quarta-feira, 28 de novembro de 2012

As agências ofuscam o mensalão

Élio Gaspari (*)

elio_gaspari.jpg (320×170)Para o bem de todos e felicidade geral da nação, a Polícia Federal deveria colocar na internet os documentos disponíveis do inquérito que resultou na devassa dos computadores de Rosemary Noronha, chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo, e na prisão de cinco pessoas, entre as quais os irmãos Vieira. Rubens, da Agência Nacional de Aviação Civil, e Paulo, da Agência Nacional de Transportes Aquaviários. 

Estava escrito nas estrelas que a doutora Dilma teria uma encrenca com os amigos aerocratas de Lula. (O marido de Rosemary Noronha é assessor especial da Infraero, sua filha era assessora de Rubens, ex-ouvidor surdo da Anac, promovido a diretor de infraestrutura). 

A rede denunciada pela PF chegou à sala do segundo homem da Advocacia-Geral da União e, como joia de sua coroa, ia ao deputado Valdemar Costa Neto, que acaba de ser condenado a sete anos e dez meses de prisão por suas malfeitorias no caso do mensalão. Costa Neto sempre deu atenção a aduanas. 

Quem se lembra dos vazamentos administrados pela Polícia Federal no episódio de Carlos Cachoeira sabe que eles podem ser um mal a serviço do bem. Contudo, quem se recorda da Operação Satiagraha sente um frio na espinha. 

Entre as muitas maluquices do episódio, circulou a informação segundo a qual o financista Naji Nahas tinha informações privilegiadas sobre mudanças na taxa de juros dos Estados Unidos. Talvez tivesse também uma casa em Marte. 

Grampos vazados produzem emoções, e os de Carlos Cachoeira expuseram a amplitude de suas conexões. Há alguns anos, contudo, vazou uma conversa de Paulo Maluf com a secretária eletrônica do advogado Marcio Thomaz Bastos. O que ela provava? 


Os vazamentos comprometem o processo judicial. Ora satanizam, ora aliviam o demonizado depois que se verificam os exageros. Na sexta-feira, a companheira Rose era acusada de ter recebido R$ 650 mil. Nos dias seguintes esse detalhe sumiu. Na sexta, ela teria recebido ajuda para uma cirurgia plástica. Na segunda, teria sido uma propina para operar o ouvido. 

A existência de 1.169 telefonemas do restaurante de Paulo Vieira para um número do Partido da República, vazada no sábado, insinua muito, mas pode não provar nada. 

Os vazamentos são desnecessários. Há documentos disponíveis e eles podem ser postos na rede, para conhecimento público. 
Ao julgar o mensalão, o Supremo Tribunal Federal deu um exemplo da capacidade do Estado de punir malfeitores. Quis a sorte que esse sucesso ocorresse ao mesmo tempo em que naufragava a CPI de Carlinhos Cachoeira, iniciada depois de uma competente operação da PF. 

Num caso, deu-se o rigoroso funcionamento das instituições. No outro, expôs-se a futilidade dos espetáculos. 
A quadrilha que tinha um pé na chefia do escritório de Lula e da doutora Dilma em São Paulo permitirá o exame das relações criminosas existentes nas duas agências reguladoras. Puxado, esse fio pode mostrar mais que a própria investigação do mensalão, pois desta vez não há o atalho da fantasia do Caixa Dois. 

(*) Jornalista

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