Antero Greco (*)
O Palmeiras é um enigma difícil de decifrar. No atual Brasileiro, em que se sustém por um fio tênue, teve gol legítimo anulado e se calou; sofreu pênalti inexistente e fechou o bico; não viu marcada penalidade escandalosa em seu favor e se fez de folha; ficou com jogador a menos, por expulsão injustificada, e fingiu que a história não era com ele.
Enfim, acumulou um calhamaço de motivos para espernear por erros que ressaltaram a péssima campanha e ainda assim dormiu em berço esplêndido, à espera da reação que nunca veio. Na hora em que resolve agir, pois o laço no pescoço anda bem apertado e lhe falta ar, o faz de maneira que não condiz com a grandeza de sua quase história centenária.
No desespero diante do abismo do descenso, briga para anular um jogo que perdeu sem que houvesse maracutaia do rival. Que, é bom ressaltar, ganhou com lisura, na bola e por competência. A alegação para cancelar os 2 a 1 em favor do Internacional é a de que ocorreu erro de direito. Concentra esforços de advogados para reclamar que interferência externa influiu no resultado, uma vez que o juiz Francisco Nascimento voltou atrás na decisão de confirmar gol de Barcos depois de ouvir o quarto árbitro e o delegado da partida.
A discussão já seria bem polêmica por si só, daria muito pano pra manga, se o Palmeiras fosse vítima de mais um dos tantos equívocos de que se lamenta na Série A deste ano. Mas veste roupagem extravagante, fantasmagórica, constrangedora, porque se baseia na defesa de um gol marcado com a mão. Um soco acintoso do centroavante, com a intenção de levar vantagem sobre os adversários e de induzir a arbitragem ao engano. Para aliviar a dor na consciência, agora se alega que ele só meteu a munheca na bola porque sofreu carga de Índio!
Não vou entrar na discussão jurídica, que isso é trabalho para os profissionais da área. Reservo-me o direito de manifestar-me como simples cidadão, como amante radical do futebol, como frequentador dos estádios desde os 9 anos de idade e como jornalista há quase 40.
Vi recursos absurdos no esporte, para se chegar à vitória. Alguns deles ao vivo – como o gol de mão de Luis Fabiano no Mundial de 2010 -, e não aplaudi. Não sou dos que se encantaram com o gol da “mano de Dios” feito por Maradona contra os ingleses na Copa de 1986, nem com o gol de Túlio numa Copa América pra cima dos argentinos. Gol de mão é desonestidade, tão reprovável como o roubo. Futebol é picardia, astúcia, inteligência, criatividade, drible. Não gol de mão.
O hino do Palmeiras fala em “transformar a lealdade em padrão” e o que se pretende, agora, é renegar também este símbolo do clube. Se quisesse de fato fazer um bem ao futebol, a diretoria deveria pedir ao tribunal que apurasse a eventual ajuda eletrônica que corrigiu a gafe do apitador. Constatado o procedimento não reconhecido pela Fifa, que Francisco Nascimento e colaboradores (todos) fossem punidos. Uma lição de moral e ponto final.
Torcer pela remarcação do duelo é de virar o estômago do palmeirense puro-sangue, daquele que aprendeu a amar um dos maiores vencedores do futebol nacional, dos que sempre viram um Palmeiras altivo e valente e não compactuam com mesquinharias. É desonrar a memória dos nonnos que largaram a Itália e fincaram raízes aqui, na base de suor e lágrimas. E que fundaram o Palestra como emblema de sua perseverança.
Se é pra cair, que o Palmeiras caia com dignidade e volte forte. Mas que não tente a sobrevida na Série A apegando-se a um infame gol de mão.
(*) Jornalista esportivo é colunista do jornal O Estado de São Paulo e comentarista da ESPN
O Palmeiras é um enigma difícil de decifrar. No atual Brasileiro, em que se sustém por um fio tênue, teve gol legítimo anulado e se calou; sofreu pênalti inexistente e fechou o bico; não viu marcada penalidade escandalosa em seu favor e se fez de folha; ficou com jogador a menos, por expulsão injustificada, e fingiu que a história não era com ele.
Enfim, acumulou um calhamaço de motivos para espernear por erros que ressaltaram a péssima campanha e ainda assim dormiu em berço esplêndido, à espera da reação que nunca veio. Na hora em que resolve agir, pois o laço no pescoço anda bem apertado e lhe falta ar, o faz de maneira que não condiz com a grandeza de sua quase história centenária.
No desespero diante do abismo do descenso, briga para anular um jogo que perdeu sem que houvesse maracutaia do rival. Que, é bom ressaltar, ganhou com lisura, na bola e por competência. A alegação para cancelar os 2 a 1 em favor do Internacional é a de que ocorreu erro de direito. Concentra esforços de advogados para reclamar que interferência externa influiu no resultado, uma vez que o juiz Francisco Nascimento voltou atrás na decisão de confirmar gol de Barcos depois de ouvir o quarto árbitro e o delegado da partida.
A discussão já seria bem polêmica por si só, daria muito pano pra manga, se o Palmeiras fosse vítima de mais um dos tantos equívocos de que se lamenta na Série A deste ano. Mas veste roupagem extravagante, fantasmagórica, constrangedora, porque se baseia na defesa de um gol marcado com a mão. Um soco acintoso do centroavante, com a intenção de levar vantagem sobre os adversários e de induzir a arbitragem ao engano. Para aliviar a dor na consciência, agora se alega que ele só meteu a munheca na bola porque sofreu carga de Índio!
Não vou entrar na discussão jurídica, que isso é trabalho para os profissionais da área. Reservo-me o direito de manifestar-me como simples cidadão, como amante radical do futebol, como frequentador dos estádios desde os 9 anos de idade e como jornalista há quase 40.
Vi recursos absurdos no esporte, para se chegar à vitória. Alguns deles ao vivo – como o gol de mão de Luis Fabiano no Mundial de 2010 -, e não aplaudi. Não sou dos que se encantaram com o gol da “mano de Dios” feito por Maradona contra os ingleses na Copa de 1986, nem com o gol de Túlio numa Copa América pra cima dos argentinos. Gol de mão é desonestidade, tão reprovável como o roubo. Futebol é picardia, astúcia, inteligência, criatividade, drible. Não gol de mão.
O hino do Palmeiras fala em “transformar a lealdade em padrão” e o que se pretende, agora, é renegar também este símbolo do clube. Se quisesse de fato fazer um bem ao futebol, a diretoria deveria pedir ao tribunal que apurasse a eventual ajuda eletrônica que corrigiu a gafe do apitador. Constatado o procedimento não reconhecido pela Fifa, que Francisco Nascimento e colaboradores (todos) fossem punidos. Uma lição de moral e ponto final.
Torcer pela remarcação do duelo é de virar o estômago do palmeirense puro-sangue, daquele que aprendeu a amar um dos maiores vencedores do futebol nacional, dos que sempre viram um Palmeiras altivo e valente e não compactuam com mesquinharias. É desonrar a memória dos nonnos que largaram a Itália e fincaram raízes aqui, na base de suor e lágrimas. E que fundaram o Palestra como emblema de sua perseverança.
Se é pra cair, que o Palmeiras caia com dignidade e volte forte. Mas que não tente a sobrevida na Série A apegando-se a um infame gol de mão.
(*) Jornalista esportivo é colunista do jornal O Estado de São Paulo e comentarista da ESPN
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