sexta-feira, 22 de março de 2013

Setor sucroalcoleiro sem política

Falta de política para setor sucroalcooleiro matará carro flex, diz Jank  

Globo Rural 


O ex-presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Marcos Jank, disse na última sexta-feira, em palestra na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que a falta de políticas públicas para o setor sucroalcooleiro deve incentivar ainda mais a oferta de etanol anidro, em detrimento do hidratado, o que pode desestimular as montadoras de veículos a continuar fabricando os carros flex, movidos a gasolina ou combustível renovável. 

Jank afirmou que a "anidrização" do setor já vem ocorrendo nos últimos anos, em virtude da falta de rentabilidade do etanol hidratado, que tem seus preços atrelados ao da gasolina, que ficaram congelados nos últimos seis anos. Ele explicou que a tendência de aumento da produção de álcool anidro se deve à perspectiva de expansão da exportação e crescimento do consumo interno, acompanhando a maior demanda pela gasolina. A partir de maio deste ano, a mistura do anidro à gasolina passa de 20% para 25%. 

O ex-presidente da Unica lembrou que o consumo do álcool hidratado já atingiu 55% da frota de veículos flex, este ano deve ficar em 30% e, se o governo não tomar nenhuma medida, deve cair para 15%. "A falta de política vai matar o carro flex", disse ele. No cenário atual, a previsão é de produção de 40 bilhões de litros de etanol, dos quais apenas 12 bilhões serão de hidratado. Da produção de 28 bilhões de litros de anidro, metade seria para exportação e outra parte para atender a mistura à gasolina no mercado interno. 

Na opinião do especialista, as medidas anunciadas pelo governo, como aumento de 6,6% no preço da gasolina nas refinarias, que resultam na alta de 5% no preço do etanol, e a desoneração dos impostos federais, são medidas paliativas, que melhorar as margens das empresas, mas não são suficientes para assegurar a retomada dos investimentos. Ele informou que, para o setor voltar a investir, é preciso ter uma política clara de preços dos combustíveis. Defendeu, ainda, que seja criado um sistema de bandas ou a média móvel de dois anos da cotação. "As empresas levam 3 anos para construir uma fábrica e precisam de um horizonte de 10 a 15 anos para recuperar seus investimentos", garantiu ele. 

Marcos Jank afirmou que a expansão da produção do etanol a partir de 2005, com a construção de 100 novas usinas e destilarias, foi "o voo da galinha", pois 40 foram desativadas. "Não se trata de uma crise do etanol e sim do setor de combustível", disse ele, lembrando que no ano passado a Petrobras registrou prejuízo de R$ 3 bilhões com a importação de gasolina. 

Outra medida defendida pelo ex-presidente da Unica para assegurar a retomada dos investimentos é a volta da incidência Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre a comercialização da gasolina. A alíquota foi zerada pelo governo federal em meados do ano passado, para neutralizar o aumento dos preços da gasolina sobre a inflação. 

Jank explicou que a incidência da Cide sobre a gasolina garantia a competitividade do etanol, que tem eficiência energética 30% menor. Ele acredita que políticas públicas que garantam previsibilidade de longo prazo podem levar as empresas a retomar os investimentos e construir 65 novas plantas até 2020. 

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