recusarão a comunhão aos divorciados em segunda união e a cristãos de outras Igrejas e que não celebrarão mais que uma missa aos domingos para evitar "digressões litúrgicas". Afirmam ainda que recusam a proibição de os leigos falarem nas igrejas, dizem que cada paróquia deve ter um responsável, que pode ou não ser padre. E são a favor da ordenação de mulheres. 


Esta não é a primeira manifestação crítica oriunda do mundo germânico. 

Há um ano, centena e meia de teólogos de língua alemã (dos 400 que existem) defendia a reforma da Igreja e o fim do celibato obrigatório medida que o próprio Ratzinger advogara há décadas. 

Já em 1989, a Declaração de Colónia juntara 200 teólogos na defesa da liberdade de investigação teológica. 
Há 17 anos, na Áustria, surgia a Petição do Povo de Deus, depois alargada a vários países e assinada por milhões de católicos, onde se pediam também reformas na Igreja. Foi essa petição que deu origem a grupos como o Nós Somos Igreja. 

Agora, o Papa sentiu que a ameaça pode ser séria. Na homilia, Bento XVI afirmou que "um grupo de sacerdotes publicou um apelo à desobediência, referindo ao mesmo tempo também exemplos concretos de como exprimir esta desobediência, que deveria ignorar até mesmo decisões definitivas do magistério, como, por exemplo, na questão relativa à ordenação das mulheres". 

Ratzinger afirmava querer "dar crédito aos autores deste apelo, quando dizem que é a solicitude pela Igreja que os move, quando afirmam estar convencidos de que se deve enfrentar a lentidão das instituições com meios drásticos para abrir novos caminhos e colocar a Igreja à altura dos tempos de hoje". Mas perguntava: "Será um caminho a desobediência?" O movimento Nós Somos Igreja (NSI), que apoia os padres austríacos, reagiu, criticando que nunca o Vaticano ou os bispos tinham estado disponíveis para ouvir os católicos críticos: "Bento XVI, tal como o Papa Wojtyla, não quer definitivamente reflectir" sobre questões como o celibato ou a ordenação de mulheres e homens casados. E acrescentava que o arcebispo de Viena, cardeal Cristoph Schönborn, "parece ter tentado, mas não conseguiu levar o debate até Roma". 

Talvez para compor a questão, no próprio Domingo de Páscoa o Papa destacou a importância das mulheres na vida de Jesus, já que foram mulheres quem primeiro anunciou a ressurreição. E afirmou: "Naquele tempo, em Israel, o testemunho das mulheres não podia ter valor oficial, jurídico, mas elas viveram uma experiência de ligação especial com o Senhor [e destacam-se] nas narrativas das aparições de Jesus ressuscitado, como de resto acontece nas da sua paixão e morte." As referências de Ratzinger parecem mostrar uma preocupação por aquilo que se passa na Áustria, diz um observador das questões católicas europeias. Schönborn, de acordo com o jornal católico Avvenire, terá convidado recentemente um católico homossexual e o seu companheiro para o debate. O convidado tinha sido eleito para um cargo importante. 

Schönborn defendeu que era importante reflectir algumas questões e agir evangelicamente. Mas não conseguiu levar a sua voz ao Vaticano. 

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O corrupto

Frei Beto (*)

Padre Vieira, em São Luís do Maranhão, no sermão em homenagem à festa de santo Antônio, em 1654, indagava: "O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção?" A seu ver, havia duas causas principais: a contradição de quem deveria salgar e a incredulidade do povo diante de tantos atos que não correspondiam às palavras. 
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O corrupto caracteriza-se por não se admitir como tal. Esperto, age movido pela ambição de dinheiro. Não é propriamente um ladrão. Antes, trata-se de um requintado chantagista, desses de conversa frouxa, sorriso amável, salamaleques gentis. O corrupto não se expõe; extorque. Considera a comissão um direito; a porcentagem, pagamento por seus serviços; o desvio, forma de apropriar-se do que lhe pertence. Bobos são aqueles que fazem tráfico de influência sem tirar proveito. Há muitos tipos de corruptos. O corrupto oficial é aquele que se vale de uma função público para tirar proveitos a si, à família e aos amigos. Troca a placa do carro, embarca a mulher com passagem cuesteada pelo erário, faz gastos e obriga o contribuinte a pagar. Considera natural o superfaturamento, a ausência de licitação, a concorrência com cartas marcadas. 

A lógica do corrupto é corrupta: "Se não faço, outro leva vantagem em meu lugar". Seu único temor é ser apanhado em flagrante delito. Não se envergonha de se olhar no espelho, apenas teme ver seu nome estampado nos jornais. Confiante, jamais imagina a filha pequena a indagar-lhe: "Papai, é verdade que você é corrupto?" 

O corrupto não sente nenhum escrúpulo em receber caixas de uísque no Natal, presentes caros de fornecedores ou andar de carona em jatinhos de empresários. Afrouxam-lhe com agrados e, assim, ele afrouxa a burocracia que retém as verbas públicas. 

Há o corrupto privado. Nunca menciona quantias, tão-somente insinua, cauteloso, como se convencido de que cada uma de sua palavras estão sendo registradas por um gravador. Assim, ele se torna o rei da metáfora. Nunca é direto. Fala em circunlóquios, seguro de que o interlocutor saberá ler nas entrelinhas. 

sábado, 10 de novembro de 2012

Crer em Deus ainda faz sentido?

Dom Odilo P. Scherer para O Estado de S.Paulo 

243042.jpg (286×320)No dia 11 de outubro passado, o papa Bento XVI abriu um "Ano da Fé" para toda a Igreja Católica. A iniciativa coincide com o 50.º aniversário da abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II, levada a efeito a seu tempo pelo papa João XXIII. São objetivos do "Ano da Fé" o reencontro dos fiéis com as raízes e as razões da fé da Igreja, sua melhor compreensão e um novo impulso na transmissão do patrimônio da fé, que os cristãos vivem e partilham com a humanidade há 20 séculos. 

Pareceria que não faz mais sentido crer em Deus em nossos dias, sobretudo diante da afirmação da racionalidade científica e tecnológica. Há ideias bem diversas sobre a fé, nem sempre compatíveis entre si: há uma fé natural, que se confunde com um desejo intenso, há fé nos projetos humanos e até fé na ciência e na tecnologia. Sem entrar no mérito de cada uma dessas formas de uso do conceito "fé", e respeitando a forma como cada um crê ou não crê, desejo tratar aqui da fé sobrenatural em Deus e daquilo que decorre dessa fé, no sentido cristão de crer - mais exatamente, da Igreja Católica, à qual me dedico. 

As perguntas que o próprio papa Bento XVI fez na

sábado, 3 de novembro de 2012

A busca do novo catolicismo

Padre Marcelo busca catolicismo de massas, mas menos atento às questões sociais 

Ricardo Mariano (*) 

377600_74943.jpg (800×600)A guinada conservadora católica, o acelerado declínio numérico da filial brasileira da Santa Sé e avalanche pentecostal acirraram a competição entre católicos e evangélicos a partir de 1980. Essa peleja deflagrou uma disputa religiosa pelo espaço público e uma desenfreada ocupação religiosa da mídia e da política partidária. 

Desde então tele-evangelistas, padres-celebridades e cantores gospel tornaram-se onipresentes na mídia eletrônica, emissoras de TV pentecostais e católicas brotaram como cogumelos, rebanhos religiosos viram-se tratados como currais eleitorais, igrejas passaram a formar bancadas parlamentares, a expandir seu poder nos legislativos e a controlar partidos, discursos moralistas reacionários de inspiração bíblica tomaram de assalto as eleições. 

Dia de Finados é transformado em festa em templo de padre Marcelo. 
Com 50 mil fiéis, padre Marcelo inaugura novo templo em São Paulo Padre Marcelo diz estar 'em falta' com Haddad, que não vai à abertura 

A ocupação religiosa do espaço público, sobretudo nas capitais e regiões metropolitanas, tornou-se ainda mais monumental, mais espetacular e mais triunfalista. Tudo para causar o maior impacto evangelístico, gerar a maior visibilidade pública e revestir seus líderes e suas organizações religiosas de maior poder, status e legitimidade. 

Foi por isso que católicos, liderados por carismáticos e suas comunidades, e neopentecostais, turbinados pela famigerada teologia da prosperidade, trataram de investir pesado em megaeventos, megasshows, megamarchas e megamissas e torrar fortunas na construção de imponentes santuários e catedrais. 

Não é à toa que a inauguração do maior templo católico da América Latina ocorra nesse contexto de vigoroso ativismo religioso e de midiatização da religião intensificado por uma concorrência inter-religiosa sem precedentes na história nacional. 

Autor do slogan "sou feliz porque sou católico" e líder religioso mais popular do país, padre Marcelo Rossi foi o idealizador do Santuário Theotokos "" Mãe de Deus. A fim de resgatar as ovelhas desgarradas do rebanho e de impedir o "avanço das seitas", o sacerdote multimídia, multitarefa e workaholic tem trabalhado, em ritmo toyotista anos a fio, como cantor, ator, escritor, radialista e tele-evangelista, militado no Twitter e no Facebook e, de quebra, acolhido romarias de políticos às missas em busca da bênção nas urnas. Em reconhecimento a seus feitos, o papa Bento 16 lhe deu o Prêmio Van Thuân, em 2010. 

No novo santuário, Marcelo Rossi ocupará um palco muito maior e mais reluzente para cantar seus louvores e baladas, coreografar a "aeróbica do Senhor", receber celebridades, agitar, entreter e emocionar as multidões de seguidores, benzer seus objetos pessoais e lançar-lhes baldes de água benta ao fim de cada show-missa. 

Assim ele vai contribuindo para configurar um catolicismo de massas alegre, corpóreo, sensorial, emotivo, mágico, midiático, terapêutico, taumatúrgico, moral e teologicamente conservador. Mais popular, mas menos intelectualizado e menos atento aos problemas socioeconômicos. 

(*) Professor da PUC-RS, é autor de "Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil" (Loyola)

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Papiro diz que Jesus se casou

Estadão

JCMM++AJOELHADA.jpg (439×329)Uma historiadora da Universidade de Harvard identificou um pedaço de papiro datado do século 4 que sugere que Jesus Cristo teria se casado. No fragmento, escrito no idioma copta, surgido do Egito antigo, há uma frase nunca vista nas Escrituras: “Jesus lhes disse: ‘Minha mulher...” A frase é interrompida neste ponto, mas, na linha de baixo, lê-se “...ela será capaz de ser minha discípula”. 

“A tradição cristã sustentou por muito tempo que Jesus não era casado, mesmo sem provas históricas confiáveis para corroborar essa afirmação”, disse em nota a historiadora Karen King, que anunciou a descoberta num encontro de especialistas na cultura copta em Roma. Entretanto, Karen, de 58 anos, que já publicou vários livros sobre descobertas recentes relativas aos Evangelhos, lembra que “esse novo evangelho não prova que Jesus foi casado”. 

A origem do fragmento é um mistério, assim como a identidade de seu proprietário, que preferiu o anonimato. Até ontem, a historiadora o havia mostrado apenas a um seleto grupo de especialistas em papirologia e na língua copta. Eles concluíram que a probabilidade de o fragmento ser falso é remota. Mesmo com tantas questões pendentes, a descoberta pode reacender o debate em torno da polêmica: Jesus foi casado? Maria Madalena foi sua mulher? Ele teve uma mulher entre seus apóstolos? São perguntas feitas desde os primeiros séculos da Cristandade, mas que se tornam relevantes hoje com o debate em torno da possibilidade de mulheres assumirem funções de padres. 

Ineditismo. 
Antes de partir para Roma, Karen recebeu em seu escritório, na quinta-feira, os jornais The New York Times, The Boston Globe e uma revista de Harvard. Apesar de reiterar que sua descoberta não prova que o Jesus histórico tenha sido casado, ela disse que o achado é “excitante” porque é a primeira declaração atribuída a Jesus ele diz que tinha uma mulher. 

“Esse fragmento sugere que alguns dos primeiros cristãos tinham uma tradição na qual Jesus era casado”, diz ela. “Sabemos que existia uma controvérsia no século 2 sobre o casamento de Jesus, assim como um debate sobre se os cristãos deveriam se casar ou fazer sexo.” 

Karen diz que ficou sabendo do que chama de “O Evangelho da Mulher de Jesus” quando recebeu, em 2010, um e-mail de um colecionador de papiros coptas, gregos e arábicos com um pedido de ajuda para traduzir o documento, O colecionador o comprou em 1997 de um professor de egiptologia alemão. Não se sabe onde, quando ou como o papiro foi descoberto originalmente. 

Karen recebeu o fragmento de dezembro passado. Após três meses, ela o levou a Nova York para mostrá-lo a dois papirologistas, das renomadas Universidades de Nova York e Princeton. Eles concluíram que “é algo impossível de falsificar” e que o significado das palavras “minha mulher” não pode ser questionado. A idade do fragmento será confirmada por espectroscopia. 

A pesquisa de Karen deve ser publicada em janeiro na revista Harvard Theological Review. Ariel Shisha-Halevy, um respeitado especialista em copta da Universidade Hebraica de Jerusalém, também consultado pela especialista, disse acreditar que “o texto é autêntico”. 

quinta-feira, 7 de junho de 2012

O que significa Corpus Christi?

Google 

Corpus Christi (expressão latina que significa Corpo de Cristo) é uma festa Cristã. É um evento baseado em tradições católicas. É realizada na quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade que, por sua vez, acontece no domingo seguinte ao de Pentecostes. É uma festa de 'preceito', isto é, para os católicos é de comparecimento obrigatório participar da Missa neste dia, na forma estabelecida pela Conferência Episcopal do país respectivo. 

A procissão pelas vias públicas, quando é feita, atende a uma recomendação do Código de Direito Canônico (cân. 944) que determina ao Bispo diocesano que a providencie, onde for possível, "para testemunhar publicamente a adoração e a veneração para com a Santíssima Eucaristia, principalmente na solenidade do Corpo e Sangue de Cristo." 

É recomendado que nestas datas, a não ser por causa grave e urgente, não se ausente da diocese o Bispo (cân. 395). História Procissão de Corpus Christi, Moosburgo, Alemanha, 2005.

História
A origem da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo remonta ao Século XIII. 
A Igreja Católica sentiu necessidade de realçar a presença real do "Cristo todo" no pão consagrado. A Festa de Corpus Christi foi instituída pelo Papa Urbano IV com a Bula ‘Transiturus’ de 11 de agosto de 1264, para ser celebrada na quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade, que acontece no domingo depois de Pentecostes. 

O Papa Urbano IV foi o cônego Tiago Pantaleão de Troyes, arcediago do Cabido Diocesano de Liège na Bélgica, que recebeu o segredo das visões da freira agostiniana, Juliana de Mont Cornillon que teve visões de Cristo demonstrando desejo de que o mistério da Eucaristia fosse celebrado com destaque. 

Por solicitação do Papa Urbano IV, que na época governava a igreja, os objetos milagrosos foram para Orviedo em grande procissão, sendo recebidos solenemente por sua santidade e levados para a Catedral de Santa Prisca. Esta foi a primeira procissão do Corporal Eucarístico. A 11 de agosto de 1264, o Papa lançou de Orviedo para o mundo católico através da bula Transiturus do Mundo o preceito de uma festa com extraordinária solenidade em honra do Corpo do Senhor. 

A festa de Corpus Christi foi decretada em 1269. 

A Festa no Brasil

 Em muitas cidades portuguesas e brasileiras é costume ornamentar as ruas por onde passa a procissão com tapetes de colorido vivo e desenhos de inspiração religiosa. Esta festividade de longa data se constitui uma tradição no Brasil, principalmente nas cidades históricas, que se revestem de práticas antigas e tradicionais e que são embelezadas com decorações de acordo com costumes locais.

Em Pirenópolis, Goiás, é uma tradição os tapetes de serragem colorida e flores do cerrado, cobrindo as ruas por onde passa-se a procissão de Corpus Christi, também enfeita-se cinco altares para a adoração do Santíssimo Sacramento, e execução do cântico latino Tamtum Ergo Sacramentum, esta procissão é acompanhada pela Irmandade do Santíssimo Sacramento e pela Orquestra e Coral Nossa Senhora do Rosário. É neste dia que o Imperador do Divino recebe a coroa para a realização da Festa do Divino de Pirenópolis, do ano seguinte.

sábado, 12 de maio de 2012

Concílio Vaticano II, há 50 anos

Dom Odilo P. Scherer (*) para O Estado de S.Paulo 

No dia 11 de outubro de 1962, o papa João XXIII abria de modo solene do Concílio Ecumênico Vaticano II. No dia 11 de outubro deste ano, Bento XVI abrirá as comemorações do cinquentenário desse Concílio, que foi o evento mais marcante da Igreja Católica no século 20 e um dos mais importantes de toda a sua história, quase bimilenar.

No Concílio Ecumênico - reunião dos bispos da Igreja Católica inteira com o papa - são definidas as questões fundamentais da vida da Igreja. Sua referência e sua imagem são sempre a assembleia apostólica de Jerusalém, ainda no início do cristianismo, quando os apóstolos se reuniram para decidir sobre uma questão posta por Paulo e Barnabé, destacados missionários entre os povos pagãos (cf. Atos dos Apóstolos, 15). O que se decide no Concílio Ecumênico vale para toda a Igreja, ali representada pelos seus responsáveis maiores. Ao longo da História, os Concílios Ecumênicos foram 21, realizados, sobretudo, nos primeiros séculos do cristianismo; nos últimos 500 anos foram celebrados apenas três: o de Trento, no século 16; o Vaticano I, no século 19, e o Vaticano II, no século 20. 

Que questões, tão importantes, teriam motivado João XXIII a convocar, de maneira surpreendente, no dia 25 de janeiro de 1959, um Concílio da Igreja Católica? Pio XI e Pio XII, seus predecessores imediatos, também tiveram essa ideia e até mandaram fazer estudos com vista à convocação de um novo Concílio. No entanto, para estupor dos cardeais que o rodeavam, foi justamente o papa Angelo Giuseppe Roncalli, eleito com 78 anos de idade, ainda nos primeiros meses de seu pontificado, que o levou a efeito. 

É importante situar essa decisão. O mundo ainda se recuperava da catastrófica 2.ª Guerra Mundial; sob o impulso da Organização das Nações Unidas (ONU), coisas novas iam aparecendo, como a cooperação internacional para o desenvolvimento dos povos e um novo surto de crescimento econômico, sobretudo no Hemisfério Norte; nações africanas iam ficando independentes... Ao mesmo tempo, surgiam tensões e conflitos locais, a pobreza dos países periféricos ficava mais evidente e novos sistemas de dependência se configuravam entre os países. Preocupação maior, porém, era a guerra fria, que contrapunha de maneira cada vez mais ríspida os dois blocos dominantes: o capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o socialista, liderado pela União Soviética. A estabilidade da paz e os avanços no respeito à dignidade humana, conseguidos ao preço de muita dor, sangue e ódio, estavam novamente ameaçados.