Élio Gaspari (*)
Desde o ano passado, o semiárido nordestino atravessa uma grave seca. Na Bahia, em Sergipe, Alagoas e no Maranhão, 75% dos municípios estão em estado de emergência. No Ceará, são 177 em 184. Lá, as chuvas do ano passado ficaram em metade da média habitual e neste ano estão abaixo do terço (55,1 milímetros contra 161,8). Há 136 municípios dependendo de carros-pipa para atender perto de um milhão de pessoas. Em algumas cidades, as escolas dependem do socorro de vizinhos.
Os investimentos feitos na região mostraram-se insuficientes para enfrentar uma calamidade natural que, segundo os meteorologistas, tende a se agravar. Estima-se que as chuvas deste ano serão poucas.
A mais vistosa ação do governo federal tem sido um filme de um minuto que a Secom botou nas televisões da região. Nele, Chambinho do Acordeon, feliz e sorridente, anda pela caatinga informando que “a seca sempre vai existir, mas o sertanejo vai poder se defender cada vez mais dela”. Cantando louvores aos investimentos feitos pelo governo, informa que “o sertanejo é um cabra forte, só precisa de apoio, e vai ter cada vez mais”.
Os sertanejos que estão sem o abastecimento de carros-pipa não precisam de propaganda. O que lhes falta é água. Esse tipo de marquetagem no meio de uma seca chega a ser deboche. Para falar sério, o aparelho de autoglorificação da doutora Dilma deveria anunciar, ao fim de cada clipe, quanto gastou na marquetagem e quantos carros-pipa ela pagaria.
Durante a seca de 1998, Lula visitou o interior do Ceará acompanhado de José Genoino, cuja família morava em Jaguaruana. Culpou a desatenção dos tucanos e prometeu rios de mel. Nas palavras de Nosso Guia: “O sofrimento do povo nordestino só vai acabar no dia em que a gente tiver políticas de investimento para tornar esta terra produtiva. E essas políticas, o PT tem”.
Qual era? “O Fernando Henrique veio ao Ceará na campanha de 1994 e prometeu transpor as águas do Rio São Francisco. Mas até agora não trouxe sequer um copo de água. Ele foi mentiroso e vai mentir de novo prometendo a obra para ganhar voto”.
Em 2003, eleito, Lula prometeu: “Nesses quatro anos, 24 horas por dia serão dedicadas para fazer aquilo em que acredito: a transposição das águas do Rio São Francisco”. Ficou oito anos, a doutora Dilma juntou mais dois, e depois de dez anos o “copo de água” ainda não apareceu.
A opção preferencial dos governos pela propaganda e pelos espetáculos criou um novo estilo de administração e, nele, o governador do Ceará, Cid Gomes, tem se revelado um talento à altura de Steven Spielberg. No ano passado, a Viúva entrou com boa parte do custo da festa de inauguração de um centro de convenções abrilhantado pelo tenor espanhol Placido Domingo. A tertúlia custou R$ 3,1 milhões e alegrou três mil convidados.
Até aí tudo bem, pois de fato havia um centro de convenções. Em janeiro passado, ele pagou um cachê de R$ 650 mil à cantora Ivete Sangalo para lustrar a inauguração do Hospital Regional Euclides Ferreira Gomes, em Sobral, berço político de sua família desde a proclamação da República.
Cadê o hospital? Houvera o show, o prédio estava pronto, mas não havia funcionários. Até hoje, ele funciona como posto de saúde, só com consultas e raios X. Hospital mesmo, só em maio.
Assim como a Secom poderia investir em carros-pipa o que gasta em propaganda, Cid Gomes poderia ao menos fazer a caridade de só patrocinar shows quanto tiver serviço para entregar.
(*) Jornalista e escritor é colunista do jornal Folha de São Paulo
Desde o ano passado, o semiárido nordestino atravessa uma grave seca. Na Bahia, em Sergipe, Alagoas e no Maranhão, 75% dos municípios estão em estado de emergência. No Ceará, são 177 em 184. Lá, as chuvas do ano passado ficaram em metade da média habitual e neste ano estão abaixo do terço (55,1 milímetros contra 161,8). Há 136 municípios dependendo de carros-pipa para atender perto de um milhão de pessoas. Em algumas cidades, as escolas dependem do socorro de vizinhos.
Os investimentos feitos na região mostraram-se insuficientes para enfrentar uma calamidade natural que, segundo os meteorologistas, tende a se agravar. Estima-se que as chuvas deste ano serão poucas.
A mais vistosa ação do governo federal tem sido um filme de um minuto que a Secom botou nas televisões da região. Nele, Chambinho do Acordeon, feliz e sorridente, anda pela caatinga informando que “a seca sempre vai existir, mas o sertanejo vai poder se defender cada vez mais dela”. Cantando louvores aos investimentos feitos pelo governo, informa que “o sertanejo é um cabra forte, só precisa de apoio, e vai ter cada vez mais”.
Os sertanejos que estão sem o abastecimento de carros-pipa não precisam de propaganda. O que lhes falta é água. Esse tipo de marquetagem no meio de uma seca chega a ser deboche. Para falar sério, o aparelho de autoglorificação da doutora Dilma deveria anunciar, ao fim de cada clipe, quanto gastou na marquetagem e quantos carros-pipa ela pagaria.
Durante a seca de 1998, Lula visitou o interior do Ceará acompanhado de José Genoino, cuja família morava em Jaguaruana. Culpou a desatenção dos tucanos e prometeu rios de mel. Nas palavras de Nosso Guia: “O sofrimento do povo nordestino só vai acabar no dia em que a gente tiver políticas de investimento para tornar esta terra produtiva. E essas políticas, o PT tem”.
Qual era? “O Fernando Henrique veio ao Ceará na campanha de 1994 e prometeu transpor as águas do Rio São Francisco. Mas até agora não trouxe sequer um copo de água. Ele foi mentiroso e vai mentir de novo prometendo a obra para ganhar voto”.
Em 2003, eleito, Lula prometeu: “Nesses quatro anos, 24 horas por dia serão dedicadas para fazer aquilo em que acredito: a transposição das águas do Rio São Francisco”. Ficou oito anos, a doutora Dilma juntou mais dois, e depois de dez anos o “copo de água” ainda não apareceu.
A opção preferencial dos governos pela propaganda e pelos espetáculos criou um novo estilo de administração e, nele, o governador do Ceará, Cid Gomes, tem se revelado um talento à altura de Steven Spielberg. No ano passado, a Viúva entrou com boa parte do custo da festa de inauguração de um centro de convenções abrilhantado pelo tenor espanhol Placido Domingo. A tertúlia custou R$ 3,1 milhões e alegrou três mil convidados.
Até aí tudo bem, pois de fato havia um centro de convenções. Em janeiro passado, ele pagou um cachê de R$ 650 mil à cantora Ivete Sangalo para lustrar a inauguração do Hospital Regional Euclides Ferreira Gomes, em Sobral, berço político de sua família desde a proclamação da República.
Cadê o hospital? Houvera o show, o prédio estava pronto, mas não havia funcionários. Até hoje, ele funciona como posto de saúde, só com consultas e raios X. Hospital mesmo, só em maio.
Assim como a Secom poderia investir em carros-pipa o que gasta em propaganda, Cid Gomes poderia ao menos fazer a caridade de só patrocinar shows quanto tiver serviço para entregar.
(*) Jornalista e escritor é colunista do jornal Folha de São Paulo
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