quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Como se isso fosse uma grande novidade ...

Outro motivo de vergonha para a Copa de 2014. Acordo feito em 2010 para a construção das arenas foi só para ganhar votos e apoio popular. Políticos brasileiros enganam até presidiários… 

Cosme Rimoli (*)
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Nada como não confiar em políticos. 
Principalmente quando eles querem a liberação de verbas. 
E quando eles fazem tudo para ficar bem com a opinião pública. 
Quando o assunto é futebol, Copa do Mundo, eles fazem uma conexão imediata. 

Cada torcedor é um eleitor. 
E capricham nas promessas. 
Principalmente envolvendo a construção das arenas para o Mundial de 2014. 
Muitas promessas, como prazos e principalmente gastos, foram esquecidas. 

Operários já tiveram de fazer greve denunciando comida podre. 
Atraso de pagamento e falta de banheiros. 
No Mineirão, por exemplo, eles faziam suas necessidades fisiológicas entre os entulhos do novo estádio. 
Tudo é muito bonito de longe. 

Como agora mais uma denúncia. 
Ela mostra mais do que o descaso, a falta de palavra de quem organiza a Copa. 

Em janeiro de 2010, para ganhar a opinião pública, foi criado o projeto Começar de Novo. Governadores, prefeitos, mais o Ministério do Esporte, o Conselho Nacional de Justiça e o Comitê Organizador Local se reuniram. 
E cheios de boa vontade criaram um projeto. 
Nome lindo, poético: 'Começar de Novo'. 


Ele reservava 5% das vagas de operários nas arenas para detentos em regime semiaberto. Valeria a remissão de pena. 
Para cada três dias trabalhados, um a menos na pena. 
E ainda 3/4 de um salário mínimo. 

Tudo lindo, maravilhoso. 
Em São Paulo, ficou ainda exemplar. 
Houve até uma solenidade no Palácio dos Bandeirantes em março de 2012. 
O governador Geraldo Alckmin fez um acordo com a Odebrecht. 

Em vez dos 110, que seria o número da cota combinada, seriam 300. 
Nada menos do que 300 detentos para trabalhar no Itaquerão. Um exemplo para o Brasil. Posou para fotos e ainda declarou para a posteridade: 
"Assim, reduziremos a reincidência criminal." 
Assim como, governador? 
Até hoje, nenhum detento colocou um tijolo sequer no Itaquerão. 

Em Porto Alegre, Recife, no Rio e em São Paulo o acordo não foi colocado em prática. Ficou só na promessa. 
Os governadores dos quatro Estados não mandaram sequer um preso para trabalhar nas novas arenas. 
E muito pior. 

Dos 12 nove estádios, só o de Natal cumpriu a promessa. 
Os 11 demais contam com muito menos ex-detentos do que deveriam. 
Vale a pena mostrar para a sociedade brasileira como os políticos brincam com as situações. 

Em Belo Horizonte, com 2.900 operários, deveriam ser 145 detentos. Hoje, são 16. 
Brasília com seus 4.000 operários, 200 era o acordado. São apenas cinco. 
Em Cuiabá, com 600 operários, a cota deveria ser de 30. São 12. 
Em Curitiba, 435 funcionários, 21 deveriam ser os detentos. São sete. 

Fortaleza usa 1.400 funcionários. Deveriam ser 70 detentos. São 11. 
Em Manaus, 1.200 operários. A cota chegaria a 60 detentos. São quatro. 
Em Porto Alegre, 450 funcionários, 22 utópicos presidiários. Na realidade, não há nenhum. No Recife, 4.070 operários. A cota não deixava dúvidas: 203 detentos. Não há um sequer. 

No Rio, 5.600 operários. Deveriam ser 280 detentos. Nenhum trabalha no novo Maracanã. Nenhum. 
Em Salvador, 1.455 operários. Deveriam ser 72 presidiários. Trabalham apenas 12. 
Em Natal, o melhor exemplo. São 1.200 operários. Deveriam ser 60 detentos. São 83. 

E São Paulo, no Itaquerão, são 2.200 operários. Deveriam ser 110 detentos. 
Mas Alckmin e a Odebrecht prometeram 300. Não há nenhum. 
O levantamento foi feito pelo Lance! 
É revoltante a capacidade que os políticos têm de prometer e não cumprir. 

Brincam com vidas, enganam. 
O Comitê Organizador Local não tinha nem conhecimento de mais esse abuso. 
As arenas estão, em média, com quase 45% das suas áreas construídas. 
Mesmo que detentos comecem a trabalhar agora, o acordo seria cumprido pela metade. 

Não há a menor vontade política de que isso seja colocado em prática. 
Mais uma situação constrangedora para a Copa de 2014. 
Lembrando que o Mundial deverá custar ao País mais de R$ 80 bilhões. 
Mais do que as três últimas Copas do Mundo somadas. 

Mais 12 arenas modernas sendo construídas. 
Quatro já há a certeza que serão elefantes brancos, não terão uso depois da Copa. 
Não há representatividade alguma o futebol de Manaus, Cuiabá, Natal e Brasília. 
Mas vale o ditado. 

A Fifa pediu, o submisso Brasil fez .....


(*) Jornalista e que por 22 anos atuou no Jornal da Tarde/SP. Comentarista esportivo da Rede Record

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