Padre Marcelo busca catolicismo de massas, mas menos atento às questões sociais
Ricardo Mariano (*)
A guinada conservadora católica, o acelerado declínio numérico da filial brasileira da Santa Sé e avalanche pentecostal acirraram a competição entre católicos e evangélicos a partir de 1980. Essa peleja deflagrou uma disputa religiosa pelo espaço público e uma desenfreada ocupação religiosa da mídia e da política partidária.
Desde então tele-evangelistas, padres-celebridades e cantores gospel tornaram-se onipresentes na mídia eletrônica, emissoras de TV pentecostais e católicas brotaram como cogumelos, rebanhos religiosos viram-se tratados como currais eleitorais, igrejas passaram a formar bancadas parlamentares, a expandir seu poder nos legislativos e a controlar partidos, discursos moralistas reacionários de inspiração bíblica tomaram de assalto as eleições.
Dia de Finados é transformado em festa em templo de padre Marcelo.
Com 50 mil fiéis, padre Marcelo inaugura novo templo em São Paulo Padre Marcelo diz estar 'em falta' com Haddad, que não vai à abertura
A ocupação religiosa do espaço público, sobretudo nas capitais e regiões metropolitanas, tornou-se ainda mais monumental, mais espetacular e mais triunfalista. Tudo para causar o maior impacto evangelístico, gerar a maior visibilidade pública e revestir seus líderes e suas organizações religiosas de maior poder, status e legitimidade.
Foi por isso que católicos, liderados por carismáticos e suas comunidades, e neopentecostais, turbinados pela famigerada teologia da prosperidade, trataram de investir pesado em megaeventos, megasshows, megamarchas e megamissas e torrar fortunas na construção de imponentes santuários e catedrais.
Não é à toa que a inauguração do maior templo católico da América Latina ocorra nesse contexto de vigoroso ativismo religioso e de midiatização da religião intensificado por uma concorrência inter-religiosa sem precedentes na história nacional.
Autor do slogan "sou feliz porque sou católico" e líder religioso mais popular do país, padre Marcelo Rossi foi o idealizador do Santuário Theotokos "" Mãe de Deus. A fim de resgatar as ovelhas desgarradas do rebanho e de impedir o "avanço das seitas", o sacerdote multimídia, multitarefa e workaholic tem trabalhado, em ritmo toyotista anos a fio, como cantor, ator, escritor, radialista e tele-evangelista, militado no Twitter e no Facebook e, de quebra, acolhido romarias de políticos às missas em busca da bênção nas urnas. Em reconhecimento a seus feitos, o papa Bento 16 lhe deu o Prêmio Van Thuân, em 2010.
No novo santuário, Marcelo Rossi ocupará um palco muito maior e mais reluzente para cantar seus louvores e baladas, coreografar a "aeróbica do Senhor", receber celebridades, agitar, entreter e emocionar as multidões de seguidores, benzer seus objetos pessoais e lançar-lhes baldes de água benta ao fim de cada show-missa.
Assim ele vai contribuindo para configurar um catolicismo de massas alegre, corpóreo, sensorial, emotivo, mágico, midiático, terapêutico, taumatúrgico, moral e teologicamente conservador. Mais popular, mas menos intelectualizado e menos atento aos problemas socioeconômicos.
(*) Professor da PUC-RS, é autor de "Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil" (Loyola)
Ricardo Mariano (*)
A guinada conservadora católica, o acelerado declínio numérico da filial brasileira da Santa Sé e avalanche pentecostal acirraram a competição entre católicos e evangélicos a partir de 1980. Essa peleja deflagrou uma disputa religiosa pelo espaço público e uma desenfreada ocupação religiosa da mídia e da política partidária.
Desde então tele-evangelistas, padres-celebridades e cantores gospel tornaram-se onipresentes na mídia eletrônica, emissoras de TV pentecostais e católicas brotaram como cogumelos, rebanhos religiosos viram-se tratados como currais eleitorais, igrejas passaram a formar bancadas parlamentares, a expandir seu poder nos legislativos e a controlar partidos, discursos moralistas reacionários de inspiração bíblica tomaram de assalto as eleições.
Dia de Finados é transformado em festa em templo de padre Marcelo.
Com 50 mil fiéis, padre Marcelo inaugura novo templo em São Paulo Padre Marcelo diz estar 'em falta' com Haddad, que não vai à abertura
A ocupação religiosa do espaço público, sobretudo nas capitais e regiões metropolitanas, tornou-se ainda mais monumental, mais espetacular e mais triunfalista. Tudo para causar o maior impacto evangelístico, gerar a maior visibilidade pública e revestir seus líderes e suas organizações religiosas de maior poder, status e legitimidade.
Foi por isso que católicos, liderados por carismáticos e suas comunidades, e neopentecostais, turbinados pela famigerada teologia da prosperidade, trataram de investir pesado em megaeventos, megasshows, megamarchas e megamissas e torrar fortunas na construção de imponentes santuários e catedrais.
Não é à toa que a inauguração do maior templo católico da América Latina ocorra nesse contexto de vigoroso ativismo religioso e de midiatização da religião intensificado por uma concorrência inter-religiosa sem precedentes na história nacional.
Autor do slogan "sou feliz porque sou católico" e líder religioso mais popular do país, padre Marcelo Rossi foi o idealizador do Santuário Theotokos "" Mãe de Deus. A fim de resgatar as ovelhas desgarradas do rebanho e de impedir o "avanço das seitas", o sacerdote multimídia, multitarefa e workaholic tem trabalhado, em ritmo toyotista anos a fio, como cantor, ator, escritor, radialista e tele-evangelista, militado no Twitter e no Facebook e, de quebra, acolhido romarias de políticos às missas em busca da bênção nas urnas. Em reconhecimento a seus feitos, o papa Bento 16 lhe deu o Prêmio Van Thuân, em 2010.
No novo santuário, Marcelo Rossi ocupará um palco muito maior e mais reluzente para cantar seus louvores e baladas, coreografar a "aeróbica do Senhor", receber celebridades, agitar, entreter e emocionar as multidões de seguidores, benzer seus objetos pessoais e lançar-lhes baldes de água benta ao fim de cada show-missa.
Assim ele vai contribuindo para configurar um catolicismo de massas alegre, corpóreo, sensorial, emotivo, mágico, midiático, terapêutico, taumatúrgico, moral e teologicamente conservador. Mais popular, mas menos intelectualizado e menos atento aos problemas socioeconômicos.
(*) Professor da PUC-RS, é autor de "Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil" (Loyola)
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