Opinião do Estadão
Acabou em farsa, como se esperava, a CPI do Cachoeira, criada "oficialmente" para apurar os negócios do bicheiro Carlos Augusto Ramos com políticos, autoridades e empresários. A maioria governista de deputados e senadores bloqueou a tentativa da oposição de prorrogar a investigação por seis meses para dar tempo à eventual aprovação de pelo menos 500 pedidos de convocação de depoentes e de quebras de sigilos bancário, telefônico e fiscal. A farsa está na decisão, referendada por mais de 250 parlamentares das duas Casas do Congresso, de prorrogar, sim, o inquérito, mas por ridículos 48 dias, até o início do recesso de verão, em 22 de dezembro. E só para que o deputado Odair Cunha, do PT de Minas Gerais, apresente o relatório final com as conclusões do inquérito iniciado em maio - o que ele pretende fazer até o próximo dia 20. A CPI não voltará a se reunir nem antes nem depois dessa data.
A óbvia intenção dos governistas era impedir que se aprofundasse o exame das relações entre as empresas fantasmas do esquema do contraventor e a empreiteira Delta, do notório Fernando Cavendish, que certa vez proclamou que, "se botar 30 milhões na mão de um político", seria convidado "pra coisa pra...".
Acredita-se que no mínimo 13 firmas de fachada, cujos sigilos a comissão manteve providencialmente intactos, mantinham lucrativas parcerias com a construtora. "As investigações indicam que o Cachoeira é parte da organização criminosa", aponta o senador Randolfe Rodrigues, do PSOL do Amapá, "e que o cabeça do esquema é a Delta." É o que parecem pensar os frustrados integrantes da CPI que verdadeiramente se empenharam em desemaranhar a teia de contatos do operoso bicheiro de Goiás. "Estamos jogando o lixo para debaixo do tapete, e o lixo está fedendo." resume em português claro o senador Pedro Taques, do PDT de Mato Grosso.
Para os petistas que insistiram na abertura do inquérito, só interessava levar ao pelourinho o governador goiano Marconi Perillo, do PSDB. O ex-presidente Lula nunca o perdoou por ter revelado que certa vez o advertira dos rumores sobre o suborno de deputados federais que entraria para a história como mensalão. E, de fato, o tucano e membros do seu governo mantinham relações promíscuas com o contraventor - a quem Perillo, numa operação até agora mal contada, chegou a vender uma casa. Além disso, a CPI poderia servir de contraponto ao julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal se fosse possível, e se não fosse, conseguir o seu adiamento sabe-se lá para quando. Os companheiros começaram a ficar inquietos à medida que os fatos empurravam a Delta para o proscênio. Assim como Cachoeira antes dele, Cavendish entrou mudo e saiu calado da CPI, em fins de agosto. Mas o problema continuou do mesmo tamanho.
Era imperativo, portanto, prevenir os possíveis danos para o Planalto da exposição da empreiteira recordista em contratos com o governo federal desde a ascensão de Lula e principal executora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Só no ano passado, a Delta faturou R$ 862,4 milhões por obras em 20 Estados. A massa de irregularidades identificadas nos respectivos contratos, no valor de R$ 632 milhões, levou a Controladoria-Geral da União a considerar a empresa "inidônea". Novos depoimentos e quebras de sigilo poderiam revelar falcatruas envolvendo autoridades. Pelo sim, pelo não, melhor não mexer no vespeiro. A operação-abafa convinha igualmente ao PMDB, que na campanha de 2010, aliás, compartilhou com o PT doações da Delta da ordem de R$ 2,3 milhões. Afinal, como é arquissabido, o governador peemedebista do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e Cavendish são unha e carne. Em cinco anos, a Delta fechou com o Estado contratos de aproximadamente R$ 1,5 bilhão.
Nem o Congresso nem a Polícia Federal acharam algum indício de conduta ilícita de Cabral. Mas nada de facilitar. Em meados de maio, o deputado Cândido Vaccarezza, do PT paulista, foi flagrado numa sessão da CPI mandando pelo celular ao governador a memorável mensagem: "(...) Não se preocupe, você é nosso e nós somos teu". Na CPI deles, valeu o escrito.
Acabou em farsa, como se esperava, a CPI do Cachoeira, criada "oficialmente" para apurar os negócios do bicheiro Carlos Augusto Ramos com políticos, autoridades e empresários. A maioria governista de deputados e senadores bloqueou a tentativa da oposição de prorrogar a investigação por seis meses para dar tempo à eventual aprovação de pelo menos 500 pedidos de convocação de depoentes e de quebras de sigilos bancário, telefônico e fiscal. A farsa está na decisão, referendada por mais de 250 parlamentares das duas Casas do Congresso, de prorrogar, sim, o inquérito, mas por ridículos 48 dias, até o início do recesso de verão, em 22 de dezembro. E só para que o deputado Odair Cunha, do PT de Minas Gerais, apresente o relatório final com as conclusões do inquérito iniciado em maio - o que ele pretende fazer até o próximo dia 20. A CPI não voltará a se reunir nem antes nem depois dessa data.
A óbvia intenção dos governistas era impedir que se aprofundasse o exame das relações entre as empresas fantasmas do esquema do contraventor e a empreiteira Delta, do notório Fernando Cavendish, que certa vez proclamou que, "se botar 30 milhões na mão de um político", seria convidado "pra coisa pra...".
Acredita-se que no mínimo 13 firmas de fachada, cujos sigilos a comissão manteve providencialmente intactos, mantinham lucrativas parcerias com a construtora. "As investigações indicam que o Cachoeira é parte da organização criminosa", aponta o senador Randolfe Rodrigues, do PSOL do Amapá, "e que o cabeça do esquema é a Delta." É o que parecem pensar os frustrados integrantes da CPI que verdadeiramente se empenharam em desemaranhar a teia de contatos do operoso bicheiro de Goiás. "Estamos jogando o lixo para debaixo do tapete, e o lixo está fedendo." resume em português claro o senador Pedro Taques, do PDT de Mato Grosso.
Para os petistas que insistiram na abertura do inquérito, só interessava levar ao pelourinho o governador goiano Marconi Perillo, do PSDB. O ex-presidente Lula nunca o perdoou por ter revelado que certa vez o advertira dos rumores sobre o suborno de deputados federais que entraria para a história como mensalão. E, de fato, o tucano e membros do seu governo mantinham relações promíscuas com o contraventor - a quem Perillo, numa operação até agora mal contada, chegou a vender uma casa. Além disso, a CPI poderia servir de contraponto ao julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal se fosse possível, e se não fosse, conseguir o seu adiamento sabe-se lá para quando. Os companheiros começaram a ficar inquietos à medida que os fatos empurravam a Delta para o proscênio. Assim como Cachoeira antes dele, Cavendish entrou mudo e saiu calado da CPI, em fins de agosto. Mas o problema continuou do mesmo tamanho.
Era imperativo, portanto, prevenir os possíveis danos para o Planalto da exposição da empreiteira recordista em contratos com o governo federal desde a ascensão de Lula e principal executora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Só no ano passado, a Delta faturou R$ 862,4 milhões por obras em 20 Estados. A massa de irregularidades identificadas nos respectivos contratos, no valor de R$ 632 milhões, levou a Controladoria-Geral da União a considerar a empresa "inidônea". Novos depoimentos e quebras de sigilo poderiam revelar falcatruas envolvendo autoridades. Pelo sim, pelo não, melhor não mexer no vespeiro. A operação-abafa convinha igualmente ao PMDB, que na campanha de 2010, aliás, compartilhou com o PT doações da Delta da ordem de R$ 2,3 milhões. Afinal, como é arquissabido, o governador peemedebista do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e Cavendish são unha e carne. Em cinco anos, a Delta fechou com o Estado contratos de aproximadamente R$ 1,5 bilhão.
Nem o Congresso nem a Polícia Federal acharam algum indício de conduta ilícita de Cabral. Mas nada de facilitar. Em meados de maio, o deputado Cândido Vaccarezza, do PT paulista, foi flagrado numa sessão da CPI mandando pelo celular ao governador a memorável mensagem: "(...) Não se preocupe, você é nosso e nós somos teu". Na CPI deles, valeu o escrito.
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