sábado, 7 de abril de 2012

O jatinho da Globo

JN no Ar, o parto da montanha e a mensagem oculta 

 Manuel Dutra (*) 

Afinal, qual é a estratégia da Rede Globo com aquele jatinho que perambula pelos céus do País, anunciando reportagens de impacto aqui e ali, matérias que em nada impactam? Quando anunciam, dão a impressão de que grandes surpesas serão reveladas. Quando vão ao ar, deixam a sensação de que algo faltou dizer ou mostrar. E a dúvida e o espanto: aquilo foi mesmo a pauta da reportagem? 

Foi o que se verificou na quarta-feira, dia 4, na mais recente vilegiatura do jatinho enfeitado por Rondônia e pelo Pará, onde a equipe foi mostrar o já visto, ou seja, os problemas na construção das hidrelétricas de Jirau, no Madeira, e de Belo Monte, no Xingu. 

O que de novo trouxeram aquelas matérias? Nada. Outra questão: as equipes locais das TVs afiliadas à Globo não poderiam ter feito coisa melhor? Com certeza, até porque grande parte dessas reportagens é feita pelas equipes locais e que são reeditadas pela equipe do jatinho enfeitado. E uma reedição para pior. 

As equipes locais já estão habituadas com as questões postas nessas pautas e tudo sairia melhor para o telespectador e bem mais barato para a Rede Globo se as matérias dispensassem o jatinho enfeitado, ou não? 

Ao que parece, entre as estratégias da Globo está a tentativa de mostrar ao Brasil que os seus repórteres não noticiam apenas de "lá", do sul maravilha, mas vão a qualquer parte do país. Assim como se verifica na afiliada de Belém, com atores globais fazendo chamadas locais, simulando intimidade com "você, paraense". Aliás, por que tanta referência ao Pará nos últimos meses? Novelas, documentários, notícias, Marajó, Belém, Santarém, Xingu, jatinho enfeitado mostrando belezas e misérias da capital paraense, etc. Descobriram, agora, que o Pará existe, ou o que é que motiva essa pautação inusitada? 

Hipótese: A Globo e a midiazona em geral estão com a pulga atrás das orelhas com o crescimento do movimento pelo Brasil afora em favor da democratização da comunicação midiática. Todo ser humano sabe que os canais de televisão e rádio são públicos e têm regras fixadas na Constituição. E a Lei Maior fala claramente na exigência de a TV e o rádio serem meios em favor da cultura e dos valores nacionais e fala também de modo claro na exigência da regionalização da comunicação, o que é imprescindível num país tão grande e tão diverso culturalmente. Por isso, os atores globais não podem se concentrar no Rio e em S. Paulo, como se, de lá de longe, pudessem compreender esse imenso e diversificado País. 

Será que o jatinho enfeitado não quer ser uma "resposta" a esse receio de que, afinal, a comunicação no Brasil seja, de fato pública e aberta aos cidadãos que pagam impostos, como ocorre nos países desenvolvidos? Por que só Marinhos, Barbalhos, Maioranas e outras famiglias têm o poder de determinar o que vai para o ar? Programas sem vinculações com a cultura brasileira, programas de bajulação aos países da Europa e aos USA, donos de TVs e rádios como senhores que mandam em governos, etc? É por isso que eles dizem que a democratização da comunicação é censura. Ora, ora, censura são eles que fazem há décadas e com ela precisamos acabar! 

O jatinho enfeitado até que é simpático, mas ele foi preparado para isso mesmo. Nada simpática parece ser a mensagem que ele carrega, e é uma mensagem que não vai ar, no JN... 

(*) Jornalista e Professor Universitário morador em Belém (PA)

Um comentário:

  1. Carlos Cézar - Belém - Pará7/4/12 15:02

    Parabéns professor . Um excelente texto como sempre. Realmente torna-se difícil entender o que a Globo quer dizer como esse aviãozinho ..

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