sábado, 9 de fevereiro de 2013

Estou dizendo: é pilantragem em todo lugar

A arte de estar em dois lugares ao mesmo tempo. Discursando em Natal e na Assembléia Legislativa do Rio. Sem gêmeo ou clone. Uma façanha do onipresente Bebeto. Deputado estadual, membro do COL e coordenador de base da Seleção Brasileira…  

Cosme Rímoli (*) 
 
Era mais do que esperado. 
Bebeto faltou a 35% das sessões na Assembleia Legislativa do Rio. 
O deputado tinha mais o que fazer. 
Membro do Comitê Organizador Local da Copa, precisava de viajar. Vistoriar estádios, promover o Mundial. 

Posar para fotos de capacete. 
E repetir o quanto a Copa é importante para o Brasil. 
Mesmo com tarefas tão relevantes, foi escolhida para outra. 
Comandar a base do futebol brasileiro. 

Homem organizado, está pronto para mais essa tarefa. 
Aqui um bom exemplo do quanto sabe dividir seu tempo. 
Bebeto nunca teve um centavo do seu salário descontado como deputado. 
Recebe R$ 20 mil mensais. 

Conseguiu arrumar tempo para justificar cada falta. 
Desde fevereiro de 2012, quando foi nomeado para o COL por Ricardo Teixeira, tem se ausentado. 
De 113 sessões, não esteve em 39. 
Cerca de 35% delas. 

Perderia R$ 64,5 mil se não justificasse as ausências. 
O jornal Extra mostra ter Bebeto a capacidade da onipresença. 
Ou seja: conseguiu estar em dois lugares ao mesmo tempo. 

Em 26 de março de 2012 estava no Rio Grande do Norte, na Arena de Dunas. 
Mas seu nome consta entre os presentes no mesmo dia na assembleia carioca. 
Em sessões no mesmo horário em que discursava em Natal. 
Isso sem ter irmão gêmeo ou clone. 

O mesmo aconteceu nesta quarta-feira. 
Quando se reuniu com o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. 
Mas o Diário Oficial mostrou que ele também estava na assembleia do Rio. 
Na mesma hora em que estava com o governador. 
A situação é constrangedora. 

Como também a sua indicação para comandar as categorias de base do Brasil. 
Bebeto foi escolhido por José Maria Marin. 
Ele assume as funções que foram de Andrés Sanchez. 
O deputado estadual tem como arma só a sua experiência como ex-jogador.

Quando acabou a carreira tentou ser empresário com Jorginho. 
Não deu certo. 
Jorginho virou treinador e acabou auxiliar de Dunga na Copa. 
Depois Bebeto aceitou convite de Romário para dirigir o América. 
Fracassou, foi demitido por seu ex-companheiro do Mundial de 94. 

Abandonou a carreira de técnico. 
Em 2010 comentou a Copa para a Al Jazira, do Catar. 
Se tornou deputado estadual pelo PDT em 2011. 
Em fevereiro do ano passado, assumiu o COL. 

Ganhou o terceiro emprego de Marin. 
Ele veio depois do fracasso da Seleção no sul-americano sub-20 na Argentina. 
O time acabou eliminado ainda na primeira fase da competição. 
O treinador Emérson Ávila reclamou da falta de tempo para preparar a equipe. 
E de empenho dos jogadores. 
Foi demitido sumariamente. 

O presidente da CBF foi cobrado para colocar um treinador experiente no cargo. 
Mas antes deu o cargo ao deputado e membro do COL e seu homem de confiança.
O rival de Marin, Andrés Sanchez, ganhava R$ 75 mil para exercer essa função. 
Bebeto também receberá pelo terceiro emprego. 
O salário não foi declarado publicamente, mas deverá ser o mesmo do ex-presidente corintiano. 

O início do trabalho foi desanimador. 
Bebeto queria Jorginho, técnico do Bahia, comandando a Seleção sub-20. 
Mas acontece que a notícia vazou. 
Marin ficou irritadíssimo. 
E avisou a Bebeto que não queria mais Jorginho. 

Precisava de um treinador como Felipão. 
Que nunca deixou vazar ter sido convidado para substituir Mano Menezes. 
Só falou quando Marin o confirmou publicamente. 
Era o que o presidente da CBF desejava repetir com Jorginho. 

Ele perdendo a vaga pela notícia chegar à imprensa antes do combinado. 
Não foi o caso de Alexandre Gallo. 
Ele sabia o que havia acontecido com Jorginho e se calou.
Aceitou o convite de Marin e de Bebeto. 

Gallo é uma aposta surpreendente.
Seu currículo como treinador é pequeno, com poucas conquistas. 
Foi campeão pernambucano pelo Sport, ganhou a Recopa com o Inter. 
Além de vencer o catarinense com o Figueirense. 
E a Radif-Cup com o Al-Ain do Catar. 

Impossível afirmar que sua vivência possa recolocar a Seleção sub-20 nos eixos. 
Os garotos estão cada vez mais difíceis de comandar. 
Muitos já são estrelas nos seus times, jogadores importantes.
E imaturos pela pouca idade. 

Gallo terá pela frente um enorme desafio ético. 
Chamar ou não Mattheus para a Seleção.
O meia do Flamengo é filho de Bebeto. 
Como deixar de fora o herdeiro do seu chefe?

"O Mattheus já estava sendo chamado para as seleções de base há muito tempo. Antes de eu ter qualquer cargo na CBF. O Gallo que fique à vontade para convocá-lo ou não", disse o deputado. 
A situação é surreal. 
Mas Bebeto não terá muito tempo para pensar. 

Terá de seguir sua atribulada vida. 
Com seus três empregos: membro do COL, deputado estadual e coordenador da base do Brasil. 
Talvez, quando precisar, até repetindo a façanha de estar em dois lugares ao mesmo. 
Não se abalando pelas faltas à Assembléia Carioca. 

"Estou representando o país em compromissos da Copa", se desculpa. 
Demonstrando não ter a menor intenção de pedir licença não remunerada. 
Não, ele tem as justificativas aceitas pela Assembleia. 
O seu salário de R$ 20 mil continuará sendo depositado na sua conta. 

Do Comitê Organizador Local da Copa ele não recebe nada. 
Lógico que não está contabilizado todo o prestígio do cargo. 
Como coordenador da base receberá um belo salário. 
Muito provavelmente o mesmo de Andrés, os R$ 75 mil mensais. 

Com R$ 95 mil a cada mês, Bebeto continuará trabalhando.
E se multiplicando. 
 Estando até em dois lugares diferentes ao mesmo tempo. 
Onipresente. 
Basta precisar......

(*) Jornalista e comentarista esportivo


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