quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Efeito cascata


Humberto Luiz Peron (*)


Os palmeirenses estão frustrados. Só uma tragédia poderia tirar o título do Palmeiras e ela aconteceu. Nas duas últimas semanas, todos os dias chegam mensagens de palmeirenses me perguntando qual a razão --ou razões-- do declínio da equipe.
Eu penso que a origem dos problemas que o Palmeiras enfrenta no momento se resume a apenas um motivo, ou melhor, três contusões.
Quando perdeu, num curto espaço de tempo, Maurício Ramos, Pierre e Cleiton Xavier, machucados, começou a lenta agonia do clube no Campeonato Brasileiro. 
Sem esses jogadores o time se desmontou e todos os problemas começaram a surgir.

Sem Maurício Ramos e Pierre, o sistema defensivo do Palmeiras acabou. 
Sem o seu zagueiro central titular, a defesa palmeirense começou a tomar seguidos gols de cruzamento, o que não acontecia com ele na equipe.
Já a ausência de Pierre acabou com a proteção da defesa. 
O Palmeiras começou a tomar muitos gols com os adversários carregando a bola desde o meio, sem que nenhum volante conseguisse evitar o lance.
Como o volante também tem senso de colocação excelente, ele consegue pegar vários rebotes. Sem Pierre na equipe, o time não conseguia recuperar essas bolas e dava sempre a oportunidade de o adversário ficar com a posse de bola. Em algumas partidas a defesa aliviava o perigo, mas logo em seguida o adversário estava com a posse de bola de novo.
Se você pegar alguns jogos do Palmeiras, o time, mesmo atuando mal, conseguia segurar o resultado com a força da defesa e da marcação. Mas, sem Maurício Ramos e Pierre, isso ficou impossível.

A ausência de Cleiton Xavier acabou com a criatividade do time. Com sua ausência ficou muito fácil marcar o time do Palmeiras. O único jogador que poderia fazer a diferença era Diego Souza, que, muito bem marcado e também muito pouco inspirado, pouco fez sem a presença do camisa 10 em campo. Sem seu armador principal, o Palmeiras começou a utilizar cada vez mais as ligações diretas para o ataque.
Está certo que, pelo que expliquei, qualquer time sentiria os desfalques, mas aí o técnico Muricy Ramalho poderia ter feito a diferença ou achar alternativas para que o futebol da equipe não caísse tanto. Até porque, não há como negar, é um dos grandes treinadores do Brasil. Ninguém ganha três títulos brasileiros seguidos apenas no acaso.
Sem os três desfalques, Muricy mudou a estrutura e a equipe só piorou. Seria correto manter o time jogando com quatro zagueiros, dois volantes, dois meias e dois atacantes, apenas com a substituição dos jogadores. Por exemplo: trocar Cleiton Xavier por Deyvid Sacconi e Pierre por Jumar não mudaria a forma de o time jogar. O time perderia tecnicamente, mas não teria alterada a estrutura que o havia levado à liderança.
Mas o técnico optou por jogar com quatro zagueiros, três volantes, um meia muito longe dos volantes, quase como um terceiro atacante e dois avantes. Ao mudar a estrutura, 

Muricy deixou o time composto por dois blocos bem distintos: sete defensores recuados e três atacantes. Aí não tem como um time jogar.
Em outras oportunidades ele apostou no 3-5-2, mas de novo o time não conseguia sair dos dois blocos bem distintos de sete na defesa e três na frente, com os avantes correndo atrás dos chutões dados pelos zagueiros e o time adversário tendo muito espaço para tocar a bola.
Tem que se dar um desconto para Muricy, já que ele não formou o atual elenco, mas com intervalos de tempo para treinar a equipe ele não conseguiu dar um padrão tático. Após a contusão do trio de titulares o time não apresentou nenhuma novidade, pelo contrário, o time caiu de produção. Nem uma das principais características do treinador, que era explorar muito bem os defeitos do adversário, Muricy tem conseguido fazer.
No futebol é muito fácil mascarar as coisas quando o time está ganhando ou em primeiro lugar. Por isso, se a diretoria acertou em manter alguns dos principais jogadores no meio do ano, ela demorou demais para tomar alguma providência quando ficava claro que havia um desgaste entre os jogadores.

Se em uma determinada época as declarações dos atletas mostravam a disposição na conquista do título e que estava excelente o ambiente de trabalho, de repente elas passaram a ser de cobrança pública e de pedidos de mais comprometimento. 
Essa mudança no tom já era um sinal de que algo não funcionava direito entre os jogadores e que era necessário que alguma providência fosse tomada.
Teve um período de treino em Atibaia, mas parece que não se resolveram os problemas no ambiente do clube que terminaram no episódio melancólico da troca de agressões entre Maurício e Obina no Olímpico. Aí foram tomadas providências, mas o tempo de se consertar algo já havia passado.
Faltou ao elenco a maturidade para resolver seus problemas internamente e, principalmente, saber que todos ganhariam se o time fosse campeão.
Todos nós sabemos que ainda há chances de o time ficar com a taça, mas, convenhamos, agora seria a hora de o Palmeiras estar comemorando o título e não apelando para a calculadora e torcendo por resultados dos adversários --que é a melhor coisa que os palmeirenses fizeram nesse final de campeonato.

(*) Jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" .
      Escreve para Folha de São Paulo 

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