domingo, 29 de novembro de 2009

Opinião do Estadão

Do campo para o mundo
O Brasil é hoje um dos líderes mundiais do comércio agrícola, ocupando a primeira posição nos embarques de açúcar e de carne bovina e a segunda nas vendas de soja e de carnes de aves. Já era o maior exportador mundial de café, mas até há uns 20 anos a maior parte de sua produção agropecuária era menos competitiva que as das principais potências produtoras. Esse quadro mudou, graças a um persistente esforço de modernização do setor. Um levantamento da Organização Mundial do Comércio (OMC) conta uma parte dessa história, mostrando o aumento da presença brasileira nas exportações globais entre 1999 e 2007. Uma história mais completa incluiria também um detalhe ignorado pelos brasileiros mais jovens: o suprimento do mercado interno tornou-se muito melhor quando o País se tornou uma potência exportadora e as crises de abastecimento deixaram de ocorrer. Essa coincidência não ocorreu por acaso.

Os números da OMC contam uma história de indiscutível sucesso, mostrando como os exportadores brasileiros, naqueles oito anos, ampliaram sua participação nas exportações mundiais dos seguintes produtos: carne bovina, de 6,8% para 28,4%; carne de frango, de 12,6% para 35,5%; carne suína, de 3,3% para 14,9%; açúcar, de 31,2% para 42,1%; e oleaginosas (principalmente soja), de 16% para 27%.
Para avançar em alguns setores, os brasileiros tiveram de tomar espaço de grandes exportadores tradicionais. A conquista não foi pacífica. Barreiras protecionistas foram criadas em vários mercados do mundo rico, somando-se aos subsídios concedidos aos produtores.

A prosperidade mundial e o ingresso de centenas de milhões de pessoas no mercado de consumo, em grandes economias emergentes, favoreceram a expansão do comércio de produtos agropecuários nas duas últimas décadas. Mas, apesar das condições favoráveis criadas pela demanda em rápida expansão, houve uma dura concorrência entre os grandes produtores. A competição foi distorcida pelos subsídios e pelos mecanismos de proteção adotados no mundo rico e, em menor proporção, em algumas economias emergentes.
A transformação do Brasil num dos líderes mundiais da exportação agropecuária foi possibilitada por uma combinação de ações políticas e empresariais. Um dos fatores mais importantes foi o trabalho das instituições de pesquisa, amplamente reforçado a partir da criação da Embrapa, nos anos 70. A ocupação do cerrado por agricultores provenientes de outras áreas - principalmente do Sul - intensificou-se nessa mesma época. Nos anos 80, rotulados por economistas como "década perdida", a agropecuária exibiu dinamismo e modernizou-se, graças ao investimento em novas tecnologias e à adoção de melhores práticas de produção. O avanço tecnológico foi particularmente notável, nessa época, na criação de gado de corte e na produção de aves. Isso explica, em boa parte, o sucesso comercial dos dois setores nos anos seguintes. Com o abandono dos controles de preços, a transformação da agropecuária acelerou-se, nos anos 90, e o Brasil pôde firmar sua posição como grande exportador.

A magnitude da transformação fica evidente quando se observam os ganhos de produtividade. Entre 1990 e 2005, a produção de arroz por hectare aumentou 117,5%; a de feijão, 69%; a de milho, 98,8%; a de soja, 28,8%; e a de trigo, 70,9%. As colheitas, portanto, cresceram muito mais do que a área ocupada pelas lavouras. No mesmo período, a produção de carne bovina aumentou 68,2%, embora o rebanho só tenha crescido 23,5%. Isso indica uma pecuária muito mais eficiente.
No setor de aves, o volume produzido expandiu-se 309,6%. Isso permitiu não só um grande avanço no mercado externo, mas também um enorme aumento do consumo por habitante no mercado interno: 160%. O consumo per capita de carne suína cresceu 58,45% nesse período, enquanto a produção aumentou 158,1%. Proteínas animais tornaram-se muito baratas e isso se refletiu nas condições de vida de milhões de brasileiros. 
A velha oposição entre mercado interno e mercado externo era apenas uma tolice. 
A produtividade necessária para competir internacionalmente é a melhor garantia de abastecimento abundante e barato no mercado interno.
Hoje o presidente Lula deve saber disso. 
Não sabia, quando chegou ao poder em 2003, ainda falando em "exportação de excedentes".

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