Cardeais brasileiros têm perfil discreto
Folha de São Paulo
Com perfil mais discreto do que os seus antecessores, cinco cardeais brasileiros participarão da escolha do novo papa da Igreja Católica, no Vaticano. Desse grupo, os dois mais jovens têm sido lembrados por especialistas para suceder a Bento 16.
"Há uma nova geração na cúpula da Igreja Católica brasileira", afirmou, em entrevista por telefone, o historiador americano Kenneth Serbin, autor do livro "Diálogos na Sombra", sobre as relações entre a igreja e militares durante a ditadura.
"Dom Paulo Evaristo Arns, dom Hélder Câmara, entre outros bispos fortes, foram ordenados numa época de abertura da igreja. Apenas [o cardeal] dom Cláudio Hummes pertence a essa geração anterior. Os bispos mais jovens foram nomeados no papado de João Paulo 2º e Bento 16", diz.
"Mudou a história do mundo, a história do Brasil, e eles lidam com desafios diferentes. Nos anos 1960, ninguém falava de homossexualismo."
Três dos cinco cardeais brasileiros foram nomeados no papado de Bento 16:
- o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer, 63, em 2007,
- o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Raymundo Damasceno Assis, 76, em 2010,
- e o ex-arcebispo de Brasília João Braz de Aviz, 65, que ascendeu há cerca de um ano.
Os nomeados sob João Paulo 2º são
- o arcebispo emérito de Salvador, dom Geraldo Majella Agnelo, 79,
- e o arcebispo emérito de São Paulo, dom Cláudio Hummes, 78, ambos em 2001.
Mais jovem entre os brasileiros, o gaúcho Scherer tem uma sólida formação acadêmica, que inclui um doutorado em teologia em Roma, e é arcebispo de São Paulo desde abril de 2007, sete meses antes de ascender a cardeal.
No ano passado, Scherer se envolveu em uma polêmica em torno da escolha do novo reitor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica).
Na condição de grão-chanceler da universidade, função que acumula com a do arcebispado, escolheu a menos votada de uma lista tríplice enviada pelo Conselho Superior da instituição, decisão prevista no regulamento.
"Num mundo que parece esquecer-se de Deus, uma universidade católica tem uma importante função social, também como contribuição para o pluralismo e a liberdade de pensamento. E isso não parece irrelevante para o convívio democrático!", escreveu em artigo na Folha em 7 de dezembro.
A escolha teve forte oposição dentro da PUC. Alunos de direito entraram na Justiça e chegaram a conseguir uma liminar suspendendo a nomeação de Anna Cintra, derrubada dias mais tarde.
Morando no Vaticano, o catarinense Braz de Aviz comanda a importante Congregação para a Vida Sagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. Fundada em 1586, é responsável pelo regime e pela disciplina de ordens, congregações religiosas e institutos seculares, entre outras organizações da igreja.
Questionado sobre se é possível classificar os cardeais brasileiros entre conservadores e progressistas, Serbin diz que se trata de uma "divisão artificial".
"Somos nós, historiadores, jornalistas e sociólogos, que criamos essa divisão. Como pude constatar na minha pesquisa, havia progressistas com posições tradicionais e conservadores com posições bem progressistas. Essa divisão não ajuda a traçar um perfil correto do clero atual."
Com relação à importância do Brasil dentro da igreja, Serbin diz que o país perdeu protagonismo: "Nos anos 1960 e 1970, era atuante, criava a Teologia da Libertação e estava à frente da igreja mundial. Hoje não se vê mais essa liderança".
Dom Odilo P. Scherer |
Com perfil mais discreto do que os seus antecessores, cinco cardeais brasileiros participarão da escolha do novo papa da Igreja Católica, no Vaticano. Desse grupo, os dois mais jovens têm sido lembrados por especialistas para suceder a Bento 16.
"Há uma nova geração na cúpula da Igreja Católica brasileira", afirmou, em entrevista por telefone, o historiador americano Kenneth Serbin, autor do livro "Diálogos na Sombra", sobre as relações entre a igreja e militares durante a ditadura.
"Dom Paulo Evaristo Arns, dom Hélder Câmara, entre outros bispos fortes, foram ordenados numa época de abertura da igreja. Apenas [o cardeal] dom Cláudio Hummes pertence a essa geração anterior. Os bispos mais jovens foram nomeados no papado de João Paulo 2º e Bento 16", diz.
"Mudou a história do mundo, a história do Brasil, e eles lidam com desafios diferentes. Nos anos 1960, ninguém falava de homossexualismo."
Três dos cinco cardeais brasileiros foram nomeados no papado de Bento 16:
- o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer, 63, em 2007,
- o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Raymundo Damasceno Assis, 76, em 2010,
- e o ex-arcebispo de Brasília João Braz de Aviz, 65, que ascendeu há cerca de um ano.
Os nomeados sob João Paulo 2º são
- o arcebispo emérito de Salvador, dom Geraldo Majella Agnelo, 79,
- e o arcebispo emérito de São Paulo, dom Cláudio Hummes, 78, ambos em 2001.
Mais jovem entre os brasileiros, o gaúcho Scherer tem uma sólida formação acadêmica, que inclui um doutorado em teologia em Roma, e é arcebispo de São Paulo desde abril de 2007, sete meses antes de ascender a cardeal.
No ano passado, Scherer se envolveu em uma polêmica em torno da escolha do novo reitor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica).
Na condição de grão-chanceler da universidade, função que acumula com a do arcebispado, escolheu a menos votada de uma lista tríplice enviada pelo Conselho Superior da instituição, decisão prevista no regulamento.
"Num mundo que parece esquecer-se de Deus, uma universidade católica tem uma importante função social, também como contribuição para o pluralismo e a liberdade de pensamento. E isso não parece irrelevante para o convívio democrático!", escreveu em artigo na Folha em 7 de dezembro.
A escolha teve forte oposição dentro da PUC. Alunos de direito entraram na Justiça e chegaram a conseguir uma liminar suspendendo a nomeação de Anna Cintra, derrubada dias mais tarde.
Morando no Vaticano, o catarinense Braz de Aviz comanda a importante Congregação para a Vida Sagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. Fundada em 1586, é responsável pelo regime e pela disciplina de ordens, congregações religiosas e institutos seculares, entre outras organizações da igreja.
Questionado sobre se é possível classificar os cardeais brasileiros entre conservadores e progressistas, Serbin diz que se trata de uma "divisão artificial".
"Somos nós, historiadores, jornalistas e sociólogos, que criamos essa divisão. Como pude constatar na minha pesquisa, havia progressistas com posições tradicionais e conservadores com posições bem progressistas. Essa divisão não ajuda a traçar um perfil correto do clero atual."
Com relação à importância do Brasil dentro da igreja, Serbin diz que o país perdeu protagonismo: "Nos anos 1960 e 1970, era atuante, criava a Teologia da Libertação e estava à frente da igreja mundial. Hoje não se vê mais essa liderança".
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