domingo, 24 de fevereiro de 2013

O assassinato na Bolívia

Governo boliviano não aceitará passivamente a decisão da Gaviões. Apresentar um menor como autor do disparo que matou Kevin Beltrán. Um garoto que não pode ser extraditado. E a Conmebol nunca acreditou no blefe de desistência da Libertadores pelo Corinthians…  

Cosme Rímoli (*) 

A Gaviões da Fiel promete apresentar amanhã um menor. 
Um garoto de 17 anos que teria disparado o sinalizador que matou outro garoto: Kevin Beltrán. 
Já vazou a tese de que ele fez sem intenção. 
Queria comemorar o gol e se atrapalhou com o sinalizador. 

Não se apresentou como o autor do crime na Bolívia. 
Porque viajou sob responsabilidade da torcida por ser menor. 
Ele assumindo o crime nada acontece. 

Porque o governo brasileiro não extradita criminosos. 

Muitas vezes até italianos, como Cesare Battisti. 
Ele é um ex-terrorista italiano com acusações de quatro mortes na década de 70. 
A tese é essa. 
A Gaviões apresenta um menor de idade como autor do disparo. 
Nada acontece a ele. 

E os 12 membros das organizadas, alguns dirigentes de torcidas, são soltos. 
Deixam a penitenciária de Oruro. 
Ao mesmo tempo, a Conmebol se dobra. 
Diante da ameaça velada de o Corinthians abandonar a Libertadores. 

Mesmo tendo de pagar R$ 600 mil e ficando de fora das três próximas que se classificar. 
A entidade sul-americana revoga a medida de afastar seus torcedores. 
Ninguém é punido pela morte de Kevin Beltrán, de 14 anos. 
Ele perdeu a vida graças a um foguete que entrou no olho direito e esfacelou seu cérebro. 

O sinalizador atingiu 360 quilômetros por hora. 


Todos viram as costas, se esquecem do que aconteceu. 
O garoto de 17 anos fica no Brasil sem preocupação. 
E o Corinthians luta pelo bicampeonato da Libertadores. 
Isso não vai acontecer. 

A começar pelo blefe do clube abandonar a competição. 
Mesmo a covarde Conmebol sabe que isso é uma bravata. 
Feita para tentar pressionar o Comitê Disciplinar. 
Amanhã sairá a decisão se revogará a própria sentença em relação aos estádios de porta fechada. 

Por isso os boatos incentivados no próprio Parque São Jorge. 
Para consumo da imprensa e pressão nos membros da Conmebol. 
O octogenário José Maria Marin recomendou a Mario Gobbi desmentir o abandono. 
Não haveria como pressionar a entidade de Nicolás Leoz dessa maneira.

Não diante da estúpida morte do menino de 14 anos. 
Governo boliviano não aceitará passivamente a decisão da Gaviões.
Apresentar um menor como autor do disparo que matou Kevin Beltrán. 
Um garoto que não pode ser extraditado. 
E a Conmebol nunca acreditou no blefe de desistência da Libertadores pelo Corinthians... 

Marin também recomendou a Gobbi que modere suas palavras. 
"Acidente acontece" foi uma péssima maneira de resumir a morte de Kevin. 
Se fosse filho ou neto do corintiano, ele não falaria dessa maneira. 
Marin disse que sabe lidar com Nicolás Leoz. 

Ele tem certeza de que a pena será diminuída. 
Não extinta completamente. 
Mas diminuída. 
Gobbi seguiu as determinações. 

Será mais prudente, terá o mínimo de sensibilidade na hora de se expressar. 
E garantiu que o Corinthians não sai da Libertadores. 
Não haverá desistência do torneio. 
O governo de Evo Morales vê como uma questão de honra a punição. 

O caso saiu da esfera esportiva há muito tempo. 
O Itamaraty de Dilma Rousseff está dando assistência aos presos corintianos.
Mas não há a mínima condição moral de pressionar a Conmebol. 
A justiça boliviana não irá comprar tão fácil a tese da Gaviões da Fiel. 

Já fez sua investigação.
E chegou aos nomes de Cleuter Barreto Barros e Leandro Silva de Oliveira. 
Seriam eles os autores do disparo. 
E os outros dez detidos são acusados de cumplicidade. 
Deverão ser julgados em agosto. 

Se não houver uma prova irrefutável, nada mudará. 
Principalmente porque um menor estará se apresentando. 
E no Brasil, onde não pode ser punido. 

O confronto político está armado.

E é muito mais profundo do que parece. 
Há até uma certa revolta na imprensa boliviana. 
E descrença em relação ao garoto da Gaviões. 
A direção corintiana continua cumprindo a sua palavra. 

Está de costas para o que acontece com a torcida. 
As organizadas que se virem para defender seus membros.
Assim como não terá apoio na hora de mostrar o tal menor de idade. 
Para a diretoria de Mario Gobbi só interessa se livrar da punição. 

Quer no estádio os torcedores que levaram R$ 15 milhões aos cofres na Libertadores de 2013. 
E que seus jogadores tenham o apoio das arquibancadas. 
Mas tudo está entrelaçado. 
Muito confuso. 

Mas se a covarde Conmebol promete não se dobrar... 
Precisa acordar para o San José, mandante da partida.
E da falta de revista da polícia na entrada do estádio em Oruro. 
Como os membros das organizadas entraram com os sinalizadores? 

O clube merece uma severa punição. 
A situação é muito pior em relação à justiça boliviana. 
Não funcionará a simples lógica da Gaviões da Fiel. 
Que basta apresentar o menor como autor do disparo. 

E sem poder ser julgado em Oruro. 
Que terá vida normal no Brasil sem a extradição. 
E que os 12 membros das organizadas serão soltos na Bolívia.
Mesmo se as fotos do tal menor sejam irrefutáveis. 

 Advogados dizem que os corintianos seriam acusados de cumplicidade. 
Porque ocultaram a identidade do autor do disparo. 
E ainda facilitaram que se escondesse das autoridades. 
Ainda não há nenhum motivo para comemorações. 

Nem no Parque São Jorge. 
Muito menos na superlotada cadeia de Oruro. 
O temido 'Cárcere São Pedro'...

 (*) Jornalista e que por 22 anos atuou no Jornal da Tarde/SP. Comentarista esportivo da Rede Record

Um comentário:

  1. É ... o tal "jeitinho" tá começando a feder ...

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