segunda-feira, 11 de março de 2013

Mais uma entre tantas aberrações na política nacional

Atire a primeira pedra  

Carlos Brickmann  (*)

Vamos deixar de hipocrisia: claro que o deputado federal Marco Feliciano é um sujeito horroroso, que já deu declarações racistas e é processado no Supremo por estelionato. Mas não chegou sozinho à presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. 
Teve ajuda de governistas e oposicionistas. 

A bancada do PSC é composta por 15 parlamentares e, portanto, não teria direito a vaga nenhuma na Comissão. Mas, numa Câmara como a nossa, cinco partidos se juntaram para quebrar o galho da legenda nanica de Feliciano.

Funcionou assim: o PT da presidente Dilma, que sempre ocupou a presidência da Comissão, resolveu trocar este cargo por outro; o PMDB do vice-presidente Michel Temer cedeu ao PSC duas vagas de titular e duas de suplente; o PSDB, que comanda a oposição (sim, formalmente existe um grupo que se intitula “oposição”) cedeu duas vagas de titular; o PP de Paulo Maluf (que apoia a presidente Dilma) cedeu uma de titular; e o PTB, o mais coerente dos partidos, já que apoia quem quer que esteja no governo, cedeu uma de suplente. 

Com isso o PSC teve a possibilidade de eleger o inacreditável Marco Feliciano presidente da Comissão. 

Processo por estelionato, processo por homofobia, ambos no Supremo, enviados pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Um vídeo notável, em que, como pastor, reclama do fiel que lhe deu o cartão de crédito sem a senha. 
E ele ganhou o cargo assim mesmo. Mas lembremos: ele foi eleito pelo voto direto e secreto, por eleitores como nós. 

Outras comissões estão presididas, hoje, por lobos em pele de cordeiro. 
Pensando bem, é injusto falar mal de Marco Feliciano apenas porque disse que os descendentes de africanos são amaldiçoados, porque disse que quem dá poucos donativos à sua igreja terá pouca retribuição do Senhor, pelas acusações (que o Supremo examina) de homofobia e estelionato.

Num local onde a folha corrida substitui o currículo, que se poderia esperar? 

Vejamos outras Comissões da Câmara Federal. Para Constituição e Justiça, foram escolhidos dois condenados no caso do Mensalão, João Paulo Cunha e José Genoíno, ambos do PT. 
Um dos suplentes é José Guimarães, também do PT – aquele cujo assessor foi preso no aeroporto transportando cem mil dólares na cueca. Finanças e Tributação: presidente, João Magalhães, PMDB, da Operação João de Barro. Veja no Google “João Magalhães”, “Operação João de Barro”, com 27 mil citações. 

O presidente da Comissão de Meio-Ambiente é o senador Blairo Maggi, do PR. Grande agricultor, seus interesses podem conflitar com a defesa do meio-ambiente. 

Mas quem está preocupado em pelo menos guardar as aparências? 

(*) Jornalista e diretor do escritório Brickmann&Associados Comunicação, especializado em gerenciamento de crises.

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