quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Agrotóxico nocivo

Governo contraria regra e aprova agrotóxico mais nocivo à saúde 

Folha de São Paulo 

agrotoxicos-68046_150x150.jpg (150×150)A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) contrariou procedimentos internos e aprovou, em fevereiro, a liberação de um agrotóxico mais nocivo à saúde do que outro que já estava à venda, com o mesmo princípio ativo e para o mesmo fim. 

O inseticida para cana Singular BR, da Ourofino Agronegócio, passou pela avaliação da Anvisa e obteve registro no Ministério da Agricultura mesmo sendo mais tóxico do que seu produto de referência, o Regent 800 WG, da Basf, há anos no mercado. 
O Singular e outros seis produtos de quatro empresas estão no centro das denúncias do ex-gerente de toxicologia da Anvisa, Luiz Cláudio Meirelles, exonerado enquanto fazia apurações internas. 

A lei dos agrotóxicos, de 1989, proíbe o registro de um novo produto que seja mais tóxico do que outro já registrado para o mesmo fim. O registro é obrigatório para um defensivo ser comercializado. 
O propósito da lei é proteger a saúde humana e a natureza e estimular as empresas a buscar soluções tecnológicas menos danosas. 


A Anvisa disse, em nota, que esse é um processo que está sendo auditado e que, por isso, só irá se pronunciar depois das apurações. 
De modo geral, porém, a agência afirmou que passou a aprovar neste ano registros de produtos mais tóxicos que os de referência. Antes, a Anvisa orientava as empresas a reformulá-los, de modo a torná-los menos nocivos. 

A mudança se baseou em parecer da AGU (Advocacia-Geral da União), favorável ao pedido de uma empresa. 
O parecer, de março, é posterior à aprovação do Singular BR. O inseticida está com registro válido no Ministério da Agricultura e deve ser lançado no próximo mês. 

A Ourofino é a mesma empresa que, em 2011, emprestou jatinho ao então ministro da Agricultura, Wagner Rossi (PMDB). O episódio acelerou sua saída do governo. 

 NOVO ENTENDIMENTO 
A Anvisa pediu parecer da AGU após questionamento da CCAB Agro, que estava prestes a ter um de seus produtos, mais tóxico que o de referência, barrado pelo órgão. 

No ofício à AGU, a agência diz, sem citar nomes, que a empresa recorrera a congressistas para pressioná-la. 
A CCAB nasceu da união de 15 grandes cooperativas de produtores rurais. 

Em resposta à Anvisa, a AGU argumentou que o decreto de 2002 que regulamenta a lei dos agrotóxicos muda a definição dos "novos produtos", restringindo a exigência de menor risco toxicológico somente a produtos com "ingrediente ativo ainda não registrado no Brasil". 
Assim, a CCAB obteve o registro do Acetamiprid CCAB 200 SP sob o argumento de que o ingrediente acetamiprido já tinha registro no país. 

O caso foi parar na Justiça Federal em São Paulo. A fabricante do produto de referência do Acetamiprid moveu ação contra a União pedindo a suspensão do registro, com base na lei de 1989. 
Em decisão liminar, a Justiça mandou suspender neste mês o registro do Acetamiprid com base no "direito ao meio ambiente saudável e direito à saúde". Cabe recurso. 

OUTRO LADO 
A Anvisa afirmou, em nota, que o Singular BR é um dos produtos sob investigação no órgão e que somente irá se pronunciar sobre o caso após concluí-la. 

Questionada sobre a liberação de agrotóxicos que oferecem maior risco à saúde do outros já registrados para o mesmo fim, a Anvisa disse que "vinha adotando o posicionamento de não registrá-los", mas mudou de estratégia após o parecer da Advocacia-Geral da União. 
A Folha procurou a empresa que fez o questionamento à Anvisa, a CCAB Agro, mas não conseguiu falar com seus representantes ontem. 

O Ministério da Agricultura também não se pronunciou sobre o caso. 

A Ourofino afirmou que a classificação toxicológica é estabelecida pela Anvisa "de acordo com a legislação vigente". Disse também que atendeu a os requisitos e que vai lançar o produto dia 3.

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