Fábio Sormani (*)
Michael Jordan completa 50 anos neste domingo 17 de fevereiro.
Muitos de vocês devem estar esperando por palavras minhas sobre MJ. Mas não há o que dizer neste domingo em que o deus do basquete completa meio século de vida.
Tudo o que eu tinha que dizer sobre Michael eu já disse ao longo de meus textos aqui no Terra e no portal anterior.
Por isso, o que eu disser não vai acrescentar mais nada ao que eu já disse e ao que também está nos sites do mundo inteiro. E nem trarei números para mostrar sua grandiosidade, pois esses números vocês conhecem talvez até melhor do que eu.
E nem vou dizer também que ele é o maior de todos, porque isso só os parvos, aqueles cegados pelo fanatismo, não observam. E a esses eu não me dirijo, pois é perda de tempo.
Mas é fato que ninguém jogou mais do que Michael Jordan antes de ele ter pisado pela primeira vez em uma quadra de basquete e ninguém se aproximou de Michael Jordan depois que ele pisou pela última vez em uma quadra de basquete.
Vai aparecer alguém no futuro? Não sei; ou melhor, não sabemos. Mas acho muito pouco provável.
Vi MJ ao vivo em 16 oportunidades. E a última delas foi seu grande momento, em Salt Lake City, com aquele arremesso derradeiro em cima de Bryon Russel, que deu o sexto e último título de campeão da NBA não só para ele, Jordan, mas para o Chicago também .
Eu estava lá. Vi tudo ao vivo. E não me esqueço da explosão de alegria de meu amigo Luis Avelãs, um jornalista português do jornal “Record”. Torcedores do Utah, que estavam perto do nosso reservado, ficaram indignados com a manifestação de Avelãs. Um deles, jogou um copo de cerveja no português. Respingou em mim. Ele certamente deveria estar pautado de princípio da neutralidade por parte da mídia. Mas era impossível manter-se indiferente àquele arremesso, ainda mais para um cara como Avelãs, um ser humano fantástico, movido a emoções, que não conseguiu contê-la naquele momento, por mais que o dever da profissão exigisse. Jamais condenei Avelãs por aquele gesto, pois talvez eu desejasse fazer o mesmo, mas não tive a coragem dele.
Jordan era diferente dos demais. Realmente, parecia que havia uma aura ao redor de seu corpo. Todos o olhavam com respeito e admiração. Todos, sem exceção: adversários, jornalistas, dirigentes e torcedores.
E ele fazia questão de cultivar essa crença.
Andava rodeado de seguranças — li certa vez que ele foi o primeiro jogador a ter seguranças na NBA.
No “All-Star Game” de Cleveland, em 1997, após o encerramento do jogo das estrelas, entre a sala de imprensa e os vestiários eu andava pelo corredor da Q Arena quando passei pelo meu amigo Miguel Candeias, outro jornalista português, este de “A Bola”. Candeias ia em direção contrária. Trocamos palavras sem interrompermos nosso trajeto. Eu andava de costas, olhando para Miguel, falando alguma coisa que eu já nem me lembro mais o que era, quando, de repente, senti bater em um muro. Senti o impacto. Olhei para ver com o que eu havia me chocado, mas não era o que e sim em quem. Era um dos seguranças de MJ, que não fez questão nenhuma de ser delicado e educado. Ele simplesmente fez um corta luz, impedindo minha passagem, pois eu, distraidamente, andava de costas em direção a MJ. Foi uma bordoada e tanto. E o cara nem se desculpou; ao contrário, eu que pedi desculpas por estar desatento.
Certa vez, em Miami, no primeiro jogo que vi de Jordan como jornalista credenciado (vi outros tantos como torcedor de arquibancada), fui para o vestiário do Chicago à espera de sua abertura. Na porta do reservado, como existe em todos os ginásios da NBA, um aviso da liga dizia que os aposentos tinham que ser abertos dez minutos depois de a partida ter acabado. Já fazia quase meia hora que o Bulls tinha vencido o Heat e nada de o vestiário abrir. Comentei o fato com um jornalista americano e ele disse: “Só abre depois que Jordan estiver de banho tomado e vestido. Nenhum jornalista jamais o viu sem roupas”.
Jordan atendia pacientemente a todos, sempre em entrevistas coletivas. Um ou outro, dependendo da importância do jornalista, individualmente. Mas isso era exceção. Falar com ele, a sós, era privilégio de alguns, entre eles Dan Patrick e Stuart Scott, da ESPN, e da trupe da NBC, que fazia na época as transmissões das finais para o território norte-americano e planeta.
Jamais consegui fazer uma pergunta para MJ. Era impossível. Eu era um ninguém no meio de um batalhão de repórteres norte-americanos, que sempre monopolizavam as entrevistas.
Se nesses 16 encontros me fosse possível fazer uma pergunta a MJ, eu, na verdade, não perguntaria nada. Eu tietaria o maior de todos e apenas diria a ele: seja eterno.
Mas isso, eu sei, é impossível. Ninguém é eterno. MJ passou, como outros passaram e muitos passarão.
Mas MJ não pertence a esse mundo. Nem é de outro planeta.
Como disse, ele é divino. Ele vem dos céus. Seu legado é sua imortalidade.
(*) Jornalista esportivo e que atua na Rádio Joven Pan de São Paulo. É colunista da UOl Esportes
Michael Jordan completa 50 anos neste domingo 17 de fevereiro.
Muitos de vocês devem estar esperando por palavras minhas sobre MJ. Mas não há o que dizer neste domingo em que o deus do basquete completa meio século de vida.
Tudo o que eu tinha que dizer sobre Michael eu já disse ao longo de meus textos aqui no Terra e no portal anterior.
Por isso, o que eu disser não vai acrescentar mais nada ao que eu já disse e ao que também está nos sites do mundo inteiro. E nem trarei números para mostrar sua grandiosidade, pois esses números vocês conhecem talvez até melhor do que eu.
E nem vou dizer também que ele é o maior de todos, porque isso só os parvos, aqueles cegados pelo fanatismo, não observam. E a esses eu não me dirijo, pois é perda de tempo.
Mas é fato que ninguém jogou mais do que Michael Jordan antes de ele ter pisado pela primeira vez em uma quadra de basquete e ninguém se aproximou de Michael Jordan depois que ele pisou pela última vez em uma quadra de basquete.
Vai aparecer alguém no futuro? Não sei; ou melhor, não sabemos. Mas acho muito pouco provável.
Vi MJ ao vivo em 16 oportunidades. E a última delas foi seu grande momento, em Salt Lake City, com aquele arremesso derradeiro em cima de Bryon Russel, que deu o sexto e último título de campeão da NBA não só para ele, Jordan, mas para o Chicago também .
Eu estava lá. Vi tudo ao vivo. E não me esqueço da explosão de alegria de meu amigo Luis Avelãs, um jornalista português do jornal “Record”. Torcedores do Utah, que estavam perto do nosso reservado, ficaram indignados com a manifestação de Avelãs. Um deles, jogou um copo de cerveja no português. Respingou em mim. Ele certamente deveria estar pautado de princípio da neutralidade por parte da mídia. Mas era impossível manter-se indiferente àquele arremesso, ainda mais para um cara como Avelãs, um ser humano fantástico, movido a emoções, que não conseguiu contê-la naquele momento, por mais que o dever da profissão exigisse. Jamais condenei Avelãs por aquele gesto, pois talvez eu desejasse fazer o mesmo, mas não tive a coragem dele.
Jordan era diferente dos demais. Realmente, parecia que havia uma aura ao redor de seu corpo. Todos o olhavam com respeito e admiração. Todos, sem exceção: adversários, jornalistas, dirigentes e torcedores.
E ele fazia questão de cultivar essa crença.
Andava rodeado de seguranças — li certa vez que ele foi o primeiro jogador a ter seguranças na NBA.
No “All-Star Game” de Cleveland, em 1997, após o encerramento do jogo das estrelas, entre a sala de imprensa e os vestiários eu andava pelo corredor da Q Arena quando passei pelo meu amigo Miguel Candeias, outro jornalista português, este de “A Bola”. Candeias ia em direção contrária. Trocamos palavras sem interrompermos nosso trajeto. Eu andava de costas, olhando para Miguel, falando alguma coisa que eu já nem me lembro mais o que era, quando, de repente, senti bater em um muro. Senti o impacto. Olhei para ver com o que eu havia me chocado, mas não era o que e sim em quem. Era um dos seguranças de MJ, que não fez questão nenhuma de ser delicado e educado. Ele simplesmente fez um corta luz, impedindo minha passagem, pois eu, distraidamente, andava de costas em direção a MJ. Foi uma bordoada e tanto. E o cara nem se desculpou; ao contrário, eu que pedi desculpas por estar desatento.
Certa vez, em Miami, no primeiro jogo que vi de Jordan como jornalista credenciado (vi outros tantos como torcedor de arquibancada), fui para o vestiário do Chicago à espera de sua abertura. Na porta do reservado, como existe em todos os ginásios da NBA, um aviso da liga dizia que os aposentos tinham que ser abertos dez minutos depois de a partida ter acabado. Já fazia quase meia hora que o Bulls tinha vencido o Heat e nada de o vestiário abrir. Comentei o fato com um jornalista americano e ele disse: “Só abre depois que Jordan estiver de banho tomado e vestido. Nenhum jornalista jamais o viu sem roupas”.
Jordan atendia pacientemente a todos, sempre em entrevistas coletivas. Um ou outro, dependendo da importância do jornalista, individualmente. Mas isso era exceção. Falar com ele, a sós, era privilégio de alguns, entre eles Dan Patrick e Stuart Scott, da ESPN, e da trupe da NBC, que fazia na época as transmissões das finais para o território norte-americano e planeta.
Jamais consegui fazer uma pergunta para MJ. Era impossível. Eu era um ninguém no meio de um batalhão de repórteres norte-americanos, que sempre monopolizavam as entrevistas.
Se nesses 16 encontros me fosse possível fazer uma pergunta a MJ, eu, na verdade, não perguntaria nada. Eu tietaria o maior de todos e apenas diria a ele: seja eterno.
Mas isso, eu sei, é impossível. Ninguém é eterno. MJ passou, como outros passaram e muitos passarão.
Mas MJ não pertence a esse mundo. Nem é de outro planeta.
Como disse, ele é divino. Ele vem dos céus. Seu legado é sua imortalidade.
(*) Jornalista esportivo e que atua na Rádio Joven Pan de São Paulo. É colunista da UOl Esportes
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