terça-feira, 19 de março de 2013

A religião tem futuro?

Hélio Schwartsman (*) 

Agora que a fumaça em torno do conclave que elegeu o papa Francisco se dissipou, arrisco perguntar se a religião tem futuro? 

No nível mais fundamental, a resposta é "sim". Depois de uma breve utopia iluminista, na qual a intelectualidade chegou a prognosticar a morte de Deus, o consenso científico parece caminhar para a classificação da religiosidade como um estilo cognitivo que dá mais ênfase às intuições geradas nos lobos temporais do que aos raciocínios lógicos produzidos no córtex pré-frontal. Isso significa que, enquanto contarmos com uma boa variedade de seres humanos, alguns deles deverão permanecer obstinadamente crentes. 

Daí não decorre, porém, que os clérigos estejam com a vida ganha. Há uma correlação negativa forte entre desenvolvimento social e religiosidade, da qual a Europa dá testemunho. Nos últimos 30 anos, a tendência geral no continente tem sido de forte queda da fé, como mostram pesquisas que questionam não apenas as crenças dos entrevistados mas também o peso que cada um deles atribuía à religião em sua vida. 

Um caso emblemático é o da Suécia. Como mostra Phil Zuckerman, menos de 20% dos suecos acreditam em um Deus pessoal. E este país nórdico, não custa lembrar, é um dos melhores lugares do mundo para viver, com uma democracia sólida, muita riqueza e bem distribuída, um amplo sistema de seguridade social, baixíssimas taxas de criminalidade, ótima educação etc. 

No outro extremo, países mais pobres tendem a ser os mais carolas. Pesquisa Gallup de 2009 classificou 114 nações pelo valor que suas populações atribuíam à fé. No topo, com 99% ou mais afirmando que a religião é importante em suas vidas, temos Bangladesh, Níger e Iêmen. 

Correlação, como se sabe, não é sinônimo de causa, mas a prioridade que o papa Francisco quer dar aos pobres pode ser, mais do que uma opção, uma questão de sobrevivência. 

(*) Jornalista , bacharel em filosofia e colunista da Folha de São Paulo

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