segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Para os amigos jornalistas


A árvore da dúvida

Nesta semana que começa lanço um livro. Trata-se de um livro pequeno, não daqueles robustos, com cara de sérios, desafiadores para a nossa capacidade de concentração.
São 136 páginas, apenas, em que procuro contar como são feitos os jornais diários. Chama-se "Como Fazer Jornal Todos os Dias - Introdução ao Jornalismo Diário", sai pela Editora Saraiva e será lançado dia 10, na livraria da editora do Shopping Pátio Higienópolis, em São Paulo.
A proposta que recebi para escrever era que eu partisse da minha experiência em redações (exatos 28 anos e quatro meses, que no convite para o lançamento arredondei para 30...) para "ensinar" a futuros jornalistas os macetes da profissão.
Minha capacidade de ensinar se resume a situações como esta, que já ocorreu mais de uma vez: mês passado reencontrei um jornalista que começou a carreira comigo, na sucursal do Rio da Folha de S.Paulo, nos 1990, e que hoje é o bem sucedido assessor de comunicação de uma mega-empresário. Ele me cumprimentou efusivamente e disse: "Olha, gostaria de te agradecer por uma tremenda bronca que você me deu, quando eu ficava enrolando para entregar o texto da reportagem que eu estava fazendo. Ok, você foi meio duro comigo, mas me disse que não adiantava nada eu produzir uma obra prima se ela não ficasse pronta a tempo de sair no jornal. Lembro disso até hoje e aplico essa idéia a muitas coisas que faço na vida. Obrigado!"
Ou seja, minha capacidade de ensinar se dá, ou se deu, assim, na base da porrada, porque naquele tempo de fato não tinha a menor intenção de ser delicado com as pessoas.
Mas o tempo passa, a gente apanha, aprende que que a delicadeza é fundamental, que a urgência da vida é relativa e descobre caminhos mais adequados para ir em frente.
De qualquer maneira, o livro em questão deveria ser para estudantes, mas achei que poderia ir além, uma vez que a vida toda, essa vida aí dedicada a jornal, primeiro sete anos em O Estado de S. Paulo, depois 21 anos na Folha de S.Paulo, ouvi perguntas de quem queria, afinal, saber como as coisa aconteciam naquele "fantástico e misterioso" universo em que um fato se transforma em notícia e como ocorre todo o processo que o leva até as mãos do leitor.
O jornal, esse meio de comunicação que dizem que vai desaparecer em breve, exerce e sempre exerceu fascínio em muita gente. Há quem acredite até hoje que a vida de jornalista é cheia de glamour, noitadas, proximidade com o poder e a fama, mundos a desbravar, desafios e conquistas.
Nananina...
Foi-se o tempo daquele repórter boêmio, com o cigarro no canto da boca, enfrentando criminosos e seduzindo mulheres bonitas que lhes revelariam a grande "verdade".
Já há bom tempo jornalismo é técnica, precisão, empenho e, claro, um pouco de arte.
E é disso que eu trato, detalhadamente, no livrinho, procurando utilizar linguagem que tenho aprimorado aqui nestas Pensatas, ou seja, falando clara e diretamente com o leitor, procurando contar histórias e envolvendo-o com o universo que procuro descrever. Daí minha esperança de que o livro também agrade àqueles que, se não estão envolvidos com o jornalismo, têm apreço pelo jornal - seja por motivo profissional, afetivo (aprendeu a ler nas páginas dos diários...), sentimental (lembra do pai lendo o jornal de chinelão...) ou mesmo compulsivo (não consegue fazer nada antes de ler o jornal...).
Bem, depois da desavergonhada propaganda do livro, volto ao tema desta crônica, explicitada no título.
Sempre me disseram que a felicidade do homem, ou mais que isso, a sua verdadeira missão na vida, só estará completa quando ele tiver um filho, plantar uma árvore, escrever um livro.
Bobagem? Mas e se for verdade, sempre pensei...
Eu já havia co-escrito, editado e produzido outros livros, mas nada como este, autoria de fato. Filho, ah, neste quesito a alegria é total, porque, depois de sete anos estudando no Canadá, minha filha está morando no momento comigo --estudando ainda, porque resolver prestar vestibular de novo...
Falta a árvore, certo?
E aí é que coisa pega.
Quando morava em uma pequena cobertura no bairro paulistano do Sumaré, 25 anos atrás, plantei no terraço uma muda crente que era uma árvore, mas o planta, que resiste até hoje (dá pra ver da rua...), não passou de mísero metro e meio de altura. Ou seja, não virou árvore árvore...
Doutra feita, ganhei do meu amigo Altino Machado, em Rio Branco, no Acre, a semente de um mogno o qual tentei fazer vingar de toda maneira, sem êxito. Quer dizer, até germinou, mas morreu ainda bebê.
No começo deste ano, semeei diversa sementes de laranja e pelo menos quatro delas brotaram, mas ainda estão num vaso, sendo que a maior delas atingiu pouco menos de um palmo, apenas, isso em meses...
Ou seja, tentei várias vezes e nada do que tenha feito nesse sentido se transformou de fato numa árvore.
Porque árvore tem que ser raiz, tronco, galhos e folhas de verdade! Tronco para a gente abraçar, encostar, sombra para sentar, folhas para recolher no outono. Enfim, árvore.
Este é, dentre outros menores, o grande fracasso da minha vida.
Como relatei, lamentavelmente o máximo a que cheguei foi aos arbustos...
Será que no tempo que me resta por aqui conseguirei cumprir essa tarefa e serei, finalmente, feliz?
Aceitam-se sugestões de árvores de crescimento rápido, por favor...
(*) Luiz Caversan, 54, é jornalista, produtor cultural e consultor na área de comunicação corporativa. Escreve para a Folha de São Paulo Online.

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