Editorial de O Globo
Os clubes brasileiros acumulam uma dívida astronômica, algo entre R$ 4 bilhões e R$ 5 bilhões, quase toda ela resultado de obrigações fiscais que deixaram de ser recolhidas. Somente das 12 agremiações de maior receita, a valor das contas espetadas vai a quase R$ 2 bilhões.
Como se trata de calote de maus pagadores, boa parte deles insolvente, o bolo devido aumenta a cada mês. A situação não é confortável sequer para os que dispõem de patrocinadores de peso: nesses casos, praticamente toda a receita de ações de marketing costuma ser engolida pelos buracos administrativos e exigências financeiras que inviabilizam planos e projetos.
É uma dívida criada pela irresponsabilidade gerencial de dirigentes que, livres de obrigações legais, comprometem receitas, envolvem as agremiações em operações financeiras de lastro duvidoso — enfim, tudo ao contrário do que recomendam os bons manuais de administração.
Por isso, deve-se ver com cuidado as propostas que o governo tem apresentado para zerar tais débitos. É fora de dúvida que se trata de dívida impagável diante da realidade de penúria dos clubes; mas, por outro lado, é preciso evitar que desmandos e falta de compromisso dos cartolas sejam premiados com o puro e simples perdão dos contenciosos por eles próprios criados.
Buscar uma saída para esse buraco fiscal é iniciativa saudável do governo e a solução ela passa por isenção tributária. A questão está em determinar em que medida a ajuda aos clubes contribuirá, de forma responsável, para restabelecer a saúde contábil das agremiações.
Quaisquer que sejam as propostas colocadas à mesa — entre elas a troca de dívidas fiscais por projetos sociais, ou o investimento em esportes olímpicos de alto rendimento —, é imperioso que, da parte beneficiada, sejam exigidas contrapartidas como a profissionalização gerencial e, no caso dos departamentos de futebol, que são de fato o motor dessas entidades, a adoção de modelos administrativos nos moldes dos que regem o funcionamento de empresas privadas, com o comprometimento patrimonial dos dirigentes, que precisam responder — legalmente e com a garantia de seus bens — por atos lesivos cometidos à frente dos clubes.
No âmbito das normas esportivas, é fundamental também que a CBF se alinhe com a moralização das gestões, punindo severamente as agremiações. Por fim, mas igualmente importante: a desoneração precisa ser acompanhada de instrumentos que impeçam os clubes de, uma vez aliviados das dívidas atuais, voltem a namorar a insolvência com gestões temerárias.
Tanto quanto atividade de lazer, o esporte — e, no caso do Brasil, principalmente o futebol — também se torna, cada vez mais, um setor que movimenta cifras milionárias e com papel importante na economia.
Assim como não se pode fechar os olhos para o buraco financeiro dos clubes, também é inaceitável que se trate o problema com paternalismo.
Os clubes brasileiros acumulam uma dívida astronômica, algo entre R$ 4 bilhões e R$ 5 bilhões, quase toda ela resultado de obrigações fiscais que deixaram de ser recolhidas. Somente das 12 agremiações de maior receita, a valor das contas espetadas vai a quase R$ 2 bilhões.
Como se trata de calote de maus pagadores, boa parte deles insolvente, o bolo devido aumenta a cada mês. A situação não é confortável sequer para os que dispõem de patrocinadores de peso: nesses casos, praticamente toda a receita de ações de marketing costuma ser engolida pelos buracos administrativos e exigências financeiras que inviabilizam planos e projetos.
É uma dívida criada pela irresponsabilidade gerencial de dirigentes que, livres de obrigações legais, comprometem receitas, envolvem as agremiações em operações financeiras de lastro duvidoso — enfim, tudo ao contrário do que recomendam os bons manuais de administração.
Por isso, deve-se ver com cuidado as propostas que o governo tem apresentado para zerar tais débitos. É fora de dúvida que se trata de dívida impagável diante da realidade de penúria dos clubes; mas, por outro lado, é preciso evitar que desmandos e falta de compromisso dos cartolas sejam premiados com o puro e simples perdão dos contenciosos por eles próprios criados.
Buscar uma saída para esse buraco fiscal é iniciativa saudável do governo e a solução ela passa por isenção tributária. A questão está em determinar em que medida a ajuda aos clubes contribuirá, de forma responsável, para restabelecer a saúde contábil das agremiações.
Quaisquer que sejam as propostas colocadas à mesa — entre elas a troca de dívidas fiscais por projetos sociais, ou o investimento em esportes olímpicos de alto rendimento —, é imperioso que, da parte beneficiada, sejam exigidas contrapartidas como a profissionalização gerencial e, no caso dos departamentos de futebol, que são de fato o motor dessas entidades, a adoção de modelos administrativos nos moldes dos que regem o funcionamento de empresas privadas, com o comprometimento patrimonial dos dirigentes, que precisam responder — legalmente e com a garantia de seus bens — por atos lesivos cometidos à frente dos clubes.
No âmbito das normas esportivas, é fundamental também que a CBF se alinhe com a moralização das gestões, punindo severamente as agremiações. Por fim, mas igualmente importante: a desoneração precisa ser acompanhada de instrumentos que impeçam os clubes de, uma vez aliviados das dívidas atuais, voltem a namorar a insolvência com gestões temerárias.
Tanto quanto atividade de lazer, o esporte — e, no caso do Brasil, principalmente o futebol — também se torna, cada vez mais, um setor que movimenta cifras milionárias e com papel importante na economia.
Assim como não se pode fechar os olhos para o buraco financeiro dos clubes, também é inaceitável que se trate o problema com paternalismo.
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