quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Lula mundo afora




Eliane Cantanhêde (*)

Judeus, Baha'i, gays, feministas e acadêmicos protestaram democraticamente de norte a sul do país, mas Lula não estava nem aí. Recebeu o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, na segunda-feira, 23/11, deu todos os recados que quis dar, aproximou os empresários dos dois países, disse "tchau" e ficou por isso mesmo. 
Mais um lance ousado da diplomacia brasileira e do próprio Lula.
O próximo, três dias depois, será em Manaus, quando Lula vai botar o presidente da França, Nicolas Sarkozy, debaixo do braço e levá-lo a uma reunião de presidentes dos países amazônicos, como os adversários Venezuela e Colômbia, por exemplo.
Lula e Sarkozy claramente fazem um contraponto aos Estados Unidos. 

Além do pacotaço já selado de submarinos e de helicópteros e além da forte possibilidade do anúncio já da compra de caças Rafale, eles também fecharam uma proposta comum para levar à Conferência do Clima em Copenhague, em dezembro.
Essa proposta prevê uma meta de redução de CO2 na atmosfera e deve deixar os países ricos, EUA à frente, no mínimo constrangidos. Barack Obama, que fez toda a sua campanha e o discurso de posse prometendo mundos e fundos na área ambiental, tende a chegar em Copenhague de mãos abanando.
Lula, porém, não se deu por satisfeito com o acordo com Sarkozy e quer que o pacote não seja apenas do Brasil e da França, mas ratificado pelos países amazônicos. Ou seja: a intenção é não apenas liderar uma proposta concreta, mas uma legião de apoiadores.

Nesta reta final de 2009, já passado o pior da crise econômica, Lula joga tudo na área internacional, firmando o Brasil como "player global", como diplomatas, acadêmicos e economistas dizem e nós, jornalistas, gostamos de copiar.
Isso projeta, entre tantas outras coisas, o futuro que Lula traçou e já começa a viabilizar para ele próprio depois de passar a Presidência ao sucessor (ou sucessora) em 2011: está evidente que ele pretende ter um cargo internacional, com o máximo de visibilidade.
Até 2014 chegar e ele puder, legal e legitimamente, disputar um novo mandato e a chance de subir mais uma vez a rampa do Planalto. Evidentemente, se tudo correr como ele espera. Só falta agora combinar com os adversários e, especialmente, com os eleitores.

(*) É colunista da Folha de São Paulo desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento.
E-mail: elianec@uol.com.br

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