Renato Gomes Nery (*)
Recebi uma crítica severa de uma querida amiga minha por ter dito a ela que votei em branco neste segundo turno das eleições municipais de Cuiabá. Ela teve inclusive a descortesia e a deselegância de me chamar de covarde. De estar em cima do muro e de não tomar posição. Quero afirmar que estamos num regime democrático que curiosamente nos obriga a votar num candidato, a votar em branco e até de anular o voto. E nestas eleições, as abstenções, os votos nulos e brancos aproximaram de 20% dos eleitores. Se fossem computados estes votos, o peso eleitoral deles se invalidaria o sufrágio do vencedor.
Foi uma pantomima a campanha eleitoral com um circo de promessas irrealizáveis. A se cumprir metade destas promessas, Cuiabá se transformará em uma Berna ou numa Estocolmo tropical. A exploração de beijos, abraços e internação em hospital, demonstra que nossa historia político-eleitoral é extremante precária. Bem como que os políticos estão nas mãos inescrupulosas de marqueteiros que usam qualquer coisa para ganhar eleições, inclusive a coragem e a fragilidade das mulheres dos candidatos. É a democracia na sua mais sórdida versão.
E por que votei em branco? Por que os donos do poder se dividiram em dois blocos e cada um deles apoiou um dos dois candidatos viáveis. Portanto, ganha quem ganhar eles serão vitoriosos. Este episódio me lembra a historia do Cel. Simplício, no interior da Bahia, contada pelo pai: “morra quem morrer o Cel. Simplício será o herdeiro”. E tudo começa no equívoco de que rico por estar rico não se locupleta ainda mais. Esquecendo-se de o saco do interesse não tem fundos. E os donos do poder continuam a se locupletar sem pejo e nem piedade. Mesmo que as crianças não tenham educação de qualidade e a segurança seja precária. Mesmo que tenha que fechar hospitais e planos de saúde. Mesmo que os nossos irmãos morram nas filas de hospitais e pronto socorros.
Termino este artigo com um trecho da crônica de Ruben Braga denominada Véspera de São João no Recife publicada no livro 200 Crônicas Escolhidas – Editora Record – 2005 – pag. 31: “Amanhã João, esse povo continuará a vida. Por que a destrói com teus fogos, João? Amanhã, os pobres estarão mais pobres e os ricos os esmagarão, e muitos homens irão clamar nas cadeias como tu clamares. João amanhã outra vez a miséria das donos da vida continuará a deturpar a beleza da vida; as moças suburbanas irão perder a sua beleza no trabalho escravo; as crianças continuarão a crescer magras e ignorantes; o suor dos homens será explorado. João, João, inútil João o povo está gemendo, as metralhadoras se viram para os peitos populares. Ninguém dividiu as túnicas e os pães como tu mandaste, João inútil João”.
(*) Advogado em Cuiabá.
E-mail – rgnery@terra.com.br
Recebi uma crítica severa de uma querida amiga minha por ter dito a ela que votei em branco neste segundo turno das eleições municipais de Cuiabá. Ela teve inclusive a descortesia e a deselegância de me chamar de covarde. De estar em cima do muro e de não tomar posição. Quero afirmar que estamos num regime democrático que curiosamente nos obriga a votar num candidato, a votar em branco e até de anular o voto. E nestas eleições, as abstenções, os votos nulos e brancos aproximaram de 20% dos eleitores. Se fossem computados estes votos, o peso eleitoral deles se invalidaria o sufrágio do vencedor.
Foi uma pantomima a campanha eleitoral com um circo de promessas irrealizáveis. A se cumprir metade destas promessas, Cuiabá se transformará em uma Berna ou numa Estocolmo tropical. A exploração de beijos, abraços e internação em hospital, demonstra que nossa historia político-eleitoral é extremante precária. Bem como que os políticos estão nas mãos inescrupulosas de marqueteiros que usam qualquer coisa para ganhar eleições, inclusive a coragem e a fragilidade das mulheres dos candidatos. É a democracia na sua mais sórdida versão.
E por que votei em branco? Por que os donos do poder se dividiram em dois blocos e cada um deles apoiou um dos dois candidatos viáveis. Portanto, ganha quem ganhar eles serão vitoriosos. Este episódio me lembra a historia do Cel. Simplício, no interior da Bahia, contada pelo pai: “morra quem morrer o Cel. Simplício será o herdeiro”. E tudo começa no equívoco de que rico por estar rico não se locupleta ainda mais. Esquecendo-se de o saco do interesse não tem fundos. E os donos do poder continuam a se locupletar sem pejo e nem piedade. Mesmo que as crianças não tenham educação de qualidade e a segurança seja precária. Mesmo que tenha que fechar hospitais e planos de saúde. Mesmo que os nossos irmãos morram nas filas de hospitais e pronto socorros.
Termino este artigo com um trecho da crônica de Ruben Braga denominada Véspera de São João no Recife publicada no livro 200 Crônicas Escolhidas – Editora Record – 2005 – pag. 31: “Amanhã João, esse povo continuará a vida. Por que a destrói com teus fogos, João? Amanhã, os pobres estarão mais pobres e os ricos os esmagarão, e muitos homens irão clamar nas cadeias como tu clamares. João amanhã outra vez a miséria das donos da vida continuará a deturpar a beleza da vida; as moças suburbanas irão perder a sua beleza no trabalho escravo; as crianças continuarão a crescer magras e ignorantes; o suor dos homens será explorado. João, João, inútil João o povo está gemendo, as metralhadoras se viram para os peitos populares. Ninguém dividiu as túnicas e os pães como tu mandaste, João inútil João”.
(*) Advogado em Cuiabá.
E-mail – rgnery@terra.com.br
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