Opinião do Estadão
Dizem os cínicos que o máximo que se pode esperar dos políticos é que os seus interesses coincidam com a vontade geral da sociedade. Se assim é, está-se diante de um desses raros casos. A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre as ligações do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com agentes públicos e privados nasceu da conjunção dos interesses contraditórios do PT, do DEM e do PSDB. O primeiro queria se desforrar do seu mais respeitado detrator no Congresso, o senador por Goiás Demóstenes Torres (DEM), ao se descobrir que o implacável Catão estava atolado até o pescoço em negócios com o chefe da batotagem no seu Estado. Também queria - acicatado pelo ex-presidente Lula - vingar-se do governador goiano Marconi Perillo, por ter o tucano tornado público que o alertara para a compra de votos de deputados em favor do governo antes que o escândalo eclodisse, com o rótulo de "mensalão". E queria a investigação, por fim, para ter algo com que ofuscar o julgamento dos delitos dos seus principais companheiros, previsto para os próximos meses deste ano eleitoral.
Para o DEM, por sua vez, era uma questão de sobrevivência ir a fundo na apuração das malfeitorias do senador, que se desligou da legenda para não ser expulso, e uma demonstração de coerência com a sua conduta diante de outros correligionários flagrados em lambanças. Além disso, achou uma bela oportunidade para levar ao pelourinho outro suspeito de relações espúrias com Cachoeira, o governador petista do Distrito Federal (DF), Agnelo Queiroz. Já o que abriu o apetite do PSDB pelo inquérito foi a chance de atingir o governo federal pela interposta pessoa jurídica da empreiteira Delta, detentora de R$ 3,6 bilhões - muito mais do que qualquer outra do ramo - em contratos de obras do PAC, a menina dos olhos de Lula e da gestora do programa, a ministra Dilma Rousseff, que ele guindou à sua cadeira. A Delta, uma empresa tentacular com serviços em 23 Estados e no DF, tinha uma alentada folha corrida no Tribunal de Contas da União (TCU) e na Controladoria-Geral da União (CGU) antes que as gravações da Polícia Federal descortinassem a sua rentável proximidade com o chamado sistema Cachoeira.
Não se quer dizer com isso que todos os 340 deputados e 67 senadores que subscreveram o pedido da CPMI - um número impressionante, vindo de onde veio - foram movidos por razões menos limpas do que a da busca da verdade no que parece ser um arranha-céu de corrupção com andares inteiros compartilhados pelos Poderes da República, delinquentes profissionais e empresas associadas a uns e outros. Mas não resta dúvida de que o cálculo político foi o que mais pesou na decisão de recorrer à mais poderosa ferramenta de investigação ao alcance do Legislativo - para bem do interesse público. Aliás, não passa dia sem que vazem novas evidências de que são mais estreitos, até do que parecia inicialmente, os vínculos entre o bicheiro Cachoeira, o governador Perillo, o senador Demóstenes e a construtora Delta. Já na esfera política chamam a atenção os fortes sinais de que o PT não recuou propriamente da proposta do inquérito ao se dar conta, segundo o noticiário, de que os seus perigos potenciais para o Planalto seriam maiores do que os ganhos visados pelo partido. Essa posição foi defendida, pelo menos em público, apenas por um punhado de seus parlamentares.
Quem não esconde a ojeriza à "CPI do PT", alegando os riscos imponderáveis que cria para o governo, são os caciques do PMDB. Não deixa de ser verdade, mas é lícito supor que o governo que têm em mente - sabendo que a investigação mergulhará nas operações da Delta - é o do correligionário Sérgio Cabral, amigo íntimo do dono da empreiteira, Fernando Cavendish.
Em 2009, este se jactou de como é fácil ganhar licitações, subornando políticos. No primeiro mandato do governador fluminense, o Estado repassou à empresa R$ 1,1 bilhão, dos quais R$ 148 milhões referentes a contratos sem licitação. No atual segundo mandato, já foram outros R$ 582 milhões. Na terça-feira, Cabral nomeou uma comissão de sindicância para auditar os contratos com a construtora.
Dizem os cínicos que o máximo que se pode esperar dos políticos é que os seus interesses coincidam com a vontade geral da sociedade. Se assim é, está-se diante de um desses raros casos. A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre as ligações do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com agentes públicos e privados nasceu da conjunção dos interesses contraditórios do PT, do DEM e do PSDB. O primeiro queria se desforrar do seu mais respeitado detrator no Congresso, o senador por Goiás Demóstenes Torres (DEM), ao se descobrir que o implacável Catão estava atolado até o pescoço em negócios com o chefe da batotagem no seu Estado. Também queria - acicatado pelo ex-presidente Lula - vingar-se do governador goiano Marconi Perillo, por ter o tucano tornado público que o alertara para a compra de votos de deputados em favor do governo antes que o escândalo eclodisse, com o rótulo de "mensalão". E queria a investigação, por fim, para ter algo com que ofuscar o julgamento dos delitos dos seus principais companheiros, previsto para os próximos meses deste ano eleitoral.
Para o DEM, por sua vez, era uma questão de sobrevivência ir a fundo na apuração das malfeitorias do senador, que se desligou da legenda para não ser expulso, e uma demonstração de coerência com a sua conduta diante de outros correligionários flagrados em lambanças. Além disso, achou uma bela oportunidade para levar ao pelourinho outro suspeito de relações espúrias com Cachoeira, o governador petista do Distrito Federal (DF), Agnelo Queiroz. Já o que abriu o apetite do PSDB pelo inquérito foi a chance de atingir o governo federal pela interposta pessoa jurídica da empreiteira Delta, detentora de R$ 3,6 bilhões - muito mais do que qualquer outra do ramo - em contratos de obras do PAC, a menina dos olhos de Lula e da gestora do programa, a ministra Dilma Rousseff, que ele guindou à sua cadeira. A Delta, uma empresa tentacular com serviços em 23 Estados e no DF, tinha uma alentada folha corrida no Tribunal de Contas da União (TCU) e na Controladoria-Geral da União (CGU) antes que as gravações da Polícia Federal descortinassem a sua rentável proximidade com o chamado sistema Cachoeira.
Não se quer dizer com isso que todos os 340 deputados e 67 senadores que subscreveram o pedido da CPMI - um número impressionante, vindo de onde veio - foram movidos por razões menos limpas do que a da busca da verdade no que parece ser um arranha-céu de corrupção com andares inteiros compartilhados pelos Poderes da República, delinquentes profissionais e empresas associadas a uns e outros. Mas não resta dúvida de que o cálculo político foi o que mais pesou na decisão de recorrer à mais poderosa ferramenta de investigação ao alcance do Legislativo - para bem do interesse público. Aliás, não passa dia sem que vazem novas evidências de que são mais estreitos, até do que parecia inicialmente, os vínculos entre o bicheiro Cachoeira, o governador Perillo, o senador Demóstenes e a construtora Delta. Já na esfera política chamam a atenção os fortes sinais de que o PT não recuou propriamente da proposta do inquérito ao se dar conta, segundo o noticiário, de que os seus perigos potenciais para o Planalto seriam maiores do que os ganhos visados pelo partido. Essa posição foi defendida, pelo menos em público, apenas por um punhado de seus parlamentares.
Quem não esconde a ojeriza à "CPI do PT", alegando os riscos imponderáveis que cria para o governo, são os caciques do PMDB. Não deixa de ser verdade, mas é lícito supor que o governo que têm em mente - sabendo que a investigação mergulhará nas operações da Delta - é o do correligionário Sérgio Cabral, amigo íntimo do dono da empreiteira, Fernando Cavendish.
Em 2009, este se jactou de como é fácil ganhar licitações, subornando políticos. No primeiro mandato do governador fluminense, o Estado repassou à empresa R$ 1,1 bilhão, dos quais R$ 148 milhões referentes a contratos sem licitação. No atual segundo mandato, já foram outros R$ 582 milhões. Na terça-feira, Cabral nomeou uma comissão de sindicância para auditar os contratos com a construtora.
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