Antenor Pereira Giovannini (*)
Sábado retrasado uma tragédia anunciada ocorre numa linda cidade do interior do Rio Grande do Sul: Santa Maria.
Uma cidade universitária que abriga milhares de jovens estudantes em busca de saber, em busca de seus ideais, mas que lamentavelmente na busca de diversão, de alegria encontraram o final de suas vidas, interrompendo sonhos, vontades e objetivos.
Uma boate como milhares espalhadas por esse País funcionando sem condições legais e que por uma irracionalidade de alguém ao usar fogos de artifícios dentro de um ambiente fechado, provocou um incêndio que atingiu o forro revestido por material inflamável e tóxico e que em poucos minutos ceifou a vida de mais de 250 jovens principalmente por inalação desse gás tóxico.
Os mortos são enterrados numa comoção inimaginável e os feridos , alguns em estado grave, são cercados de orações e apelos para que não tenham o mesmo destino que os demais colega.
Passados alguns dias dessa enorme comoção nacional e internacional que o caso obteve, começam as buscas pelos responsáveis , e cada um dos até então apontados, procuram de todas as maneiras se eximiram de qualquer culpa.
Em cima disso, os paladinos responsáveis por estados e municípios, alardeiam através da mídia suas ações ao efetuarem varreduras em casas similares à boate de Santa Maria, e com isso se constatam que centenas delas ( e somente naquelas que a mídia alcançou) foram lacradas ou por não terem autorização para funcionamento, ou por estarem em desacordo com as normas de segurança.
Ora, ora senhores gestores.
Precisou uma tragédia dessa proporção para que os senhores efetivamente tirassem as bundas dos gabinetes para constatarem que em seus estados e municípios, tais estabelecimentos funcionavam de maneira irregular concedendo condições para que outras tragédias ocorressem ?
Da mesma forma que em Santa Maria as autoridades se eximem, não adianta os senhores simplesmente lacrarem, suspenderem por tempo determinado tais estabelecimentos, mas, saberem quem realmente liberou, porque aquele local estava funcionando, de que forma conseguiram algum papel?
Se houve manipulação, se houve desleixo, se houve corrupção, enfim, o que realmente fez com que tais estabelecimentos estivessem em funcionamento, tal qual Santa Maria. Prefeitos, secretários, subsecretários, fiscais, corpo de bombeiros, engenheiros, proprietários, produtores de shows, enfim não importa, mas isso num país civilizado e com leis que são aplicadas certamente fariam com que todos os envolvidos sofressem severas penas afora reparos financeiros para as vitimas e feridos.
Porém, quando acordamos se observa que estamos no País do faz de contas, no País do jeitinho, no País das acomodações e principalmente no País da impunidade.
Tal qual outras tragédias nesse imenso País o assunto perdura até o momento que a mídia ficar divulgando. Bastou sair dela e o assunto vira apenas um número em estatísticas no quesito de acidentes. Apenas isso.
Ou alguém se lembra da tragédia de Teresópolis há dois anos. Ou a tragédia em Santa Catarina alguns anos atrás. Para os mais velhos o acidente do Bateau Mouche IV no final de 1988 no Rio de Janeiro. Ou ainda, para os mais antigos como eu, os incêndios do Joelma e do Andraus em São Paulo. O que aconteceu aos responsáveis? Nada, absolutamente nada. Alguma autoridade foi presa, perdeu o cargo, foi exonerado, nada.
Pior que isso, as vítimas de todas essas tragédias receberam alguma indenização? Não.
A mesma presidente que chorou agora em Santa Maria, foi a mesma que chorou e pisou de botas no lamaçal da tragédia em Teresópolis. Ela pode até ter liberado o dinheiro federal para reconstrução da cidade e conceder moradias a centenas de desabrigados. Ela retornou a Teresópolis para saber se o dinheiro liberado chegou, quanto chegou e o que fizeram? Não e a coisa senão continua a mesma coisa tem-se a certeza de que 50 casas foram construídas mas, não terminadas e até hoje ninguém as recebeu.
Simples.
Esse é o nosso País de faz de contas mostrando sua cara.
É o mesmo que chora a perca de centenas de jovens promissores de forma bestial em questão de minutos e o mesmo que menos de uma semana depois assiste sem qualquer perplexidade a posse de um ficha suja como presidente do Congresso Nacional que em seu discurso de posse ainda fala em ética e em moral. Um tapa na cara da sociedade que ainda pensa desse País.
A realidade nua e crua é que eles fazem de conta que governam, que administram e nós fazemos de contas que somos inteligentes votando neles e principalmente fazemos de contas que somos felizes...
Santa Maria, rogai por nós!
(*) Aposentado e morador em São Paulo
Eta Antenor . Como sempre curto e grosso .
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